Dial P for Popcorn: junho 2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ÚLTIMA HORA: Trailer de 'WAR HORSE' e de 'MISSION IMPOSSIBLE : GHOST PROTOCOL''


Numa tentativa de aos poucos retomar o ritmo de publicação normal, só tenho mesmo é que pedir desculpa pela minha ausência - se bem que forçada - do nosso (e vosso) blogue e esperar que continuemos a merecer a vossa confiança durante e sobretudo após este período de vacas magras. Mas vamos ao que interessa.

Já deixei passar a oportunidade de revelar em oportuno momento o trailer de 'The Dangerous Method' de Cronenberg, o teaser trailer de 'Brave' (a maior operação de marketing executada nesta temporada cinematográfica, depois do fiasco que está a ser 'Cars 2'), o trailer de 'Moneyball', o trailer de 'Martha Marcy May Marlene', o trailer de 'The Descendants', o de 'The Whistleblower', o de 'Take Shelter' e o de 'The Girl With The Dragon Tattoo', entre outros. Todos estes títulos encontram-se disponíveis no iTunes para visualização imediata; contudo, irei realizar aqui um post de análise a cada um destes mesmos trailers num futuro muito próximo - adoraria projectar até sexta-feira mas já sabem que eu e os prazos não nos damos definitivamente bem; o meu conselho - claro que puxando a brasa à minha sardinha - é que esperem ansiosamente pela minha criteriosa e, espero eu, inspirada análise.

O que me traz cá hoje é a revelação, há momentos atrás, de dois trailers que muito me surpreenderam: o primeiro é do suposto principal candidato ao Óscar de Melhor Filme, o outro porque é de um filme do qual eu não augurava nada de bom e que me deixou intrigado.


O primeiro é, então, o trailer de WAR HORSE, um dos dois títulos com que Steven Spielberg nos presenteia este ano (o outro sendo 'The Adventures of Tintin'), baseado na obra de Michael Morpurgo que ainda recentemente viu a sua adaptação teatral conquistar o Tony de Melhor Peça, entre outros prémios. O filme segue a história do jovem Albert (Jeremy Irvine) e do seu cavalo Joey, o seu melhor amigo, que entretanto é vendido à infantaria militar e enviado para as trincheiras na I Guerra Mundial. Contra todas as expectativas, Albert decide partir para a França - tendo sido recusado pelo exército, dada a sua idade -  para se poder juntar ao seu amigo. Além do relativamente desconhecido Jeremy Irvine, o elenco secundário está recheado de grandes nomes, como Emily Watson, David Thewlis, Niels Arestrup, David Kross e Peter Mullan.

Com banda sonora do incomparável John Williams, fotografia do também frequente colaborador Janusz Kaminski, edição do incansável Michael Kahn e um argumento de Richard Curtis e Lee Hall, WAR HORSE promete ser mais uma adição inolvidável aos grandes dramas que compõem a carreira do realizador. Parece ser incrivelmente épico e assombroso. Promete.


O outro trailer com que vos queria deixar ficar é o trailer de MISSION IMPOSSIBLE: GHOST PROTOCOL, o quarto filme da saga do Agente Ethan Hunt (Tom Cruise). Quem me conhece sabe que sou dificilmente impressionável por um bom filme de acção. E esta incursão de Brad Bird, um animador nato, um criativo imaginativo como muito poucos (conhecido na Disney-Pixar como "o novo Walt Disney"), responsável pelos extraordinários "The Incredibles", "The Iron Giant" e "Ratatouille", na franchise de "Mission Impossible" custou-me a perceber. Depois de visto o trailer, tenho a dizer que me deixou bastante intrigado. 


Vejam e tirem as vossas próprias conclusões:



O filme, que conta com um rejuvenescido Tom Cruise, junta-o a Jeremy Renner, Paula Patton, Simon Pegg, Tom Wilkinson, Josh Holloway e Michael Nyqvist, entre outros, com Christopher McQuarrie ("The Usual Suspects") a assinar o argumento, três vencedores de Óscares por detrás da banda sonora (Giacchino), fotografia (Elswit) e edição (Hirsch) e, como já mencionámos, Brad Bird (realizador do maior filme de acção - animado ou não - dos últimos tempos, "The Incredibles") na cadeira de realizador. Chega aos cinemas em Dezembro de 2011.




segunda-feira, 27 de junho de 2011

JÛSAN-NIN NO SHIKAKU (2010)



Jûsan-nin no shikaku, cujo título inglês é 13 Assassins, foi uma pequena desilusão. Tinha expectativas relativamente altas sobre aquilo que poderia sair desta produção que alia as artes marciais e os cenários de guerra no Japão do final do Séc. XIX.


