Dial P for Popcorn: maio 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

THE TREE OF LIFE (2011)



"Father. Mother. Always you two wrestling inside me."


Como explicar a alguém o que é a vida e o que é a morte? Como entender qual o nosso papel aqui na Terra, como encontrar qual o significado da nossa existência? Como definir o bem e o mal, o corpóreo e o espiritual, o princípio e o fim? Estas são perguntas óbvias que qualquer um de nós, em certos momentos da vida, procura incessantemente responder. Uns viram-se para a religião, outros crêem no poder do destino, outros preferem acreditar em acasos. Uns pensam teimosa e repetidamente nestes assuntos, quase obcecando neles; outros optam por esquecer quando estes vêm à baila. E temos outros, como Terrence Malick (e Stanley Kubrick, antes dele) que se propõem a compreendê-los, a simplificá-los e desmistificá-los e, o que é acima de tudo mais impressionante, a filmá-los.


THE TREE OF LIFE é um filme bastante especial. Não é para ser compreendido, percebido ou definido em apenas uma visualização de duas horas. Não é seu objectivo propôr uma teoria ou significado sobre nada. É um filme para ser absorvido e apreciado a longo-prazo e, se tivermos para aí virados, analisado, pensado e teorizado. O tempo dirá se estamos perante uma obra de puro pretensiosismo intelectual e existencial ou se de facto temos perante nós uma obra-prima cujo valor analítico da nossa Humanidade e do nosso papel enquanto filhos do Homem é inestimável. A sua intenção pauta-se por mostrar - algo que é particularmente comum a todas as películas de Malick, mesmo que não no mesmo grau - o quão transcendente e único é o dom da Vida que nos é dado e quais os caminhos e circunstâncias que nos levam, cada um, a percorrê-la de forma diferente. Malick busca, basicamente, o impossível: aliar o filosófico poema existencial que funciona como força motriz do (escasso) fio narrativo ao magnânime pano de fundo visual que nos assombra e inspira ao mesmo tempo. E ele sucede nesse propósito, o que é de facto extraordinário.


A riqueza visual de Terrence Malick, um realizador na plenitude das suas capacidades e indubitavelmente na melhor forma da sua carreira, encontra um digno colaborador em Emmanuel Lubezki, que não se intimida com a tarefa gigantesca que Malick lhe propõe e constrói um retrato visual de meter inveja a muitas pinturas - poderosa, vibrante, observadora e perceptiva e ao mesmo tempo desafiadora e temerária, a fotografia de Lubezski é simplesmente sensacional e é muito por culpa dele que o filme resulta tão bem. Imagem atrás de imagem perfeitamente desenhada e escolhida, momento atrás de momento tão imaculadamente enquadrado e explorado, o requinte que cada segundo do filme nos proporciona não tem par com a vasta maioria dos filmes da actualidade. 


A narrativa principia com um versículo do livro de Job ("Onde estavam vocês quando eu ergui os pilares da Terra?") e, tendo por base a história de uma família texana dos anos 50 e focando-se particularmente no crescimento do filho mais velho, Jack O'Brien (interpretado na sua fase jovem pelo excelente Hunter McCracken, a verdadeira surpresa do filme, em cujos olhos reside muita mais sabedoria e experiência que a sua tenra idade indicaria e, numa fase mais avançada da vida, por Sean Penn) vai avançando o enredo através de muito pouco diálogo, a maioria deste como que segredado, contendo na sua essência diversas verdades indesmentíveis, difíceis de ouvir mas absolutamente reais. A peça fulcral da narrativa da família é a curiosa e facilmente estabelecível dicotomia entre a mãe e o pai, a luz e as trevas, o bem e o mal, o sagrado e o humano. A mãe, Mrs. O'Brien (Jessica Chastain), acredita no bem de todos os entes e que uma vida pautada pela graça, bondade, amor, compaixão e adoração da natureza tem mais valor. O pai, Mr. O'Brien (um brilhante Brad Pitt, numa das melhores e mais introspectivas interpretações da carreira), crê mais na tenacidade, no orgulho e na fibra moral, qualidades necessárias num mundo em que "se és demasiado bom, as pessoas vão abusar de ti". Cada um educa os filhos à sua maneira e é dessa forma que o filme os apresenta a nós, como duas forças inspiradoras diferentes e, claro, que originam acções e reacções completamente distintas no seu primogénito, que não consegue discernir o mundo sem ter em conta as duas filosofias.


