Dial P for Popcorn: THE DARK KNIGHT RISES (2012)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

THE DARK KNIGHT RISES (2012)




Sempre apreciei o franco extremismo que vem com a avaliação do trabalho de Christopher Nolan, porque simplesmente não me lembro de em tempos recentes um realizador conseguir elicitar tanto ódio como admiração por parte do grande público e dos críticos, o que faz da sua obra um caso de estudo bastante fascinante de analisar. Para ajudar ainda mais a situação, a Academia tem também uma relação bastante conflituosa com o realizador, sendo capaz de atribuir aos seus filmes um número substancial de nomeações, sendo capaz até de o nomear pela sua capacidade de escrita, mas ignorando-o sempre na nomeação que, no fundo, mais (lhe) interessa: a de melhor realizador. "The Dark Knight Rises", a última peça na trilogia de Nolan sobre Batman, o Cavaleiro das Trevas, vem adicionar mais contexto à discussão.

Para ser mais fácil explicitar a minha análise, organizei as minhas considerações por tópicos:

1. É de longe o filme mais fraco de Christopher Nolan (a par de "Insomnia"), o menos consistente, o que tem o pior argumento e o mais longo, tanto a nível da real duração do filme como da percepção do espectador. "Batman Begins" tem-se transformado, com os anos, no meu favorito pessoal da trilogia, muito devido ao espectacular primeiro acto do filme (e à mais sensacional origem de um super-herói alguma vez projectada na tela); contudo, admito que "The Dark Knight" é o melhor filme dos três e por isso concordo também que lhe tenha dado a melhor nota de entre os três. 


2. A ambição de Nolan é, para mim, o principal problema. A forma épica e ostentosa como aborda os seus filmes, qual David Lean ou D.W. Griffith (ele que é um confesso fã de ambos) e a necessidade quase messiânica de incluir missivas político-sociais nos seus argumentos (que não tem nada de mal, isto se Nolan não passasse o filme todo a pôr em conflito ideias contraditórias) acaba sempre por servir-lhe mais de handicap como de ponto a favor. Acaba assim por negligenciar o essencial na narrativa, que é o desenvolvimento das personagens (algo que Dickens faz tão bem em "A Tale of Two Cities", que serviu de base à temática do filme), é a organização do fio narrativo, a ideia de continuidade, de evolução no espaço e no tempo, noções básicas de que Nolan abdicou em detrimento do seu já habitual estilo errático de expor informação e complicar o enredo (o filme tem partes literalmente incompreensíveis). 


3. A narrativa é sofrível em vários momentos, uma gigante confusão estrutural, sem grande coesão do princípio ao fim, com sequências consideráveis em que nada se passa e depois segmentos loucos em que nem tempo há para respirar entre os diálogos. Outro problema permanente no filme é a forma como usa e abusa dos traumas e tragédias pessoais das personagens para fazer girar a narrativa, mas depois esquece-se de lhes conferir ressonância emocional, fazendo com que algumas personagens pareçam incompletas e com traços de personalidade confusos (de repente lembro-me da bipolaridade das reacções de Miranda Tate em vários momentos do filme ou do intenso dramatismo em torno da relação de Alfred e Bruce Wayne - com todas as interacções das duas personagens a acabar com um (ou ambos) quase em lágrimas). A temática da "dor" (em contraponto com "caos" de "The Dark Knight" e "medo" de "Batman Begins") deveria estar omnipresente no filme, mas Nolan nunca deixa a câmara tempo suficiente nalgumas cenas para podermos contemplar a atmosfera e a sensação de desespero, de desconsolo, de sofrimento, o que é uma pena porque a alegoria de ter Bane como vilão mestre da derradeira película da trilogia, o único que consegue igualar Batman a nível físico e intelectual (não é por acaso que ele é "the man who broke the Bat") e explorar a sua vulnerabilidade física bem como as suas fraquezas e medos soa no final como uma oportunidade ultimamente  desperdiçada. 


4. Dos três filmes, é o que tem o melhor e mais nivelado elenco - não tem uma Katie Holmes, mas também não tem um Heath Ledger que sobressaiam, para o bem ou para o mal. Contém a melhor interpretação de Christian Bale e de Michael Caine da trilogia, incorpora bastante bem as personagens de Joseph Gordon-Levitt e Anne Hathaway, cuja Selina Kyle é facilmente a melhor interpretação do filme. Tom Hardy cumpre o seu papel, muito exigente a nível físico (basicamente a sua interpretação reside no que ele consegue fazer passar com os seus olhos). É só uma pena que pouco tenha sido feito com Marion Cotillard. A personagem e a actriz mereciam mais.

