Dial P for Popcorn: Crítica do João
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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

GANGSTER SQUAD (2013)


Comecei a antevisão a este filme bem antes da sua chegada a Portugal. Era impossível ficar indiferente perante um elenco tão bem cotado. A juntar a isto, o facto de estarmos perante uma história verídica que ocorreu nos tempos loucos de uma Los Angeles em completa ebulição. Uma sociedade que se começou a descobrir nos primeiros anos após a Segunda Grande Guerra, deu espaço ao crescimento de novos e ambiciosos criminosos. 


Mickey Cohen (Sean Penn) é o rosto e a força motriz deste filme. Um criminoso sem escrúpulos, líder absoluto de um poderoso gang que, paulatinamente, vai conquistando a Costa Oeste, é idolatrado pelos seus súbditos e respeitado por alguns dos mais importantes homens da justiça de LA. Sem conseguir ficar indiferente perante a passividade e a cumplicidade de alguns dos seus colegas e temendo um futuro negro para a sua cidade, o detective John O'Mara (Josh Brolin) decide reunir um grupo de leais e corajosos polícias, nos quais se incluem Jerry Wooters (Ryan Gosling) e Conway Keeler (Giovanni Ribisi), que se dispõe a abdicar de tudo para destruir o império de Mickey Cohen e acabar com o submundo do crime e da corrupção.


É uma história/argumento ambicioso. E em alguns dos seus aspectos técnicos, Gangster Squad consegue atingir os objectivos a que se propôs. Vemos cenários trabalhos com cuidado, numa tentativa de representar de forma fiel e natural o principio dos Anos 50. Temos, também, personagens bem caracterizadas e perfeitamente enquadradas no espaço temporal do filme. Mas fica a faltar qualquer coisa. Há algumas falhas clamorosas na realização e na montagem do filme (em especial nas cenas de acção, feitas de forma um tanto ou quanto atabalhoada) e Ruben Fleischer poderia, claramente, ter aproveitado melhor a matéria prima que tinha em mãos. No entanto, é um filme divertido, que consegue entreter durante os seus 113 minutos. No final, valeu o dinheiro do bilhete.

Nota Final 
(6,5/10)


Trailer



Informação Adicional
Realização: Ruben Fleischer
Argumento: Will Beall, Paul Lieberman
Ano: 2013
Duração: 113 minutos

domingo, 17 de fevereiro de 2013

SILVER LININGS PLAYBOOK (2012)


"I'm just the crazy slut, with a dead husband! Fuck you!"

David O. Russell é um realizador extremamente completo. É, graças ao seu trabalho nos últimos anos, um dos meus realizadores favoritos. A versatilidade dos seus projectos e a forma trabalhada e dedicada com que os apresenta, fazem dele um realizador habitualmente bem recebido (não só pelos espectadores, como também pela Academia). E Silver Linings Playbook é um projecto que, de tão improvável nas mãos de O. Russell, tinha tudo para ser bem conseguido. É uma história moderna (e isso é muito bom, num ano em que os melhores filmes nos falam de tempos idos e histórias passadas) e utiliza dois dos rostos mais simpáticos e unânimes de Hollywood: Bradley CooperJennifer Lawrence, secundados pelo lendário Robert De Niro, num dos mais descomprometidos papéis da sua carreira (que, curiosamente, lhe poderá valer mais um Oscar!)


Numa sociedade carregada de problemas, os psicotrópicos são os melhores amigos das almas mais frágeis. E porque quem cria os psicotrópicos não é parvo, este novo melhor amigo do homem tem, em alguns casos, a fantástica capacidade de juntar ao vício, a capacidade queimar os poucos fusíveis que ainda se encontram sãos. É o caso de Pat (Bradley Cooper), um trintão que descompensa por completo dos seus delírios paranóicos após encontrar a sua ex-mulher em flagrante traição com um colega de trabalho. Após meses internado, Pat recebe um voto de confiança dos seus médicos e regressa para a sua casa. Pleno de energias e decidido a reconquistar a sua ex-mulher, o caminho tortuoso para a dura realidade da rejeição coloca-o em rota de colisão com a depressiva Tiffany (Jennifer Lawrence), de costas voltadas para o mundo desde a dolorosa separação do seu ex-namorado.


Uma história suave, um filme leve, bem disposto e sempre positivo. A prova de que a felicidade está onde menos a esperamos encontrar e de que tudo na vida é uma simples questão de perspectivas  Uma dupla de sucesso que conseguiu rechear o filme de nomeações para as principais categorias dos Oscars (o primeiro a conseguir nomeações em todas as principais categorias! - Diz-se até que foi David O. Russell quem retirou a Ben Affleck a tão merecida nomeação por Argo), que é, tal como tudo aquilo que O. Russell faz, um sucesso. O futuro é tão risonho para o realizador Nova-iorquino.

