Dial P for Popcorn: agosto 2012

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

THE AVENGERS (2012)



Começo este artigo por agradecer a Joss Whedon. Sem ele, "THE AVENGERS" nunca teria sido o filme que é, divertido, inteligente e leve, que consegue entrelaçar várias histórias e várias personagens e dar uma voz singular a cada uma delas. Este era o grande sarilho para os quadros superiores da Marvel: como juntar, num filme de míseras duas horas, seis dos maiores super-heróis do seu universo e assegurar que todos participariam na narrativa de forma importante e equitativa, agradando aos actores que interpretariam os papéis (todos actores com algum nome e que, depois de protagonizarem, na maioria dos casos, o seu próprio filme, teriam que partilhar o estrelato e as principais cenas do filme com outros) e aos fãs que há muitos anos desejavam ardentemente um filme que juntasse a equipa maravilha da S.H.I.E.L.D.


Arrisco-me a dizer que Joss Whedon não só superou as expectativas iniciais de toda a gente, como o fez com incrível estilo e classe. "THE AVENGERS" não está, obviamente, na mesma liga da trilogia de Christopher Nolan e nem tem que estar. São filmes diferentes, com objectivos diferentes e com personagens e alvos diferentes. "THE AVENGERS" é, tal como os filmes da Marvel que o sucederam ("Iron Man" e "Iron Man 2", "Thor", "Captain America: First Avenger") um produto de entretenimento, mais preocupado por ocupar o espectador com deliciosas cenas de acção e efeitos especiais e com diálogo bem-disposto, bem-humorado e inteligente do que propriamente em entrar em considerações sobre a situação económica e político-social. A acção é mais fácil de seguir, o argumento é bem mais simples e, por isso, complica menos e torna-se mais agradável de acompanhar e degustar e "THE AVENGERS", como filme Marvel que é, também incorpora a energia contagiante que os seus antecessores também possuem.


A grande vantagem deste "THE AVENGERS" é sem dúvida o seu forte elenco, com personagens bem formados, com personalidades bem vincadas e curiosas, interpretados todos por actores bastante capazes. É também um elenco bastante equilibrado, com todos a terem a sua oportunidade de brilhar em diferentes momentos do filme, com várias interacções inesperadas que por várias vezes me arrancaram gargalhadas e com todas as personagens a terem motivações e narrativas próprias, desenvolvidas em simultâneo com bastante sucesso por Whedon. The Hulk (Ruffalo) é quem merece mais aplausos, tal o upgrade que Whedon faz em relação aos filmes que a personagem integrou anteriormente - e é dele a cena mais cómica do filme, um pequeno momento de brilhantismo de comédia física de Ruffalo, indubitavelmente criação da mente experiente e sagaz de Whedon, que se fartou de originar momentos destes nos vários anos que passou na televisão como criador de uma das séries mais injustiçadamente tratadas de sempre, "Buffy the Vampire Slayer". O outro grande triunfo de Whedon neste elenco é, para mim, o tratamento que ele dá a Romanoff (Johansson), dando-lhe muito mais que fazer aqui do que ela teve em "Iron Man 2", continuando a lista de grandes personagens femininas criadas por Whedon. De resto, o elenco funciona - seja porque Whedon manteve o carácter-base da personagem e a sua essência - Tony Stark (Downey Jr. igual a si mesmo), seja porque foi exímio na continuidade dos eventos de "Thor", reciclando o vilão Loki para a sequela (Hiddleston merecia claramente regressar ao papel) e continuando a sua titânica rivalidade com o irmão Thor (Hemsworth) e pegando no Tessaract que foi encontrado por Captain America (Evans) em "First Avenger".


O filme arrasta-se um pouco na primeira hora e meia, com alguns momentos enferrujados e com uma cena inicial bastante problemática, mas compensa com um último ato a todo o vapor, com uma gigante - e quase contínua - cena de acção que combina o que de melhor sabem fazer os seis heróis e que reúne todos num extasiante clímax que termina com a primeira grande vitória do maior grupo de heróis da Terra ("Earth's mightiest heroes!") e nos deixa a salivar para o que Whedon e Cª nos trarão a seguir. Espero que seja tão satisfatório e completo como este filme que apesar de nunca alcançar níveis de excelência, mais do que compensa o nosso investimento nele pela sensação inesquecível de estar a testemunhar algo tido como impossível por qualquer amante de banda desenhada: agrupar vários heróis de um universo - e criar um filme digno do talento e força combinada deles todos. "THE AVENGERS" é esse filme e a alegria que Whedon - confesso comic book geek - passa através do ecrã é indesmentível e impagável.


Nota:
B


Informação Adicional:
Realização: Joss Whedon
Argumento: Joss Whedon, Zak Penn
Elenco: Robert Downey, Jr., Mark Ruffalo, Chris Evans, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Jeremy Renner, Scarlett Johansson, Stellan Skarsgaard, Cobie Smulders, Samuel L. Jackson, Clark Gregg
Música: Alan Silvestri
Fotografia: Seamus McGarvey
Ano: 2012


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Ninho de Cucos (IV)



Não estou certo de que exista alguma afinidade entre o mundo do cinema e do desporto, mas como adepto confesso desta última forma de entretenimento, não podia deixar passar em claro esse tão popular certame que são os Jogos Olímpicos. É óbvio que os dias em que a peregrina ideia do saudoso barão de Coubertin se conseguia traduzir numa fantástica reunião universal de competidores, vão longe. Ainda assim, apesar da inundação dos sponsors e da abertura ao profissionalismo que vieram desvirtuar os valores originais da competição, há que conceder que esta contenda se revela o evento mais globalizante e um dos mais apetecíveis do quadriénio, devido em grande parte à amplitude sócio-geográfica que consegue atingir. A verdade é que não é preciso perceber nada de desporto para se poder apreciar a beleza de momentos em que atletas de países de 3º mundo alcançam a possibilidade de partilhar os holofotes com as maiores estrelas do desporto mundial, e que em raras ocasiões se tornam até capazes de desafiar a lógica probabilística.

