Dial P for Popcorn: agosto 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Grandes Divas do Ecrã



"I'm loud and I'm vulgar, and I wear the pants in the house because somebody's got to, but I am not a monster. I'm not."

"You make me puke."


Martha (Elizabeth Taylor), "Who's Afraid of Virginia Woolf?" (1966)


Estou a dever esta publicação a Elizabeth Taylor desde Março, desde o dia em que este mundo ficou infinitamente mais pobre por perdê-la. Taylor é, ainda hoje, a definição de estrela de cinema. Ousada, ambiciosa, belíssima, com uma vida pessoal a rivalizar com uma história ficcional, criticada por uns, amada por outros, admirada mundialmente como pessoa e como actriz. Vencedora de dois Óscares, um deles por esta interpretação,  Elizabeth Taylor é, simplesmente, uma das maiores criações que Deus alguma vez fez pisar a Terra. 

A rubrica "Grandes Divas do Ecrã" arruma assim a sua primeira temporada. Não sei se a traga de volta daqui a algum tempo, se a remodele, se arranje nova rubrica dentro do género. Questões a repensar para a rentrée, sem dúvida. Aceitam-se sugestões para renovações e para novas rubricas.

De olhos postos em Veneza

Antes de mais, queria pedir desculpa pela minha ausência relativamente prolongada das lides do blogue. Penso contudo que não ficaram mal abandonados porque o Samuel esteve por cá e continuou com o nosso mês especial de celebração do nosso primeiro aniversário com a excelência do costume. Cabe-me a mim continuar agora, que ele também tirou uns dias para descansar.

A época balnear está praticamente a acabar e, com ela, a quietude e os projectos cinematográficos de largo orçamento que populam os nossos Verões - habitualmente uma mistura de comédias e filmes de acção e de super-heróis - esvaem-se da nossa mente para dar lugar àquela que é, afinal, todos os anos a nossa razão de acompanhar a corrida aos Óscares: a silly season, ou, se quisermos, a época dos festivais. Veneza, Telluride, Toronto e Nova Iorque estão aí à porta e todos prontos para iniciar campanhas, desvendar obras-primas, destruir esperanças e sonhos e, acima de tudo, proporcionar uma primeira visualização dos grandes títulos dos candidatos deste ano.

Confesso que este ano decidi deixar para bem mais tarde do que o costume as minhas primeiras previsões aos Óscares. Está a ser um ano difícil de desvendar e, ao contrário do que me é habitual, não tenho mais do que uma ou duas certezas por categoria. São dúvidas a mais para estar a vislumbrar sem ter visto os filmes e são demasiados projectos de prestígio inegável para me estar a multiplicar em contas e raciocínios sem fim. Decidi esperar pelo final de Veneza e Telluride e antes do início de Toronto para acertar os meus cálculos e redigir as minhas primeiras impressões ao que poderá ser a corrida deste ano.


Do que 2011 já nos trouxe, penso que só quatro filmes, até agora, se poderão considerar verdadeiros candidatos a nomeações nas principais corridas: o madrugador e envolvente "Jane Eyre" de Cary Fukunaga, a brilhante ressurgência de Woody Allen com "Midnight in Paris", a nova tese experimental de Terrence Malick - e vencedor da Palma de Ouro do mais recente Festival de Cannes, "The Tree of Life" e a improvável história de sucesso que Tate Taylor tem em "The Help". Obviamente que fãs dedicados dirão que "Bridesmaids", "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part II", "Rise of the Planet of the Apes" ou "Super 8" têm argumentos para competir em Dezembro. Sendo realistas, penso que a sua melhor hipótese é uma ou outra nomeação em categorias técnicas. Pouco mais. O que temos depois, de resto, são muitas suposições. Não custa a ninguém dizer que Clint Eastwood, Alexander Payne, David Cronenberg, George Clooney, Steven Spielberg, Stephen Daldry, David Fincher e Roman Polanski, entre outros, serão nomes a temer na corrida deste ano. O que é difícil é que cada um dos filmes destes magníficos realizadores atinja o sucesso que deles é esperado. Comprovar as expectativas é o que todos eles desejam - mas a época de festivais não costuma ser sinónimo de felicidade para todos.


É por isso, então, que todos os olhos estão a partir de hoje postos em Veneza, nas belas praias do Lido, no festival mais antigo do Mundo, onde reina o glamour e o charme de Hollywood sem se esquecer que o importante é o Cinema. Amanhã (hoje, aliás, já passa da meia-noite em território português), dia 31 de Agosto, o Festival de Veneza abre com o seu maior trunfo: a estreia mundial de "The Ides of March", produzido, escrito e realizado por George Clooney, que também protagoniza ao lado de Ryan Gosling e secundado por um elenco impressionante onde se contam os nomes de Marisa Tomei, Philip Seymour Hoffman e Paul Giammati, entre outros. Se o filme for tão bom quanto as expectativas que projecta, será indubitavelmente um dos nomes a marcar presença entre os nomeados para os Óscares deste ano. Frederick Wiseman tem o seu documentário "Crazy Horse" a estrear também no primeiro dia de festival.