Nota Final
B+ 
(8/10)


Trailer



Informação Adicional
Realização: David O. Russell
Argumento: Matthew Quick e David O. Russell
Ano: 2012
Duração: 122 minutos

sábado, 16 de fevereiro de 2013

SEARCHING FOR SUGAR MAN (2012)


A poucos dias de vencer o Oscar para Melhor Documentário, depois de ter coleccionado prémios, nomeações e um profundo reconhecimento em alguns dos principais festivais e prémios da Sétima Arte (Sundance, PGA e BAFTA, por exemplo), aparece aqui no Dial P for Popcorn como o meu documentário favorito de 2012. Não vi uma parte (considerável) dos restantes, é certo, mas a lendária história de Sixto Rodriguez é de uma brutalidade tal, que transforma um documentário numa história/romance surpreendente e intrigante. Com uma banda-sonora tão viciante e refrescante, é impossível não idolatrar esta voz.


Estamos na década de 70, quando o boom nas empresas discográficas e na difusão da música nos Estados Unidos, dá lugar ao aparecimento de estrelas que se tornaram imortais e que inspiraram/inspiram uma boa parte dos músicos e da sociedade moderna. Jimi Hendrix, Janis Joplin, Bob Dylan, apenas para citar alguns nomes. Se qualquer um deles é uma incógnita para o leitor, o seu caso é grave. No entanto, se o nome Sixto Rodriguez era, para o leitor, uma incógnita, Searching For Sugar Man vai apresentar-lhe uma das mais dramáticas e inesperadas estrelas da história da música.


Estamos perante um fenómeno que o tempo teimou em apagar. Uma lenda. O verdadeiro Bob Dylan. Sixto Rodriguez, um jovem cantor Folk, vê a sua carreia ser precocemente abortada pelas fracas vendas dos seus dois álbuns. Tudo o que ficou desse tempo, na então dura e cruel cidade de Detroit, foram as memórias e a mágoa pelo desaparecimento de uma das mais inspiradoras vozes que a América alguma vez tinha ouvido. No entanto, do outro lado do Atlântico, num país de costas voltadas para o mundo, onde a sociedade fervilhava e se preparava para explodir com o Apartheid, Rodriguez era uma das vozes que inspirava uma sociedade jovem, rebelde e plena de irreverência. Era a voz de comando, o ídolo, o mentor que reforçava as ideias de um país que lutava pela igualdade e pela liberdade. Searching For Sugar Man é o documentário que levanta o pano que encobria um dos mais enigmáticos songwriters da história. É o reencontro com um ícone que se julgava  há muito na companhia de Hendrix ou de Joplin. É o renascer de uma lenda.


Nota Final
B+ 
(8/10)


Trailer



Informação Adicional
Realização: Malik Bendjelloul
Argumento: Malik Bendjelloul
Ano: 2012
Duração: 86 minutos

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

THE IMPOSSIBLE (2012)



Dois rascunhos apagados e terceira tentativa de vos falar sobre The Impossible. Não é fácil escrever que não fiquei particularmente tocado e que não embarquei na onda eufórica de emoção à volta deste filme. E porque o bom do nosso mundo é cada um ter a sua opinião, The Impossible não me entusiasmou. Mas é um filme interessante. Não o nego. E sei que na TVI (ou na SIC) vão esfregar as mãos de contentes por terem mais um filme para passar vezes sem conta no Natal, na Passagem de Ano e nos Domingos à tarde em que não se dedicam a estupidificar o povo português com bailarinas pimba e playbacks dos irmãos Carreira e da família Malhoa (e mesmo quando não estão nesta palhaçada, conseguem escolher os mais insignificantes filmes feitos nos últimos 30 anos, que repetem ano após ano).


É uma história de amor, coragem e persistência que nos faz sentir orgulhosos das capacidades do ser humano. Em situações limite, cada um consegue ir buscar uma força que julgava desconhecida e, no caso do Tsunami do Índico, a provação humana chegou aos seus limites. A coragem dos milhares que, feridos (física e emocionalmente) se ergueram dos escombros e lutaram pela vida e pela dignidade, recebeu com este filme uma meritória homenagem. Embora se centre na história de luta de uma jovem família que decide resistir à separação forçada pela Natureza, todos os que sofreram com esta tragédia, certamente se sentiram reconhecidos nas varias personagens deste filme.


Maria (Naomi Watts) e Henry (Ewan McGregor)  decidem viajar até à Tailândia para um Natal à beira do paradisíaco calor do mar Índico. Juntamente com os seus três filhos, desfrutam das maravilhas de uma estadia de sonho. São felizes. Ali e em qualquer do mundo. Até que o Oceano se revolta perante a felicidade idílica desta família. The Impossible retrata a história, verídica, da luta de cada um dos 5 elementos desta família, e da sua desesperada tentativa de se reunirem. Com dois dos actores mais subvalorizados do cinema (Naomi Watts e Ewan McGregor), The Impossible é uma receita de sucesso. E é fácil perceber o impacto que causou nas salas de cinema.

Nota Final: 
B (7/10)


Trailer:



Informação Adicional:
Realização:  Juan Antonio Bayona
Argumento: Sergio G. Sánchez e María Belón
Duração: 114 minutos
Ano: 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

AMOUR (2012)




Atrevo-me a dizer-vos que, enquanto Michael Haneke produzir cinema, arrisca-se seriamente a conseguir títulos, honras e unânime reconhecimento por esse mundo fora. Onde o cinema chegar, a magia de Haneke vai chegar. Amour é a prova viva de que com dois acordes se faz uma canção de amor intemporal. É a prova viva de que com poucas palavras se consegue escrever uma obra-prima. Amour é a prova de que o verdadeiro amor tem pouco a justificar. É intrínseco e naturalmente perceptível por um público suficientemente maduro para o entender. Amour é uma jogada de Haneke que tem tanto de irreverente quanto de clássico.