Contudo, a raridade dessas ocasiões é cada vez mais evidente. A sociedade consumista do sec. XXI exige grandes atletas e grandes façanhas, não há espaço a vitórias românticas. A atenção volta-se apenas para aqueles que conseguem fazer história, mas perde-se a noção de que conseguir resultados de gabarito não é tarefa tão banal como os superatletas de hoje, que batem recordes da era da guerra fria, o fazem parecer. A verdade é que hoje em dia o mundo precisa de Michael Phelps e Usain Bolts para satisfazer a necessidade estúpida de criar lendas, e toma-os como referências comuns, ao invés de os considerar anomalias fisiológicas ou hipérboles probabilísticas, como na verdade o são. E é daqui que surge a desproporcionada ideia de que qualquer atleta tem a obrigação de lutar por uma medalha, ou pelo menos bater um recorde. A conquista de um lugar no pódio deixou de ser uma tarefa excepcional para ser incluída na lista de obrigações.


Mas o que me impressiona nesta história toda é que nesta era de globalização, em que tão depressa se sabe qual a última contratação do Benfica como a marca da bolsa da primeira dama da Coreia do Norte, e em que se consegue obter informações de qualquer parte do mundo à distância de um clic, toda a gente distribua a atenção sobre o mesmo selecto grupo de indivíduos. Bem sei que esta coisa da aldeia global não está isenta da poderosa influência dos media, mas é com pena que vejo toda esta democratização do acesso à informação ser utilizada para a formação destes ícones mundiais, que para muitos, certamente assumem o papel de heróis.


E talvez seja por isso que o cinema de herói tem vindo a ganhar popularidade nos últimos tempos. Não é por acaso que na última década se têm multiplicado que nem coelhos, filmes baseados em personagens da Marvel, DC Comics e outras que tais. Hulks, Thors, Avengers e Capitães America têm vindo a assumir-se como o baluarte de um género que apesar de não ser novo, aproveita essa fraqueza humana que nos deixa hipnotizados por super-heróis, como quem quer ir para a cama dormir mas não consegue encontrar um parágrafo onde deixar a leitura. Não desafio a lógica de quem, por boa arte, consegue capturar a imaginação do comum cidadão, ao criar personagens que lançam teias do pulso ou desafiam as leis da gravidade; mas dá-me uma certa coceira intelectual perceber que o filme de herói se juntou ao policial, à comédia romântica e outros tantos, no lote dos géneros que compõem a sucata cinematográfica. Não que eu desgoste de super-heróis. Bem, pelo contrário. O que me desconcerta no panorama actual, é que esta vaga de filmes imprimiu a ingénua noção de que cada super-herói deve ter o seu filme! E isto é que estraga tudo. Um filme deve ser feito simplesmente se houver motivação artística para que seja feito, não por ser desprestigiante que o Silver Surfer não tenha o seu próprio filme, enquanto que o Iron Man tem já dois. 


Mas cinjo-me unicamente aos heróis de banda desenhada, quando não era de todo minha intenção. O tipo de filme que viso criticar é todo aquele em que o protagonista surge exclusivamente (ou quase) como um somatório de qualidades humanas, ou que pelo menos essas qualidades sejam o foco principal do filme. Não que haja algo de errado com o filme de herói. De facto, muitas das histórias que valem a pena serem postas em fita pertencem a este grupo. A minha ranhosice deve-se mais à escassez de tramas, em que o protagonista seja mais (ou menos se quiserem) que um mero herói.. Falo de filmes como o sr. Kubrick sabia fazer tão bem, em que o protagonista é muito mais imperfeito e humano, o que dá a impressão que anti-heróis como Redmond Barry (de "Barry Lyndon"), ou Alex Delarge (de "A Clockwork Orange") estejam próximos do risco de extinção. Claro que construir personagens destas dá muito mais trabalho do que contar uma história de sucesso estóico, e requer um nível de perícia que, por infortúnio da criação, não está disponível ao comum dos mortais. 


Há que perseverar, contudo. O anti-herói não está completamente morto. Ainda que as histórias de Kubrick estejam distantes no tempo, e não seja fácil encontrar pares no cinema actual, há ainda fogachos mais recentes que celebram este tipo de filme, como "Fight Club" ou "American Psycho" da transição de milénio, com os dissidentes Tyler Durden e Patrick Bateman, igualmente perturbadores e inquietantes, na sua própria maneira. Também o cinema asiático, com a sua característica capacidade de criar ambientes funestos, tem tido um papel importante com blockbusters como "Oldboy" ou mais recentemente "I Saw the Devil". Mas diz a voz do bom senso que parte do que faz este género tão aprazível é a sua raridade, pelo que acaba por não ser mau que se este se mantenha com este estatuto de underdog.


De qualquer das formas num mundo tão distorcido de prioridades e em que os teenagers levam iPads debaixo do braço em vez de livros aos quadradinhos, percebe-se que seja incomportável para um miúdo ter de continuar a ver o Homem-Aranha aprisionado em vinhetas. São as novas tecnologias diz o meu avô. E se calhar até são. Mas o que o meu avô não se lembra é que o materialismo e o capitalismo já existiam antes dos tablets invadirem o nosso bolso.