Catherine Deneuve na passadeira vermelha antes de "Black Swan", o filme de abertura de 2010


Na quinta-feira, 1 de Setembro, será a vez de Roman Polanski desfilar na carpete vermelha com Kate Winslet, Christoph Waltz, Jodie Foster e John C. Reilly para a estreia mundial de "Carnage". Também a presença de Madonna será sem dúvida marcante, ela que vem a Veneza apresentar o seu novo filme, "W. E.", baseado na história de amor entre o Príncipe Edward e Wallis Simpson, protagonizado por Abbie Cornish, James D'Arcy e Andrea Riseborough. A interpretação desta última tem gerado grande entusiasmo nos bastidores de Hollywood e muitos garantem que uma nomeação para Actriz Secundária é garantida.

Darren Aronofsky, o presidente do Júri da edição de 2011, na estreia mundial de "Black Swan" em 2010


A sexta-feira (2 de Setembro) traz-nos outro dos títulos mais antecipados do ano: Keira Knightley, Viggo Mortensen e Michael Fassbender virão abrilhantar a carpete vermelha e promover a estreia mundial do novo filme do enorme David Cronenberg, que aborda a relação peculiar entre Carl Jung e Sigmund Freud em "A Dangerous Method". Outro grande destaque do dia vai para a exibição integral da mini-série da HBO protagonizada por Kate Winslet e realizada por Todd Haynes: "Mildred Pierce". É também na sexta-feira que o português "Palácios de Pena" de Abrantes e Schmidt faz a sua estreia em Veneza, no mesmo dia em que Philippe Garrel vem mostrar o seu "Un Eté Bruliant" e Ross McElwee vem apresentar o seu mais recente filme, "Photographic Memory".

O dia 3 de Setembro, sábado, traz-nos a estreia do novo filme dos realizadores de "Persepolis", "Chicken with Plums", protagonizado por Mathieu Amalric e Maria de Medeiros, o filme que Giorgos Lanthimos escolheu para suceder a "Dogtooth", "Alps", o documentário "Sal", de James Franco, sobre o ídolo gay adolescente dos anos 50, Sal Mineo e "La Follie Almayer" de Chantal Akerman. Porém, o grande destaque do dia é a estreia do primeiro de dois filmes que Steven Soderbergh tem em contenção este ano, o filme de acção com toques apocalípticos "Contagion", com um elenco de requinte composto por Kate Winslet, Jude Law, Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Lawrence Fishburne e Marion Cotillard. Será um óptimo dia para os paparazzi, obviamente, com tantas estrelas de Hollywood a passar pela Biennale.

Nicholas Hoult na estreia mundial de "A Single Man" em 2009


O dia de domingo, 4 de Setembro, vem com um filme de potencial absolutamente explosivo que não será, todavia, do agrado de todos. Michael Fassbender volta à carpete vermelha, juntando-se desta vez a Carey Mulligan e a Steve McQueen na estreia mundial de "Shame", que aborda a relação tempestuosa entre dois irmãos, um deles viciado em sexo. Outros destaques do dia: a estreia de "Wilde Salome" de Al Pacino, que realiza e protagoniza a película ao lado de Jessica Chastain (que continua a aparecer em todo o lado este ano) e "We Can't Go Home Again" de Nicholas Ray.

A primeira semana de festival fecha na segunda-feira, dia 5 de Setembro, com a estreia mundial de "Tinker, Taylor, Soldier, Spy", uma das grandes incógnitas do ano, de quem se espera tudo. Um elenco bestial, de Tom Hardy a Gary Oldman, de Colin Firth a John Hurt, dirigido pelo sueco Thomas Alfredson ("Let the Right One In") e adaptado de um romance de John Le Carré, o potencial deste filme é inegável. Será que tal se vai traduzir em ouro... ou vai-se desfazer em cinzas? É também na segunda-feira que Todd Solondz volta a Veneza (onde foi feliz em 2009 com "Life During Wartime") para a estreia do seu "Dark Horse" e que Jonathan Demme surge com o seu documentário "I'm Carolyn Parker".

Da segunda semana falaremos precisamente na próxima segunda, em que analisaremos quais os filmes que colocaram a crítica e a imprensa especializada que se deslocou a Veneza em estado de ebulição e quais aqueles que os fizeram entrar num quadro profundo de depressão e começaremos a avaliar, mais a sério, as hipóteses destes filmes em estreia na primeira semana na caça aos Óscares. De relembrar que a segunda semana traz mais candidatos e de diversos tipos, desde o novo filme de Andrea Arnold, "Wuthering Heights", à procura de alcançar o mesmo sucesso que obteve com "Fish Tank", o novo Alexander Sukurov, "Faust" e novas películas de Mary Harron, William Friedkin, Abel Ferrara, Pietro Marcello, entre outros e ainda o português "Cisne", de Teresa Villaverde. Promete.

Vencedor da Copa Volpi em 2009, "Lebanon"

Veneza pode não ter o estatuto de festival propício a campanha para os Óscares (esse é, invariavelmente, Toronto), mas compensa largamente a sua falta de pedigree com uma mostra de fazer inveja a meio mundo. Nos últimos anos emergiu sempre um grande candidato aos prémios da Academia de Veneza - "Black Swan" em 2010, "A Single Man" em 2009, "The Hurt Locker" e "The Wrestler" em 2008 (depois da estreia em Veneza o filme de Kathryn Bigelow viria a ser comprado para distribuição em 2009), "Atonement" e "Michael Clayton" em 2007, "The Queen" em 2006, "Brokeback Mountain" e "Good Night and Good Luck" em 2005, "Vera Drake" em 2004, entre outros exemplos. Outros títulos de destaque no certame italiano dos últimos anos são, por exemplo, "Rachel Getting Married", "Burn After Reading", "Shirin", "Ponyo", "35 Shots of Rum", "Les Plages d'Agnès", "White Material", "The Road", "Soul Kitchen", "Lola", "The Informant!", "Somewhere", "Meek's Cutoff", "The Town", "Machete", "The Constant Gardener", "Cinderella Man", "Corpse Bride", "I'm Not There", "In the Valley of Elah", "The Darjeeling Unlimited", "Lust, Caution", "REC", "Children of Men", "The Fountain", "The Devil Wears Prada", "Inland Empire" e "Lebanon". 