5. No seguimento do ponto 2: Lee Smith é um milagreiro. Que a edição de "The Dark Knight Rises" seja, mesmo com a intervenção salvadora de Smith, medíocre e apenas relativamente consistente explica na perfeição o problema-base de Christopher Nolan na génese deste filme. Não se pode querer falar de tudo, abordar ideias contraditórias, ser infinitamente detalhado e depois querer trocar exposição por acção. É nisto que depois dá - não se sabe bem onde começar e onde acabar de cortar. Hans Zimmer é, também ele, um milagreiro. A banda sonora é, aliás, das poucas coisas que realmente funciona em pleno no filme. Os valores de produção são também de qualidade inegável, com efeitos especiais incisivos e delicados, que ajudam a aumentar o realismo da trama e, assim, o suspense e o drama.

6. O filme demora a encontrar o seu ritmo, mas quando o encontra, não pára de crescer, compensando as hesitações e inconsistências com um majestoso terceiro acto - a roçar o sublime, mas que ainda assim aproveita o sentimentalismo para fazer avançar a história - e que acaba por encerrar a trilogia em nota alta de execução (ainda assim, aquele epílogo ainda me fez revirar os olhos várias vezes, mesmo se me agrada a ideia final que Nolan deixa de Batman ser mais um símbolo que um homem!).



Bruce cai ao poço em "Begins" / Bruce trepa o poço em "Rises" - o primeiro acto e o último ano da trilogia, numa das muitas conexões entre as três películas

Que Nolan tenha conseguido terminar esta trilogia magnífica de forma tão satisfatória para os fãs diz muito do calibre do realizador. A este filme falta muita coisa e claro que peca em comparação com os seus dois predecessores. Contudo, criar uma visão moderna, semi-apocalíptica de anarquia e caos a controlar a humanidade num mundo fantástico como é o de Gotham City e suceder na exploração do mito de Batman/Bruce Wayne como controverso símbolo de justiça e igualdade, um playboy milionário que controla o poder e a riqueza da sua cidade que vive uma vida dupla como um radical anti-herói individualista com imperativos morais que o colocam muitas vezes na corda bamba entre o mal e o bem, conseguindo ser coerente e fazer intersecções entre os três filmes de forma orgânica e familiar e ao longo da trilogia nunca abdicar do seu estilo irreverente como contador de histórias e estética tendenciosamente obscura, crua, realista é um feito inacreditável e quase impensável para um realizador com uma década de carreira. Agradeço-lhe imenso por ter reposto Batman no lugar de destaque que merece, no panteão dos super-heróis. E mal posso esperar para ver o que este excitante realizador fará no futuro.


Nota:
B/B-

Informação Adicional:
Ano: 2012
Realizador: Christopher Nolan
Argumento: Christopher Nolan, Jonathan Nolan (história de David S. Goyer)
Elenco: Christian Bale, Morgan Freeman, Michael Caine, Marion Cotillard, Anne Hathaway, Tom Hardy, Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt
Banda Sonora: Hans Zimmer
Fotografia: Wally Pfister



10 comentários:

rui disse...

Viva,
Gostei do comentário e concordo com algumas partes, mas não percebi quais as contradições e narrativa sofrível referidas. A que partes se referem?
Também não concordo muito com a nota, mas acho que cinema é mesmo assim... :)
Cumprimentos,
red carpet

Anónimo disse...

Devo estar sozinho nesta opinião, mas creio que a Katie Holmes esteve bem no Batamn Begins.

Bruno Cunha disse...

Concordo imenso. Sucintamente, é um filme que se contradiz e que apresenta algumas falhas no argumento, principalmente na narrativa. Não resido o erro, como eu pensava à priori, no vilão.

Abraço
Frank and Hall's Stuff

Jorge Rodrigues disse...


Anónimo -- Eu não acho que a Katie Holmes é má actriz, longe disso. Acho é que o casting dela neste filme foi uma má opção, porque além dela não ter aspecto físico para sequer parecer da mesma idade do Christian Bale, a performance a nível físico dela (não é só uma questão de aparência, é o ar que deixa transparecer) é completamente errado. Parece uma menina a brincar aos adultos. Para se perceber melhor o que quero dizer, basta observar 1 ou 2 cenas da Katie Holmes e 1 ou 2 cenas da Maggie Gylenhaal no The Dark Knight. É uma diferença ABISMAL.