Ao seu centro surge uma brilhante e transcendente sequência de imagens a nível astronómico e depois biológico e até microscópico (na qual nem vale a pena entrar em mais detalhes), em que Malick nos mostra como a vida na Terra teve início, do cosmos à célula. De nos deixar boquiabertos mesmo que nem sempre consigamos ter certeza do que estamos a observar, a sublime e portentosa força que vem de cada retrato é suficiente para nos deslumbrar. O aparecimento dos dinossauros, bem como o cataclismo que lhes trouxe o fim, funciona como lembrança que todos os seres vivos neste planeta - mesmo o Homem - têm uma presença finita e um ciclo de vida a cumprir. O nascimento do primogénito da família, a cena que se segue, vem nessa mesma linha de pensamento: Malick entende que cada nascimento, cada infância, cada vida incorpora em si mesma uma história única de criação e, invariavelmente, uma conclusão.
 
O retorno aos efeitos especiais dá-se de novo no fim, quando voltamos finalmente ao personagem de Sean Penn, o qual é visto, na cena final, a ser recebido pela sua família, tal e qual como os lembrava quando era criança, quando a sua alma era pura e a sua existência não estava manchada pela sua Humanidade e, juntos, a caminharem ao longo de uma praia solarenga, numa referência indirecta (considero eu) ao seu reencontro espiritual, como almas em direcção a um Céu onde não há espaço nem tempo, onde existe um continuum e para onde todos iremos, assim, no fim da nossa vida terrena. A última cena, em que retornamos ao presente na Terra, abandona-nos com mil e uma ideias novas na cabeça mas sem nenhuma resposta concreta. Ao contrário do que muitos pseudointelectuais pretensiosos e bacocos (que, infelizmente, na nossa blogosfera há muitos, que pensam que são melhores que os outros só porque na cabeça deles vêem filmes que os outros não vêem e percebem melhor os filmes que os outros) na sua forma de ver o cinema pensam - que aquilo que eles chamam de "selectividade" eu chamo de "necessidade de se sentirem superiores"; mas adiante - Malick não estraga o final do filme a tentar compor um argumento incongruente e secante. É no abstracto que ele nos deixa e ainda bem - o filme é suposto levar-nos a tirar as nossas próprias conclusões e a relação com a religião é suposto ser uma mera provocação de um grande autor.



No final, o que fica é o que pretendermos retirar da história. Um inolvidável - e magnificamente ilustrado - hino à história da Criação, à dicotomia entre a Vida e a Morte e à procura do sentido da nossa existência, é no mistério que afinal reside o grande poder deste conto: esta força que nos move, que nos traz à Terra e que dela nos leva, que nunca ninguém conseguiu explicar - e nunca ninguém irá provavelmente explicar - de que se trata ou porque funciona desta forma. O mistério é, no fim de contas, a sua própria solução e o legado de Malick aqui é apenas pôr à prova a nossa subjectividade e a nossa enigmática insistência de tentar compreender o mundo em nosso redor. A melhor sugestão que o filme me dá mesmo é, afinal, apreciar esta gloriosa e épica jornada a que chamamos vida, porque de tão efémera que ela é, se não a aproveitarmos, um dia quando repararmos ela escapa-se das nossas mãos para todo o sempre.



Nota Final:
B+


Informação Adicional:
Realização: Terrence Malick
Elenco: Jessica Chastain, Brad Pitt, Sean Penn, Fiona Shaw, Hunter McCracken, Tye Sheridan, Laramie Eppler
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Banda Sonora: Alexandre Desplat
Ano: 2011

Trailer:







N.B: Se acharem que a música incomoda, eu retiro-a.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O que vejo na TV: Eurovision Song Contest 2011


Bem sei que são notícias ultrapassadas, mas como sou fã acérrimo do festival da Eurovisão (bem, eu realmente só tenho hábitos ridículos), não podia deixar passar em branco a menção. A final do Festival Eurovisão da Canção 2011 decorreu no passado sábado dia 14 em Dusseldörf, na Alemanha e o Azerbaijão é quem vai suceder aos germânicos na apresentação da cerimónia.

Depois de três anos a tentar fervorosamente entrar na corrida pela vitória do festival - com um 5º lugar e um 3º lugar nas suas duas (únicas) participações anteriores, à terceira foi de vez e com o seu melodioso pop romântico Eli e Nikki lá levaram o título para o país na fronteira entre a Europa e a Ásia. Deixo-vos ficar abaixo com a canção vencedora (com 221 pontos):


Mais uma vez, o festival não deixou de se pautar pela polémica: a Itália, de regresso ao festival depois do seu afastamento pelo descontentamento com os resultados do voto político e do domínio dos países de Leste europeu, conseguiu um controverso segundo lugar com 189 pontos, seguida da Suécia, Ucrânia e Dinamarca. Duas actuações muito apupadas pelo público presente na Arena, a Bósnia e Herzegovina e a Grécia, conseguiram ainda assim um sexto e um sétimo lugares, respectivamente, muito contra os desejos - bastante audíveis - do público. Também de polémica se revestiu a participação alemã, que optou por permitir a Lena Meier-Landrut, vencedora em 2010 em Oslo com "Satellite" defender o seu título em solo nacional, concorrendo com 10 (!) músicas ao festival local. E finalmente falta falar da participação portuguesa. 