Tudo se baseia na necessidade de eliminar o Lord Naritsugu Matsudaira, um cruel, impiedoso e insensível líder, que se prepara para suceder ao seu irmão na chefia do país, espalhando o terror em seu redor. Para tal missão, é contactado o Samurai Shinzaemon Shimada, que consegue reunir 12 valentes lutadores e organiza um plano para derrotar Matsudaira e o seu gigantesco exército. Uma missão à partida impossível, e que precisa de muito astúcia, coragem e alguma sorte para ser bem sucedida.


Num filme que me fez lembrar, a espaços, o lendário Seven Samurai do igualmente eterno Akira Kurosawa, este é um filme que me fez ter algum sono. Embora repleto de acção, as cenas tornam-se, com o avançar da história, cada vez mais monótonas e, um final completamente previsível, retira-lhe algum do seu interesse. No entanto, vale a pena ver. Mas desde já aviso, não o faça com quaisquer expectativas.

Nota Final:
C+

Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Takashi Miike
Argumento:
Kaneo Ikegami
Ano:
2010
Duração:
141 minutos

domingo, 26 de junho de 2011

BRITISH TV - The Office

A British TV vai de férias. A crónica regressará em Setembro, mantendo o mesmo formato, para acompanhar o início da nova época das séries televisivas. Aguardo com especial interesse as novas produções de Sherlock, Misfits e Merlin.



Para a despedida, escolhi uma série que já gerou bastante controvérsia e discussão entre os diversos fans deste formato. Para mim, trata-se de uma escolha óbvia. O The Office inglês, o verdadeiro, aquele que foi copiado para ser recriado numa amostra mal amanhada do seu original, é, a toneladas de anos-luz, muitíssimo melhor do que a sua versão americana.

Confesso que, com o passar dos anos e dos consecutivos tiros ao lado que Ricky Gervais tem dado, me sinto cada vez mais desiludido com aquele que era, para mim, um dos mais promissores criadores da Inglaterra. Bem, quem cria uma série como este The Office tem, inevitavelmente, que ser um tipo especial, com imaginação, humor e rebeldia suficiente para se arriscar num formato que, na altura, caiu como uma lufada de ar fresco na televisão inglesa. Mas alguns projectos que assumiu desde então (em especial o The Office americano) foram uma autêntica decepção para mim. Especialmente no cinema.


The Office, é uma série baseada nos dramas, ambições e histórias (quase) insignificantes de um grupo de empregados liderados por um homem peculiar: David Brent (Ricky Gervais) é uma das mais complexas e misteriosas personagens que já vi numa série televisiva. Digo-vos isto porque, desde o primeiro ao último episódio, a minha opinião sobre Brent foi-se refazendo, sucessivamente e, ainda hoje, não consegui chegar a uma conclusão sobre quem era e o que realmente pretendia David Brent.


Com um elenco de luxo, The Office conta ainda com as participações de Martin Freeman (actualmente uma das estrelas da televisão britânica com a série Sherlock) como Tim Canterbury, um empregado subserviente, simples, pacato e bondoso cuja paciência é, diariamente, levada ao limite, não só pelas diabruras dos colegas como também pelos avanços e recuos na relação de amizade que tenta manter com Dawn Tinsley (Lucy Davis), o seu eterno amor platónico.


A estes junta-se Mackenzie Crook, no papel de Gareth Keenan, a minha personagem favorita desta série e a grande revelação de toda esta história. Um tipo completamente desconcertante, certamente resultado de uma combinação de mentes negras e cruéis, que o transformaram num verdadeiro sucesso. Um individuo cuja imagem aparenta de imediato estarmos perante uma pessoa especial, revela-se, com o evoluir de toda a história, numa intrigante personagem que se transforma, de uma forma quase imperceptível, num dos grandes pílares desta história, tendo, aquando do seu término, um papel chave e de inesperado destaque.