Uma paradoxo baseado num eterno e profundo amor. Esta é a premissa do filme premiado com a Palma de Ouro de Cannes em 2012 (a segunda para a Haneke nas últimas quatro edições do festival). Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal octogenário que desfruta do prazer dos últimos anos de vida. Na Paris que nos habitou romântica e cultural, são um casal feliz com aquilo que a vida lhes deu. Tudo parece belo e idílico, até que um trágico acontecimento abala a homeostasia do casal. Anne sofre um acidente vascular cerebral que lhe paralisa metade do corpo e que a atira, de forma brutal e impiedosa, para a dependência do marido. A partir deste momento, que marca um volte-face em todo o filme, assistimos ao dia-a-dia de um casal que luta por se manter à tona da água. Assistimos à luta diária, estóica e silenciosa, de um homem a quem roubaram a felicidade e a companhia de uma vida. Assistimos à luta diária, estóica e dolorosa, de uma mulher atraiçoada pelo destino. 


Com uma brutal interpretação por parte dos dois protagonistas (em especial de Emmanuelle, com uma personagem assombrosa), todo o filme se passa num acolhedor e familiar apartamento parisiense, onde não se sente o realizador, onde o espectador faz parte da própria arquitectura do espaço físico do filme, vivendo e percebendo a história na primeira pessoa. É um dos melhores filmes deste ano. E (mais uma vez) a prova de que, na Europa, não há ninguém ao nível de Michael Haneke.

Nota Final: 
A


Trailer:



Informação Adicional:
Realização: Michael Haneke.
Argumento: Michael Haneke.
Ano: 2012
Duração: 127 minutos

sábado, 25 de fevereiro de 2012

HUGO (2011)



Provavelmente não estava com a melhor das disposições quando vi este filme. Hugo não é um mau filme. Mas também não me empolgou. É uma história bonita, óptima para mostrar às crianças, mas acho que, para mim, fica por aí. Não está no melhor que vi este ano e fiquei um pouco desiludido. No combate directo com o Artista, para os prémios finais da Academia, fica claramente atrás. E é também facilmente ultrapassado pelo óptimo The Descendants.


Hugo (Asa Butterfield) é uma criança orfã que vive sozinho numa estação da Paris da década de 30, dividindo o seu dia-a-dia entre os vários relógios que mantém a funcionar irrepreensivelmente e a procura de materiais para concertar uma misteriosa máquina (com uma peculiar forma humana) que lhe foi oferecida pelo seu pai, pouco tempo antes da sua morte. Hugo trabalha pela paixão que tem pelas máquinas, característica que herdou do seu pai, e com o objectivo de descobrir qual a mensagem que a mesma esconde. Um dos locais que frequenta com regularidade na "sua estação", é a loja relógios e raridades de Georges Méliès (Ben Kingsley), onde sorrateiramente vai roubando algumas peças importantes para a reconstrução da sua máquina. Até que um dia é apanhado em flagrante por Georges que se vinga confiscando-lhe o precioso caderno mágico onde Hugo apontara todas as alterações necessárias para o funcionamento das suas máquinas.


Decidido em recuperar o seu caderno, Hugo segue Georges até casa e acaba por conhecer Isabelle (Chloë Grace Moretz), uma jovem curiosa e perspicaz que vive sob a tutela de Georges e que rapidamente se transforma na sua grande companheira de aventuras. Juntos exploram todos os recantos da estação e a sua curiosidade leva-os a descobrir um fantástico segredo, que para sempre irá mudar as suas vidas e a daqueles que os rodeiam.


Nota Final:
B-


Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Martin Scorsese
Argumento: John Logan (screenplay), Brian Selznick (book)
Ano: 2011
Duração: 126 minutos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

THE MUPPETS (2011)





Vai ser complicado falar deste filme sem me empolgar. Foi sem dúvida um dos momentos mais agradáveis que já tive numa sala de cinema. Os Marretas é um filme espectacular! Resume-se numa palavra. Espectacular. Do início, ao final (incluindo os créditos!).



Começamos pelo princípio. Walter é um boneco. Gary (Jason Segel) um jovem. Crescem e vivem como dois irmãos. São os melhores amigos, inseparáveis e companheiros para todos os momentos e aventuras. Partilham, entre outros, uma enorme admiração pela série infantil Os Marretas, um hábito e um interesse que cultivaram durante todo o seu crescimento. Quando Gary decide fazer uma viagem romântica com a sua noiva Mary (Amy Adams), não resiste em convidar o seu eterno amigo. Juntos visitam os antigos estúdios onde a sua série favorita foi gravada e rapidamente Walter percebe que algo de errado se passa com o local que produziu toda a magia que durante tantos anos o maravilhou.