Gustavo Santos

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Best Shot: Singin' in the Rain


This brief article is part of the weekly series at Nathaniel Rogers' quintessential movie site "The Film Experience", titled "Hit Me With Your Best Shot" (link here to previous entries)

As you know, we've been participating for quite some time. This week, we are focusing on one of my all-time favorites: Donen and Kelly's SINGIN' IN THE RAIN.




I can never explain quite well what watching SINGIN' IN THE RAIN makes me feel. Far from a perfect movie, the Donen/Kelly masterpiece is still as joyous and exciting as it was sixty years ago. It's a unique and powerful experience, and one that even through repeated viewings, never loses its thrill, its emotion, its happiness - the sheer joy is always there. Always. It's no wonder why this movie is considered to be the best musical of all time and is on almost everyone's all-time most beloved movies.


SINGIN' IN THE RAIN is one of my go-to movies when I'm having a bad day or when I'm sad or bored. It never ceases to amaze me how wonderfully simplistic, fun, cheerful and refreshing that movie is, and after watching it I always end up singing its songs for the next two hours, from the classic "Singin' in the Rain" to the more amusing "Good Morning" or the silly "Moses Supposes" (let's not forget the incredible, physically-demanding O'Connor number "Make'em Laugh", which is awesome too).


Despite being lighthearted, SINGIN' IN THE RAIN is a very original product, colourful, energetic and brilliant in its bright, merry way. Most of my admiration goes to its three leads - the dazzling Gene Kelly, the fantastic Donald O'Connor and the formidable Debbie Reynolds, at the time only 19 but more than holding her own against two industry powerhouses (the little girl sings, dances and acts her socks off). They sing and dance (in spectacular fashion, I might add - some of those choreographies are too good to be true, even for 1952!) to make it look so effortless and easy... Oscar-nominated Jean Hagen's Lina Lamont completes the core cast of the movie and although her performance is kind of a one-note joke (she can't act, she can't sing, she can't dance, she's somewhat dim and annoying), it's still a very inspired take on the dumb blonde type. The rest comes from a deceptively simple but clever story about people making movies and their immense love and pride in doing what they do, even if that means having to adapt to fit the new age of an industry always developing and now starting to realise the potential of sound in film (noticing some similarities with 2012's Best Picture winner "The Artist"? Well you should; it's one of the movies that inspired it). It's a good-humored celebration of this famous transition period in Hollywood that happens to use songs to prove its point that art - and people doing it - must evolve, all the while having a blast while doing it.

As for my best shot?




Well, before I even watched the movie again to write this article I knew I'd be picking this one. It's in the final scene of the movie, when Don (Kelly) ingeniously turns the tables on Lina (Hagen) and rushes to announce Kathy (Reynolds) - who's running down the aisle crying - as the real performer. It's one of the most romantic moments in the movies and that close-up on Reynolds' face seals the deal - it gives me goosebumps, it makes me swoon, it makes me teary eyed and gooey all inside. I know it's a little bit sentimental but this truly heartwarming finale - for an already sensational movie - is just what was needed to leave the movie - and you - on a high note for the rest of the day. It's pure magic that never fails. It's just... perfect.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O perigo de ser número 1


Notícia antiga, eu sei, mas ainda não tinha sido discutida aqui no blogue, portanto cá estamos. 


Ao fim de cinquenta anos de reinado no topo da lista, a obra-prima de Orson Welles (discutível, eu sei) "Citizen Kane", universalmente considerado o melhor filme da história do cinema, é destronado na lista de 2012 da revista Sight & Sound. O novo número um da lista é, (pouco) surpreendentemente, "Vertigo" de Alfred Hitchcock, que há dez anos atrás tinha ficado a escassos cinco votos de ultrapassar "Citizen Kane". A lista dos realizadores, contabilizada à parte da lista dos críticos e também ela liderada anteriormente por "Citizen Kane", tem também um novo líder: "Tokyo Story" de Yasujiro Ozu (espero ansiosamente pelo lançamento da revista para depois cá discutir algumas listas, de Scorsese a Allen, de Mann - que adora "Avatar" a Del Toro).


De resto, a lista dos críticos sofreu pouquíssimas flutuações, algo estranho ainda por cima tendo em conta o aumento substancial no número de contribuidores para a lista deste ano, em relação à de 2002. "Battleship Potemkin" de Einsenstein dá lugar a "Man with a Movie Camera" de Vertov, da mesma época. O emparelhamento de "The Godfather" e "The Godfather: Part II" de Coppola, muito contestado aquando da lista anterior, foi desfeito e, com os votos separado, os críticos não chegaram a um consenso em relação a um dos filmes e, por isso, abandonam a lista por troca com "The Searchers", por muitos considerado o melhor filme de John Ford e John Wayne. Finalmente, "The Passion of Joan of Arc" de Dreyer retorna à lista depois de ter aparecido pela última vez na lista de 1992. Infelizmente, o excelente "Singin' in the Rain" de Gene Kelly é empurrado, assim, para fora dos dez primeiros. "2001: A Space Odyssey" de Kubrick é o filme mais recente da lista, datado de 1968, uma lista que em comparação com a de 2002 até regrediu em idade média das películas nos dez primeiros lugares, com o maior número de filmes mudos desde a primeira lista, de 1952. Nos primeiros cinquenta lugares encontram-se apenas dois filmes do novo século e entre eles não está a escolha que muitos apontavam ("There Will Be Blood") como certa: "In the Mood for Love" e "Mulholland Drive" foram as duas escolhas.