Rui --

Bruno -- O meu grande problema com Nolan (e um problema que eu, aliás, consigo ultrapassar com facilidade ao ver os seus filmes, não obstante a minha crítica ao longo da crónica) é a necessidade que o homem tem de complicar tudo. Ao complicar tudo, esquece-se muitas vezes de pilares básicos do enredo que têm de ser respeitados. Não podemos andar aos saltos no ar, as coisas têm que ter lógica e sentido.

Não vou entrar sequer pelas políticas do filme senão nunca mais de cá saio, até porque acho que como produto de entretenimento o filme mais que cumpre, o problema é quando tentam analisar este produto de entretenimento à luz desta ou outra crítica social e tentam fazer Nolan parecer mais intelectual que é. São filmes cerebrais mas não são críticas directas ao regime político em vigor nos EUA, por amor de Deus.

Jorge Rodrigues disse...

Rui -- Mudei-te para um comentário à parte porque vou ser relativamente longo na minha análise.

Aliás, deixa-me deixar o aviso de [SPOILERS] PARA QUEM AINDA NÃO VIU O FILME:

O plano de Bane dos cinco meses de espera até a bomba explodir não faz muito sentido (faz sentido se imaginarmos como plot hole que Nolan arranja aqui para permitir a Bruce Wayne recuperar da lesão nas costas e voltar a Gotham).

A relação de Miranda Tate e Bruce Wayne é a coisa mais mal explicada do filme. Então encontram-se duas ou três vezes e têm logo sexo? E depois quase que é o amor da vida dele, que ela sabia que ele a vinha resgatar? (têm que ter ficado cortadas muitas cenas na sala de edição)

Nem falemos de Bruce Wayne ter o seu esconderijo super secreto, estar informado sobre tudo o que se passa no submundo da cidade e não ter descoberto, logo que a polícia sabe no início do filme que estão a construir algo nas canalizações e nos sistemas de esgoto, que estavam a trabalhar debaixo da sua cave/armazém secreto onde ele tem guardado todos os gadgets e tumblers e etc.

Não achas algo estranho que depois da segunda luta com Bane, quando ele retira os fios da máscara que lhe providenciam o anestésico, tenha que ter sido a Miranda Tate a voltar a colocá-los? Ele não tem mãos? (nem vou falar da revelação chocante final da identidade real de Miranda Tate que foi tão mal aproveitada no filme e teve zero impacto emocional).

Não há ninguém que me arranje uma explicação boa para Bruce Wayne morrer no mesmo dia que Batman leva para longe uma bomba nuclear? Ninguém em Gotham soma 2+2?

É disto que eu falo quando me refiro a confusão estrutural. Eram todos problemas que poderiam ser facilmente resolvidos se Nolan tivesse focado a história em elementos-chave, reduzisse o enredo que é gigante e aprimorasse o argumento. O Batman não controla ainda o tempo e o espaço e apesar de Nolan ter que providenciar espaço para batalhas e cenas de acção, se quer ser realista na aproximação à história não pode querer que eu não ache que se Batman arranjasse forma de matar Bane com ARMAS nas vezes que se encontraram, a confusão toda que se segue não teria sido inevitável (ah mas o Batman não mata pessoas, ele diz isso no Batman Begins e no The Dark Knight ele não mata o Joker - ah mas eu a isso respondo que isso é uma invenção conveniente a Nolan para poder criar momentos de acção onde não haveriam, porque não foi expedito aqui o suficiente como foi em The Dark Knight, porque o Batman não podia matar o Joker porque o Joker teve sempre os 'tomates' do Batman nas mãos, por assim dizer, porque nunca dava a cara sem ter uma cartada por jogar (como ser preso mas arranjar forma de raptar Harvey Dent e Rachel Dawes, ou no confronto final em que o Joker depois termina preso, o Batman não mata o Joker PORQUE a situação no navio estava fora do controle dele).

Jorge Rodrigues disse...


Acerca das políticas contraditórias:

Já no The Dark Knight (situação que continuou para este filme) Nolan coloca o Batman como culpado dos crimes e manda a polícia persegui-lo, celebrando a necessidade de mentir ao grande público para o seu próprio bem (porque precisam de um herói, bem patente na cena final do filme com a situação Batman/Gordon/Two-Face Dent), mas ao mesmo tempo passa o filme todo a celebrar o triunfo do espírito humano e a habilidade da humanidade em tomar uma decisão em conjunto em prol dos outros e não de si mesmos (cena do barco).