Como era esperado, os Homens da Luta, vencedores já por si só polémicos do Festival da Canção RTP, com a sua "A Luta é Alegria", ficaram no penúltimo lugar da sua semi-final e foram a terceira pior participante do certame deste ano. Esperemos que o povo português decida melhor da próxima vez e, de preferência, que os gozões e os protestantes do regime governamental se abstenham de votar. 

Quanto à minha opinião, tivemos mais uma vez um festival no qual a língua inglesa foi dominante - algo que eu ainda não consigo perceber é a insistência da RTP em proibir a participação no Festival da Canção de músicas cantadas em inglês - e onde, curiosamente e a contrastar com 2010, tivemos muito poucas baladas. As minhas actuações preferidas classificaram-se mal mas, tendo em conta o quão difícil foi adivinhar os dez primeiros da tabela (escolhas nada consensuais, portanto), calhar o Azerbaijão, olhando para os adversários directos, ainda foi o melhor que podia ter acontecido. Deixo-vos abaixo com as minhas duas actuações preferidas, a da França (Amaury Vassili, "Sognu") e os energéticos Jedward, da República da Irlanda, com "Lipstick".



Portanto resta saber como vai funcionar para o ano a competição - se a Europa Ocidental, que é quem paga praticamente a transmissão televisiva do evento, vai aceitar que o concurso se realize durante a tarde ou se, pelo contrário, a competição se vai ter de realizar madrugada adentro no Azerbaijão. Mas até lá ainda falta muito tempo para discutir.




DAFA 2010: Melhor Filme Animado




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

Vamos a mais uma categoria - já faltam poucas! - destes prémios que eu me vou entretendo a atribuir - e esta é capaz de ser a mais controversa, sem dúvida. Melhor Filme Animado teve como vencedor, na minha cabeça, cada um destes seis nomeados numa altura ou noutra. Finalmente, tive que apelar ao coração e, mesmo que muitos considerem este um vencedor sentimental, a verdade é que as preferências são isso mesmo - preferências. São muito pessoais. E assim, sem mais demora, os meus nomeados para animação do ano:



MELHOR FILME ANIMADO:
HOW TO TRAIN YOUR DRAGON - #1
IDIOTS AND ANGELS 
L'ILLUSIONISTE - #3
MY DOG TULIP
TANGLED
TOY STORY 3 - #2

Idiots and Angels é mais uma prova - como se fossem precisas mais - que Bill Plympton é dos mais dotados criadores de animações que anda no cinema moderno, bem lá no topo com Miyazaki, Stanton, entre outros. Um filme sério, com um tema bem mais para adultos do que para crianças, que joga com as nossas inseguranças na nossa vida. My Dog Tulip é, sobretudo, uma escolha sentimental. Arrasta-nos as lágrimas sem que as peça, alegra-nos e padece-nos a alma em igual medida, é uma das boas surpresas do ano. Tangled foi também uma boa surpresa mas por outros motivos - depois de uma horrorosa campanha de marketing por parte da Disney, é bom ver que o género dos contos de fada ainda não está morto lá para os lados do tio Walt. Divertida, aventureira e muito, muito especial, a película de Rapunzel e Flynn faz as delícias dos mais novos enquanto encanta os mais velhos. Toy Story 3 tem dois filmes de bagagem que aproveita muito bem - tal como a distância temporal entre eles - para fechar com chave de ouro esta nossa viagem pela infância, com os nossos brinquedos favoritos. Para mim, Toy Story 3 é particularmente notável pela forma como transcende a barreira do real e do imaginário e nos faz amar meros objectos inanimados. Woody e Buzz estarão sempre no meu coração. Depois do magnífico - e incrivelmente melancólico "Les Triplets de Belleville", eis que Sylvain Chomet pega num manuscrito de Jacques Tati e une a beleza e singularidade do seu traço de animação e o espírito e os temas muito próprios do grande mestre Tati e cria um filme ímpar, sobre a solidão, o desprezo e a indiferença, a crise e o sofrimento, sobre um velho mágico que vive aflito para tentar ainda espalhar um pouco de magia por um mundo que o maltrata e pouco quer saber da sua arte. L'Illusioniste é lindíssimo. Finalmente, How To Train Your Dragon. Não consigo espelhar o quanto eu me sinto próximo deste filme. Não sei se é por causa do excelente trabalho dos animadores com Toothless, se é pelas cenas de acção cheias de adrenalina, se é pelos extraordinários cenários ou se é pela história em si, a verdade é que este filme envolve-me e eleva-me e tornou-se um caso muito engraçado de paixão. É uma escolha pessoal, mas o coração quer o que o coração quer.




