Dial P for Popcorn: Ninho de Cucos (I)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ninho de Cucos (I)

Sendo esta a minha primeira intervenção aqui no blog, queria aproveitar para me imiscuir de continuar o trabalho do Axel Ferreira, tendo em conta que o convite que me foi feito, assim mo permite. Posto isto, comprometo-me apenas a expor uma série de baboseiras e ranhosices que um mero amador, bem menos descomprometido de tendências que o seu predecessor, como eu, tiver para partilhar sobre a Sétima Arte.


Bem, e como a inspiração não me auxilia nesta minha estreia, vou começar por recordar um artigo, encontrado no StumbleUpon há dias, em que era pedido aos seguidores para descreverem e publicarem as experiências cinematográficas/televisivas que mais os deixaram fisicamente enjoados. Deparei-me então com uma imponente lista de algumas das mais grotescas e intragáveis cenas da história do cinema, encabeçada por pequenos clips de vómitos, passando depois pelas tradicionais cenas de ingestão acidental de excrementos, e terminando numa género Fear Factor/Jackass, em que um indivíduo corta, e mistura num batido que posteriormente ingere, uma generosa porção de pêlos púbicos de um parceiro. Contudo, como estas, haveriam com certeza muitas mais que teriam ficado por contar por a sua sordidez se sobrepor ao bom senso das políticas do Youtube. Mas este tipo de entretenimento não é novo. Há séculos que a náusea assume o papel de sereia grega, com uma notável capacidade de seduzir o subconsciente e subjugá-lo a uma dependência transcendental. De facto esta revela-se uma arma poderosíssima para captar a perversa essência da nossa existência que de humana parece ter muito pouco. A dicotomia belo-horrível acaba por se revelar tão paradoxal e incompreensível como a do amor-ódio e qualquer mestre do cinema sabe que apelar ao estômago pode ser tão ou mais poderoso que apelar ao coração, pelo que há que saber apreciar, ou pelo menos reconhecer, o génio artístico de quem sabe provocar a náusea com mestria. Contudo o nojo é por vezes exageradamente aproveitado em filmes que se desligam do compromisso universal de contar uma história ou expor uma ideia, e que acabam por se tornar numa odisseia de obscenidades que motivam o seu visionamento pelo simples facto de serem chocantes. Ora isto não só vulgariza o trabalho final, como também o próprio género, o que leva à criação de obras vazias de sentido, sem substância!


Exemplo premente deste género é A Serbian Film, um filme tão intenso e repugnante que dá ideia que a sua realização terá resultado de uma aposta imprudentemente perdida. O protagonista da narrativa Milos, um ex-pornstar de renome, é seduzido a voltar ao activo para um último trabalho antes de voltar à reforma. No entanto, o trabalho para o qual é convidado acaba por estar bem distante do que quer que Milos (ou qualquer pessoa com escrúpulos) possa ter em mente, e dá azo a uma série de cenas de teor sexual extremamente audaciosas, que se revelam marcantes, não pela forma como são exibidas, mas essencialmente pelo contexto que as envolve e que lhes confere um sentido verdadeiramente aterrorizador. Na verdade o que é realmente marcante em A Serbian Film não é a sensação nauseabunda resultante da inexistência de critério ou bom senso na realização destas cenas, mas antes a conceptualização das mesmas, o que torna a sensação de repugnância não só visceral, mas acima de tudo psicológica. De certa forma há que reconhecer a originalidade num trabalho que consegue levar as coisas tão longe sem o deixar de contextualizar numa narrativa, mas que, por outro lado, dá a ideia de que a história serve apenas de pretexto à exibição de cenas cuja idealização é irresponsavelmente negligenciada, e acreditando pela quantidade de pessoas que são necessárias para se aprovar um projecto deste calibre, só um segredo mais impenetrável que o da Santíssima Trindade pode explicar como este hino à indigestão conseguiu chegar às salas de cinema de todo o planeta (se bem que na Noruega e no Brasil ainda há lápis azul a funcionar.)


Honestamente gostava de poder conseguir aconselhar alguém a ver A Serbian Film ou outro qualquer do género, como alguém impiedosamente mo fez, mas o sadismo não faz parte dos meus vícios e apesar de, obviamente, não condenar quem aprecie o género (cada um tem os seus gostos), não consigo deixar de os considerar uma fútil perda de tempo (mais fútil que ouvir Rihanna, ou ir para os copos com os amigos), com a justificação de que há maneiras bem mais interessantes e prazenteiras de satisfazer os sentidos.

Em suma, parece-me que com tanta boa ideia por aí, com tanto génio à procura do seu espaço, ser escusado ter Serbian Films a parasitarem o mundo do cinema, ainda que o ser humano seja dotado de uma insaciável sede por aquilo que mais o repugna, e como tal provavelmente nunca venham a deixar de ser feitos trabalhos destes, há ainda assim que saber ter critério, e da mesma forma que se evita uma música do Justin Bieber ou da Rebecca Black também se devem evitar filmes destes, sob pena de deixar o talento ser levado de vencido pelo exagero!

Gustavo Santos

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei do que li...exprimiste exactamente aquilo que acho acerca do tema :)

Cumprimentos,

Iris Santos