Era para ter escrito há mais dias uma simples retrospectiva (se é isso que procuram, recomendo esta, esta e esta - e em particular esta que antecedeu os Óscares; quanto a críticas do espectáculo em si podem optar por aqui ou ali), nada de muito especial, em torno da mais recente cerimónia dos Óscares. Não sei porquê - talvez antecipando algumas reacções à minha crítica do THE KING'S SPEECH, talvez porque já sabia o frenesim que seria nos mídia a quererem comparar esse com THE SOCIAL NETWORK - mas preferi adiar por mais alguns dias o meu veredicto. E curioso é que este artigo que abaixo vos deixo é tudo menos uma retrospectiva (essa deixarei possivelmente para o retorno dessa mesma rubrica dentro de um mês). É um genuíno artigo de opinião. Porque me parece necessário. Porque estou farto de ver THE KING'S SPEECH e THE SOCIAL NETWORK lado a lado, numa luta sem fim. Porque o 2010 cinematográfico tem de ser enterrado e eu tenho de encontrar paz com a decisão da Academia. Porque acho que não falei do quanto eu gosto de THE SOCIAL NETWORK por aqui. Porque acho que metade das críticas que um e outro filme têm recebido são inteiramente injustas.
Vamos aos factos, primeiro que tudo: o que tivemos no passado domingo foi uma verdadeira chapada nos críticos no retorno à tradição. Um novo recorde para os livros da História. THE SOCIAL NETWORK ultrapassou a centena de prémios de críticos e fica para a história como o filme que mais prémios venceu sem conseguir levar também o Óscar. Fica para a história como o primeiro filme que os críticos unanimemente apoiaram (também tenho já a dizer: inexplicavelmente; existiram mais que dois grandes filmes este ano, sim?), a somar aos Globos e ao sempre estranhíssimos NBR, que os dois grandes indicadores do pulso da corrida aos Óscares - DGA e PGA - recusaram - tendência depois confirmada pela vitória óbvia de THE KING'S SPEECH nos SAG e nos BAFTA e nos Óscares.
Para este entusiasta dos Óscares, foi um dia triste. Nem precisava eu de ter dito no meu live blog o que achava desse erro - Steven Spielberg expressou-o melhor do que eu, ao desculpabilizar a Academia não só desta como de outras decisões igualmente polémicas: disse ele que mesmo os filmes que não vencessem estariam em boa companhia, nomeadamente a de CITIZEN KANE (que perdeu Melhor Filme para HOW GREEN WAS MY VALLEY), de BROKEBACK MOUNTAIN (que perdeu para CRASH), de NETWORK (que perdeu para ROCKY) e RAGING BULL (que perdeu para ORDINARY PEOPLE) - interessante que esqueceu outros companheiros como SEABISCUIT, THE BLIND SIDE e CHOCOLAT, mas nem vamos pegar nesses sob risco de ficar já enojado.
THE KING'S SPEECH é um filme que as pessoas gostam agora - amam até. É verdade. E por mim tudo bem. Não sou nada contra que as pessoas gostem do filme. Eu também gostei muito, como se vê pela minha crítica. O que temo é que, tal como no caso de SLUMDOG MILLIONAIRE, ou de GLADIATOR, ou de CHARIOTS OF FIRE, de ROCKY, de BRAVEHEART e de DANCES WITH WOLVES e dos supra-mencionados CRASH E ORDINARY PEOPLE, o tempo não lhe vá fazer justiça. Todos estes foram grandes filmes na sua altura, sem dúvida. Mas agora? Largamente esquecidos. Quase espanta alguém se lhe dissermos que todos estes venceram Melhor Filme. E eu lamento mas tenho quase a certeza absoluta que é assim que THE KING'S SPEECH vai ser lembrado.
Como um espaço em branco, como uma questão para a qual ninguém tem resposta, como um apagão colectivo da memória da Academia. É um grande filme agora? É. Será dentro de alguns anos? Não.
Quanto a THE SOCIAL NETWORK... O tempo ser-lhe-á mais generoso. Será um exemplo perfeito de um filme com todos os elementos em igual nível de qualidade, todos a trabalhar juntos para criar uma extraordinária obra-prima. É o que acontece quando se junta um excelente realizador com excelentes editores, com excelentes compositores, com excelentes técnicos de som, excelente fotógrafo e um excelente argumentista - e arranjam um excelente elenco para interpretar e dar vida a papéis que nada têm a ver com os habituais estereótipos cinematográficos. Aqui temos um anti-herói a alcançar sucesso, um tipo simpático que é atraiçoado sem nada o fazer prever e um oportunista que vê em outros a possibilidade de poder ver a sua história de sucesso repetir-se. Não tenho qualquer dúvida que este será, dos dois, o filme mais lembrado.
Fora deste dueto, penso que teremos indubitavelmente mais filmes de 2010 que serão para sempre lembrados: TOY STORY 3 veio terminar uma época de ouro da Pixar em grande, encerrando a sua grande franchise com nota altíssima e com um filme tão ou mais amado que os seus dois antecessores. TRUE GRIT é mais um filme fabuloso a adicionar à riquíssima filmografia dos irmãos Coen. INCEPTION foi, diga-se, uma aposta bem ganha de Christopher Nolan, que se tornou, quase do dia para a noite, no realizador favorito do mundo. Os seus (poucos) detractores são imediatamente silenciados pelos inúmeros seguidores, devotos e fãs. BLACK SWAN e THE FIGHTER foram os passos que Darren Aronofsky e David O. Russell, respectivamente, precisavam para avançar na sua carreira. Filmes brilhantes, sólidos e interessantes, provaram o talento dos seus intérpretes e ao mesmo tempo do seu realizador mesmo com vários estúdios e distribuidoras a voltarem-lhes as costas. Tenho plena convicção que estes cinco filmes serão mais lembrados dentro de uma década que THE KING'S SPEECH. Plena convicção.
Voltando ao nosso dueto... Há que conhecer que desde que o projecto THE KING'S SPEECH foi anunciado que se sentiu que era inevitável que fosse esse o nosso vencedor de Melhor Filme deste ano (e como se viu também seria o veículo óptimo para Firth vencer o Óscar; só uma nota de rodapé: quantos anos se podem orgulhar de terem quatro interpretações tão boas a vencer? Não muitos...). E quando vimos o resultado final... Restou-nos ao menos contentarmo-nos com o facto de o filme ser muito melhor do que prometia. Não é inovador, não é original, não é nada que o cinema não tenha visto, não contribui por isso em nada para a história do cinema. É um bom filme, bem realizado, bem produzido, bem encenado e bem executado. Pode ser o filme favorito de muitas pessoas e, como disse na minha crítica, entende-se porquê. É uma história honesta e sincera de amor e amizade, de superação das dificuldades e da aceitação de si próprio.
O engraçado é que a corrida - enquanto foi comandada pelos críticos - fugiu do controlo do Rei e caiu para o lado do plebeu. THE SOCIAL NETWORK foi amealhando prémio atrás de prémio e a tendência dos Oscarologistas, críticos e bloggers de cinema como eu próprio foi de pensar que pelo quarto ano consecutivo teríamos forte presença da opinião crítica nas decisões da Academia. Tristes de nós por pensarmos que temos alguma influência a esse nível. Contudo, as escolhas da Academia nos últimos anos foram realmente algo fora do comum. Algum dia há 20 anos a Academia teria optado por um filme de gangsters sombrio e desprovido de qualquer emoção e pulso, mesmo tendo ele sido realizado por Martin Scorcese (THE DEPARTED)? Por acaso alguém acha mesmo que há 20 anos a Academia teria entregue o prémio a um favorito da audiência, um feel good movie, produzido integralmente no estrangeiro e que havia começado a coleccionar prémios aqui e ali? E ainda por cima dar a SLUMDOG MILLIONAIRE oito (!) Óscares no total? E que tal a escolha de THE HURT LOCKER, um filme de guerra extremamente nada convencional e ainda por cima realizado por uma mulher, produzido com um orçamento reduzidíssimo? E a de NO COUNTRY FOR OLD MEN, um dos filmes mais estranhos da filmografia dos irmãos Coen, que não são também propriamente os melhores amigos da Academia? Num ano em que eles podiam perfeitamente ter caído no confortável e dar o prémio a mais um filme britânico que fez tudo bem (ATONEMENT) ou à surpresa indie do ano (JUNO)? Ou premiar uma obra-prima classicamente americana (THERE WILL BE BLOOD)? Temos portanto três filmes profundamente depressivos sem final feliz e uma história sem uma mensagem directa e, claro, o "tubarão escondido" que era SLUMDOG MILLIONAIRE (cuja vitória, desde Setembro de 2008, nunca foi posta em causa). A única coisa que todos tinham em comum? Os seus realizadores, no topo da sua forma e a ganhar o tipo de respeito que normalmente augura prémios maiores. E é claro que com tantas boas decisões consecutivas, nós - os críticos - comecemos a sonhar que a Academia tenha mudado de gosto e opinião e tenha passado a escutar mais os críticos.
É engraçado que no ano em que os críticos finalmente começam a parar de ter que pensar como a Academia para prever os vencedores dos Óscares, a Academia tenha decidido voltar aos hábitos antigos. Tinha de vir este THE KING'S SPEECH para nos provar o contrário. Afinal, a Academia ainda gosta de recorrer ao confortável e familiar de vez em quando. THE KING'S SPEECH é o típico filme britânico com actores consagrados que venceria mais de uma meia dúzia de Óscares seja hoje, seja há dez, vinte, cinquenta ou oitenta anos atrás. É um filme feito para ganhar Óscares e é exactamente isso que fez. Ainda assim, a corrida não lhe foi assim tão simpática como pode parecer. Sim, ganhou quatro Óscares, incluindo Filme, Realizador e Argumento. Todavia, perdeu o dobro. Oito. Entre esses oito perdeu dois que é um descaramento que não tenha vencido - Direcção Artística e Guarda-Roupa. E entre os quatro que ganhou há um que me tira mesmo do sério: Melhor Realizador.
Teremos que voltar a 2005-2006 e ao meu "ano negro" ou a 2002-2003 ou 1998-1999 para encontrar um precedente que se assemelhe a este. Estes foram anos em que aquele que era percebido como o favorito à vitória para Melhor Filme descarrilou e deixou fugir a vitória para outro. Ainda assim, nestes três casos, o realizador conceituado (que como falei acima era o critério major pelo qual se vinham pautando os últimos anos da Academia) acabou por vencer o prémio: Spielberg bateu Madden em 1998, Lee bateu Haggis em 2005 e Polanski bateu Marshall em 2002. Os novatos podiam levar Melhor Filme mas o Melhor Realizador ia para os grandes homens do leme. Então que raio se passou este ano?
O melhor ano para encontrar comparações com este é 2004-2005. Martin Scorcese, que nunca tinha vencido o prémio de Melhor Realizador apesar de ter uma carreira de mais de trinta anos de sucessivos grandes filmes, era mais do que favorito para vencer por THE AVIATOR... Até que Clint Eastwood chegou e ganhou os troféus principais para MILLION DOLLAR BABY, um filme que surgiu do nada e ao nada voltou. Não estou sequer a efectuar uma comparação entre Hooper e Eastwood - são de duas ligas diferentes. O exemplo que quis dar diz respeito a Scorcese/Fincher. Dois realizador largamente considerados favoritos à vitória, que toda a gente achava que venceriam mesmo que o seu filme perdesse. E perderam os dois. Esta derrota de Fincher é inexplicável - não dá sequer para colocar ao mesmo nível o que Fincher fez em THE SOCIAL NETWORK e o que Hooper fez em THE KING'S SPEECH. Qualquer um filmava THE KING'S SPEECH como Hooper o fez - até ele reconhece que é melhor director de actores que realizador. Ninguém - e repito ninguém - filmava THE SOCIAL NETWORK como David Fincher. Incompreensível. Valeu as vitórias mais do que merecidas em Edição, Banda Sonora e Argumento Adaptado para me aliviar a dor que a Academia me causou este ano.
Foi o ano que mais me custou assistir à cerimónia. Foi o ano que mais mágoa me deu o resultado final. E por muito mais que THE SOCIAL NETWORK fosse o meu favorito e o meu filme preferido do ano, eu lhe dedicaria à mesma todos os elogios que aqui lhe deixei. O facto de ele ser o meu favorito só piora mais as coisas. No fim de contas e como Sasha Stone diz, "o truque é não nos importarmos". No final do dia, os Óscares, tal como tudo que envolva escolhas, é uma decisão pessoal. E se para eles THE KING'S SPEECH é o melhor, que seja. Não o é para mim e isso é que conta.
Quanto a 2010... Pese algumas críticas deste ano ainda para publicar, considerem Óscares assunto encerrado cá no blogue, pelo menos por uns tempos. Venha 2011.
Como um espaço em branco, como uma questão para a qual ninguém tem resposta, como um apagão colectivo da memória da Academia. É um grande filme agora? É. Será dentro de alguns anos? Não.