Como se vê, muitos bons filmes têm surgido em Veneza ao longo dos anos. Quais serão os destaques deste ano?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

BREAKFAST AT TIFFANY'S (1961)





Mais um dos filmes seleccionados para as comemorações do mês de Agosto e, até agora, a maior das desilusões. Breakfast at Tiffany's até pode ser um dos grandes clássicos do cinema (algo que não discuto), mas para mim foi um filme tremendamente chato. Quase adormeci. Tudo isto porque achei todo o filme demasiado morno, demasiado previsível, demasiado "sem sal".


A lindíssima Holly Golightly (Audrey Hepburn), sobre quem o Jorge já falou num dos artigos mais interessantes das Personagens do Cinema, é uma jovem rapariga, solteira e muitíssimo atraente, que capta os olhares e os corações dos homens mais ricos da cidade de Nova Iorque. Sustentada pelos seus caprichos, Holly vive bem e dá-se ao luxo de negar a companhia dos senhores cujo poder não compra o amor. A chegada ao seu apartamento de um bonito homem suscita toda a sua curiosidade. Paul Varjak (George Peppard), a quem Holly carinhosamente chama de Fred (devido às variadíssimas semelhanças físicas entre ambos), é um jovem escritor cujo sucesso se ficou pelo único livro publicado. Vive, tal como Holly, da sua jovial beleza que atrai as carteiras recheadas de senhoras ricas que procuram o carinho e o prazer que já não recebem dos seus maridos.


Rapidamente desenvolvem uma paixão que é, com frequência, posta à prova pelos diversos problemas nos quais ambos se envolvem. As festas, o luxo, o poder do dinheiro, o oportunismo, são a base de Breakfast at Tiffany's, um dos maiores clássicos do cinema dos anos 60. A mim não me convenceu.


Nota Final:
C+



Trailer:





Informação Adicional:

Realização: Blake Edwards
Argumento:
Truman Capote (Original) e George Axelrod (Adaptação)
Ano: 1961
Duração:
115 minutos

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

LA PIANISTE (2001)



Michael Haneke é um dos meus realizadores favoritos na Europa. Garantidamente, um dos mais bem sucedidos da actualidade em França depois do fantástico Laço Branco, que lhe valeu elogios um pouco por todo o mundo. Um dos meus favoritos da década passada.

No entanto, o convite para ver La Pianiste não era, à partida, nada sugestivo. O tema, confesso, não me interessava minimamente. Mas, como estamos em mês de comemorações, resolvi dar-lhe uma oportunidade e depois de o ver, não me arrependo de o ter feito. Gostei do La Pianiste, fiquei agradavelmente surpreendido e muito satisfeito por o poder incluir neste conjunto de grandes filmes para o mês de Agosto.


A história-base é, por si só, bastante experimentada e filmada. Mas, como já o disse aqui bastantes vezes, uma história, mesmo que repedita, pode sempre originar um óptimo filme. E isso depende do realizador. Quando se é bom, até com uma história mais simples, se conseguem fazer boas produções.

Em La Pianiste, a história de Erika Kohut (Isabelle Huppert) é contada com intensidade e emoção. Professora de piano no conservatório, é uma mulher solitária, amarrada ao controlo obsessivo da sua mãe, a quem se vê obrigada a mentir e a esconder alguns dos seus prazeres mais profundos. Erika viveu sempre para o piano, para a sua carreira, para a música. Nunca, em jovem, teve a oportunidade de desfrutar da vida e alargar os horizontes dos seus conhecimentos. Na casa dos quarenta anos, vive ainda com a sua mãe, está solteira e não tem filhos. O conservatório é a sua vida. No entanto, com o passar do filme, vamos percebendo que a opressão que Erika sofreu em jovem, transformou-a numa mulher carente, obcecada com o sexo e com as mais estranhas fantasias.


Uma falsa puritana, que reprime com frieza toda e qualquer aproximação masculina, aceita a sedução de um jovem aluno, Walter Klemmer (Benoît Magimel), que dotado de um grande talento para a música, se candidata a ter aulas com Erika. Rapidamente esta se renda à beleza, à jovialidade e ao encanto do seu aluno e se entrega à sua paixão. No entanto, Erika é uma mulher diferente e mantém as suas reservas. Conseguirá suportar Walter os desejos de Erika? Conseguirá aceitar as fantasias que esta misteriosa mulher guarda, por detrás de uma figura pacífica, calma e pura?