Começo desde logo por afirmar que eu sou um acérrimo defensor de "Citizen Kane" como melhor filme da história do cinema. Não propriamente pela sua qualidade (que tem), pela revolução que provocou na época (que de facto provocou) ou pelo estatuto de obra-prima que adquiriu ao longo dos anos (que é merecido), mas porque é, para mim, um exemplo perfeito daquilo que o nosso ideal de cinema deve ser e é, acima de tudo, uma introdução mais que especial aos aprendizes cinéfilos que têm em "Citizen Kane" um fio condutor para o que cinema de qualidade deve ser e a partir deste adquirir o gosto pela sétima arte. "Citizen Kane" mostra o melhor que o cinema tem para oferecer, mantendo-se como um clássico incontestável com pinceladas de modernismo e vibrante estilo e estética. Contudo, há também vantagens em "Citizen Kane" deixar de ser o número um. O consenso em torno do seu rótulo de "melhor filme de sempre" estava a começar a atingir níveis de saturação. Toda a gente sabe que é um dos filmes mais influentes do cinema moderno, toda a gente reconhece o seu valor e qualidade - mas cada vez mais surge mais gente que não percebe o que tem "Citizen Kane" de tão especial para ser colocado em tão alto pedestal, em tão alto nível de sacrilégio e santificação. Idealmente, trocaria este por "2001: A Space Odyssey", que é para mim (um cinéfilo ainda em treino) a obra mais transcendente e imaculadamente perfeita que o cinema me apresentou. Apesar da lista soar a antiga, qualquer um destes dez filmes merece o seu lugar. São películas revolucionárias, que quebraram convenções e ideologias do que o cinema é suposto ser. São adorados e glorificados por alguma razão, ainda que me custe ver gente como Allen, Almodovar, Altman, Buñuel, Bertolucci, Cassavetes, Coppola, Fassbinder, Haneke, Kieslowski, Malick, Ophuls, Powell e Pressburger, Polanski, Resnais, Ray, entre outros, sem um filme sequer nos cinquenta primeiros lugares (não que eu não ache que Godard não mereça as quatro presenças na lista, mas seguramente que outros grandes realizadores poderiam ocupar o lugar de um ou dois desses).


É, então, em "Vertigo" que recai o peso de ser considerado o melhor filme de sempre. E é uma opção que merece bastante admiração da minha parte. "Vertigo" era um dos filmes favoritos de Hitchcock, sem dúvida um dos maiores cineastas da história do cinema. Fora muito mal recebido na altura, tendo levado até à disrupção da frutífera colaboração entre James Stewart e Alfred Hitchcock, que nunca mais fariam outro filme juntos. Foi subindo de reputação com o tempo, com repetidas visualizações e após surgir em 11º lugar na lista de 1972, foi ganhando mais admiradores e mais votos e, em 2002, parecia já que o futuro primeiro lugar lhe pertenceria. É hoje em dia largamente considerado o trabalho mais completo, mais maduro, mais inteligente e mais pessoal de Hitchcock e, por isso, a sua obra-prima. 

Uma escolha popular para número 1, com certeza. Aliando à sua habitual atmosfera de mistério e suspense temas mais românticos de obsessão e paranóia na busca da perfeição, do ideal, de uma realidade que já não existe (e talvez nunca tenha existido), "Vertigo" é o ideal representante da relação de Hitchcock com a sua arte e de nós próprios com o cinema, que com os filmes também somos observadores, perseguidores de mil histórias sem fim na busca que o mundo que vive na nossa imaginação e na tela comungue com o mundo real e se funda num só. Em última instância, a fantasia nunca alcança a realidade. Longe de ser um filme perfeito, "Vertigo" acaba por ser o filme ideal para um crítico de cinema, uma escolha emocional baseada na nossa própria relação intoxicante com os filmes e com o cinema. Um filme para sonhadores, um filme que seduz e encanta e nos faz perder, vezes sem conta.


O tempo dirá se esta mudança será para manter. Para já, tem dois grandes benefícios: muitos irão reapreciar o cânone que o enorme Alfred Hitchcock deixou para trás e irão redescobrir pérolas como o brilhante "Psycho" (o meu Hitchcock favorito), "Rear Window", "North by Northwest", "Rebecca", "The 39 Steps", "Rope", "Dial M For Murder", entre muitos outros. E o outro grande benefício é que fará também muitos espreitar de novo "Citizen Kane", agora sem o peso - e o pó acumulado - de ser a maior obra-prima desta sétima arte e poderão também encontrar novos detalhes, novas cenas, novas nuances que os encantem de novo e façam regressar o amor que nutrem por este filme.

ESPAÇO DE CULTO: Julianne Moore


ESPAÇO DE CULTO é uma rubrica do Dial P For Popcorn que se dedica semanalmente a valorizar, a idolatrar, a adorar uma das nossas actrizes favoritas, tanto pelo seu aspecto físico, como pela sua filmografia.


Quatro nomeações para os Óscares da Academia. Extraordinárias interpretações em "[safe]", "Boogie Nights", "Far From Heaven", "The Hours", "Magnolia", "The Kids Are All Right", "The End of the Affair", "Blindness","Vanya on 42nd Street" e "Saving Grace", todas dignas de um Óscar, ao qual se junta a sua inolvidável Sarah Palin em "Game Change". Aparece ainda em "A Single Man", "Crazy, Stupid, Love", "Children of Men", "The Big Lebowski", "Hannibal", "I'm Not There", "The Fugitive", "The Hand that Rocks the Craddle", "Shipping News", "Cookie's Fortune" e "Psycho" de van Sant. Uma filmografia que qualquer actor ou actriz em Hollywood gostaria de possuir.