Com apenas duas temporadas e um fabuloso episódio (possivelmente o melhor de toda a série) comemorativo durante a época de natal, esta é mais uma prova clara e evidente de que os ingleses estão muitos degraus acima daquilo que se faz na América. E felizmente para nós, eles sabem aquilo que estão a fazer. A British TV regressa em Setembro com o melhor das séries inglesas.



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Frases Inesquecíveis do Cinema


"The first rule of Fight Club is: you do not talk about Fight Club."




Tyler Durden | "The Fight Club" | 1999

terça-feira, 21 de junho de 2011

SPRING, SUMMER, FALL, WINTER... AND SPRING (2003)



Spring, Summer, Fall, Winter... and Spring ("Bom yeoreum gaeul gyeoul geurigo bom") é a obra-prima de Ki-duk Kim, realizador de Bin-Jip.


Spring, Summer, Fall, Winter... and Spring é um filme soberbo, uma criação totalmente feita a pensar no espectador. Dirigindo-se aos sentimentos e emoções que uma película inteligente e prespicaz consegue produzir em quem a observa, o grande segredo deste filme está na introspecção a que remete cada um de nós, transformando-o numa experiência ímpar.


Tal como aconteceu com Bin-Jip, a minha crónica será breve. Toda a história se desenvolve ao longo das várias fases da vida de um velho monge que vive isolado num remoto lago da Coreia do Sul. Consigo, vive uma jovem criança a quem este explica os ensinamentos da sua religião, treinando-o e preparando-o para, um dia, ocupar o seu lugar. Uma preparação cimentada numa amizade e compaixão comoventes, que terá que sobreviver aos diversos percalços e obstáculos que aparecem durante a vida de ambos.


As metáforas criadas por Ki-duk Kim (que realiza, escreve e protagoniza o filme) fortalecem uma narrativa feita para intrigar e comover o espectador. Uma lição de vida, em jeito de obra-prima. Spring, Summer, Fall, Winter... and Spring é mais uma pérola do oriente.

Nota Final:
A-



Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Ki-duk Kim
Argumento:
Ki-duk Kim
Ano: 2003
Duração:
103 minutos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Morte da 7ª Arte (Variação Malick)

"O Dial P For Popcorn tem o prazer de vos apresentar o nosso mais recente colaborador! Axel Ferreira, nosso colega e amigo, aceitou o convite para a elaboração de uma crónica quinzenal. Com uma visão peculiar e distinta da realidade cinematográfica, A Morte da 7.ª Arte deixa apenas uma promessa: Ninguém a poderá evitar."


O Surdo Som das Palmas Douradas

Reconheço o devido mérito ao nada por existir, porque sempre será algo a opor-se à criação e algo em que pensar. Reconheço-o por ser sempre o contrário do que é conhecido e algo de que nos queremos afastar por natureza. Faz parte da natureza humana contrariar o nada. Por isso existe o instinto de sobrevivência. Por isso, mais uma vez, e mais lentamente quanto maior se torna o grupo, contrariamos este instinto. Criamos algo que nos permite dizer, racionalmente (porque afinal esta é a única arma humana), que há coisas mais importantes que a própria sobrevivência (algo sempre muito difícil de manter). E ainda mais uma vez, e de novo recorrendo à vontade imensa em contrariar, chegamos ao final do ciclo, onde chegamos de novo ao princípio e, com esperança, em posse de uma nova ideia. E é daqui que parte o dilema existencial, de uma maneira um pouco ingrata, a partir do conhecimento que nos permite ter consciência dela. Uma ironia das mais negras que pode existir.