O plano maquiavélico do magnata Tex Richman, que pretende transformar os velhos estúdios numa lucrativa exploração de petróleo é o ponto de partida para uma aventura incrível. Walter decide visitar o Sapo Cocas e convence-o a reunir toda a equipa dos Marretas e juntos trabalham na organização de um mega espectáculo que lhes permita reunir o dinheiro suficiente para recuperarem os velhos estúdios e garantirem que os sonhos e as ilusões dos seus fans para sempre terão um local de culto, onde a realidade se misturará com a ficção.


Inteligentíssimo, feito para enternecer miúdos e graúdos, com uma base muito sólida e construído com muita inteligência (é perfeitamente compreensível para qualquer pessoa que nunca tenha visto qualquer episódio das séries originais, graças ao enorme trabalho de selecção de cenas-chave, que definem e caracterizam cada um dos bonecos da série), Os Marretas é um filme para o qual todos os adjectivos serão brandos. Divertido, hilariante e completamente imprevisível. É rir do princípio ao fim, literalmente. Que fantástico argumento aqui está. E uma banda-sonora tão cativante e viciante, que ainda hoje a ouço com imenso prazer.


Uma óptima escolha para ver em família, com a namorada ou com os amigos. Os Marretas é um dos meus filmes favoritos deste ano.



Nota Final:
A
-



Trailer:





Informação Adicional:
Realização: James Bobin
Argumento: Jason Segel e Nicholas Stoller
Ano: 2011
Duração: 103 minutos

domingo, 13 de novembro de 2011

REALIZADORES: THE SEVENTH SEAL (1957)

O Dial P for Popcorn inicia hoje mais uma crónica mensal! Uma crónica diferente e especial, que terá duas edições mensais, uma escrita por mim e outra escrita pelo Jorge e onde nos dedicaremos a analisar os melhores filmes daqueles que foram e são os grandes realizadores da história do cinema. A nossa vontade é explorar com alguma profundidade as carreiras marcantes do grandes mestres que deixaram a sua marca na sétima arte, analisar os seus momentos mais altos e divulgá-los aqui no blogue. Realizadores, a nova crónica do Dial P for Popcorn junta-se assim às já habituais crónicas do British TV, A Morte da 7.ª Arte e Personagens do Cinema.




"Faith is a torment. It is like loving someone who is out there in the darkness but never appears, no matter how loudly you call."


Começamos por Ingmar Bergman. Confesso-vos que esperei alguns anos para ver um filme seu. Sentia que ainda não estava preparado. Sentia que devia amadurecer, conhecer mais cinema, conhecer mais ideias para depois enfrentar este monstro que se chama Bergman e que fez algumas das obras mais singulares e marcantes da sétima arte. Ontem atrevi-me. Atrevi-me e fiquei arrebatado. Era fácil chegar aqui e dizer-vos que Bergman é genial, brilhante, ímpar e completamente distinto. Era fácil dizer-vos que o filme é fantástico, incrivelmente cativante e emotivo e que este é um dos filmes que vou juntar aos melhores da minha vida.


Fácil era dizer-vos isto, complicado é explicar-vos o que se passa em The Seventh Seal que me deixou fixado ao ecrã durante hora e meia. Começo pelo princípio. Antonius Block (Max von Sydow) é um cavaleiro que, em pleno século XIV, regressa à sua terra natal. Encontra uma Suécia totalmente distinta daquela que deixou dez anos antes quando decidiu partir, juntamente com o seu escudeiro, para as cruzadas do sul da Europa. A Suécia do século XIV é um país consumido pela peste negra, entregue de uma forma fervorosa à religião e ao perdão de Deus, em que cidadãos excomungam e ostracizam os doentes e os pagãos são barbaramente condenados pelo exército e pela Igreja.


É quando ainda digere o choque desta realidade, que Antonius conhece a Morte (Bengt Ekerot personifica um assassino frio, calculista, que retira um imenso prazer da dor e da destruição que provoca - É cinema!), que lhe comunica que chegou a sua hora de partir. Surpreendido, Antonius convida a Morte para uma partida de xadrez, onde ambos jogarão a sua vida. Esta é uma partida longa, que se faz a espaços durante todo o filme, onde o espectador percebe como esta situação cruel e asfixiante é altamente prazerosa para uma Morte que é negra, sádica e fria.


Um filme forte, duro e pesado, onde Bergman explora de uma forma brilhante o ambiente medieval de uma Suécia em luta pela sobrevivência, onde o som e as imagens de uma civilização magoada nos petrificam. Bergman era um génio e este filme explica-nos o porquê. A forma como discute Deus, a Morte, o significado da existência humana, prova-o. São raríssimos aqueles que têm a capacidade de pensar desta forma. E destes, são ainda mais raros aqueles que conseguem fazer Cinema. Bergman é o nosso primeiro Realizador.


Nota Final:A+


Trailer:





Informação Adicional:

Realização:
Ingmar Bergman
Argumento:
Ingmar Bergman
Ano
: 1957
Duração: 96 minutos

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SECRETS AND LIES (1996)



"Life isn't fair then is it. Somebody always draws the short straw. "


São poucas, pouquíssimas, as pessoas que no cinema se podem gabar de saber contar uma história de forma tão realista, despretensiosa, (direi até) humanista, quanto Mike Leigh. Ele é um mestre quando nos fala sobre nós, sobre a nossa/sua sociedade, sobre as relações humanas, sobre as filosofias da vida. E é delicioso, fantástico e absolutamente comovente ver um filme com uma carga emocional como a de Secrets and Lies (tal como aconteceu com um dos melhores filmes de 2010, o super aclamado Another Year).