Uma das maiores beldades do mundo do cinema, conhecida pela sua beleza rara e pelo magnífico cabelo ruivo que lhe cai sobre os ombros, bem como pelo seu incomensurável talento. Uma actriz hábil e versátil, instintiva e corajosa, que desaparece completamente na personagem que interpreta, que sente todas as emoções à flor da pele e fá-las passar ao telespectador. Que ela ainda não tenha recebido um prémio major da indústria - seja um Tony, um Emmy, um Globo de Ouro ou um Óscar - é uma das maiores injustiças. Uma actriz sem nada mais a provar, JULIANNE MOORE continua a mostrar, ano após ano, mesmo aos cinquenta e dois anos, por que razão é considerada uma das maiores actrizes da indústria e, diria até, de sempre.


A primeira vez que a vi foi, como para muitos outros da minha geração, em "The Hours". Já aí a sua ferocidade e sagacidade me impressionaram e a forma desconcertante como Laura Brown disfarça toda uma vida aparentemente feliz quando por dentro sofre de uma depressão gravíssima e que a faz ponderar o suicídio deixaram uma marca inesquecível no meu eu adolescente. Mas foi só quando peguei em "Boogie Nights", "Far From Heaven" e "[safe]" que me apercebi do quão especial e formidável esta actriz é. Um verdadeiro camaleão, que alterna entre estilos e personagens tonalmente muito diferentes com uma facilidade e uma panache incríveis. Ter-lhe-ia dado já três Óscares (em 2002 por "Far From Heaven", em 1997 por "Boogie Nights" e em 1995 por "[safe]" - para mim as suas melhores interpretações) e é-me incompreensível que a Academia tenha decidido reparar a asneira de 2001 ("roubando" a Nicole Kidman um Óscar que ela dela por "Moulin Rouge!") com mais uma asneira em 2002 ("roubando" a Moore o Óscar para dar a uma interpretação que é a terceira melhor do seu próprio filme - Streep e Moore são superiores a Kidman em "The Hours"). Eu culpo o nariz, claro. E o facto de Julianne Moore fazer tudo parecer fácil e sem esforço.


Esperemos que o Emmy e o Globo de Ouro por "Game Change" ao menos não escapem.
E agora vocês: qual é a vossa interpretação favorita de Julianne Moore?

THE DARK KNIGHT RISES (2012)




Sempre apreciei o franco extremismo que vem com a avaliação do trabalho de Christopher Nolan, porque simplesmente não me lembro de em tempos recentes um realizador conseguir elicitar tanto ódio como admiração por parte do grande público e dos críticos, o que faz da sua obra um caso de estudo bastante fascinante de analisar. Para ajudar ainda mais a situação, a Academia tem também uma relação bastante conflituosa com o realizador, sendo capaz de atribuir aos seus filmes um número substancial de nomeações, sendo capaz até de o nomear pela sua capacidade de escrita, mas ignorando-o sempre na nomeação que, no fundo, mais (lhe) interessa: a de melhor realizador. "The Dark Knight Rises", a última peça na trilogia de Nolan sobre Batman, o Cavaleiro das Trevas, vem adicionar mais contexto à discussão.

Para ser mais fácil explicitar a minha análise, organizei as minhas considerações por tópicos:

1. É de longe o filme mais fraco de Christopher Nolan (a par de "Insomnia"), o menos consistente, o que tem o pior argumento e o mais longo, tanto a nível da real duração do filme como da percepção do espectador. "Batman Begins" tem-se transformado, com os anos, no meu favorito pessoal da trilogia, muito devido ao espectacular primeiro acto do filme (e à mais sensacional origem de um super-herói alguma vez projectada na tela); contudo, admito que "The Dark Knight" é o melhor filme dos três e por isso concordo também que lhe tenha dado a melhor nota de entre os três. 


2. A ambição de Nolan é, para mim, o principal problema. A forma épica e ostentosa como aborda os seus filmes, qual David Lean ou D.W. Griffith (ele que é um confesso fã de ambos) e a necessidade quase messiânica de incluir missivas político-sociais nos seus argumentos (que não tem nada de mal, isto se Nolan não passasse o filme todo a pôr em conflito ideias contraditórias) acaba sempre por servir-lhe mais de handicap como de ponto a favor. Acaba assim por negligenciar o essencial na narrativa, que é o desenvolvimento das personagens (algo que Dickens faz tão bem em "A Tale of Two Cities", que serviu de base à temática do filme), é a organização do fio narrativo, a ideia de continuidade, de evolução no espaço e no tempo, noções básicas de que Nolan abdicou em detrimento do seu já habitual estilo errático de expor informação e complicar o enredo (o filme tem partes literalmente incompreensíveis). 


3. A narrativa é sofrível em vários momentos, uma gigante confusão estrutural, sem grande coesão do princípio ao fim, com sequências consideráveis em que nada se passa e depois segmentos loucos em que nem tempo há para respirar entre os diálogos. Outro problema permanente no filme é a forma como usa e abusa dos traumas e tragédias pessoais das personagens para fazer girar a narrativa, mas depois esquece-se de lhes conferir ressonância emocional, fazendo com que algumas personagens pareçam incompletas e com traços de personalidade confusos (de repente lembro-me da bipolaridade das reacções de Miranda Tate em vários momentos do filme ou do intenso dramatismo em torno da relação de Alfred e Bruce Wayne - com todas as interacções das duas personagens a acabar com um (ou ambos) quase em lágrimas). A temática da "dor" (em contraponto com "caos" de "The Dark Knight" e "medo" de "Batman Begins") deveria estar omnipresente no filme, mas Nolan nunca deixa a câmara tempo suficiente nalgumas cenas para podermos contemplar a atmosfera e a sensação de desespero, de desconsolo, de sofrimento, o que é uma pena porque a alegoria de ter Bane como vilão mestre da derradeira película da trilogia, o único que consegue igualar Batman a nível físico e intelectual (não é por acaso que ele é "the man who broke the Bat") e explorar a sua vulnerabilidade física bem como as suas fraquezas e medos soa no final como uma oportunidade ultimamente  desperdiçada. 