Nota Final:
B+



Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Michael Haneke
Argumento:
Elfriede Jelinek e Michael Haneke
Ano:
2001
Duração:
131 minutos

sábado, 20 de agosto de 2011

DAS BOOT (1981)




Um daqueles filmes que se tornam épicos, inesquecíveis, memoráveis e eternos. Este é daqueles filmes sobre o qual se fala hoje com o mesmo entusiasmo de há 10 anos atrás. Uma das obras mais portentosas e magníficas sobre a Segunda Guerra Mundial (um tema que eu adoro e que, penso, é praticamente inesgotável) e a difícil luta dos marinheiros que combateram em submarinos. Pessoalmente, a vida num submarino transcende-me. Não me sinto capaz de imaginar o enorme sofrimento e ansiedade passados durante tantas horas, num local tão apertado e claustrofóbico, rodeado de toneladas de água sob a constante ameaça de navios poderosos e com artilharia suficiente para, a qualquer momento, ditar o fim das vidas de tantos homens.


Neste filme, sobressaem três personagens de vital importância. O Comandante Henrich Lehmann-Willenbrock (Jürgen Prochnow) é o homem mais experiente a bordo, habituado à vida do mar, dos submarinos e das lutas entre nações. É ele que coordena um conjunto de jovens ambiciosos, que lutam pela pátria e que partem numa aventura para a qual não foram preparados e que desconhecem por completo. À habitual tripulação, junta-se o Tenente Werner (Herbert Grönemeyer), um jovem jornalista (correspondente de guerra), que viaja com o objectivo de criar um romance histórico baseado na viagem do submarino 96. Por último, uma personagem cuja força e presença vão crescendo com o passar do filme e que se transforma num inesperado herói nos momentos mais críticos de todo o filme: O Engenheiro Fritz Grade (Klaus Wennemann) a quem é entregue a responsabilidade de corrigir os diversos problemas que o submarino vai sofrendo e que combate toda e qualquer adversidade com bravura, calma e firmeza. É a ele que todos os homens devem a sobrevivência de uma jornada tão longa e tão perigosa.


Com a tradução para o português de Odisseia do Submarino 96, Das Boot (na versão Director's Cut que eu tive oportunidade de ver) é realmente uma obra de arte marcante. É um dos grandes filmes de guerra que o espectador pode ver, mesmo que para isso tenha que disponibilizar quase 200 minutos do seu tempo. Vale todos esses minutos. Das Boot é um filme longo e demorado, pois tudo é pensado ao pormenor e nada é tratado ao desbarato. O seu suspense é cortante e aumenta de forma dramática nos seus momentos finais. Uma obra onde se nota um trabalho de produção e edição excelentes, que transmite com bastante veracidade as adversidades e o terror de uma batalha dentro dos oceanos.

Nota Final:
A



Trailer:





Informação Adicional:
Realização:
Wolfgang Petersen
Argumento: Wolfgang Petersen e Lothar G. Buchheim
Ano: 1981
Duração: 199 minutos

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ÚLTIMA HORA: Trailer e Poster de CARNAGE



Baseado na peça "God of Carnage" de Yasmina Reza, vencedora do Tony para Melhor Peça, que foi aclamada criticamente por onde passou (tendo também Marcia Gay Harden vencido o Tony de Melhor Actriz pela sua interpretação na Broadway), "CARNAGE" é o novo filme do grande Roman Polanski, que reuniu os vencedores de Óscar Jodie Foster, Christoph Waltz, Kate Winslet e o nomeado para o Óscar John C. Reilly para interpretar os dois casais que se encontram uma tarde para discutir a indisciplina dos seus filhos e, pelo meio, abandonando o seu aspecto cuidado e civilizado e transformando o seu encontro numa chuva de insultos, agressões e discussões, decidem abordar várias questões, enfrentando os seus demónios pessoais e as suas fraquezas enquanto casais e enquanto educadores na nossa sociedade. Uma peça verdadeiramente tragico-cómica, que explora a ira e o desabafo enquanto meios de catarse e que faz uma análise sociológica bastante acutilante e pertinente, parece ser um desafio à altura de um dos maiores autores com que o cinema nos agraciou, um drama cheio de tensão mas igualmente entretido. Se vai ser candidato aos Óscares? Bem, é muito cedo para o dizer. Fiquem então com o trailer acabado de ser lançado na Twitch e com o poster, que já circula a Internet há alguns dias.


Entretanto, para mais imagens do filme, podem consultar este artigo do Split Screen. "CARNAGE" estreia nos Estados Unidos a 16 de Dezembro, com estreia mundial marcada para Setembro no Festival de Veneza.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MONSOON WEDDING (2001)



Divertido e inteligente. Monsoon Wedding, um casamento à chuva, tinha todos os ingredientes para não correr bem. Aliás, tinha tudo para não acontecer. Uma jovem solteira com casamento marcado, pelos seus pais, com um indiano residente nos Estados Unidos, que não conhece, que não ama, que não deseja.


Estamos no principio do novo milénio e visitamos uma Índia abastada e atípica. Uma família com de classe média-alta prepara o casamento da sua única filha e deseja comemorar em grande, sem olhar às despesas. Um casamento que muito aguardaram e que, para felicidade dos pais, conseguiram concretizar com um jovem bem sucedido e de boas famílias. Todos os amigos e familiares são convidados e o filme começa poucos dias antes da tão aguardada cerimónia. O pai, em grande rebuliço, tenta preparar tudo a tempo de forma a que não falhe nada. Para que as condições sejam as melhores, contrata Dubey (a personagem mais engraçada de todo o filme e a única de quem consegui fixar o nome), um jovem sempre atarefado, que faz lembrar o típico empreiteiro português, que se compromete com todos os trabalhos e acaba por pôr em causa os prazos de tudo aquilo em que se mete.