E vocês: acham que perdi a cabeça ao nomear "How To Train Your Dragon" como melhor animação à frente de "Toy Story 3"?

DAFA 2010: Melhores Efeitos Visuais e de Som e Melhor Edição




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

A ver se isto não se arrasta para sempre, vou tentar acabar nos próximos dias com as categorias que faltam revelar dos meus prémios. Vamos a três categorias de uma vez só: Melhores Efeitos Visuais, Melhores Efeitos de Som e Melhor Edição.



MELHORES EFEITOS VISUAIS:
ENTER THE VOID - #3
HOW TO TRAIN YOUR DRAGON
INCEPTION - #1
MONSTERS
SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD - #2
TRON: LEGACY

O ano agraciou-nos (e ainda bem) com vários filmes dignos de fazerem parte desta lista de nomeados para Melhores Efeitos Visuais. Além dos meus seis nomeados, conseguia pensar facilmente em mais seis que de igual forma aqui mereciam ter sido mencionados. Infelizmente, só podia decidir-me por seis. Enter The Void foi uma surpresa - não porque já não esteja habituado a que Gaspar Noé nos surpreenda constantemente, mas porque nunca imaginei que um dos meus nomeados para efeitos visuais estivesse ali. A verdade é que a qualidade do filme, desde a fabulosa cena de créditos de abertura até ao seu delirante fim, depende muito do primor visual da película. E a verdade é que este nunca desaponta. How To Train Your Dragon era uma escolha óbvia, dado a forma brilhante como retratou as cenas de vôo/acção de Hiccup e Toothless os cenários impressionantes que funcionam como pano de fundo da cena - e que belo e colorido retrato pintam da habitualmente enfadonha e fria Escandinávia. Inception dobrou literalmente os limites da realidade, construindo um mundo à parte digno de um sonho através dos seus brilhantes efeitos especiais. Monsters foi a maior surpresa do ano, sem grandes efeitos especiais mas com muita imaginação, conseguindo passar a mensagem através do seu poderio técnico mesmo que este não seja baseado em alta tecnologia de ponta. Scott Pilgrim vs the World foi, digamos, o caso especial do ano, um filme ultra-imaginativo no qual os efeitos especiais - visuais e de som - foram usados de forma mágica para ampliar o efeito de estarmos realmente dentro de um mundo de banda desenhada. Escusado será dizer: resultou em pleno. Finalmente, Tron: Legacy. Não é preciso ir muito longe para perceber esta nomeação. Basta ver a cena de batalha ao som de 'Derazzled'.




MELHORES EFEITOS DE SOM:
BLACK SWAN
HOW TO TRAIN YOUR DRAGON - #2
INCEPTION - #1
MONSTERS - #3
SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD
TRUE GRIT

Poderia ter dividido a categoria de Som em duas categorias separadas, Edição e Mistura de Som, mas preferi mantê-lo simples e juntar ambas as técnicas numa só categoria. Mais uma vez, havia aqui um grupo grande de potenciais candidatos a uma nomeação e qualquer um seria merecedor de menção. No fim, depois de muita consideração, ficaram estes seis: Black Swan junta à arrepiante banda sonora de Mansell e à rápida e rodopiante fotografia de Libatique vários pequenos toques sonoros que aprimoram ainda mais a obra-prima, fazendo-nos não só sentir como também ver e ouvir a entrada de Nina na loucura e na perdição. How To Train Your Dragon merece só cá estar apenas pelos vários sons dos diversos dragões, cada um mais original e inventivo que o outro. Vários silêncios bem aplicados, vários efeitos sonoros bem aproveitados, principalmente nas cenas de acção, fazem deste filme um dos grandes destaques entre o que de melhor se faz nesta área em animação. Inception é, do princípio ao fim, uma experiência sensorial de outro mundo. Seja na realidade ou no sonho, seja em gravidade zero ou a cair numa carrinha ao rio, seja a erigir edifícios ou a dobrar cidades inteiras, o trabalho de som aqui é excepcional. Monsters consegue informar tanto acerca dos seres alienígenas que servem de pano de fundo à história sem nunca os mostrar que sem o extenso trabalho de som realizado o filme não teria metade do pulso que tem. Lembram-se de ter referido acima de agora eu saber mesmo como é viver numa banda desenhada? Pois, é graças a Scott Pilgrim vs. the World e o seu maravilhoso mundo visual e sonoro. Finalmente, o último lugar nos nomeados é ligeiramente conquistado por True Grit a The Social Network, dois filmes excitantes de ver e ouvir. A razão pela escolha do primeiro? Porque os filmes dos irmãos Coen têm sempre esplêndidos efeitos sonoros.