4. Dos três filmes, é o que tem o melhor e mais nivelado elenco - não tem uma Katie Holmes, mas também não tem um Heath Ledger que sobressaiam, para o bem ou para o mal. Contém a melhor interpretação de Christian Bale e de Michael Caine da trilogia, incorpora bastante bem as personagens de Joseph Gordon-Levitt e Anne Hathaway, cuja Selina Kyle é facilmente a melhor interpretação do filme. Tom Hardy cumpre o seu papel, muito exigente a nível físico (basicamente a sua interpretação reside no que ele consegue fazer passar com os seus olhos). É só uma pena que pouco tenha sido feito com Marion Cotillard. A personagem e a actriz mereciam mais.

5. No seguimento do ponto 2: Lee Smith é um milagreiro. Que a edição de "The Dark Knight Rises" seja, mesmo com a intervenção salvadora de Smith, medíocre e apenas relativamente consistente explica na perfeição o problema-base de Christopher Nolan na génese deste filme. Não se pode querer falar de tudo, abordar ideias contraditórias, ser infinitamente detalhado e depois querer trocar exposição por acção. É nisto que depois dá - não se sabe bem onde começar e onde acabar de cortar. Hans Zimmer é, também ele, um milagreiro. A banda sonora é, aliás, das poucas coisas que realmente funciona em pleno no filme. Os valores de produção são também de qualidade inegável, com efeitos especiais incisivos e delicados, que ajudam a aumentar o realismo da trama e, assim, o suspense e o drama.

6. O filme demora a encontrar o seu ritmo, mas quando o encontra, não pára de crescer, compensando as hesitações e inconsistências com um majestoso terceiro acto - a roçar o sublime, mas que ainda assim aproveita o sentimentalismo para fazer avançar a história - e que acaba por encerrar a trilogia em nota alta de execução (ainda assim, aquele epílogo ainda me fez revirar os olhos várias vezes, mesmo se me agrada a ideia final que Nolan deixa de Batman ser mais um símbolo que um homem!).



Bruce cai ao poço em "Begins" / Bruce trepa o poço em "Rises" - o primeiro acto e o último ano da trilogia, numa das muitas conexões entre as três películas

Que Nolan tenha conseguido terminar esta trilogia magnífica de forma tão satisfatória para os fãs diz muito do calibre do realizador. A este filme falta muita coisa e claro que peca em comparação com os seus dois predecessores. Contudo, criar uma visão moderna, semi-apocalíptica de anarquia e caos a controlar a humanidade num mundo fantástico como é o de Gotham City e suceder na exploração do mito de Batman/Bruce Wayne como controverso símbolo de justiça e igualdade, um playboy milionário que controla o poder e a riqueza da sua cidade que vive uma vida dupla como um radical anti-herói individualista com imperativos morais que o colocam muitas vezes na corda bamba entre o mal e o bem, conseguindo ser coerente e fazer intersecções entre os três filmes de forma orgânica e familiar e ao longo da trilogia nunca abdicar do seu estilo irreverente como contador de histórias e estética tendenciosamente obscura, crua, realista é um feito inacreditável e quase impensável para um realizador com uma década de carreira. Agradeço-lhe imenso por ter reposto Batman no lugar de destaque que merece, no panteão dos super-heróis. E mal posso esperar para ver o que este excitante realizador fará no futuro.


Nota:
B/B-

Informação Adicional:
Ano: 2012
Realizador: Christopher Nolan
Argumento: Christopher Nolan, Jonathan Nolan (história de David S. Goyer)
Elenco: Christian Bale, Morgan Freeman, Michael Caine, Marion Cotillard, Anne Hathaway, Tom Hardy, Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt
Banda Sonora: Hans Zimmer
Fotografia: Wally Pfister



sábado, 11 de agosto de 2012

Cinema como inspiração (I)




O original. Uma das canções mais famosas de sempre, que encerra uma das maiores pérolas que vão encontrar na carreira de Martin Scorcese e, para mim, dos seus filmes mais bem conseguidos - "New York, New York", de 1977.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sons da minha vida (I)


Na rubrica "Sons da Minha Vida", vamos focar-nos num dos meus compositores favoritos todas as semanas. 




Dario Marianelli, nascido em Pisa, quase que escapou a uma carreira célebre no mundo do cinema. A decisão de se mudar para Londres para aprender mais sobre música clássica foi, segundo ele, dos maiores riscos que alguma vez cometeu, todavia, como sabemos hoje, foi a escolha acertada.