No entanto, e apesar de uma luta contra o relógio, tudo está pronto a tempo. E num casamento que à partida parecia infeliz e destinado ao insucesso, notamos a felicidade no ar. Uma felicidade intrigante. Confesso que terminei o filme sem perceber se ali existia felicidade ou conformismo. Se, como em muitos casos, os noivos se entregaram a um destino programado. Um filme interessante, sobre uma realidade quase desconhecida nos países ocidentais. Uma boa história.


Nota Final:
B



Trailer:



Informação Adicional:
Realização: Mira Nair
Argumento:
Sabrina Dhawan
Ano:
2001
Duração:
114 minutos

DAFA 2010: Melhor Poster e Trailer




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

Em mais uma tentativa de acabar (finalmente) com os prémios de cinema - até porque os premiados em televisão estão já ao virar da esquina - aqui vão mais duas categorias dos meus prémios, Melhor Poster e Melhor Trailer.




MELHOR POSTER:
BLACK SWAN - #1
CATFISH
FISH TANK
I AM LOVE - #2
THE ART OF THE STEAL
THE RUNAWAYS - #3

Finalistas:
"Enter the Void"
"Happythankyoumoreplease"
 "Monsters"
"The Social Network"


Pelo impacto, pelo arrojo e pelo belíssimo efeito artístico presente em todos os posters, principalmente o conjunto internacional (aqui, aqui e aqui), "Black Swan" é presença obrigatória nesta lista. Para representar toda a colecção, escolhi este que é o meu favorito. Pela beleza, pela elegância, pela grandiosidade e pelo lírico estilo de letra, "I Am Love" é outra escolha inquestionável. O efeito aquário no poster alternativo de "Fish Tank" é merecedor de menção só por si, mas a ousadia por detrás do conceito torna-o realmente especial. "The Runaways" é exímio na forma como promove o assunto do filme não se impondo nenhum limite, vendendo pura sexualidade e irreverência. Icónico. "Catfish" consegue executar um conceito que poderia ter sido bastante errado, criando curiosidade pela forma como interliga as redes sociais e a expressão "Don't let anyone tell you what it is". O uso do estilo de letra e formato do Facebook e os usa para criar uma sombra estranha é um bónus delicioso. Finalmente, o design de "The Art of the Steal", reminiscente deste design de "Small Time Crooks", é inteligente, inspirado e apropriado, usando recortes de jornais. Brilhante impressão que deixa em quem vê o poster, criando interesse para o documentário.


MELHOR TRAILER:
BLACK SWAN - #2
INCEPTION (aqui)
SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD (aqui)
SHUTTER ISLAND (aqui)
THE SOCIAL NETWORK - #1
TRUE GRIT - #3

#1:



Ousado, emocionante e, admitamos, um pouco bizarro.

#2:



Provocante, louco, chocante? Isso tudo e muito mais.

#3:



Poderoso, excepcionalmente bem editado, excitante. Tudo aquilo que um bom trailer deve ser.

Grandes Posters: Edição Musicais


Uma vez que nas últimas semanas revi "Moulin Rouge!", "West Side Story" e ainda "An American in Paris" para o nosso mês especial de celebração e depois de constatar o quão bem executados estão os posters dos três para a época em que se encontram e sobretudo para o tipo de audiência-alvo que buscam,  decidi fazer uma pequena pesquisa pelos posters da maioria dos grandes musicais da história do cinema e avaliar a sua qualidade. Decidi aproveitar esta ideia, já que me dei ao trabalho, para ressuscitar uma velha rubrica cá do blogue e foi assim que este artigo teve origem. Deixo-vos abaixo as minhas selecções para os melhores vinte posters de filmes musicais:

#20-18:


O enorme espaço em branco em "Hello, Dolly!" tira-me do sério, compensado contudo pela forma inteligente de vender o filme: a sua grande estrela (Barbra Streisand) em destaque e com um dos chapéus mais mirabolantes - e cativantes - de que há memória. Outro que sabe bem vender o produto é o poster de "Nine" que apesar de feio e tosco tem no poder dos nomes do elenco a sua grande vantagem. Difícil é não querer assistir a um filme com Day-Lewis, Cruz, Hudson, Loren, Dench, Kidman e Cotillard. Para a época, penso que a Disney fez um bom trabalho com "Mary Poppins", ilustrando bem a sensação de felicidade, de "estar nas nuvens" que o filme nos transmite, dando a entender também que esta senhora, de nome Mary Poppins, é especial.

#17-15:

 
"New York, New York" é um musical muito peculiar e o poster sabe vender bem essa atmosfera meio mística e especial. O único senão que lhe posso apontar é a grande porção de espaço vazio a preto que, hoje em dia, arruina muitos posters modernos. O de "Sound of Music" está irrepreensível, focando-se no que interessa: a sua grande estrela, Julie Andrews; o ar musical; e as colinas. O de "An American in Paris", contudo, é ainda melhor - dá ou não dá vontade de saltar para o poster e dançar nas ruas de Paris?

#14-12:



Um poster divertido é o que se pede para promover "Funny Girl" e, de facto, a imagem estilizada é promissora. A grande quantidade de espaço vazio preto peca por ser excessiva mas, neste caso, funciona bem para reforçar a imagem portanto eu vou deixar passar. Um bom uso do preto pode ser encontrado no poster de "The Rocky Horror Picture Show" que depois contém uma imagem central que vende bem o filme, irreverente, atraente, diferente. Finalmente, "Sweeney Todd". Que grande poster. Completamente Tim Burton.