Claro que não serão necessárias imagens em super slow motion da chama de um zippo para representar uma força que contrarie este princípio humano, mas de certeza que alguma ideia construtiva poderia surtir a partir desse pequeno efeito. Essa seria a esperança, pelo menos aquela que é deixada por algo controverso universalmente aceite (e não serei eu o único a achar algo de ainda mais controverso com esta frase). Não é que queira guardar durante muito tempo o suspense, afinal estou a falar da árvore que não estará crescida antes de eu ser adulto ou, na verdade, antes de morrer. Começando então pelo início, nada melhor do que recriar a criação com imagens caracteristicamente incaracterísticas e familiarmente únicas e, já agora, um pouco de violinos. Conseguido o primeiro objectivo de identificar o início do universo como algo um pouco moroso, mas com uma dicotomia espectacular entre espaço vazio e estrelas e nebulosas, passa à criação do nosso mundo (entendendo mundo como planeta e não mundo como espaço existente físico ou até, e quem diria, do pensamento). Esta criação também é morosa e primorosa no pormenor (mesmo que eu tenha quase a certeza absoluta que vi a mesma cascata duas vezes, ainda assim fica a certeza de que vi muita água). Mesmo assim, esta criação seria teoricamente muito mais rápida que a primeira, mas entendo que em perspectiva esta mereça ser mais apreciada que a criação universal. Depois uma citação bíblica e uma coisa que uma freira costumava dizer sobre a graça e a natureza, dois caminhos que podemos percorrer à nossa escolha. Então imagine-se a desgraça, a angústia de alguém que acredita numa figura divina e que confia nela para a proteger a quem acontece uma desgraça como perder um filho. E agradeço de facto a oportunidade de a imaginar quase inteiramente. Será esta a premissa: o questionamento e o caminho a seguir. Pondo as coisas em pratos limpos o pai do puto era a natureza e a mãe era a graça. Resumindo também a coisa ainda mais, o pai era um frustrado na sua vida e um pouco estrito com a educação dos filhos, no extremo de quase chegar à violência e a mãe, essa, às vezes até flutuava (juro). De qualquer maneira ela ficou um pouco chateada com Deus por causa da sua desgraça pessoal, mas o filme leva-nos para algo diferente, a maneira como foram educados os três irmãos durante a infância. Pois bem, o rapaz mais velho foi criado para ser o extremo da natureza, para poder controlar o seu futuro e ter enorme sucesso. Este rapaz, passado uns tempos, fica assim um pouco mais para o confuso e começa a ser mau e injusto com o dedo do irmão e uma janela. Não lhe sendo suficiente rouba um vestido de noite de uma tipa gira (até a associação de sexo com violência grita complexo, que afinal até era do Édipo). De qualquer maneira, mais tarde, ele torna-se naquilo que devia ser, um homem de sucesso, reparamos nisso pelo tamanho do edifício, o andar ser muito alto e ele andar num elevador muito moderno. Reparamos, também, que na realidade ele se tornou numa pessoa bastante soturna e triste, denotada pela cara de tristeza do rapaz que já era adulto. E devo premiar a selecção do Sean Penn para este papel, pois ele tem uma cara mesmo adequada para este efeito. De qualquer maneira ele anda na praia e passa uma porta e vai ter com a família dele e a mãe dá o filho dela a Deus, fazendo as pazes com Ele. E depois ainda vem outra vez a chama do zippo. No meio, ainda é de apreciar uma cena em que um dinossauro de características carnívoras é capaz de contrariar os seus instintos e ter misericórdia pelo pobre herbívoro moribundo. E ainda outra cena onde eu pensava que, crianças como eles eram, iam gozar com o andar de um deficiente, mas nem aí me deram esse prazer (e acho que é um pouco por aqui que este filme não chega aquilo a que tenta ser, a falta da ideia de que a existência humana é algo ridícula e muito efémera para as capacidades que consegue ter).


Vejam que esta não é uma versão sarcástica, mas mais construtiva que outra coisa. O sarcasmo corresponderia a dizer: “Perspectiva interessante esta, de facto, de fazer uma curta-metragem e depois contratar um fotógrafo para a transformar em longa. Além do pouco tempo que demora a mostrar que a morte de uma pessoa familiar deve ser aceite! Não quero imaginar o martírio que seria para ele se tentasse fazer um filme sobre o Holocausto.

Chegando ao fim fica aquilo que é dito. E aqui reparo na insistência do realizador explicar a sua ideia, de a desdobrar e expor exaustivamente, entrecortando cenas, juntando planos variados e música. Tentando mostrar a criação, as maravilhas do mundo e, ao mesmo tempo, mostrando uma história pequena, muito pequena com ideias muito simples. Não seria algo ignóbil se não tentasse demonstrar aquilo que não tem, uma tese ou uma conjectura, uma ideia elaborada ou algum espaço para a ter. É apenas um disfarce disso mesmo. Este filme leva à conclusão final de dar o filho a Deus, aceitar o que nos é dado como é dado, sem nada mais mostrar para isso que fantásticas fotografias em movimento. Este filme é a tentativa de redimir Deus do mal que acontece no mundo. Dizer que faz tudo parte de algo maior. Além de ser uma ideia já badalada recuso-me a aceitar, quanto mais acreditar, numa figura divina que precise de ser redimida, especialmente por este filme. A ideia que o caminho da graça será o melhor a seguir é algo que vai contra a própria natureza humana. Esta ideia de aceitar o que nos é dado vai contra tudo o que naturalmente tentamos alcançar e, o que é ainda mais grave, vai contra todo o conhecimento. Não existe uma incompatibilidade da existência de Deus e o Darwinismo, mas existe uma incompatibilidade entre a graça e a grande capacidade do ser humano: a racionalidade e a busca incansável pelo conhecimento. Este filme renega toda a espécie de pensamento construtivo, a “natureza”, a medicina para vivermos mais tempo, a literatura para descobrir o mundo e o ser humano complexo, a física com a problemática da origem do universo. Além de ser algo anti-natural faz parte de uma mentira intelectual (mais que não seja a ele próprio). Uma que achei que seria muito mais fácil de vender a gente americana (In God We Trust), mas de quem já premiou Farenheit 9/11 já espero tudo (Como se pode dizer tão mal de uma mentira e depois acreditar noutra só porque diz o que nós queremos?). Em resumo, não é uma ideia completa, apenas um raciocínio incompleto que acaba desta maneira: Deus criou o universo demorando uns largos milhões de anos para depois nos criar a nós, que devemos seguir o caminho da graça e sermos inúteis durante a vida mas bons, para depois podermos ir para o céu e sermos ainda mais inúteis. De facto, espantoso…

PS1: Quero dizer, em adenda, que a desconstrução inteira desta narrativa não seria feita para a maioria dos filmes, pois muitos passam pela irrelevância de nem sequer merecerem esta perda de tempo. O filme para mim chumbou, mas merece que eu explique porquê, pois é uma ideação falhada mas que pelo menos tinha mais intenção de transmitir uma mensagem que a maioria do cinema actual. O filme não é confuso, nem sem sentido, é apenas uma falácia intelectual disfarçada como arte.

PS2: Outras partículas de pó que se devem estar a remexer são as que ficaram do cadáver de Kubrick. Especialmente com esta espécie de dicotomia com o 2001: Odisseia no Espaço. Ele indagou a origem do conhecimento e a natural curiosidade humana como razão existencial, este homem não fez mais que insultar esta perspectiva.

PS3: Quero deixar a Malick um outro Salmo: “…no fundo, existiu apenas um único cristão, e esse morreu na cruz. …o “Reino de Deus” vem para julgar os seus inimigos… Mas assim tudo se torna um mal entendido: o “Reino de Deus” como um acto final, como promessa!” (Anticristo 39/40, Nietzsche).

Axel Ferreira

sábado, 18 de junho de 2011

João Botelho e o Cinema.

Em entrevista ao Canal Q, o realizador português João Botelho falou sobre o cinema, de uma forma frontal e sem papas na língua. Uma visão crítica sobre o estado da arte que merece ser escutada com atenção.
Num país onde as novelas estupidificam um povo, fazem falta Filmes, entrevistas e debates sobre o cinema e a cultura.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

CHINATOWN (1974)


"You've got a nasty reputation, Mr. Gittes. I like that."


Um dos mais emblemáticos filmes de Roman Polanski, que retrata uma misteriosa conspiração sobre o assassinato do engenheiro Hollis Mulwray (Darrell Zwerling), responsável pela construção de uma barragem que levou à seca da cidade de Los Angeles e que se encontrava em guerras intermináveis em tribunais contra agricultores, empresários e restantes habitantes. Um homem popular na cidade, controverso mas cuja reputação e capacidades eram amplamente reconhecidas.


Mas tudo começa quando o detective J. J. Gittes (Jack Nicholson) é contratado por Ida Sessions (Diane Ladd), que se faz passar por mulher de Mulwray, e que lhe pede para que descubra se o seu marido a está a enganar com outra mulher.

Ao iniciar a sua investigação, Gittes percebe que Mulwray é um homem misterioso, solitário e peculiar. Viaja por Los Angeles e perde-se junto à beira-mar, ficando horas parado a admirar a água. Este estranho comportamento não passa despercebido ao prespicaz Gittes que rapidamente se intriga por tal personagem. Como profissional de renome, rapidamente consegue descobrir o affair do engenheiro e termina o trabalho para o qual foi contratado.


É quando toda a história, por ele investigada, vai parar ao jornal da cidade que Gittes conhece a verdadeira Evelyn Mulwray (Faye Dunaway), uma mulher magoada com o seu comportamento deselegante (completamente alheio a Gittes, que por essa altura ainda tenta perceber como a sua informação havia parado na primeira página do jornal), que toda a história ganha os contornos de conspiração e mistério que a sustentam e a transformam num filme tão emocionante.

Poucos dias depois da notícia ser publicada, Hollis Mulwray aparece morto junto à barragem que construiu. Considerado pela polícia como um caso simples de suicídio, para Gittes toda a situação é, aos seus olhos, demasiado estranha para ser tão linear. Inicia então uma investigação, a mando de Evelyn Mulwray, e rapidamente começa a desfiar o enorme e complexo novelo que envolve a morte do engenheiro. Porque apareceu água salgada nos pulmões de Hollis Mulwray? Quem é Noah Cross, sócio de Mulwray e pai de Evelyn, e qual o seu interesse em descobrir a amante de Hollis?


Com o meu actor favorito de todos os tempos, Chinatown é, com perfeita naturalidade, um dos grandes clássicos do cinema. Jack Nicholson não sabe estar mal, e é uma pena que um dia o cinema tenha que sobreviver sem ele.


Nota Final:
A-

Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Roman Polanski
Argumento: Robert Towne
Ano: 1974
Duração:
130 minutos

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Personagens do Cinema - Ernesto Che Guevara


“It's a sad thing not to have friends, but it is even sadder not to have enemies.”


Uma interpretação emocionante, das mais surpreendentes e aterradoras da década passada, é a eleita para a minha crónica das Personagens do Cinema do mês de Maio. (Tanto eu como o Jorge voltamos a estar afogados em exames e trabalho da Faculdade e o blogue vai acabar por sofrer um pouco com isso. No entanto, continuaremos, o mais assiduamente possível, por aqui.)



A monumental Biopic que Benicio del Toro (um dos meus actores favoritos, dentro da sua geração) e Soderbergh construíram, rapidamente ocupou o seu lugar entre os destaques do ano de 2008 e, sem surpresas, instalou a polémica que desde sempre se associou à figura de Guevara. Não fossem os Estados Unidos a capital da distribuição mundial do cinema mainstream e talvez o papel deslumbrante que Del Toro interpreta neste longo filme tivesse um reconhecimento popular digno do seu assombro trabalho.


Num argumento que demorou vários anos a preparar, com uma investigação minuciosa por parte do próprio Benicio del Toro (e depois de Terrence Malick ter abandonado o projecto na sua fase mais precoce), Soderbergh orientou a criação do mais real documentário sobre os anos mais importantes da vida do lendário guerrilheiro argentino. Devido à dimensão de um argumento trabalho ao mais ínfimo pormenor, a divisão do filme em duas partes revelou-se uma decisão acertada, não só para a exploração cinematográfica das cenas mais marcantes da vida de Ernesto Guevara, como também para uma melhor receptividade do público em geral.


A sua interpretação em Che, valeu a Benicio Del Toro o prémio de Melhor Actor no Festival de Cannes em 2008, o ponto alto de uma carreira marcada por interpretações que demonstram um valor único, mas que rapidamente são apagadas com papéis medíocres em filmes que não se dignam a esse nome. Na personagem da sua vida, no papel para o qual nasceu, Benicio subiu ao patamar dos melhores. E é por isso que está entre as Personagens do Cinema.