Aqui continua. Como se a tentar dar a sua opinião nas políticas do Occupy Wall Street, muito na voga este ano, que como saberás focam-se no povo a readquirir o que é seu, a descentralizar a riqueza dos ricos e a dar a todos o que é seu (basicamente, fala de equilíbrio). Um bocado irónico ele pegar em Bane - O VILÃO, com uma intenções próprias por trás, acabar com Gotham - e fazê-lo ser a sede de duas revoluções (no estádio e na invasão da bolsa de valores).

Ao longo do filme vai-se celebrando também exemplos da solidariedade do povo, da humanidade e de como nos ajudamos uns aos outros. Bem, irónico que o salvador é um bilionário rico com vida dupla e com um segundas intenções por trás também.

O que mais me incomoda nestes problemas com as mensagens que o filme quer passar é que depois muda a personalidade das personagens para servir o enredo e o diálogo, quando um filme deveria ser ao contrário, as personagens deviam organicamente levar ao conflito e à catarse do enredo. Alfred é a personagem que mais me irrita neste filme. Sim, Michael Caine é sensacional e vende o seu diálogo como ninguém e sim fiquei triste e de lágrima no olho quando ele falava com o Bruce. Mas aquela personagem não é assim.

Foi mudada por Nolan para servir o enredo, que obrigava a que Bruce Wayne ficasse isolado e sozinho para acabar numa prisão sem que ninguém soubesse dele.

Jorge Rodrigues disse...


Não sei se estou a conseguir fazer passar a minha ideia.

Outro exemplo claro: as cenas iniciais com Miranda Tate e Bruce Wayne revelam uma grande preocupação com salvar o mundo, restaurar o equilíbrio e aproveitam a alegoria do fusor nuclear (ah, outro problema de estrutura da narrativa - é impossível que aquilo fosse dar uma bomba nuclear) para fazer uma crítica ao sistema capitalista (Daggett e os investidores da Wayne Enterprises) que não está preocupado com energias renováveis e só Tate e Wayne é que estão. Mas depois contradiz-se a si mesmo quando se esquece que Tate e Wayne também são capitalistas e investidores ricos e que é neles - e neles apenas - que reside a solução das energias renováveis.

Bem, Nolan não pode ter X e Y como lhe agrada, não é?

Um último exemplo: a forma como Nolan descreve as massas populares, como se fossem robôs que fogem do perigo e não têm opinião, fazem o que lhe mandam (casos do navio em TDK, casos da revolução no estádio em TDKR) e se revoltam contra instituições como a polícia. Bem, isto tudo seria muito lindo se cada pessoa não fosse diferente. Com isto Nolan não perde tempo e faz bem - o problema é quando pega em uma dessas pessoas - John Blake, o polícia interpretado por Gordon-Levitt - e o transforma no novo 'vigilante', que protesta contra a própria instituição que ele defendia e agora critica por ser corrupta, mas também ele concorda com Gordon que Batman deve funcionar como um símbolo e que o que as pessoas não sabem, não lhes trará mal. Percebes aqui a confusão?

Em THE DARK KNIGHT Nolan safa-se muito bem com algumas destas situações porque usa-as a seu favor, a anarquia e o caos provocado por Joker é diferente da ameaça que traz Bane, que não ataca a população, só os ricos. Mas em ambos os casos as pessoas não interessam, são lá está um desserviço para o enredo que Nolan põe sempre em primeiro lugar.

Jorge Rodrigues disse...


Em suma, basicamente o problema é este (retirado do The Film Experience que expôs a situação de forma bastante eloquente, mais que eu):

"seems to embody both the currently hot topic of Occupy Wall Street and the fake 'war against success' that Romney and the Republicans are trying to sell us on to get us to vote for the best interest of billionaires and sign up for a dog eat dog existence for the rest of us. The widening chasm between the haves and the have nots -- a bigger scarier hole than any super-villain detonated football field --which powers modern progressive activism is eyed suspiciously by TDKR. At first it appears that Bane and Catwoman share a political drive to level the playing field and at first it appears that only the billionaires Miranda (Marion Cotillard) and Bruce (Batman) are heroes, putting their own money towards items like the fusion reactor which will help all the small people. Eventually TDKR pulls the rug out from under all of these conceptions since 3/4ths of the players have their own agendas: Bane just wants anarchy and violence; Catwoman just wants to start over and resents authority in general; and Miranda is secretly Talia Al Ghul and after a city-wide massacre. None of this would stick so unpleasantly if the film weren't also so adamantly the story of a Billionaire Hero who always swoops in to save the city from its collective anarchic impulses, usually stirred up by lower classes or foreigners or villains like The Joker and Bane who are the worst nightmares of capitalism seeing absolutely no value in money (GASP!). Just like his Benevolent Billionaire father (Linus Roache cameo!), Bruce understands that Gotham is its own worst enemy and he must continue to help the people who just can't rule themselves. Aided by Commissioner Gordon of course who is also above the law... even if he feels a bit guilty about it."

rui disse...