MELHOR EDIÇÃO:
BLACK SWAN - #2
BLUE VALENTINE
SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD - #3
SOMEWHERE
THE FIGHTER
THE SOCIAL NETWORK - #1


Foi por um triz que True Grit e Inception não entraram neste grupo de nomeados, mas no final tive que dar os parabéns a dois filmes que aqui constam que não seriam propriamente escolhas convencionais. Da edição de Black Swan já muito foi dito, principalmente sobre como é ela que quase inteiramente confere a robustez e o suspense com que o filme prende o espectador do início ao fim, daí que nem precise de me alongar nas razões da sua nomeação. De Scott Pilgrim vs the World a mesma história; o filme não funcionava sem a sua estupenda edição - de uma surpreendente tirada comédica genial. The Fighter tem um editor muito inteligente, que preferiu conferir ao filme o nervosismo inerente nas cenas de Dicky, que gosta de filmar a "arena" nas cenas da matriarca Alice, que opta por olhar de longe o relacionamento de Micky e Charlene, conferindo por isso um sentido de familiaridade que quase não se nota mas funciona muito bem dentro do filme. A edição de Blue Valentine vale ouro - senão tornar-se-ia complicado acompanhar um filme que salta tantas vezes entre o passado e o presente. Bónus: o carácter intimista mas revelador alcançado pela edição nas cenas entre Cindy e Dean. Somewhere é um caso muito particular de edição - mesmo ao jeito de Sofia Coppola. Longos planos, cenas compridas e vistas de longe, na languidão, à espera de um momento, um singelo e perfeito momento de melancolia e solidão. Finalmente, o vencedor: The Social Network. Uma edição a marca-passo, rápida, eficaz e sobretudo muito perspicaz, não deixa saltar uma linha de humor, não deixa de marcar terreno nas cenas mais dramáticas, não deixa um foco num olhar mais distraído passar ao lado. Brilhante a forma como condensam um filme que tinha mais de 4 horas de potencial argumento em 1h30 de puro génio.


E vocês, que pensam destas categorias?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

BRITISH TV - Sherlock


Tenho vindo a adiar a escolha de Sherlock para a minha crónica da British TV desde o início da rubrica. É chegada a sua hora aqui no Dial P for Popcorn. A vitória nos BAFTA TV Awards na passada semana, na categoria de Melhor Série de Drama, bem como a vitória de Martin Freeman para Melhor Actor Secundário (à qual, penso justo juntar, a nomeação de Benedict Cumberbatch para Melhor Actor Principal), não podem ser ignoradas.


Justíssimo. Merecidíssimo. Sherlock é actualmente, com todo o mérito, uma das mais interessantes séries da televisão em Inglaterra. De uma inteligência invulgar e de uma originalidade viciante, a adaptação que Mark Gatiss e Steven Moffat (autor de Coupling e colaborador de Doctor Who) fizeram da obra Sir Conan Doyle é a prova viva de que a Inglaterra se sabe reinventar a cada ano que passa.


Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch) é uma personagem mesmo bem conseguida. Presunçoso, arrogante e detentor de uma auto-estima inabalável, sabe que é o melhor detective da Londres e que ninguém o consegue enganar. Viciado em quebra-cabeças e crimes misteriosos, utiliza de forma deliciosa o seu humor corrosivo para humilhar aqueles que considera insultuosamente inferiores, instalando a controvérsia entre os espectadores mais sensíveis. Pessoalmente, adoro o aproveitamento que fizeram da sua personagem, mesmo sendo perceptível que Benedict Cumberbatch não é um actor brilhante. Quanto a Martin Freeman (que tanto admiro pelo que fez em The Office), interpreta o papel do lendário médico John Watson, eterno companheiro de Sherlock e a única pessoa com paciência para aceitar com naturalidade o ego do caprichoso detective.