Quanto a THE SOCIAL NETWORK... O tempo ser-lhe-á mais generoso. Será um exemplo perfeito de um filme com todos os elementos em igual nível de qualidade, todos a trabalhar juntos para criar uma extraordinária obra-prima. É o que acontece quando se junta um excelente realizador com excelentes editores, com excelentes compositores, com excelentes técnicos de som, excelente fotógrafo e um excelente argumentista - e arranjam um excelente elenco para interpretar e dar vida a papéis que nada têm a ver com os habituais estereótipos cinematográficos. Aqui temos um anti-herói a alcançar sucesso, um tipo simpático que é atraiçoado sem nada o fazer prever e um oportunista que vê em outros a possibilidade de poder ver a sua história de sucesso repetir-se. Não tenho qualquer dúvida que este será, dos dois, o filme mais lembrado.
Fora deste dueto, penso que teremos indubitavelmente mais filmes de 2010 que serão para sempre lembrados: TOY STORY 3 veio terminar uma época de ouro da Pixar em grande, encerrando a sua grande franchise com nota altíssima e com um filme tão ou mais amado que os seus dois antecessores. TRUE GRIT é mais um filme fabuloso a adicionar à riquíssima filmografia dos irmãos Coen. INCEPTION foi, diga-se, uma aposta bem ganha de Christopher Nolan, que se tornou, quase do dia para a noite, no realizador favorito do mundo. Os seus (poucos) detractores são imediatamente silenciados pelos inúmeros seguidores, devotos e fãs. BLACK SWAN e THE FIGHTER foram os passos que Darren Aronofsky e David O. Russell, respectivamente, precisavam para avançar na sua carreira. Filmes brilhantes, sólidos e interessantes, provaram o talento dos seus intérpretes e ao mesmo tempo do seu realizador mesmo com vários estúdios e distribuidoras a voltarem-lhes as costas. Tenho plena convicção que estes cinco filmes serão mais lembrados dentro de uma década que THE KING'S SPEECH. Plena convicção.
Voltando ao nosso dueto... Há que conhecer que desde que o projecto THE KING'S SPEECH foi anunciado que se sentiu que era inevitável que fosse esse o nosso vencedor de Melhor Filme deste ano (e como se viu também seria o veículo óptimo para Firth vencer o Óscar; só uma nota de rodapé: quantos anos se podem orgulhar de terem quatro interpretações tão boas a vencer? Não muitos...). E quando vimos o resultado final... Restou-nos ao menos contentarmo-nos com o facto de o filme ser muito melhor do que prometia. Não é inovador, não é original, não é nada que o cinema não tenha visto, não contribui por isso em nada para a história do cinema. É um bom filme, bem realizado, bem produzido, bem encenado e bem executado. Pode ser o filme favorito de muitas pessoas e, como disse na minha crítica, entende-se porquê. É uma história honesta e sincera de amor e amizade, de superação das dificuldades e da aceitação de si próprio.
O engraçado é que a corrida - enquanto foi comandada pelos críticos - fugiu do controlo do Rei e caiu para o lado do plebeu. THE SOCIAL NETWORK foi amealhando prémio atrás de prémio e a tendência dos Oscarologistas, críticos e bloggers de cinema como eu próprio foi de pensar que pelo quarto ano consecutivo teríamos forte presença da opinião crítica nas decisões da Academia. Tristes de nós por pensarmos que temos alguma influência a esse nível. Contudo, as escolhas da Academia nos últimos anos foram realmente algo fora do comum. Algum dia há 20 anos a Academia teria optado por um filme de gangsters sombrio e desprovido de qualquer emoção e pulso, mesmo tendo ele sido realizado por Martin Scorcese (THE DEPARTED)? Por acaso alguém acha mesmo que há 20 anos a Academia teria entregue o prémio a um favorito da audiência, um feel good movie, produzido integralmente no estrangeiro e que havia começado a coleccionar prémios aqui e ali? E ainda por cima dar a SLUMDOG MILLIONAIRE oito (!) Óscares no total? E que tal a escolha de THE HURT LOCKER, um filme de guerra extremamente nada convencional e ainda por cima realizado por uma mulher, produzido com um orçamento reduzidíssimo? E a de NO COUNTRY FOR OLD MEN, um dos filmes mais estranhos da filmografia dos irmãos Coen, que não são também propriamente os melhores amigos da Academia? Num ano em que eles podiam perfeitamente ter caído no confortável e dar o prémio a mais um filme britânico que fez tudo bem (ATONEMENT) ou à surpresa indie do ano (JUNO)? Ou premiar uma obra-prima classicamente americana (THERE WILL BE BLOOD)? Temos portanto três filmes profundamente depressivos sem final feliz e uma história sem uma mensagem directa e, claro, o "tubarão escondido" que era SLUMDOG MILLIONAIRE (cuja vitória, desde Setembro de 2008, nunca foi posta em causa). A única coisa que todos tinham em comum? Os seus realizadores, no topo da sua forma e a ganhar o tipo de respeito que normalmente augura prémios maiores. E é claro que com tantas boas decisões consecutivas, nós - os críticos - comecemos a sonhar que a Academia tenha mudado de gosto e opinião e tenha passado a escutar mais os críticos.