Porque o dinheiro empobrece o espírito das pessoas, corrói relações de carinho e amor, embrutece e estupidifica os mais vulneráveis, Mike Leigh resolveu falar-nos sobre ele. E sobre os efeitos catastróficos que a ganância e a inveja podem ter num ambiente familiar, já de si, pouco saudável. Falo-vos de Cynthia (Brenda Blethyn - Fantástica actriz, numa Fantástica Interpretação), mãe solteira de Roxanne, uma caprichosa, insurrecta e desconcertante jovem de dezoito anos, em completa ruptura com a sua mãe, cuja vida se limita aos cigarros que engole enquanto, sentada na poltrona da sala, espera a chegada do seu namorado. Cynthia tem uma vida triste, cinzenta, desoladora.


Até que a sua vida ganha uma nova e inesperada alegria. Hortense Cumberbatch (Marianne Jean-Baptiste) contacta-a e informa-a de que é sua filha. Cynthia, reprimindo o choque inicial (e recordando os dias em que se viu obrigada a entregar Marianne para adopção), aproxima-se da sua filha e, aos poucos, entrega-se a um carinho, a um amor e a uma alegria que nunca antes conheceu. Não posso terminar, sem vos falar de Maurice (Timothy Spall), irmão de Cynthia, que vive um casamento feliz com Monica (Phyllis Logan) e interpreta a única personagem mental e emocionalmente saudável deste filme. Maurice é um homem forte (em todos os sentidos) e é dele que partem as desesperadas tentativas de criar uma harmonia entre todos, é ele que tenta compreender os problemas da família, é ele quem coloca os outros à frente de si mesmo, e a sua alegria consegue contagiar, com facilidade, a empatia do espectador.


Tudo isto nos é contado como se se passasse na porta ao lado da nossa casa. Não há super-heróis. Não há mulheres bombásticas. Não há felizes acasos. Há vidas, tão reais, tão humanas, que não as conseguimos separar do mundo que nos rodeia.


Nota Final:
A-


Trailer:

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Informação Adicional:
Realização: Mike Leigh
Argumento: Mike Leigh
Ano: 1996
Duração: 142 minutos

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

MANHATTAN (1979)



"I think people should mate for life, like pigeons or Catholics."


Manhattan é uma verdadeira obra de arte sobre o mundo cosmopolita. Um dos melhores filmes da carreira de Woody Allen, onde se entrega de corpo e alma na realização, na criação do argumento e na interpretação principal como Isaac, um argumentista de séries televisivas transformado num improvável sedutor, capaz de conquistar as mulheres pela inteligência das suas ideias e pela perspicácia das suas conversas.


Manhattan, "o coração de Nova Iorque", é um verdadeiro rebuliço de nações. Um rebuliço quase artístico, inspirador para muitos dos pensadores da nossa sociedade, um local mágico para os amantes do fervilhar das cidades. Isaac é um quarentão divorciado, a viver um romance de circunstância com a jovem Tracy (Mariel Hemingway), uma inocente rapariga, menor de idade e que se perdeu de amores pela intrigante personagem que é Isaac. Grande amigo e companheiro do casal Yale, um famoso e bem-sucedido professor universitário que vive um inesperado affair com a sofisticada Mary (Diane Keaton), Yale confessa a Isaac a angústia de esconder e viver uma relação proibida.


É quando se desloca até um museu com Tracy, que Isaac conhece pela primeira vez Mary, que o irrita profundamente com a presunção das suas ideias e o desprezo permanente pelas opiniões divergentes da sua. Numa mescla interessante de sentimentos, Isaac acaba por descobrir novamente Mary, por mero acaso, e uma jovial amizade nasce depois de várias horas na companhia um do outro. Companhia essa que acaba por ser partilhada durante grande parte do filme, numa constante troca de ideias e reflexões sobre as relações fugazes da cidade que nunca dorme, o drama da solidão e a dor da rejeição. Manhattan é hoje, como em 1979, um filme actual. A sociedade agradece.


Nota Final:
A-



Trailer:





Informação Adicional:
Realização: Woody Allen
Argumento:
Woody Allen
Ano:
1979
Duração:
96 minutos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

L'ILLUSIONNISTE (2010)



A história de um mágico francês, profundamente deprimido e solitário, que viaja pelo Reino Unido à procura de apresentações pouco convincentes dos seus dotes de magia, é o ponto de partida para uma belíssima e inesperada história de amor, que nos é dada a conhecer pela "mão" de um dos mais irreverentes e adorados realizadores/argumentistas europeus: Sylvain Chomet. Depois de ter surpreendido a sétima arte com Belleville Rendez-Vous, Chomet consolida o seu lugar com mais uma história fantástica, desenhada com um charme e uma classe apaixonantes, que o transformam, com toda a legitimidade, num dos realizadores de culto deste início de século. Não há ninguém com Sylvain Chomet no cinema e o que ele faz, mais ninguém consegue fazer.