Muito distinto daquilo que Guy Ritchie fez na sua longa metragem, esta série é claramente resultado de cabeças inteligentes, que sabem pensar e criar com astúcia e perspicácia. Com apenas uma temporada (já exibida no canal 2 da RTP) de três episódios de noventa minutos, esta é uma série obrigatória para qualquer amante da investigação criminal. O futuro será seguramente brilhante para esta promissora série. E o BAFTA, um prémio que reconhece toda a sua qualidade.


domingo, 22 de maio de 2011

Cannes 2011 - PALME D'OR e outros prémios



E o grande vencedor do Festival de Cannes de 2011 foi: "The Tree of Life", de Terrence Malick.

Outros prémios:

Grande Prémio do Júri: (ex-aequo) LE GAMIN AU VÉLO (d. irmãos Dardenne) e ONCE UPON A TIME IN ANATOLIA (d. Ceylan)
Melhor Realizador: Nicolas Winding Refn / DRIVE
Melhor Actor: Jean Dujardin / THE ARTIST
Melhor Actriz: Kirsten Dunst / MELANCHOLIA
Melhor Argumento: FOOTNOTE (d. Cedar)
Prémio do Júri: POLISSE (d. Maïwenn)
Caméra d'Or: LES ACACIAS (d. Giorgelli)
Palme d'Or para Curta-Metragem: CROSS (d. Vroda)

sábado, 21 de maio de 2011

MONSTERS (2010)



Eu não sou um fervoroso adepto da ficção científica, da idílica paixão que muitos argumentistas e realizadores têm de criar um mundo imaginário, com criaturas mutantes dos mais recônditos lugares do universo. Acho até, que a tentativa de criar uma nova história sobre um tema já sobejamente trabalhado, leva a carreira de um realizador (e, por vezes, até mesmo de um actor), para um risco desnecessário, onde são poucos os benefícios.


Monsters é o projecto arriscado, mas bem sucedido, de Gareth Edwards. Uma história simples, sem uma ambição desmedida de dar um passo maior do que a própria perna, conta-nos uma aventura agradável, que o espectador acompanha com boa disposição, sentido uma natural empatia por Samantha Wynden (Whitney Able) e Andrew Kaulder (Scoot McNairy), os dois protagonistas deste filme.


A viagem de uma nave espacial, que percorre o Universo à procura de vida extra-terrestre, culmina num final trágico. Um acidente devido a uma aterragem mal calculada, algures no interior do México, leva à libertação das várias espécies recolhidas, que se perdem na imensidão das florestas mexicanas. Aos poucos, a vida das populações que habitam as regiões mais próximas do incidente começa a mudar. Animais nunca antes observados, com numerosas pernas e de uma altura assustadora, espalham o terror e a destruição por onde passam.

É então criado um perímetro de segurança, que obriga à evacuação das populações. Samantha Wynden, filha de um poderoso homem da imprensa americana, encontra-se na zona que será evacuada. O seu pai contacta então Andrew Kaulder, um fotógrafo que trabalha para o jornal de Wynden, que se compromete a transportar Samantha, em segurança, até ao seu país.


Como em todas as viagens, as aventuras mais inesperadas acabam por acontecer e os percalços tornam-se inevitáveis. De uma forma ligeira, sem tornar a cadência da história monótona ou previsível, Monsters fala-nos de dois comuns mortais, que combatem as adversidades e os problemas com engenho e bravura, sempre confinados à sua condição de humanos atirados para uma arena à qual não pertencem, que demonstram que se pode criar uma história de heróis sem envolver super-poderes de catálogo. Referência ainda para a belíssima fotografia deste filme, um dos seus pontos mais positivos.


Nota Final:
B/B+


Trailer:



Informação Adicional:
Realização: Gareth Edwards
Argumento:
Gareth Edwards
Ano: 2010
Duração:
94 minutos

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Morte da 7ª Arte (variação Moretti)

"O Dial P For Popcorn tem o prazer de vos apresentar o nosso mais recente colaborador! Axel Ferreira, nosso colega e amigo, aceitou o convite para a elaboração de uma crónica quinzenal. Com uma visão peculiar e distinta da realidade cinematográfica, A Morte da 7.ª Arte deixa apenas uma promessa: Ninguém a poderá evitar."