Afortunadamente, Terry Gilliam contratou-o para substituir Goran Bregovic na composição musical para "The Brothers Grimm" em 2004. Daí até à colaboração com Joe Wright em "Pride and Prejudice" foi um passo e com isto veio a primeira nomeação aos Óscares da Academia. Projectos diversos com realizadores tão distintos como Asif Kapadia, Billie August e Michael Caton-Jones e os irmãos Wachoswki foram florescendo novo material para o compositor, que considera ter atingido o seu estado de graça em nova colaboração com Joe Wright em 2007. O filme em questão é "Atonement" e valer-lhe-ia o seu primeiro troféu da Academia, inteiramente merecido. No seu período pós-Óscar o compositor tentou outros estilos, de "Eat Pray Love" a "The Soloist", voltando ao que melhor sabe fazer para Alejandro Amenabar ("Agora") em 2009 e para o segundo filme do promissor realizador Cary Fukunaga, "Jane Eyre", o ano passado. 

O que o espera no futuro? Nova colaboração já este ano com Joe Wright ("Anna Karenina") - trará esta a sua terceira nomeação? - e a potencialmente Oscarizável estreia de Dustin Hoffman a realizador ("Quartet").

De entre o seu prolífico e magnífico trabalho, escolhi para vossa apreciação estas cinco faixas:


"Dawn" - PRIDE AND PREJUDICE


"Two Thousand Hundred Books" - AGORA


"Attraversiamo" - EAT PRAY LOVE


"Yes" - JANE EYRE


 E a minha favorita pessoal - "Elegy for Dunkirk", de "ATONEMENT" (assombra-me o uso do coro de vozes dos soldados a ecoar à distância):

 

Grandes Melodias do Ecrã (I)



"Streets of Philadelphia" - PHILADELPHIA (1993) - Bruce Springsteen
Vencedor do Óscar para Melhor Canção Original



Alguém tem dúvidas que se este filme e esta música fossem lançados nos últimos dez anos, não só Bruce Springsteen não teria ganho o Óscar como eu aposto bom dinheiro que nem sequer nomeado era? (a prová-lo está a incompreensível falha da Academia em nomear "The Wrestler" em 2007). Tempos loucos.


Uma achega final: por muito mal que eu diga de Tom Hanks, considero esta interpretação dele uma das maiores interpretações de sempre (compensa largamente o meu ódio por "Forrest Gump"). O que não vale ter Jonathan Demme a realizador (ver ainda: Anne Hathaway, Michelle Pfeiffer e Anthony Hopkins).

Quando a Academia acerta (I)


Uma rubrica destinada a provar que apesar de algumas decisões questionáveis da Academia, o Óscar é, por mérito próprio, o prémio mais cobiçado pelo mundo do cinema. E quando a Academia acerta... Merece palmas também.



Barbra Streisand | Melhor Actriz 1969 | "Funny Girl"

Uma revelação ao nível de Judy Garland em "A Star is Born" ou Liza Minnelli em "Cabaret". Uma interpretação eterna.

Actividades do CCOP


O Círculo de Críticos Online Portugueses (CCOP) - do qual eu e o João fazemos parte - tem andado ocupado nos últimos tempos com listas especiais, que abordaram três dos maiores realizadores americanos da era moderna: Martin Scorsese, Woody Allen e (acabado de publicar) Ridley Scott.


Espero que tenham gostado tanto quanto eu de ver as pequenas nuances e flutuações de cada top e de compararem com os vossos favoritos pessoais. Posso dizer que fiquei bastante satisfeito com o resultado no top do Ridley Scott, com os meus favoritos (apesar de não na ordem em que votei neles - na minha lista, "Alien" continuaria o primeiro lugar, mas os outros dois trocariam) a figurarem todos no pódio - naturalmente, diria eu, uma vez que são os três filmes de Ridley Scott que reconheço estarem acima da mediocridade habitual dos seus restantes trabalhos (assumo, de qualquer forma, que é um realizador com o qual estou, ainda, pouco familiarizado).


Já no caso de Woody Allen (aviso já que não sou um fervoroso fã dos seus filmes mais recentes, pelo que me considero mais um admirador confesso do que propriamente um devoto seguidor), fiquei satisfeito por ver a minha campanha positiva em relação a três filmes que considero serem a nata da filmografia de Woody Allen - "Hannah and Her Sisters", "Bullets over Broadway" e "The Purple Rose of Cairo" - que são habitualmente postos de lado nestes tops em detrimento dos mais óbvios (mas sim, não menos merecedores) "Annie Hall" e "Manhattan" (fiquei contente por ver os três entre as dez melhores obras - tecnicamente, "Bullets" não é uma das dez melhores, mas está, por empate de vários filmes, no décimo lugar). Devo dizer que achei surpreendente "Interiors" pontuar tão alto, porque não pensava que conseguisse tão boas notas (foi o meu sexto favorito, com nota 9, ainda assim) de toda a gente. Uma frustração pessoal: o exageradamente amado "Midnight in Paris" figurar no top-10. Não consigo entender. Pode ser embirração minha. 


Finalmente, o top que, para mim, mais gozo me deu desvendar: o do inigualável Martin Scorsese. Uma surpresa enorme ver "Hugo" no quinto lugar (a nota não surpreende, dado que é a mesma que lhe tínhamos atribuído num dos tops mensais) e mesmo obras menores como "The Departed" e o ambíguo "Shutter Island" entre as dez mais pontuadas. O dois primeiros lugares do pódio são, para mim, indiscutíveis, sendo "Raging Bull" e "Taxi Driver" duas das obras mais influentes do cinema americano dos últimos cinquenta anos. Já o terceiro lugar merece discussão. Não me entendam mal, eu gosto muito do "Goodfellas" - só acho que "The King of Comedy", "Cape Fear" ou "New York, New York" são melhores (aliás, a todos dei melhor pontuação até que a "Raging Bull", embora perceba que este último é sempre uma escolha óbvia para melhor quando se fala de Scorsese). Para a boa nota de "Goodfellas" pode ter contribuído ter sido um dos quatro filmes que toda a gente do painel viu.