#11-9:


Hesitei em colocar "Singin' in the Rain" tão alto mas a verdade é que para um poster dos anos 50 este conceito resulta excepcionalmente bem. Alegre, colorido e envolvente, a imagem com o trio à chuva contagia-me e faz-me desejar fazer o mesmo. Cumprindo assim tão eficientemente a sua missão e não alienando nenhuma pessoa que desgoste de musicais, merece esta posição alta. O estilizado, bonito e com belíssimo uso de cor poster de "Dreamgirls" quase que não merece o filme que promove. Dá ideia de um filme completamente diferente. Um bom trabalho. O poster de "Love Songs" tem três grandes elementos que o fazem funcionar: o trio de atraentes protagonistas; a cor e o tom; o desenho de Paris e pela frente o título do filme, brilhantemente executado. Promove tão bem o filme sem contar bem o que nele se passa.

#8-6:


Perfeito a capturar o ambiente e a atmosfera dos anos 20 e a segurar o seu público-alvo mostrando, através das roupas das protagonistas, do efeito risqué do título do filme e do poder dos três grandes nomes envolvidos, o poster de "Chicago" resultou muito bem. Já o poster de "Hedwig and the Angry Inch" é um caso bastante particular. Este não é um filme fácil de promover ou sequer de explicar. É preciso tê-lo visto para se compreender. Ainda assim, penso que a equipa de marketing trabalhou imensamente bem na concepção do poster, optando por escolher a melhor forma de promover o filme: uma enorme imagem da chocante personagem principal do filme. "Dancer in the Dark" poderia só ter os nomes de Björk, Catherine Deneuve e especialmente de Lars von Trier para ser relevante, mas só o facto de terem arriscado numa imagem tão arrojada e pouco relacionada com a temática principal do filme - a personagem parece que está a flutuar no ar, numa leveza de espírito, conduzida pela música, como que hipnotizada - merece pontos bónus.

#5-3:


"West Side Story" tem um poster absolutamente fascinante. Uma cor diferente e forte mas que resulta muito bem em contraste com o preto do título, também este num tipo de letra arrojado. Gosto muito ainda do pequeno pormenor das escadas da varanda e os dois amantes a branco. Lindo. "My Fair Lady" tem vários posters, alguns óbvios (como aquele todo a branco apenas com a cabeça gigante de Audrey Hepburn ao centro) e alguns, como este, estranhos mas belos. Também tem Audrey e Rick Harrison em destaque mas fá-lo de forma subtil, encantada, bonita. O resultado final é esta espécie de pintura romântica, de cores claras e suaves. Fantástico. O poster de "Moulin Rouge!", para mim, define-se em apenas três palavras: mágico, apaixonante, estonteante. Aliás, a colecção inteira dos posters merecia um artigo especial só dedicado a elas. São todos óptimos.
#2:


Um dos poucos casos em que o preto trabalha em benefício da arte, o poster de "All That Jazz" (que apresenta uma variante em vermelho também muito interessante) vende o filme apenas com o título e nada mais. Aquela tag é, além disso, fenomenal. Um musical de Bob Fosse, chamado "All That Jazz" (reminiscente da música do seu musical "Chicago", o que nos indica que podemos estar perante uma semi-autobiografia) e o título em lâmpadas. Que mais é preciso dizer? Luzes, câmara... It's show time!
#1:


Havia posters mais bonitos. Havia posters mais artísticos. Mas mais ousados e originais que este... duvido. Life is a "Cabaret", Sally Bowles em festa no topo. O texto em arco-íris em contraste com fundo preto faz o resto. Brilhante, festivo, atraente.

Passo-vos agora a palavra: quais destes posters vos chamaram à atenção?

HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS, PART II (2011)



"I never wanted any of you to die for me."

O fim de uma era. É o que todos sentimos quando entrámos no cinema para ver a última e derradeira parte da saga do feiticeiro mais conhecido de todos os tempos, a história do rapaz que sobreviveu. "HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS, PART II" vem encerrar com chave de ouro uma das mais lucrativas franchises de sempre e um fenómeno sem precedentes quer a nível da literatura, quer a nível das suas adaptações cinematográficas. Ajuda também que este último filme providencie uma conclusão satisfatória e que cumpre as expectativas dos milhões de fãs em todo o mundo.


Neste último capítulo, Harry Potter (Daniel Radcliffe) vê finalmente chegar o momento que tentou evitar uma vida inteira: o frente-a-frente com Lord Voldemort (Ralph Fiennes). Antes disso, de acordo com as instruções que lhe havia deixado Albus Dumbledore (Michael Gambon), ele necessita de destruir os restantes Horcruxes do vil rival juntamente com Ron (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) para, de uma vez por todas, o poder derrotar. Não querendo ser mais detalhado que isto, acho que é suficiente dizer que a grande maioria das inolvidáveis personagens dos anos anteriores de Harry em Hogwarts estarão todos de volta, incluindo Professor McGonagall (Maggie Smith), Draco Malfoy (Tom Felton), Hagrid (Robbie Coltrane), Neville Longbottom (Matthew Lewis), Ginny Weasley (Bonnie Wright), Luna Lovegood (Evanna Lynch), Remus Lupin (David Thewlis), Professor Snape (Alan Rickman), Professor Flitwick (Warwick Davis), Professor Trelawney (Emma Thompson), Professor Slughorn (Jim Broadbent), Molly e Arthur Weasley (Julie Walters e Mark Williams), Bellatrix Lestrange (Helena Bonham-Carter), Lucius e Narcissa Malfoy (Jason Isaacs e Helen McCrory), Ollivander (John Hurt), Fred e George Weasley (Oliver and James Phelps), Nymphadora Tonks (Natalia Tena), Fleur Delacour (Clémence Poésy), entre muitos outros, todos de volta para uma das cenas mais formidáveis de toda a saga, de uma pujança inacreditável nos livros, bem transportada para o ecrã pelas mãos de David Yates: a batalha de Hogwarts. 