Mais uma vez, tal como no seu primeiro filme, L'illusionniste é marcado por poucos diálogos. As emoções estão todas "no papel". Cada um dos desenhos, com os seus gestos, atitudes e emoções das personagens, conduzem a história de uma forma tão sentimental quanto melodiosa, transformando os seus breves oitenta minutos em pouco mais de cinco deliciosos minutos de cinema. L'illusionniste cativou-me. É uma história de um amor trágico (e infelizmente, já revelei mais do que pretendia) onde um decrépito mágico, abandonado pela sociedade e pela magia da vida, se arrasta pelo mundo sem objectivos ou desejos. Quando conhece a jovem Alice, que o segue depois de um espectáculo, aceita-a como amiga e acolhe-a como sua companheira de viagem. Alimenta-a e veste-a com bonitos e requintados mimos.


Toda a relação entre estas personagens é uma complexa incógnita. Por mais que se veja o filme, nunca ficarei totalmente esclarecido sobre os verdadeiros sentimentos que nutrem um pelo outro e o significado da dramática e inesperada cena final. Se o leitor gostou de Belleville Rendez-Vous, também vais gostar de L'illusionniste. Não o acho tão brilhante quanto o primeiro, mas é igualmente um óptimo pedaço de arte.


Nota Final:
A-



Trailer:





Informação Adicional:

Realização: Sylvain Chomet
Argumento: Jacques Tati
Ano: 2010
Duração: 80 minutos

domingo, 11 de setembro de 2011

DOG DAY AFTERNOON (1975)



Um óptimo filme. Óptimo argumento, com diálogos muito bem escritos e momentos muito bem desenhados. Enorme interpretação de Al Pacino, que dá um brilho completamente diferente a um filme já de si muito bom. É daqueles filmes que precisa de um grande actor para se tornar inesquecível. Imaginar Dog Day Afternoon sem Al Pacino é como imaginar One Flew Over the Cuckoo's Nest sem Jack Nicholson ou Taxi Driver sem Robert De Niro. São interpretações assim que transformam o cinema numa arte tão bela. Existir alguém capaz de encarnar e reproduzir toda a angústia de um acto falhado, o desespero de um final imprevisível e inesperado, todas as emoções resultantes da atitude corajosa de um homem que se vê perdido à beira de um precipício. Tudo isso permite que Dog Day Afternoon se transforme num filme viciante, que se vê com imenso prazer.


Sonny Wortzik (Al Pacino), desesperado por dinheiro, decide assaltar um banco. Sem grande preparação, sem o sangue frio de um assaltante treinado e experiente, junta-se como seu companheiro Sal (John Cazale) e iniciam o assalto sem saberem muito bem o que estão a fazer nem o que esperar. Após os primeiros momentos de tensão, Sonny acalma todos os funcionários (a grande maioria mulheres histéricas) e compromete-se a não magoar ninguém. A adrenalina dos primeiros momentos do assalto acaba por dar lugar a uma enorme frustração quando percebe que o cofre se encontra praticamente vazio com pouco mais de mil dólares. Ainda Sonny não se encontrava recuperado deste choque, já o telefone tocava e Sonny se via cercado por centenas de forças policiais e a necessidade de iniciar as negociações com a polícia. A partir daqui somos brindados com um espectáculo de representação, em que Al Pacino demonstra o porquê de ser um dos maiores monstros do cinema.


Nota Final:
A-



Trailer:




Informação Adicional:

Realização: Sidney Lumet
Argumento:
Frank Pierson
Ano:
1975
Duração:
125 minutos

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

ZEITGEIST (2007)



"The religious myth is the most powerful device ever created, and serves as the psychological soil upon which other myths can flourish"


Não tenho dúvidas em afirmar que é um dos melhores documentários que alguma vez vi. Quer seja verdade ou mentira tudo aquilo que aqui é dito, há que reconhecer a qualidade da informação que nos é transmitida e a forma consistente e credível com que é suportada. Profundamente perturbador e eficazmente controverso, Zeitgeist desmonta alguns dos temas mais delicados da nossa sociedade e fá-lo sem medo.

A começar com o cristianismo e as suas origens, Peter Joseph expõe-nos um sem número de argumentos que nos permitem perceber a dimensão da possível montagem que existe por detrás do maior movimento cívico da história. Mas isto, caros leitores, é apenas o começo de uma viagem que atira para o caixote do lixo algumas das ideias mais básicas da nossa sociedade e que tem, como ponto alto, a demonstração daquilo que poderá ter sido o 11 de Setembro: um monstruoso estratagema montado para iludir a população e forçar a investida bélica nas sociedades do médio oriente.

Penso ser uma obrigação, cívica e moral, por parte de todo e qualquer cidadão, ver este documentário. E se possível, os subsequentes que Peter Joseph faz questão de divulgar de forma livre e gratuita, para que se possa distribuir por todos e para que ninguém utilize o argumento da crise como forma de o evitar.