É engraçado que no ano em que os críticos finalmente começam a parar de ter que pensar como a Academia para prever os vencedores dos Óscares, a Academia tenha decidido voltar aos hábitos antigos. Tinha de vir este THE KING'S SPEECH para nos provar o contrário. Afinal, a Academia ainda gosta de recorrer ao confortável e familiar de vez em quando. THE KING'S SPEECH é o típico filme britânico com actores consagrados que venceria mais de uma meia dúzia de Óscares seja hoje, seja há dez, vinte, cinquenta ou oitenta anos atrás. É um filme feito para ganhar Óscares e é exactamente isso que fez. Ainda assim, a corrida não lhe foi assim tão simpática como pode parecer. Sim, ganhou quatro Óscares, incluindo Filme, Realizador e Argumento. Todavia, perdeu o dobro. Oito. Entre esses oito perdeu dois que é um descaramento que não tenha vencido - Direcção Artística e Guarda-Roupa. E entre os quatro que ganhou há um que me tira mesmo do sério: Melhor Realizador.
Teremos que voltar a 2005-2006 e ao meu "ano negro" ou a 2002-2003 ou 1998-1999 para encontrar um precedente que se assemelhe a este. Estes foram anos em que aquele que era percebido como o favorito à vitória para Melhor Filme descarrilou e deixou fugir a vitória para outro. Ainda assim, nestes três casos, o realizador conceituado (que como falei acima era o critério major pelo qual se vinham pautando os últimos anos da Academia) acabou por vencer o prémio: Spielberg bateu Madden em 1998, Lee bateu Haggis em 2005 e Polanski bateu Marshall em 2002. Os novatos podiam levar Melhor Filme mas o Melhor Realizador ia para os grandes homens do leme. Então que raio se passou este ano?
O melhor ano para encontrar comparações com este é 2004-2005. Martin Scorcese, que nunca tinha vencido o prémio de Melhor Realizador apesar de ter uma carreira de mais de trinta anos de sucessivos grandes filmes, era mais do que favorito para vencer por THE AVIATOR... Até que Clint Eastwood chegou e ganhou os troféus principais para MILLION DOLLAR BABY, um filme que surgiu do nada e ao nada voltou. Não estou sequer a efectuar uma comparação entre Hooper e Eastwood - são de duas ligas diferentes. O exemplo que quis dar diz respeito a Scorcese/Fincher. Dois realizador largamente considerados favoritos à vitória, que toda a gente achava que venceriam mesmo que o seu filme perdesse. E perderam os dois. Esta derrota de Fincher é inexplicável - não dá sequer para colocar ao mesmo nível o que Fincher fez em THE SOCIAL NETWORK e o que Hooper fez em THE KING'S SPEECH. Qualquer um filmava THE KING'S SPEECH como Hooper o fez - até ele reconhece que é melhor director de actores que realizador. Ninguém - e repito ninguém - filmava THE SOCIAL NETWORK como David Fincher. Incompreensível. Valeu as vitórias mais do que merecidas em Edição, Banda Sonora e Argumento Adaptado para me aliviar a dor que a Academia me causou este ano.
Foi o ano que mais me custou assistir à cerimónia. Foi o ano que mais mágoa me deu o resultado final. E por muito mais que THE SOCIAL NETWORK fosse o meu favorito e o meu filme preferido do ano, eu lhe dedicaria à mesma todos os elogios que aqui lhe deixei. O facto de ele ser o meu favorito só piora mais as coisas. No fim de contas e como Sasha Stone diz, "o truque é não nos importarmos". No final do dia, os Óscares, tal como tudo que envolva escolhas, é uma decisão pessoal. E se para eles THE KING'S SPEECH é o melhor, que seja. Não o é para mim e isso é que conta.
Quanto a 2010... Pese algumas críticas deste ano ainda para publicar, considerem Óscares assunto encerrado cá no blogue, pelo menos por uns tempos. Venha 2011.