Dial P for Popcorn: MELANCHOLIA (2011)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

MELANCHOLIA (2011)



Há crónicas que preferia não ter que escrever. A responsabilidade de comentar um filme de Lars Von Trier é demasiado pesada. Porque a ambiguidade dos seus projectos, os sentimentos contraditórios e distintos que cada um consegue sentir ao ver os seus filmes (uns veneram, outros repugnam), transformaram-no no mais controverso realizador do momento (as suas declarações ajudaram à festa) e podem muito bem fazer desta crítica um completo tiro ao lado, tanto sobre a qualidade do filme, como sobre a opinião geral do mesmo. Mas vamos a isso.


Melancholia é o Apocalipse contado de uma forma inteligente e, digamos, nobre. Depois de tantos fracassos a recriar o final do mundo (com Roland Emmerich a liderar o pelotão dos falhados), finalmente alguém arregaçou as mangas e tratou de descobrir a direcção certa. Melancholia uma história contada por um tipo desgraçadamente inteligente. E esta é mais uma obra a juntar a um currículo vasto e riquíssimo. Este será bem capaz de ser o filme de Lars Von Trier que mais vezes vou ter prazer em repetir. A melancolia das cenas, a melancolia das personagens, a melancolia da história constroem um atmosfera pesada, um ambiente tenso e um poder quase sobrenatural sobre todo o filme.


Tudo se desenrola, paradoxalmente à fatalidade da história, de uma forma tranquila, demorada. Cada momento é saboreado, tanto pelas personagens, como pelo espectador. Começamos com uma cena inicial "à Lars Von Trier", com imagens fantásticas, um ambiente sonoro (que em cinema resulta de uma forma estupenda) intenso e que culmina com o início da história de Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg), naquele que deveria ser o dia mais feliz da vida da irmã mais nova de Claire. Justine casa com Michael, o homem que a ama incondicionalmente, numa festa cheia de pompa e glamour na elegante propriedade de John (Kiefer Sutherland). Com avançar da noite, Justine transforma-se numa noiva infeliz, nostálgica, que procura a solidão do quarto ou a tranquilidade do exterior envolto numa noite estrelada.


Após um final de noite dramático, com Michael a abandonar a casa de Claire e o casamento com Justine, somos lançados para o interior da vida destas duas irmãs, com uma relação tensa, marcada por um amor incondicional que se esbate em acções irreflectidas de ambas, que as afasta sem nunca as separar. Claire (a grande interpretação deste filme!), convida Justine a repousar junto da sua família, na tranquilidade do seu lar, de forma a recuperar dos incidentes de um conturbado copo de água, à medida que se preparam, em conjunto, para a passagem do Planeta Melancholia, que segundo as garantias de John, apenas fará uma trajectória limite, sem afectar o Planeta Terra e os seus habitantes. E é quando toda esta ideia apocalítica, de desgraça e de FIM se começa a apoderar de Claire, que todo o filme entra numa espiral de momentos e acontecimentos que o fazem crescer, crescer lenta e vagarosamente, para o seu final, épico, fantástico e portentoso.


Um final coerente com a qualidade de Melancholia, um dos melhores filmes de 2011, um dos grandes filmes da carreira de Lars Von Trier, com a emoção e o poder que este consegue impingir nos seus melhores filmes, com a sua marca pessoal, com o seu dedo de criador a sentir-se em cada cena, em cada imagem, em cada sequência. Por fim, uma nota pessoal, para reafirmar que adorei a forma como Melancholia foi filmado. O movimento da câmara nas cenas mais atribuladas, nas cenas mais vividas, transformam o ecrã nos nossos olhos e o movimento faz-nos sentir dentro das divisões da casa ou da tranquilidade das fantásticas paisagem que Lars Von Trier nos mostra.


Nota Final:
A-


Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Lars von Trier
Argumento: Lars von Trier
Ano: 2011
Duração: 136 minutos

2 comentários:

DiogoF. disse...

Achei interessante pelo deslumbramento visual que me proporcionou. De resto, achei a história fraca, sem rumo, vaga, repleta de coisas preguiçosas (as cenas do Google, por exemplo), desmembrada, aborrecida, sei lá. Mas, bom texto ;)

João Fonseca Neves disse...

Olá Diogo! Obrigado pelo teu comentário e pelas palavras sobre o texto!

Consigo perceber o que dizes e sei que facilmente me poderia ter acontecido o mesmo se não estivesse com a disposição com que estava para o filme. Mas é isso que o transforma um tipo controverso e igualmente interessante. Mas óptima argumentação da tua parte ;) Abraço.