Viva,

Antes de mais, peço desculpa pela demora na resposta e fica já dito, como no comentário anterior, que no cinema (como em tudo) é impossível estarmos todos de acordo.

No entanto, vou tentar explicar o meu ponto de vista, tomando por base os casos referidos. Claro que há bastantes , quem não viu o filme já fica avisado.

Quando acabou o filme, fiquei apenas com uma pequena ponta de desilusão em relação ao final. Não pela forma como o filme terminou, mas com um facto impreciso e improvável, algo que Nolan não fez nos outros filmes. Refiro-me à explosão da bomba. Se, de facto, fosse uma bomba nuclear, independentemente de não ter explodido na cidade, a onda radioactiva iria afectar, por certo, a mesma. Daí ter ficado desapontado com Nolan.

Quanto a outras questões, algumas referidas - como o facto de em Gotham as pessoas não se aperceberem que Wayne e Batman não aparecem e desaparecem ao mesmo tempo, o facto de ele ser um bilionário ou o de não matar os inimigos - fazem parte da história de Batman, queiramos ou não. Também ninguém soma 2+2 e percebe que o Superman é o Clark Kent sem óculos, o que é ainda mais óbvio, mas não deixa de ser o personagem e a história.

Ainda em relação à questão de não matar os inimigos, não se trata de um aspecto usado para dar ajudar ao plot, mas é uma característica intrínseca do Batman, como refere o Joker em TDK, quando diz que há uma fronteira que ele não ultrapassa. Ele não a ultrapassa porque é o seu princípio, não porque o Joker tem "a faca e o queijo na mão" - no final, está derrotado, e ele deixa-o lá para ser preso.

Quanto ao plano de ver a cidade destruir-se em 5 meses, era algo que a Liga das Sombras já pretendia desde o primeiro filme, e tem aqui continuidade. Destruí-la simplesmente e matar Wayne não seria tortura suficiente para este. Se ajuda ao regresso no fim da história? Claro, mas é por isso que é um filme :)

Os gadgets dele não estavam na cave/esconderijo secreto, mas nas instalações da Wayne Enterprises, como vemos no primeiro filme, pela mão de Lucius Fox, e no final deste. Bane não consegue colocar os fios da máscara porque supostamente fica paralisado com a dor, razão pela qual a usa.

Miranda Tate: sim, é verdade, parece que há uma química demasiado forçada, mas para uma alma tão torturada como a de Bruce, o escape que ela representa pode ser bastante tentador. A revelação podia ter sido mais bem aproveitada, mas não me parece que tenha um impacto emocional zero.

Quanto à questão "económica" do filme, penso que o facto de ser Bane a propôr um ideário supostamente "bom" e "justo", mas com propósitos tão obviamente cruéis, não deixa de ter a sua ironia. Funciona como o contraste de Bruce: enquanto um apregoa que está pelo povo e quer é igualdade, mas no fundo pretende aniquilar todos, o outro pretende trazer o equilíbrio e ajudar todos os que pode, sem fazer disso um pregão.

(dividido em dois por imposição do Blogger :P)

rui disse...

É bilionário, sim - faz parte da história -, mas pretende dar uso ao seu poderio de uma forma diferente. Aí, Dagget e os restantes simbolizam o contrário: como aqueles que apenas se importam em fazer mais dinheiro acabam por perder completamente o controlo e por se subjugar completamente a forças como Bane. E, para mudar as coisas (energias renováveis), é preciso poder e dinheiro - caso contrário, apenas se pode contar com boa vontade...

Alfred está sempre do lado de Bruce, claro. Mas não será aceitável também que alguém que testemunhou tão de perto o que o passado e a luta de Batman fez a Bruce possa, simplesmente, quebrar?

Por fim, gostei particularmente do final do John Blake, apesar de alterar um pouco a história como a conhecíamos - porque, afinal, também há outros preparados para defender os outros através de um símbolo. Porque, apesar das contradições entre o que deve ser dito e pode ser feito por uma pessoa que luta pelos outros, o mesmo não se aplica a um símbolo.

No final, a conclusão é do TDK: "he's the hero Gotham deserves, but not the one it needs right now. So we'll hunt him. Because he can take it. Because he's not our hero. He's a silent guardian, a watchful protector. A dark knight."

Abraços cinéfilos! ;)

PS: ficou um bocado longo, mas havia muito para referir...e ainda mais se podia dizer :)