Depois das experiências bem sucedidas em "Order of the Phoenix" e "Half-Blood Prince" e do pequeno percalço chamado "Deathly Hallows: Part I", um filme que para mim nunca devia ter existido, especialmente no tamanho gigante em que foi produzido, Yates explora bem os pontos fortes do argumento de Steve Kloves e esconde as suas fraquezas, bem auxiliado por uma fotografia de altíssimo nível de Eduardo Serra (se bem que menos impressionante em comparação com o seu trabalho na primeira parte deste último filme), uma direcção artística exímia do colaborador habitual (e três vezes nomeado pela saga) Stuart Craig e um imperial Alexandre Desplat, de novo em topo de forma, produzindo uma banda sonora capaz de num momento acelerar a nossa pulsação e no outro nos deixar de rastos, à beira do choro. Quanto ao elenco em si, como de costume, são os personagens secundários que brilham. O trio principal é, uma vez mais, competente, nada de mais. Cumprem bem a sua função como alavancas motoras da narrativa, dando oportunidade a Maggie Smith, Matt Lewis, Helena Bonham-Carter, Michael Gambon e especialmente Ralph Fiennes e Alan Rickman de brilhar. Durante toda a saga, Alan Rickman (que interpreta Snape) foi consistentemente o melhor de cada um dos filmes e também aqui não foi excepção, aproveitando ao máximo uma cena improvisada de flashbacks (muito diferente da original publicada no livro, mas ainda sim contendo a mesma força e potência) para mostrar porque é, ainda hoje, um dos artistas mais valiosos do Reino Unido. Já quanto a Ralph Fiennes, só neste filme é que reparei o quão cheia de nuance e personalidade é a sua interpretação de Voldemort. Parecendo estar genuinamente a divertir-se na pele do vilão, Fiennes é electrizante - e relembrou-me os velhos tempos em que ele a paixão que exibia enquanto uma das maiores estrelas a agraciar o grande ecrã.


O maior elogio que se pode fazer a este filme - e a toda a saga, já agora - é nunca se ter desviado do concepção original de J.K. Rowling, tendo respeitado os fãs e os livros do princípio ao fim, fazendo jus ao mundo mágico e à frutífera imaginação da sua criadora. As cenas finais deste "Harry Potter and the Deathly Hallows, Part II" são particularmente impressionantes, decorrendo com enorme fluidez, com um diálogo inteligente e sem pressa, proporcionando-nos uma despedida sentida e adequada deste grupo de personagens que aprendemos a amar incondicionalmente ao longo dos anos. Da minha parte, ficarei para sempre grato que a Warner Brothers tenha decidido arriscar e transformar obras pelas quais nutro tanto carinho uma série de filmes de que o estúdio - e todo o mundo - se possa orgulhar. Será um deleite daqui a uns anos, seguramente, rever estes filmes todos em conjunto. Hogwarts é, afinal, uma casa à qual somos todos bem-vindos (como J.K. Rowling muito eloquentemente afirmou na estreia mundial do filme).

Nota:
B

A Saga Inteira:
B+

Ficha Técnica:
Realização: David Yates
Argumento: Steve Kloves
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Alan Rickman, Helena Bonham-Carter, Ralph Fiennes, Michael Gambon, Maggie Smith, Matt Lewis, Bonnie Wright, Evanna Lynch, Julie Walters, David Thewlis, Tom Felton
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Eduardo Serra
Ano: 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

WEST SIDE STORY (1961)

"All the world is only you and me."

Por várias vezes, a sétima arte declarou a morte do seu género mais rico e mais prestigiante, o musical. Depois de "Wizard of Oz" ter encantado milhões e "Singin' in the Rain" nos ter dado vontade de sair à rua e cantar enquanto gotas frias de chuva nos caem em cima, alguns falhanços de bilheteira como "Oklahoma!" ou "South Pacific" ou mesmo os cintilantes "A Star is Born" de Cukor e "Gigi" de Minnelli - hoje em dia considerados dos melhores musicais de sempre, galardoados com várias nomeações pela Academia mas ignorados na altura pelo grande público - puseram em causa o quanto o público ainda apreciava um grande espectáculo de luz, cor, música e dança. O que o cinema musical precisava, então, era de um enorme êxito cuja ressonância junto do público faria os estúdios acreditar de novo no poder da música. E eis que é assim que surge o famoso e muito premiado (vencedor de dez Óscares da Academia, só atrás de "Return of the King", "Titanic" e "Ben Hur" que ganharam onze) "WEST SIDE STORY", que pega nos conceitos básicos do romance "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e cria uma história para recordar todo o sempre e um dos pares românticos mais inesquecíveis de todos os tempos, Tony e Maria.


