Atrevo-me a dizer-vos que, enquanto Michael Haneke produzir cinema, arrisca-se seriamente a conseguir títulos, honras e unânime reconhecimento por esse mundo fora. Onde o cinema chegar, a magia de Haneke vai chegar. Amour é a prova viva de que com dois acordes se faz uma canção de amor intemporal. É a prova viva de que com poucas palavras se consegue escrever uma obra-prima. Amour é a prova de que o verdadeiro amor tem pouco a justificar. É intrínseco e naturalmente perceptível por um público suficientemente maduro para o entender. Amour é uma jogada de Haneke que tem tanto de irreverente quanto de clássico.
Uma paradoxo baseado num eterno e profundo amor. Esta é a premissa do filme premiado com a Palma de Ouro de Cannes em 2012 (a segunda para a Haneke nas últimas quatro edições do festival). Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal octogenário que desfruta do prazer dos últimos anos de vida. Na Paris que nos habitou romântica e cultural, são um casal feliz com aquilo que a vida lhes deu. Tudo parece belo e idílico, até que um trágico acontecimento abala a homeostasia do casal. Anne sofre um acidente vascular cerebral que lhe paralisa metade do corpo e que a atira, de forma brutal e impiedosa, para a dependência do marido. A partir deste momento, que marca um volte-face em todo o filme, assistimos ao dia-a-dia de um casal que luta por se manter à tona da água. Assistimos à luta diária, estóica e silenciosa, de um homem a quem roubaram a felicidade e a companhia de uma vida. Assistimos à luta diária, estóica e dolorosa, de uma mulher atraiçoada pelo destino.
Com uma brutal interpretação por parte dos dois protagonistas (em especial de Emmanuelle, com uma personagem assombrosa), todo o filme se passa num acolhedor e familiar apartamento parisiense, onde não se sente o realizador, onde o espectador faz parte da própria arquitectura do espaço físico do filme, vivendo e percebendo a história na primeira pessoa. É um dos melhores filmes deste ano. E (mais uma vez) a prova de que, na Europa, não há ninguém ao nível de Michael Haneke.
Nota Final:
A
Trailer:
Informação Adicional:
Realização: Michael Haneke.
Argumento: Michael Haneke.
Ano: 2012
Duração: 127 minutos
5 comentários:
João, há muito que vinha dar uma vista de olhos ao vosso blog à espera da critica do 'Amour'!
Concordo em tudo com o que escreveste, Haneke é um realizador fabuloso e mais uma vez não desiludiu. Para mim ele é um realizador que sabe usar e trabalhar com o simbólico e é isso que enriquece os seus filmes.
Acho no entanto que há outro realizador Europeu que lhe "chega aos calcanhares", o Lars Von Trier, ou não fossem os meus dois realizadores favoritos!
Olá Joana! Fico contente por saber que gostas do nosso blogue e que nos visitas regularmente! Obrigado pelo teu comentário. Tens toda a razão quando referes que o Haneke sabe trabalhar com o simbólico. Em Amour nota-se muito bem esse seu lado! Em relação ao Lars Von Trier, considero-o um pouco abaixo de Haneke, embora lhe reconheça muita qualidade e goste muito dele!
Obrigado e Bom Natal!
João
Sem dúvida que Amour passou para a minha lista de prioridades. Parabéns pela crítica e pelo blog!
Olá novamente João!
Eu gosto bastante do vosso blog e das vossas críticas, claro que nem sempre concordo com tudo, mas a arte é mesmo assim. Acima de tudo gosto da selecção de filmes que fazem e sem dúvida que o 'Amour' era o que mais esperava ver aqui!
Eu sou uma fã enorme do Haneke, tirando o 'le temps du loup', adoro todos os seus trabalhos e este não foi excepção. Pareceu-me uma obra de uma realizador mais "amolecido" pelo tempo, não sei se é a idade que também já lhe pesa... a forma como ele tratou os animais neste filme, tendo em conta o seu historial, é para mim um facto curioso!
Acima de tudo achei um filme belo, introspectivo, simbólico e sem pretensões.
Continuação de um bom trabalho e boas festas!
Fui ver o Amour e fiquei um pouco desiludido. O filme tem tudo para ser dos melhores da década, mas as cenas arrastadas em demasia acabam por cortar aquela sensação de claustrofobia que se vai sentido à medida que o filme se desenrola.
Tem cenas simplesmente geniais:
- O recordar da mulher a tocar piano
- A morte da mulher
- A cena da torneira
- O simbolismo em torno do pombo
- Despedimento da enfermeira
Para além disso, os diálogos curtos e directos, simples e honestos entre as personagens mostram, realmente, o que é o amor.
Enfim, fiquei mesmo irritado com o facto do filme ter uns longos 127 minutos. Se Haneke tivesse seguido os ideais de Woody Allen, por exemplo, com filmes à volta de 90 minutos, teria aqui, na minha opinião, uma obra-prima. Assim torna-se um filme um pouco difícil de ver, com intensidade atenuada devido a isso mesmo.
Destaco a boa conjugação do drama e comédia ao longo do filme e de referir a pequena, mas bela interpretação da Rita Blanco =)
Tive mesmo pena dos 40 minutos de filme a mais
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