"So, which story do you prefer?"
“Brokeback Mountain”. “Crouching Tiger, Hidden Dragon”. “Sense and Sensibility”. “The Ice Storm”. “Lust, Caution”. E agora “Life of Pi”. Quem mais poderia ser dono desta filmografia cheia de qualidade e diversidade? Ang Lee, uma vez mais, chega a um projecto na altura certa. Antes do mestre asiático se chegar à frente, uma década passou com vários a tentarem adaptar o romance épico de Yann Martel. O último a tentar havia sido Jean-Pierre Jeunet (famoso por “Amélie”), que declarou a película impossível de filmar. Introduzam na equação “Avatar”, o advento do 3D e claro Ang Lee. Estamos em 2012 e “Life of Pi” é uma realidade. Confesso que achava impossível que um filme pudesse ser tão belo e precioso e ao mesmo tempo parecer tão natural, sensível, real. É este o grande dom de “Life of Pi”, esta pureza, esta capacidade de transcender as barreiras desta arte, que faz dele um miraculoso e poético prodígio, uma ode ao cinema.
Apesar de uma primeira hora difícil de digerir, a segunda metade do filme faz valer imenso a pena, com o visionário realizador a proporcionar-nos momentos inesquecíveis, de ficar completamente arrebatado. Por entre alguma confusão nas ideias que nos pretende transmitir e a necessidade – inerente, pelos temas abordados pelo filme – de evitar tornar-se num longo sermão bíblico sobre o valor da fé na religião e na vida, Lee pega em “Life of Pi” e em tudo aquilo que o filme pretende ser e troca-lhe as voltas, fazendo da viagem do jovem Piscine “Pi” Patel (Suraj Sharma, numa interpretação cheia de vitalidade e carisma, sem a qual seria impossível este filme ter sucesso, complementada na perfeição tanto por Irrfan Khan como a versão adulta de Pi como por Ayush Tandon como Pi mais novo) a bordo de um pequeno barco no meio do Oceano Pacífico, acompanhado pelo seu tigre Richard Parker (majestosamente animado com CGI e 3D) e da sua luta pela sobrevivência o pilar no qual o filme reside. Entretenimento e arte confluem assim para criar um dos mais originais e fascinantes filmes que vi este ano, que nos relembra do poder transcendente e fantasioso que o cinema tem, ao transportar-nos para outros locais, para outras realidades.
Auxiliado pelo soberbo trabalho do director de fotografia Claudio Miranda (não é por acaso que a fotografia do filme me lembrou a simplicidade e beleza de “The Curious Case of Benjamin Button”, pelo qual Miranda foi nomeado ao Óscar; espero que repita este ano) e pela fluída e relaxante banda sonora de Mychael Danna (que espero que mereça uma nomeação aos Óscares este ano), Ang Lee empresta a sua mestria e estética apurada para transformar as limitações da obra literária que deu base ao filme em forças (o poderio visual, neste caso, fortalece sem dúvida o que se imagina lendo) e fazer de “Life of Pi” um dos melhores do ano e acima de tudo um dos mais pertinentes e audazes filmes dos últimos anos, sobre a viagem de um homem que procura reobter algo em que acreditar.
Tal como com “The Tree of Life”, no que uns vêem um exercício aborrecido sobre religião e fé, eu vejo um filme ambicioso e importante, um que combina filosofia, teologia, psicologia e espiritualidade e, no fundo, nos dá a nós a missão de escolher o que retiramos da história que nos é contada.
Nota Final:
B+
Informação Adicional:
Realização: Ang Lee
Argumento: David Magee
Elenco: Suraj Sharma, Ayush Tandon, Irrfan Khan, Rafe Spall, Tabu, Adil Hussain, Gerard Depardieu
Fotografia: Claudio Miranda
Banda Sonora: Mychael Danna
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