Com uma energética e dinâmica Nova Iorque nos anos 50 como pano de fundo, "WEST SIDE STORY" foca-se na relação tempestuosa entre dois gangues rivais: os Jets, compostos por descendentes dos imigrantes europeus que se estabeleceram na América no início do século, liderados por Riff (Russ Tamblyn) e os Sharks, recém-chegados porto-riquenhos em busca do sonho americano, liderados por Bernardo (George Chakiris). O filme transforma assim a disputa de duas famílias rivais numa luta entre duas classes sociais distintas, revolucionando a narrativa em termos da sua mensagem, abordando tópicos como o roubo, a delinquência juvenil, a xenofobia e o racismo e conferindo-lhe um estilo muito próprio, bem diferente do romance trágico de Shakespeare, embora conservando os seus fios narrativos essenciais - e adicionando-lhe um toque bem refrescante e inovador, transmitindo as suas ideias sob a forma de música e dança.


No meio da disputa entre os dois gangues encontram-se Tony (Richard Beymer), o melhor amigo de Riff, que apesar de ter abandonado os Jets e decidido procurar trabalho e subir na vida, vê-se envolvido na confusão a pedido de Riff, que põe em questão a sua amizade, e Maria (Natalie Wood), irmã de Bernardo, trazida há bem pouco tempo para a América para poder desposar Chino, o braço-direito de Bernardo, contrariando a vontade de Maria e da sua namorada Anita (Rita Moreno), amiga e confidente de Maria. A falta de química dos dois protagonistas seria, à partida, essencial para o sucesso da história (e atenção que eu sou um enorme fã de Natalie Wood, por isso custa imenso estar a criticá-la); todavia, o espírito e a graça de Rita Moreno e o estilo e irreverência de Russ Tamblyn e George Chakiris convencem-nos a ignorar essa grande fraqueza e a apreciar outros factores que ajudam, no fim de contas, o filme a capturar na perfeição a ingenuidade e a despreocupação da juventude.

 
Apesar da visão ambiciosa por detrás do filme e do grande potencial que tinha, o resultado final peca em defeito. O diálogo sofre de clara falta de inspiração e talento de escrita, servindo apenas como guideline e intermissão entre momentos de música e dança, mas funciona perfeitamente para o propósito do filme (como conseguiu ser nomeado para Melhor Argumento Adaptado eu nunca hei-de saber). Como que a compensar, as cenas musicais, tão igualmente elogiadas (pela crítica) e criticadas (pelos actores, que viram as cenas ser repetidas vezes sem conta pelo realizador Jerome Robbins, que no seu perfeccionismo acabou por ser despedido por ultrapassar o orçamento), são de absoluto encanto e charme. Se "Tonight" e "I Feel Pretty" fazem hoje parte do nosso imaginário (as gerações mais novas reconhecerão estas músicas seguramente pelas suas adaptações na série televisiva "Glee"), "America", "Cool", "Prologue" e "Something's Comin'" são, para mim, os três números musicais definidores do ambiente do filme, a tresandar de paixão, de alma, de fogo e de alegria. As vozes que Marni Nixon e Jimmy Bryant "emprestam" a Natalie Wood e Richard Beymer fazem maravilhas em "Tonight", é certo, mas é a exuberância e a energia de Rita Moreno e George Chakiris em "America" que fazem deste filme tão especial. Curiosamente, as quatro músicas que preferi destacar são as quatro coreografias que Jerome Robbins completou antes de abandonar o filme. São hilariantes, excitantes e fortíssimas, geniais no seu conceito e execução, de facto. Às músicas mencionadas junto ainda a brilhante sátira feita à idiotice e inércia das forças policiais em "Gee, Officer Krupke". Stephen Sondheim e Leonard Bernstein são, sem dúvida, dois dos maiores compositores de sempre.


Merecido vencedor, em 1962, dos Óscares de Melhor Filme, Melhor Realizador (a primeira de apenas duas vezes que uma parceria de realizadores venceria o prémio; os outros foram os irmãos Coen em 2007), Melhor Actor Secundário (Chakiris) e Melhor Actriz Secundária (Moreno), Melhor Banda Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Direcção Artística, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Edição e Melhor Som, "WEST SIDE STORY" é uma experiência absolutamente inesquecível e indescritível, repleto de momentos musicais arrebatadores e cenas de dança de cortar a respiração, com uma conclusão agridoce que é, contudo, bastante realista (talvez o meu principal problema com o filme, o facilitismo com que chega a empurrar a sua mensagem para o centro da narrativa, perdendo assim o final do filme - quase - toda a sua potência): com o coração cheio de ódio não se vai a lado nenhum. Gostava que o filme tivesse sido mais risqué e menos politicamente correcto e fã do final feliz. Ainda assim, constitui um feito notável e uma das maiores produções de sempre do cinema americano, uma que tem lugar em qualquer lista dos melhores filmes de sempre. Como musical, nunca desaponta. Como filme... Depende do que se pretender retirar dele.


Nota:
A-

Ficha Técnica:
Realização: Jerome Robbins, Robert Wise
Argumento: Jerome Robbins, Arthur Laurents, Ernest Lehman
Elenco: Natalie Wood (voz: Marni Nixon), Richard Beymer, Rita Moreno, George Chakiris, Russ Tamblyn, William Bramley, Ned Glass
Música: Leonard Bernstein, Irwin Kostal
Fotografia: Daniel L. Fapp
Ano: 1961