Nota Final:
A


Trailer:




Informação Adicional:

Realização: Peter Joseph
Argumento:
Peter Joseph
Ano:
2007
Duração:
118 minutos

sábado, 20 de agosto de 2011

DAS BOOT (1981)




Um daqueles filmes que se tornam épicos, inesquecíveis, memoráveis e eternos. Este é daqueles filmes sobre o qual se fala hoje com o mesmo entusiasmo de há 10 anos atrás. Uma das obras mais portentosas e magníficas sobre a Segunda Guerra Mundial (um tema que eu adoro e que, penso, é praticamente inesgotável) e a difícil luta dos marinheiros que combateram em submarinos. Pessoalmente, a vida num submarino transcende-me. Não me sinto capaz de imaginar o enorme sofrimento e ansiedade passados durante tantas horas, num local tão apertado e claustrofóbico, rodeado de toneladas de água sob a constante ameaça de navios poderosos e com artilharia suficiente para, a qualquer momento, ditar o fim das vidas de tantos homens.


Neste filme, sobressaem três personagens de vital importância. O Comandante Henrich Lehmann-Willenbrock (Jürgen Prochnow) é o homem mais experiente a bordo, habituado à vida do mar, dos submarinos e das lutas entre nações. É ele que coordena um conjunto de jovens ambiciosos, que lutam pela pátria e que partem numa aventura para a qual não foram preparados e que desconhecem por completo. À habitual tripulação, junta-se o Tenente Werner (Herbert Grönemeyer), um jovem jornalista (correspondente de guerra), que viaja com o objectivo de criar um romance histórico baseado na viagem do submarino 96. Por último, uma personagem cuja força e presença vão crescendo com o passar do filme e que se transforma num inesperado herói nos momentos mais críticos de todo o filme: O Engenheiro Fritz Grade (Klaus Wennemann) a quem é entregue a responsabilidade de corrigir os diversos problemas que o submarino vai sofrendo e que combate toda e qualquer adversidade com bravura, calma e firmeza. É a ele que todos os homens devem a sobrevivência de uma jornada tão longa e tão perigosa.


Com a tradução para o português de Odisseia do Submarino 96, Das Boot (na versão Director's Cut que eu tive oportunidade de ver) é realmente uma obra de arte marcante. É um dos grandes filmes de guerra que o espectador pode ver, mesmo que para isso tenha que disponibilizar quase 200 minutos do seu tempo. Vale todos esses minutos. Das Boot é um filme longo e demorado, pois tudo é pensado ao pormenor e nada é tratado ao desbarato. O seu suspense é cortante e aumenta de forma dramática nos seus momentos finais. Uma obra onde se nota um trabalho de produção e edição excelentes, que transmite com bastante veracidade as adversidades e o terror de uma batalha dentro dos oceanos.

Nota Final:
A



Trailer:





Informação Adicional:
Realização:
Wolfgang Petersen
Argumento: Wolfgang Petersen e Lothar G. Buchheim
Ano: 1981
Duração: 199 minutos

domingo, 14 de agosto de 2011

THE MALTESE FALCON (1941)



Humphrey Bogart era um daqueles para quem a tela de cinema era demasiado pequena para tanta qualidade. Era daqueles que, sozinho, fazia o filme. Era daqueles que enchia o ecrã. Tudo porque era fantástico e porque a sua qualidade está à vista em praticamente todos os filmes em que entrou. Casablanca deve-lhe uma fatia do seu sucesso. E Maltese Falcon deve-lho todo. Sem Bogart, este seria mais um filme interessante do início da década de 40, com algumas ideias originais e momentos agradáveis. Bogart deu-lhe o toque de arte que só está ao nível de uma meia dúzia de predestinados, que nasceram para ser lendários.


Samuel Spade (Humphrey Bogart) reparte com Miles Archer uma sociedade de detectives com sucesso em alguns dos mais mediáticos casos de San Francisco. Quando contratados por Brigid O'Shaughnessy (Mary Astor), Archer é assassinado e Floyd Thursby, o homem que este investigava, aparece morto. De imediato, Spade é acusado da morte do seu colega devido aos rumores de um suposto envolvimento com Iva Archer. Na tentativa de refutar todas acusações, Spade procura Brigid e aos poucos começa a montar o puzzle da morte do seu companheiro.


Esta explica-lhe que estava em San Francisco com o seu companheiro, Floyd Thursby, e que ambos procuravam um dos mais desejados tesouros da antiguidade: O lendário falcão maltês feito de jóias valiosíssimas e ouro, oferecido pelos Cruzados ao Imperador Romano, como retribuição pela sua generosa oferta das terras de Malta. É aí que Spade é contactado por Joel Cairo, um misterioso homem que o persegue e ameaça com a necessidade de encontrar o tão desejado Falcão, a grande obcessão do seu poderoso chefe, Kasper Gutman, que há muitos anos procura a valiosa estatueta.


Numa luta contra o tempo, contra a polícia e contra o poderoso submundo do contrabando de mercadorias, Spade faz uso do seu charme e da sua capacidade de argumentação, para ludibriar aqueles que o confrontam. E é tão bom no que faz, que consegue escapar a tentativas de homicídio e ameaças de prisão, acabando por resolver um caso que à partida parecida perdido. E toda esta engenhosa personagem é embelezada, engrandecida e imortalizada por uma habilidade natural única na arte de representar. Humphrey Bogart é muito grande em The Maltese Falcon.


