No espaço de quinze dias, dois dos marcos indissociáveis da televisão norte-americana da última década chegaram ao fim: "House" que terminou esta segunda-feira e "Desperate Housewives" que acabou no domingo anterior. Como vou falar dos finais das duas séries, aviso desde já que se poderão encontrar abaixo pequenos spoilers portanto, cuidado se ainda não viu:
As "Desperate Housewives" foram pela última vez desesperadas, numa despedida em estilo e que conteve tudo o que habitualmente se considera elementos fundamentais de qualquer final de série - casamentos, nascimentos e mortes. Numa despedida a fazer lembrar "Will & Grace" e "Six Feet Under", por razões distintas, as donas de casa de Wisteria Lane fizeram a vénia de despedida na ABC - depois de ter contribuído em grande parte para a ressurgência da estação no ido ano de 2004, com "Lost" e "Grey's Anatomy" - com um final tão caótico como emocionante, com as quatro donas de casa a terminarem afastadas uma das outras, com este período das vidas destas quatro mulheres a terminar e novos desafios a abraçar. Embora a série nunca tenha conseguido regressar ao brilhantismo que pautou a sua primeira temporada e ao melhor mistério que teve e apesar de ter entrado em território de telenovela mexicana nos últimos anos, com histórias inacreditavelmente ridículas e temáticas repetitivas, foi com muita saudade que me vi invadido logo que o episódio acabou, acima de tudo porque afinal acompanhei o dia-a-dia destas senhoras durante oito anos e vi-as a elas e às suas famílias crescer e não é de um dia para o outro que me vou esquecer delas. Neste episódio final, como sempre, a série alternou entre o pouco credível (o julgamento de Bree) e o sentimentalismo extremo (a morte de McCluskey), conseguindo ainda assim um término bastante competente, encerrando a história conjunta das quatro protagonistas enquanto nos lembra, na habitual moda de "Desperate Housewives" (através da poderosa voz de Mary Alice), que nada na vida é eterno e que as pessoas nos entram e saem da vida em momentos específicos e com uma razão particular, o laço perdurando mas não as pessoas. Ninguém dá lições de moral nem faz drama de fazer derramar lágrimas tão bem como Marc Cherry. Ninguém. Prova:
Também "House, M.D." se perdeu um pouco a meio do caminho.
Parte da grelha vencedora da FOX dos últimos anos, "House" era um pilar indissociável do sucesso recente daquele que era, no final dos anos 90, o quarto canal generalista, tendo coleccionado bastantes nomeações para prémios nas suas primeiras temporadas, incluindo seis nomeações para Emmy de Hugh Laurie que, infelizmente e injustamente, nunca ganhou. Em forma, "House" conseguia igualar o nível dos melhores dramas da televisão. Relembro saudosamente o brilhante (e vencedor de Emmy) episódio "Three Stories" da primeira temporada ou o não menos genial "Broken" da sexta temporada (que devia ter dado o Emmy a Laurie) ou o excitante "The Mistake" da segunda temporada. A série foi-se ressentindo aos poucos do abandono de personagens-chave como Cameron e Cuddy e após seis, sete temporadas, o formato da série não lhe permitiu fugir ao rótulo de repetitiva. As baixas audiências e a vontade de Shore e Laurie terminar a série enquanto o nível de qualidade não descendesse a pique fizeram o resto. De qualquer forma, oito anos é uma eternidade em televisão e "House", não obstante os seus altos e baixos, é uma série que irá ser relembrada, para sempre, como produto do melhor que a televisão norte-americana tem para oferecer. O final não se focou em atar grandes histórias e resolveu sim preocupar-se em arranjar forma de House e Wilson passarem os últimos meses de Wilson juntos. Um final satisfatório? Não. Um final orgânico e completamente compreensível quando pensamos nas duas personagens? Sim. A série acaba por começar como acabou: House com Wilson. E eu, apesar das minhas muitas queixas, fui ouvido na minha principal. "House" não podia terminar com a morte de qualquer um dos dois.
Adeus às duas séries. Obrigado por tudo.
Um dia talvez voltarei a vocês, para reviver os bons momentos que me proporcionaram. E aí, se calhar, é que vou ter mesmo saudades e me lembrar do quão mimado eu fui por vocês na primeira década do novo século.
2 comentários:
Senti aí uma lágrima no canto do olho.
Ah ah sim, de facto. Acompanharam-me quando estava a 'começar' a despertar o interesse para o meio televisivo e do cinema a sério e foram das primeiras séries que abracei a fundo.
Não chegamos com a relação mais bem sucedida ao fim, mas quando terminaram, fizeram-me lembrar o quanto eu tive, tenho e terei saudades deles.
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
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