E vocês, já foram espreitar o trabalho do CCOP? Que pensam destas listas?

Parabéns e novidades


Bem-vindos de volta (isto é, espero que ainda por aí estejam!) ao Dial P For Popcorn, que anda a tentar recompôr-se depois de um ano complicado que exigiu (ainda exige) a nossa ausência aqui do estaminé. Vamos tentar recuperar aos poucos; a ver no que isto dá. Espero que gostem das novas cores do blogue - depois do vermelho e do verde, vem o azul.

1. Antes de mais, tenho a fazer aqui um pequeno apontamento congratulatório para comigo e com o João: há uma semana (mais precisamente no dia 24), celebrámos o nosso segundo aniversário. Ainda mais saboroso se torna lembrar-nos desse facto sabendo o rebuliço que ia na nossa vida nesse preciso dia, com ambos a realizarmos o último exame do ano.  Portanto, parabéns a nós e parabéns a quem nos lê - não chegámos a dois anos de vida sozinhos. A vossa companhia tem sido importante.



De um ao outro passaram dois anos

2. Em segundo lugar, informo que as rubricas antigas cá do burgo (desde "O Cinema Numa Cena" a "Personagens do Cinema") estão encerradas por tempo indefinido. Considerem-nos a "NBC da blogosfera" - é tempo de inovar, é tempo de criar novas rubricas e novas atracções para um espaço que - apesar de apreciado e querido pela maioria dos visitantes - não escapou a um certo envelhecimento e à criação de hábitos de rotina. Eis que voltamos com muitas ideias - e, para já, com quatro novas rubricas. Ao longo do dia elas vão sendo apresentadas, saltitando entre o cinema e a televisão. Até ao final do ano poderão vir mais, consoante o feedback. E quanto aos colegas da blogosfera, provavelmente em breve receberão alguns convites para algumas iniciativas que temos pensado desenvolver.

3. Falando em televisão - por nós passaram (sem discussão) a cerimónia dos Óscares, as primeiras previsões para os prémios da Academia deste novo ano e as previsões para os nomeados aos Emmys. Esperemos que o ciclo termine aqui. Quero (e tenho de!) falar sobre os Emmys, um dos meus prémios favoritos (só pela duração fastidiosa da cerimónia me merece apreço). E previsões aos Óscares de 2013 hão-de cá aparecer muito em breve. Esperem e verão.


4. Ainda não me esqueci da retrospectiva Meryl Streep, abandonada no final dos anos 80. Espero fazê-la regressar ainda este mês - o 'bichinho' de escrever sobre a maior actriz dos nossos tempos voltou com a sua terceira vitória (já pensava que não estava destinado a acontecer!)


5. Finalmente: ainda há interessados em que eu revele (com oito meses de atraso, eu sei!) os meus nomeados e vencedores para os Dial A For Awards de 2011? Ainda haverá certamente lugar na estante de Ashgar Farhadi para mais um troféu para "A Separation", não? Foi contudo com curiosidade que vi que tenho algumas mudanças interessantes que pretendo realizar nas minhas listas, depois de há dias ter voltado a olhar para elas... (olhem para mim a tentar criar buzz e aguçar o apetite...)

Bem, alguma sugestão que queiram fazer, já que estamos dispostos a tudo para agradar o 'cliente'?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Best Shot: How To Marry a Millionaire


This post marks our blog's return to participating in Nathaniel Rogers' thrilling series "Hit Me With Your Best Shot". I was very sad that I wasn't able to participate last week, in which the series focused on Wes Anderson's "The Royal Tenenbaums", one of my personal favorites, so this week I knew I couldn't miss. 

The movie being showcased is "HOW TO MARRY A MILLIONAIRE", a deity from the 1950s with three huge stars and box office draws of the time, Betty Grable, Lauren Bacall and the one-and-only Marilyn Monroe. This romantic comedy, though amusing and clever at times, is too simple and too plain to leave me with a lasting impression. Luckily, the movie itself wasn't the important part: the three actresses were.

Of the three, I found Lauren Baccall's Shatze the most inspired character, the more fleshed-out, while Marilyn Monroe's is by far the weakest in terms of service to the plot. Nevertheless, Monroe never fails to impress, substantially elevating the material with her great comic timing and her dim-witted appearance (she looks like a modern hipster trying to pass as cool with those crazy-ass glasses). Betty Grable was just fine. The man they date are far less interesting and therefore, for me, don't even merit any commentary.


Look at hipster Marilyn (if this were today, this would be an instant Internet meme like 'hipster Ariel')


There were three moments that stuck with me:

1. Lauren Bacall's expression of superiority and despisement (that eyeroll! that false look of concern!) when she's informed by her two friends of their mission's failure, marrying poor, humble men:


2. Marilyn Monroe (not wearing glasses and thus blind as a bat) at first mistaking the maitre d' for another man and then bumping into him unknowingly:




3. And my best shot: in a moment of total awesomeness, Lauren Bacall, who spends the entire movie behaving like a rich, snotty bitch, gives in and is seen eating a plain, greasy burger. And still giving a face like it's SO beneath her. Classic diva / moment of bitchery.




I may be poor as hell but I'm not going down without dignity. He's still WAY out of my league. No tie, how dares he!


The movie doesn't hold up very well today (many jokes and situations feel very time-appropriate) but the actresses are still a delight.  As for this series from Nathaniel? It's a blessing that keeps on giving. I hope he never stops doing this.