Nota Final:
B+


Trailer:





Informação Adicional:
Realização: John Huston
Argumento:
John Huston
Ano:
1941
Duração:
100 minutos

terça-feira, 2 de agosto de 2011

M (1931)



Düsseldorf, 1931. Um assassino, misterioso e perspicaz, faz desaparecer dezenas de crianças. Sem deixar rasto, uma a uma, as crianças vão sendo assassinadas. A polícia está desesperada, pois não consegue dar resposta aos constantes pedidos da população, que exige a captura do criminoso. O povo está desesperado, pois teme pelas suas crianças e pela insegurança de ter um psicopata à solta. Os ladrões estão desesperados, pois as constantes rusgas policiais, numa busca desenfreada para descobrir a identidade do assassino, acabam por tornar os seus negócios paralelos mais vulneráveis e menos regulares.


Numa cidade onde todos ficam a perder, um homem acabará por pagar uma factura muito grande pelos seus pecados. Peter Lorre (que monstruoso actor!!!) interpreta o papel do pedófilo/assassino Hans Beckert, um doente mental, ilibado pelo tribunal e pelos médicos de todo o seu passado criminoso e que vive a sua vida de forma pacata e solitária. Infelizmente, o seu desejo pelas crianças leva-o a cometer crimes horrendos, que lhe trazem a paz interior e a tranquilidade com a qual se vê obrigado a lutar diariamente. Uma luta interior cruel e demolidora, que o consome e o obriga a praticar horrendos crimes.


Escolhi começar a minha série de crónicas por esta obra-prima por uma simples razão: Apetece-me começar em grande. Começar com um filme tão magnífico, de um realizador que viveu muitos (muitíssimos) anos à frente do seu tempo, faz-me sentir orgulhoso de todo este projecto. M é uma obra-prima em todos os aspectos: interpretações carismáticas, argumento poderosíssimo, ambicioso e controverso (ainda nos dias de hoje!) e uma realização/edição que dá cartas a muitos dos realizadores da actualidade. É sempre um prazer ver um filme de Fritz Lang.

Nota Final:
A+
Trailer:



Informação Adicional:
Realização: Fritz Lang
Argumento:
Fritz Lang
Ano:
1931
Duração: 117 minutos

segunda-feira, 25 de julho de 2011

LES TRIPLETTES DE BELLEVILLE (2003)


Criado a partir da imaginação e arte de Sylvain Chomet (criador do aclamado L'illusionniste), este filme rompe com alguns dos preconceitos do actual cinema de animação: Les triplettes de Belleville é não só pequeno (oitenta minutos de duração), como também parco das tecnologias que criam efeitos e dimensões "especiais". Os desenhos do filme são lindíssimos, de uma clareza e expressividades que nos marcam e nos tornam nostálgicos, ao fazer-nos relembrar, através da clara influência do lápis de desenho em todas as figuras, dos primórdios do cinema de animação.


Uma história com sangue português, onde a Avózinha Souza, que vive em Paris com o seu neto e o seu adorável cão Bruno, dos quais cuida com amor e carinho, faz tudo para criar o seu benjamim num ambiente feliz. Ao perceber que o rapaz sentia uma forte atracção pelo ciclismo (e em especial pela Volta à França), decide comprar-lhe um tricíclico, a partir do qual o jovem trabalha e fortalece a sua grande paixão. Com o passar dos anos, a Avó Souza transforma-se no treinador pessoal do jovem, que vive para o ciclismo.


É, por altura da sua participação na Volta à França, que um estranho acontecimento se sucede e destrói todos os planos da Avó Souza em ver o seu neto vencer gloriosamente a mais dura prova de ciclismo. O jovem claudica e é raptado pela máfia francesa da cidade de Belleville, para a qual é transportado como se de um escravo se tratasse. Belleville, embora representada como pertencente a França, é uma pura e inteligentíssima sátira à cidade de Nova Iorque e à sociedade americana. Lá, todos os cidadãos são obesos (e nem a Estátua da Liberdade escapa), vive-se de hamburgers (a cidade do cinema é Hollyfood) e a sociedade comporta-se com o egoísmo e presunção caracteristicamente americanas.


A avó Souza, acompanhada de Bruno, persegue o navio onde o seu neto é transportado e atravessa um oceano inteiro para o resgatar. Em Belleville conhece as triplettes de Belleville, já num degradante e penoso final de carreira, que a ajudam a libertar o seu neto e a acolhem numa difícil e arrogante cidade, onde nem os escuteiros escapam à crítica mordaz de Chomet.


Uma obra-prima, a todos os níveis. Com uma banda sonora contagiante, que engrandece uma história conseguida graças ao dom ímpar de Chomet, Les Triplettes de Belleville é daqueles filmes que são obrigatórios numa sala de cinema. É aquilo que animação deveria sempre ser.


Nota Final:
A


Trailer:



Informação Adicional:
Realização: Sylvain Chomet
Argumento:
Sylvain Chomet
Ano:
2003
Duração:
80 minutos