Dial P for Popcorn: THE AVENGERS (2012)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

THE AVENGERS (2012)



Começo este artigo por agradecer a Joss Whedon. Sem ele, "THE AVENGERS" nunca teria sido o filme que é, divertido, inteligente e leve, que consegue entrelaçar várias histórias e várias personagens e dar uma voz singular a cada uma delas. Este era o grande sarilho para os quadros superiores da Marvel: como juntar, num filme de míseras duas horas, seis dos maiores super-heróis do seu universo e assegurar que todos participariam na narrativa de forma importante e equitativa, agradando aos actores que interpretariam os papéis (todos actores com algum nome e que, depois de protagonizarem, na maioria dos casos, o seu próprio filme, teriam que partilhar o estrelato e as principais cenas do filme com outros) e aos fãs que há muitos anos desejavam ardentemente um filme que juntasse a equipa maravilha da S.H.I.E.L.D.


Arrisco-me a dizer que Joss Whedon não só superou as expectativas iniciais de toda a gente, como o fez com incrível estilo e classe. "THE AVENGERS" não está, obviamente, na mesma liga da trilogia de Christopher Nolan e nem tem que estar. São filmes diferentes, com objectivos diferentes e com personagens e alvos diferentes. "THE AVENGERS" é, tal como os filmes da Marvel que o sucederam ("Iron Man" e "Iron Man 2", "Thor", "Captain America: First Avenger") um produto de entretenimento, mais preocupado por ocupar o espectador com deliciosas cenas de acção e efeitos especiais e com diálogo bem-disposto, bem-humorado e inteligente do que propriamente em entrar em considerações sobre a situação económica e político-social. A acção é mais fácil de seguir, o argumento é bem mais simples e, por isso, complica menos e torna-se mais agradável de acompanhar e degustar e "THE AVENGERS", como filme Marvel que é, também incorpora a energia contagiante que os seus antecessores também possuem.


A grande vantagem deste "THE AVENGERS" é sem dúvida o seu forte elenco, com personagens bem formados, com personalidades bem vincadas e curiosas, interpretados todos por actores bastante capazes. É também um elenco bastante equilibrado, com todos a terem a sua oportunidade de brilhar em diferentes momentos do filme, com várias interacções inesperadas que por várias vezes me arrancaram gargalhadas e com todas as personagens a terem motivações e narrativas próprias, desenvolvidas em simultâneo com bastante sucesso por Whedon. The Hulk (Ruffalo) é quem merece mais aplausos, tal o upgrade que Whedon faz em relação aos filmes que a personagem integrou anteriormente - e é dele a cena mais cómica do filme, um pequeno momento de brilhantismo de comédia física de Ruffalo, indubitavelmente criação da mente experiente e sagaz de Whedon, que se fartou de originar momentos destes nos vários anos que passou na televisão como criador de uma das séries mais injustiçadamente tratadas de sempre, "Buffy the Vampire Slayer". O outro grande triunfo de Whedon neste elenco é, para mim, o tratamento que ele dá a Romanoff (Johansson), dando-lhe muito mais que fazer aqui do que ela teve em "Iron Man 2", continuando a lista de grandes personagens femininas criadas por Whedon. De resto, o elenco funciona - seja porque Whedon manteve o carácter-base da personagem e a sua essência - Tony Stark (Downey Jr. igual a si mesmo), seja porque foi exímio na continuidade dos eventos de "Thor", reciclando o vilão Loki para a sequela (Hiddleston merecia claramente regressar ao papel) e continuando a sua titânica rivalidade com o irmão Thor (Hemsworth) e pegando no Tessaract que foi encontrado por Captain America (Evans) em "First Avenger".