O Fim dos Gostos


Queria agraciar-vos hoje com uma pequena peça que mais virtude não tem que aquela de existir se não lhe derem a devida importância. Olhando para a capacidade de irritar que a moda de ser um e não se ser mais nenhum tem, isto devido à incapacidade de um perceber o outro a não ser pela fraca comunicação que todos os dias achamos significativa, muito para além das palavras mas apenas através delas. Diria que muito do que se passa pode ser apenas explicado por se saber que nenhum de nós sabe mais do que aquilo que conseguimos perceber, e se tudo o que percebemos é o nosso próprio ser, como poderemos agraciar outra maneira de ser? Bem, teremos de perceber que ser se pode de muitas maneiras para além da primeira, que será a nossa. Difícil conceito de atingir, pensar que reconhecimentos diferentes da realidade se fazem apenas por experimentação diferente e não diferentes sentidos. Será esta a razão responsável por todo o cérebro fechado em si mesmo ter tendência para pôr a sua existência acima das outras e considerar, então, o seu pensamento maior que tudo o resto. Consideração laboriosa que se encontra apenas entre a consciência da existência, do eu e do mundo, e a percepção de que qualquer ideia não poder passar de tudo aquilo que a forma. Este conceito básico permite perceber que tanto a maneira como se formula a própria, como o conhecimento prévio, a tornam mais ou menos válida. Dito tudo isto, parece que não há arte, muito menos a tão numericamente longínqua sétima. Ao mesmo tempo encontrei-a toda aqui, porque todos sabem que a arte é a expressão de cada um e não a colectiva, que o ser é único, que a percepção é única. Por isso serão tão variadas e interessantes as perspectivas. Por isso serão algumas tão geniais e outras tão nefandamente pobres que não merecem o direito de existir. Fascínio é algo que continuo a ter, quando, por muita opção que se dê, se continue a escolher o nefando sobre o resto, sem mais incriminação e consequência do que aquela de ter de aceitar e respeitar outra existência. Pois não será esta tão sábia como qualquer outra se consegue pôr um filme sobre um anão e um anel ao mesmo nível (ou superior) ao Caro Diario?


Passando toda esta linearidade básica de pensamento será legítimo perguntar o que fará sobressair algo acima do resto, quem possuirá o poder de decidir que isso aconteça. Não há resposta para além de Ninguém, e não fosse isto e o mundo seria tão mais simples. Poderá ser debatida, essa sim, a maneira como avaliamos algo. Incontornavelmente será por comparação, se dizemos que algo é bom haverá o mau que já reconhecemos e vice-versa (já versava o Vice). Quando algo se encontra no meio será apenas normal, ou palavra que para este fim foi encontrada: medíocre. Encontrando esta escala se acabam as semelhanças com a aritmética tão dada à lógica, pena perder sempre contra a humanidade devido à sua índole. A normalidade acompanha muitos que apenas são isso, bons são alguns e os maus parecem não ter fim. Passa sempre por aqui a minha incompreensão da obsessão da humanidade na normalidade. Luta muitas vezes a consciência por nos considerarmos algo especial e a vontade por sermos algo normal. Tudo isto passa pelo ser fechado em si, que vive apenas pelos outros. Diga também a verdade que a luta é esta, separar o bom do mau. Foi sempre mais ou menos essa a minha perspectiva. Não limitar a existência de algo a uma classificação, não lhe atribuir um estilo ou um movimento, considerá-la apenas como é, todos os outros artifícios só servem para entreter a quem faz da arte ciência. Por isso será para mim difícil dizer que tenho um tipo preferido de filme, já sabendo o que esperar e obter aquilo que pensava que iria ser põe em mim apenas o fardo da desilusão. Por isso também me custa perceber quem tem géneros favoritos de cinema ou qualquer outra coisa. Por isso acho bizarro alguém entrar numa sala de cinema, sair de lá com a confirmação daquilo que pensavam que iam ver e achar aquilo de alguma relevância possível com alguma inerência artística. O fenómeno actual é alguém esperar o normal e querer o normal. Tudo o resto pode ser giro, mas não se enquadra no espectacular. Se o que acabamos de ver é exactamente aquilo que pensava-mos que íamos ver não tem relevância absolutamente nenhuma, se a ideia já foi nossa não será nova, não consiste em nada de novo nem de surpreendente, é apenas normal e vai-se tornando cada vez pior à medida que a brincadeira se repete. Mais estranho ainda é as pessoas saírem de lá com a convicção suprema de lhe chamarem bom. Verdade é que as notas são inflacionadas, mas a minha dificuldade com o bom é já de origem conceptual, como se pode perceber. Muitas vezes encontro pessoas, pessoas especiais de índole normalizada, ou estendendo o latim, felizes por partilharem a mesma opinião com outra pessoa e serem especiais por isso mesmo. Elas muitas vezes me dizem para estender os meus horizontes e gostar de mais coisas, pois eu me declaro parvo e sem palavras.

Muitos não me ouvem, já por calo. Não é por mim, nem por serem muitas destas ideias algo de novo para elas. Descubro cada vez mais que as pessoas até são capazes de saber isto tudo mas não o querem pensar. Não as justificam como falsas ou as contra-argumentam, apenas vivem como se não existissem e odeiam que se refiram. Destaca-se principalmente esta ideia quando falo com alguém religioso (não entendam religião literalmente, mas como um princípio dogmático que faz de algo verdadeiro sem razão de ser), não querem saber de impossibilidades e contradições e tudo o mais. Não querem ouvir. Pois mais não direi. Mais seria dizer nada.


Toda esta léria só para dizer que quando digo que um filme é mau o faço sobre uma perspectiva que não é mais que pura lógica.
Quando algo é medíocre é racionalmente que o digo, já não é uma questão de gosto, isso só serve para dividir as coisas que são boas. Antigamente havia a vergonha de não saber, havia referências do que era muito bom, sinais culturais que toda a gente sabia existirem e que maior parte não conseguia discutir. O bom desta perspectiva é que a existência de uma referência nos dava sempre algo para atingir. As pessoas iam ao cinema ver o filme que por lá passava, iam ver o último Godard e mais de metade adormecia a meio. Hoje vão em fila ver o último Harry Potter e dão o dinheiro como muito mais bem empregue do que ir ver o filme que ganhou o último festival de Cannes ou o último filme do Oliveira (bem, aí já era como atirá-lo ao lixo). Isso não é cinema, isso é onanismo com pipocas. Hoje em dia há livre acesso à cultura e, assim sendo, toda a gente é livre de pensar que a tem. Não se enganem, eu continuo a rondar o mundo como sempre fiz, não é que tenha ainda tocado em muito, nem a aspirante a intelectual devo chegar, mas há cada pessoa que faz cada confusão de conceitos. Há coisas que não se podem dizer, ou melhor, até podem, mas andam perto do nível de engano que é negar o holocausto.



Axel Ferreira

quarta-feira, 18 de maio de 2011

DAYS OF HEAVEN (1978)


Ontem decidi-me a ver Days of Heaven, a (mais que provável) grande obra da carreira de Terrence Malick.

Por dois motivos: Em primeiro lugar, eu não gosto de ir em cantorias promocionais. Dizerem-me que Terrence Malick é um realizador respeitadíssimo, que é um mito do cinema, que ganhou um estatuto invejável e que "só realizou 5 filmes em 40 anos", é publicidade barata. Entre os cinco, encontra-se o da Pocahontas, que vá, não deve trazer grande orgulho ao senhor. "The Tree of Life" já conseguiu ser mais falado só pela forma como o senhor vende o produto. Esconde-o, esconde-se e deixa o mainstream fazer o resto. Em segundo lugar, porque o trailer de "The Tree of Life" não me convenceu nem um pouco e precisava de ver de onde vêm as credenciais de um realizador tão obscuro.



Em relação a Days of Heaven, é sempre difícil falar sobre uma obra-prima. Porque já foi analisado até à exaustão por quem realmente percebe sobre a matéria, porque as falhas praticamente não existem, porque já se encontra enraizado na cultura cinematográfica e é difícil trazer alguma ideia nova e uma análise diferente das demais.




Eu adorei Days of Heaven e fiquei completamente rendido. É um filme soberbo, uma história comovente e inteligentíssima. A demanda de Bill (Richard Gere), um pobre rapaz que viaja pela América à procura de alguns dólares em troca de trabalhos sazonais, é retratada em Days of Heaven sobre um espírito bíblico, uma personificação das diversas crenças cristãs, de uma forma simplesmente brilhante. Apaixonado por Abby (Brooke Adams), que anuncia como sua irmã para a esconder do julgamento social, tem em Linda (Linda Manz) a sua verdadeira irmã, que completa este trio de jovens aventureiros.



Ao chegarem a Panhandle, Texas, participam pela primeira vez na colheita de milho dessa fazenda. Aí, os cabelos negros de Abby encanta o seu Patrão (Sam Shepard), um jovem com uma doença terminal, que vive na solidão da sua riqueza e abundância. Esperançado numa golpada milionária, Bill convence Abby a entregar-se ao seu Patrão. Um plano que, espera, seja temporário, e rapidamente lhe devolva a mulher e a fortuna que tanto deseja. O resultado final, será o leito a descobri-lo.

Nota Final:
A


Trailer:




Infromação Adicional:
Realização: Terrence Malick
Argumento:
Terrence Malick
Ano: 1978
Duração:
94 minutos