O filme arrasta-se um pouco na primeira hora e meia, com alguns momentos enferrujados e com uma cena inicial bastante problemática, mas compensa com um último ato a todo o vapor, com uma gigante - e quase contínua - cena de acção que combina o que de melhor sabem fazer os seis heróis e que reúne todos num extasiante clímax que termina com a primeira grande vitória do maior grupo de heróis da Terra ("Earth's mightiest heroes!") e nos deixa a salivar para o que Whedon e Cª nos trarão a seguir. Espero que seja tão satisfatório e completo como este filme que apesar de nunca alcançar níveis de excelência, mais do que compensa o nosso investimento nele pela sensação inesquecível de estar a testemunhar algo tido como impossível por qualquer amante de banda desenhada: agrupar vários heróis de um universo - e criar um filme digno do talento e força combinada deles todos. "THE AVENGERS" é esse filme e a alegria que Whedon - confesso comic book geek - passa através do ecrã é indesmentível e impagável.


Nota:
B


Informação Adicional:
Realização: Joss Whedon
Argumento: Joss Whedon, Zak Penn
Elenco: Robert Downey, Jr., Mark Ruffalo, Chris Evans, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Jeremy Renner, Scarlett Johansson, Stellan Skarsgaard, Cobie Smulders, Samuel L. Jackson, Clark Gregg
Música: Alan Silvestri
Fotografia: Seamus McGarvey
Ano: 2012


3 comentários:

Jorge Teixeira disse...

Não estou em total sintonia contigo, não o considero tão bom. Os defeitos que apontas são mais relevantes e determinantes para a qualidade do filme, na minha opinião. Acho que envereda, inevitavelmente, por uma caminho demasiado centrado nas acções e nos efeitos especiais, dando pouco espaço às personagens (ainda que estas já tenham sido construídas nos respectivos filmes). Muitos o dirão, que para efeitos artísticos, este filme estava condenado logo à partida, antes mesmo de ser filmado sequer. Eu só não concordo, como tenho uma opinião sobre o assunto positiva - qualquer tipo de ideia ou base é capaz por si só de originar cinema, tem é de se saber filmá-la, de transportá-la para o grande ecrã com um ponto de vista próprio, coerente e interessante. Mas o assunto dará sempre um bom debate :).

Neste The Avengers a coisa podia ter resultado melhor, ainda que não seja fácil pensar como seria possível, dado que o filme até nem tá mau de todo dentro dos seus padrões. Para mim destaca-se sobretudo, e como bem referes, na harmonia e perfeito encaixe entre os heróis. Nenhum tira protagonismo ao outro e todos acabam por dar o seu cunho ao filme. Aqui mérito maior para o realizador, seguido pelos argumentistas.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

Jorge Rodrigues disse...


Olá Jorge, obrigado pelo comentário!

Concordo contigo quando dizes que não vais na conversa que o filme estava condenado à partida para efeitos artísticos.

Quanto aos defeitos, pá eu consigo ignorá-los se o produto final me satisfaz - desconto depois na nota final porque claramente o filme tem várias falhas, mas no fim de contas entre este e THE DARK KNIGHT RISES, por exemplo, acabo por preferir isto porque acaba por alcançar as expectativas iniciais a que se propôs do que o filme de Nolan que sai massacrado e esmagado porque a sua ambição é desmesurada e o filme sofre muito com isso.

THE AVENGERS está longe de ser um excelente filme, mas ao menos é mais modesto naquilo que pretende executar (Whedon escreve acção como poucos; não sabe, muitas vezes, filmá-la, o que associado ao problema patológico da Marvel de passar uma imagem demasiado colorida e alegre das suas cenas de acção leva a que um espectador mais céptico quanto aos efeitos especiais, que quer mais substância, se aborreça rápido) e por isso agracia-me a dar-lhe mais pontos positivos pelo esforço do que Nolan.

Não sei se me fiz explicar muito bem ;)

Obrigado pelo comentário,

Jorge Rodrigues

Jorge Teixeira disse...

Claro que fizeste, aliás percebo bem essa abordagem ou visão por filmes e pelo cinema, concordando em parte até. Tendo é cada vez mais a privilegiar a qualidade artística em detrimento do resto (que aprecio ainda assim). Este Avengers, de facto, ambicionava menos do que o The Dark Knight Rises do Nolan, e isso acaba por tornar a sua visualização mais descontraída e menos exigente. No entanto, no final, ultrapassadas estas questões de expectativas, não distingo muito um do outro - ambos são filmes competentes, mas pouco mais que isso. Porventura guilty pleasures daqui a uns anos.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo