Dial P for Popcorn: abril 2011

sábado, 30 de abril de 2011

ÚLTIMA HORA: Trailer de 'ONE DAY'


Sem dúvida, aquele que é um dos meus filmes mais antecipados deste ano que aí vem, o novo projecto de Lone Scherfig (a realizadora do extraordinário e sensível "An Education"), baseado no romance best-seller de David Nicholls e que conta com Anne Hathaway e Jim Sturgess (e também Patricia Clarkson) nos principais papéis, ONE DAY, recebeu hoje o seu primeiro trailer. ONE DAY conta a história de dois amigos, Dexter e Emma, recém-formados, que se encontram uma vez por ano, durante vinte anos, no aniversário do primeiro dia em que se conheceram. Pelo meio, é-nos relatado como a sua amizade evolui e regride ao longo dos anos e como as mudanças na sua vida vão fazer mudar também a forma como se vêem um ao outro.


Quanto ao trailer... Corresponde a tudo aquilo que eu esperava do filme - talvez revelando um pouco demasiada informação - mas o essencial está lá: química entre os protagonistas, bem executada mudança de visual para a progressão da idade e, se não der para mais (leia-se: Óscares), pelo menos tem ar de ser uma excelente dramédia romântica. Mal posso esperar.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Personagens do Cinema - Henry Spencer


Há já alguns dias que penso falar-vos de Henry Spencer (Jack Nance), o protagonista da primeira grande obra de David Lynch. Eraserhead é seguramente um dos filmes mais surrealistas que algumas vez vi. Se Lynch é capaz de produzir cinema peculiar, Eraserhead será certamente um clássico dentro deste género. São muitas e distintas as opiniões sobre o que Lynch é capaz de fazer. Há quem o tome como um génio do cinema (e eu assino por baixo). Há quem o considere presunçoso e incompetente. Há quem o deteste. Há quem o admire.



Para mim, Lynch é único. E quando ouço dizerem-me que "O Black Swan é de uma complexidade admirável" é como se visse uma faca a apunhalar Lynch pelas costas.

Ninguém como ele consegue criar suspense. Não são precisos momentos de carnificina, de suspense previsível, de fantasmas computorizados. Lynch mexe com o espectador. Coloca a câmara num plano que limita a visão do público, junta-lhes a luminosidade e a música de fundo e por fim, o terrível e desesperante suspense do silêncio (algo tão raro no cinema dos dias de hoje). E tudo isto transforma filmes como Eraserhead, Mulholland Drive ou Lost Highway em obras eternas, que não deixam indiferente nenhum amante do cinema.



Eraserhead, e em especial Henry Spencer, é o primeiro heterónimo de um génio chamado David Lynch. Um impressor em período de férias, descobre que a sua namorada está grávida de uma aberração. Um bébé disforme, que destrói todos planos projectados num futuro feliz e próspero. A ausência da sua namorada, que o deixa sozinho com o seu "filho" levam Henry à loucura e ao delírio. Em diversos sonhos, Henry imagina situações bizarras, que transportam a atmosfera do filme para um clímax negro, trágico, dramático. O caminho de um homem pela estrada da loucura é penoso. E Eraserhead retrata-o de uma forma emblemática.

Frases Inesquecíveis do Cinema

"New York Herald Tribune!"




Patricia Franchini | "À Bout de Souffle" | 1960

sábado, 23 de abril de 2011

DAFA 2010: Melhor Peça Musical




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.


Hoje vamos a mais duas (bem, quatro!) categorias dos prémios, a ver se terminamos antes de Abril terminar. A primeira dessas categorias serve de encerramento da minha avaliação à música no cinema em 2010. Como não consegui limitar-me a seis nomeados, nesta categoria (excepcionalmente) vamos ter dez nomeados. Aqui vos apresento os meus nomeados para Melhor Peça Musical em Banda-Sonora:



"Dream is Collapsing"
INCEPTION

O mundo desaba. O sonho acaba. Revolução total.



"Flow Like Water"
THE LAST AIRBENDER - #3

Um potente tónico à mais fantástica cena de acção do filme.



"Forbidden Friendship"
HOW TO TRAIN YOUR DRAGON - #2

Enternecedora e fantasiosa, aventureira e enérgica.



"Intriguing Possibilites"
THE SOCIAL NETWORK

Tão rápida e deliciosamente recheada de pequenos pormenores quanto o diálogo que acompanha.



"Illusionist Theme"
L'ILLUSIONISTE

De fazer chorar.



"Monsters Theme"
MONSTERS

A melhor apresentação de sempre de monstros num filme de ficção científica.



"Obliviate"
HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS, PART 1

Queriam música mais perfeita a servir de introdução a esta última parte? Não havia.



"Perfection"
BLACK SWAN - #1

Imersão total na escuridão sombria da partitura de Tchaikovsky alterada por Mansell. Sublime.



"Ride to Death"
TRUE GRIT

Tudo aquilo que se poderia esperar de um hino protestante adaptado a rito funerário por Carter Burwell.



"The Ghost Writer"
THE GHOST WRITER

O Fantasma espia no silêncio da noite. A música sugere desde logo que algo vai correr inesperadamente mal.




MISTÉRIOS DE LISBOA a 1 de Maio na RTP1

Depois de ter encantado muitos espectadores nas salas de cinema nacionais e internacionais, o épico "Mistérios de Lisboa", do realizador Raul Ruiz, cuja acção se passa entre França e Portugal, chega agora à televisão portuguesa, em formato de mini-série de seis episódios de aproximadamente 50-60 minutos cada (a duração total da mini-série ultrapassa a do filme, uma vez que incluirá cenas adicionais que não constam do filme). Contando com um elenco nacional e internacional recheado de estrelas, desde Maria João Bastos, Ricardo Pereira, São José Correia e Adriano Luz a Catarina Wallenstein, José Afonso Pimentel e Margarida Villa-Nova, "Mistérios de Lisboa" baseia-se na obra de Camilo Castelo Branco.


A estreia far-se-á na RTP1 dia 1 de Maio (domingo) com duplo episódio ("O Menino Sem Nome" e "O Conde de Santa Bárbara") por volta das 22 horas. Como saberão, "Mistérios de Lisboa" venceu vários prémios em diversos festivais, como o prémio da Concha de Prata para Melhor Realizador do Festival de San Sebastián e o prestigiadíssimo Prémio Delluc e foi, inclusivamente, votado o filme #1 da lista da Indiewire de filmes estrangeiros ainda sem distribuição norte-americana (que entretanto assegurou a sua distribuição pela Music Box, para o segundo semestre deste ano).
(Fonte: Split Screen)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

MILDRED PIERCE (2011) [HBO]


Numa altura em que a HBO se prepara para iniciar três projectos excitantes com três das maiores actrizes do cinema actual - Gwyneth Paltrow viu finalmente a HBO dar luz verde ao seu tele-filme de 2 partes sobre a vida de Marlene Dietrich; Nicole Kidman está neste momento a filmar o seu tele-filme baseada no casamento de Ernest Hemingway e Martha Gellhorn, com estreia para 2012; e Julianne Moore também vai ver a sua mini-série baseada no livro "Game Change", que relata a campanha presidencial de 2008, estrear provavelmente em 2012, na qual ela interpretará Sarah Palin - acabei por decidir que ia criticar em pleno as cinco partes da mais recente incursão de uma grande actriz de Hollywood nos projectos da HBO: o remake de Todd Haynes de MILDRED PIERCE, com Kate Winslet como o personagem titular.


E penso que será precisamente o facto de ser um remake e ter que se comparar à fabulosa versão de 1945 protagonizada por  Joan Crawford que funciona como a grande desvantagem desta mini-série. Claro que um filme de duas horas é completamente diferente de uma mini-série de mais de cinco. É óbvio. Contudo, a experiência será sempre diferente para quem já viu o filme e para quem não viu. É inevitável comparar - e é inevitável, no fim de contas, decidir a favor do antecessor. Joan Crawford e Ann Blyth são anos-luz melhores que Winslet e Wood, a história é muito mais interessante, muito mais absorvente e atraente e o final é plenamente mais satisfatório que o da mini-série. Infelizmente, é verdade. E custa-me mesmo muito admitir isto, tendo em consideração que sou um adepto fervoroso dos anteriores trabalhos do extraordinariamente dotado realizador Todd Haynes (Velvet Goldmine, Far From Heaven, I'm Not There) - desta vez o resultado final foi-me totalmente indiferente. Não me apaixonou, não me convenceu, não me surpreendeu de nenhuma maneira. Isto não quer dizer, no entanto, que não ache que a mini-série é boa. É. Qualquer produto HBO tem o seu selo de qualidade. O que quero dizer com isto é que não esbocei qualquer reacção à série, algo que me é anti-natura quando vejo um filme de Haynes.


Apesar disto, nem tudo é menos mau. O guarda-roupa de Ann Roth é divino (um trabalho bestial, como de costume), a banda sonora de Carter Burwell é, mais uma vez, deslumbrante (também já é habitual) e o elenco desempenhou as suas funções na perfeição, com classe e estilo, o que também não surpreende dado o talento dos envolvidos. Apesar de bastante diferente da Mildred Pierce confiante e sobrenaturalmente forte de Crawford, Kate Winslet consegue dar-lhe um toque muito pessoal à sua Mildred, transformando-a em mais uma vítima do que uma sobrevivente, criando sempre tensão em cada uma das suas cenas mais tocantes e mostrando sempre bem delineado a luta interna de Mildred entre a sua vida profissional e a pessoal, entre o seu desejo de independência e sucesso e o rebaixamento que a sua filha Veda lhe institui. Melissa Leo e Mare Winningham estão soberbas como Lucy e Ida, confidentes de Mildred, sempre prontas a bem aconselhar e a emprestar uma mão. São papéis pequenos, mas nos quais elas brilham. Já do elenco masculino... Dado o ódio que Guy Pearce me instigou durante toda a mini-série, penso que cumpriu o seu trabalho. Não achei que lhe tivesse sido dado muito que fazer, mas também ele não se esforçou para mais. Brian F. O'Byrne, por seu lado, fez muito com o pouco que lhe foi dado, sendo mesmo, para mim, a melhor interpretação de entre o elenco todo. Falta uma palavra meiga para Evan Rachel Wood e Morgan Turner, as duas intérpretes de Veda Pierce, que jogaram muito bem com os tiques de uma e outra, que fizeram a personagem evoluir de maneira inesperada mas muito madura e matreira e que, cada uma à sua forma, a tornaram muito mais importante do que ela é na história original. 


O que acaba por se notar mais em termos de desfasamento em relação ao original é o cunho muito próprio do realizador. Várias decisões inteligentes acabam por transformar o ritmo do filme, mais lento, mais contemplativo, mais introspectivo, mais intimista. O estilo e a qualidade de Haynes, em comunhão com o seu excelente fotógrafo Edward Lachman (também seu colaborador em Far From Heaven e I'm Not There) fazem o resto. Parecem pintar uma tela belíssima, reluzente, memorável e atrevida nos seus pequenos detalhes, de uma indubitável preciosidade. MILDRED PIERCE de Todd Haynes, tal como TRUE GRIT dos irmãos Coen deste ano, parece funcionar como um santuário, uma dedicatória apaixonada de um realizador talentoso que, fascinado pelo texto quase sagrado em mãos e pela sua pautável admiração pelo seu antecessor, decide criar um projecto de cinco horas em que possa experimentar enquanto realizador ao mesmo tempo que manifesta a sua mais profunda devoção.


MILDRED PIERCE, ao contrário do que possa parecer pela minha crítica, não é mau. É bom. Até muito bom, por vezes. Nunca chega a atingir uma altura em que eu pudesse dizer "adorei isto" mas é, sem qualquer dúvida, um sucesso a todos os níveis. Para quem não viu o filme, então, será sem dúvida apaixonante descobrir e desvendar a cada hora que passa este maravilhoso projecto cinematográfico maduro e curioso. Deixar-se envolver pelas personagens, cujas intenções e história desconhece. Deixar-se levar pelos cenários maravilhosamente voluptuosos, fascinantes, fabulosos. Deixar-se apaixonar pelo talentoso elenco e pelo inequívoco valor e qualidade da produção. Certamente irá ganhar uma montanha de Emmy quando chegarmos a Agosto porque foi feito exactamente para isso. Tem algum propósito para além dos que eu mencionei? Penso que não. Valeu a pena existir? Penso que sim. Haveria necessidade de ter existido? Parece-me que não.

Nota Final:
B

Notas Parciais:
Parte 1 - B
Parte 2 - B-
Parte 3 - B+
Parte 4 - B-
Parte 5 - B+


DAFA 2010: Melhor Actriz Secundária



Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.


Cá vais mais uma. Desta vez, são as minhas nomeadas para Melhor Actriz Secundária:
 
 
Amy Adams, THE FIGHTER - #3
Maricel Alvarez, BIUTIFUL
Marion Cotillard, INCEPTION
Melissa Leo, THE FIGHTER
Lesley Manville, ANOTHER YEAR - #1
Jacki Weaver, ANIMAL KINGDOM - #2


Amy Adams é luminosa no papel de Charlene, transformando-se completamente da mulher frágil e inocente que tem por hábito interpretar para uma sobrevivente e lutadora empregada de bar que, por muitos erros que tenha cometido na vida, nunca se vai deixar ir abaixo. Uma interpretação feroz, muito humana e honesta (uma visão e aproximação maior do que a sua personagem talvez precisava), é na cena em que discute com Dicky (Bale) que me fez apaixonar-me por ela e pela sua causa. Difícil de ler mas fácil de entender, Charlene consegue ser, ao mesmo tempo, durona e enternecedora. É a magia de Adams que faz isto possível. Mais uma grande interpretação.

Poucas vezes se vê um actor ou actriz mergulhar tão fundo na caracterização de um personagem. Em BIUTIFUL, Innarritú consegue essa proeza com os seus dois protagonistas. Se Bardem está brilhante, Maricel Alvarez não é menos impressionante como a drogada, alcóolica, negligente ex-mulher de Uxbal (Bardem). Um retrato avassalador de uma alma perdida nas dificuldades da vida, Marambra é imensamente observável. Uma interpretação de encher o olho.

Não se percebe o que Mal (Cotillard) está a tentar fazer em INCEPTION até bem quase ao final do filme, à excepção de assombrar Cobb (Leonardo DiCaprio), o seu ex-marido. Mas mesmo que não entendamos, não dá para fugir do facto que é uma gigante interpretação por parte da actriz, cuja presença se propaga por toda a película, mesmo nas cenas em que ela não surge. Capaz de provocar tanta intriga e comoção a partir de duas-três cenas e tornando-se quase omnipresente quando não está no ecrã, sempre como a sombra, como o demónio, como a cruz que Cobb tem de suportar, Marion Cotillard dá-nos mais uma prova que o seu talento é infindável.

É importante transbordar na caracterização quando a nossa personagem é, de facto, "um personagem". Melissa Leo leva essa lei ao extremo com a sua Alice, a progenitora que olha mais para o seu umbigo que o dos outros em THE FIGHTER. Ela berra, ela atira pratos, ela insulta os filhos, ela maltrata o marido - ela faz tudo aquilo que pode para lhe darem aquilo a que ela acha ter direito. Quase tão cómica como dramática, ela funciona de forma perfeita como o catalisador necessário para a interpretação fenomenal de Bale, com vários tiques dele e a sua forma de estar e personalidade histriónica e nervosa, imprevisível, a imitar a dela.

Lesley Manville, por sua vez, enche o ecrã em ANOTHER YEAR por direito próprio - ela não é a personagem mais importante da história, mas transforma-a de modo a sê-la. Como disse na minha crítica então, "[a sua] Mary está completamente perdida. Está tão perdida que já nem parece ter conserto. Trágica mas divertidíssima, frágil mas humana, neurótica a ponto de fingir despreocupação para se convencer a si própria do contrário, impossível de agradar e aturar em certas alturas mas também impossível de enxotar quando já bebeu mais do que uns dois, três copos, Mary é simplesmente inesquecível. Uma interpretação electrizante, hábil a fugir da caricatura e transformando Mary numa roda viva de emoções e transportando-nos a nós com ela, Lesley Manville é magistral.". Ela pura e simplesmente explode com o cenário.

Jacki Weaver não desperdiça um momento ou um ângulo com a sua Smurf, a ameaçadora matriarca da família Cody. Impecável na forma como entrega as suas falas, uma linguagem corporal aterradoramente bizarra, com os beijos e afectos inapropriados e fabulosa na forma como esconde dos outros o que realmente pensa e diz, aquela pequena e aparentemente fofinha e enternecedora mulher transforma-se, pelo final do filme, num monstro abominável, enganador e sem compaixão nem misericórdia. Que Janine 'Smurf' Cody seja tão memorável e consistente deve-se inteiramente à qualidade da performance de Weaver.


DAFA 2010: Melhores Argumentos




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.


Numa tentativa de terminar estes prémios ainda este mês (meu Deus, sou péssimo para prazos!), vou tentar revelar 2-3 categorias por dia. As duas próximas a anunciar estão relacionadas com algo vital para o sucesso de um filme. Sem um bom argumento, por muito bons que sejam os actores ou por muito visionário que seja o realizador, é (quase) impossível que o filme seja tão bom quanto poderia ser. Este ano trouxe-nos vários exemplos de qualidade para serem nomeados, mas nem todos o podem ser. Assim sendo, passo a anunciar os meus nomeados para Melhor Argumento Original:




ANIMAL KINGDOM
ANOTHER YEAR - #3
BLUE VALENTINE
INCEPTION
THE KIDS ARE ALL RIGHT - #1
TOY STORY 3 - #2


Não fogem muito dos meus 20 filmes favoritos do ano, como se percebe. ANIMAL KINGDOM surpreendeu-me pela forma como nos conta uma história sem nunca exagerar nalgumas situações que seria fácil escorregar para tal, pela forma inteligente como confere reviravoltas meio inesperadas, pela riquíssima caracterização das suas personagens e por ser um filme - e um argumento - tão maduro tendo em consideração que é a película de estreia do seu realizador/argumentista. Bónus: a avó Smurf. Brilhante toque de génio. ANOTHER YEAR só vem comprovar que Mike Leigh é um mestre da escrita. Desta vez, este argumento parece vir mais de dentro que os seus anteriores, como se a mensagem que Leigh quer passar é uma que ele aprendeu recentemente. Todas as personagens desta história têm a sua própria história a contar, o seu próprio passado a revelar. E nenhuma é mais interessante que a outra. O que torna o argumento, no seu todo, um processo fascinante de desvendar. O argumento de BLUE VALENTINE parece orgânico, natural, avança e recua no tempo de forma sublime para nos mostrar o evoluir de uma relação sempre destrinçando bem a situação das personagens numa e noutra altura e o que as move então e agora.  INCEPTION é algo diferente de tudo aquilo que vimos este ano. Alterar a linearidade do tempo e do espaço e conseguir explorar tão bem a dicotomia fina entre a percepção e a realidade, entre o que é o sonho e o que é verdadeiro, expondo as nossas concepções e noções de realidade e imaginação a paradoxos, brincando com a ilusão da mente humana e a natureza insidiosa das ideias (como muito bem disse Pete Hammond na sua crítica na Variety), não é para todos. Fazer da mente, do sonho, um puzzle metafísico, metafórico, não é para todos. Nolan conseguiu-o. THE KIDS ARE ALL RIGHT tem, para mim, o argumento original mais perfeito do ano. Delineia as relações entre as personagens de forma impecável, a caracterização de cada é imaculadamente efectuada e as motivações de cada bem exploradas. Pelo meio, encontramos um texto cheio de situações propositadamente engraçadas que não foge ao humor com assuntos delicados e sérios. Resumidamente, uma estrutura perfeita para uma comédia invulgar. Finalmente, estive numa luta interior para decidir como categorizar TOY STORY 3; depois de muito ponderar, decidi considerá-lo um argumento original, se bem que seja um que tem grande ajuda dos outros dois que o precederam para ajudar à choradeira e à nostalgia ao longo do filme. Apesar de tudo isto, não há como não elogiar o texto inteligente que escreveram para concluir a mais excelente trilogia do cinema moderno. Continua a tradição da Pixar de fazer escolhas inteligentes e divertidas em todos os seus filmes, de criar personagens inesquecíveis (Ken, Lotso) e de escrever diálogos puramente hilariantes.

Quanto aos meus nomeados para Melhor Argumento Adaptado:



HOW TO TRAIN YOUR DRAGON
RABBIT HOLE - #2
THE GHOST WRITER - #3
THE SOCIAL NETWORK - #1
TRUE GRIT
WINTER'S BONE


As cenas de acção são potentes, mas é nas cenas mais enternecedoras que o argumento de HOW TO TRAIN YOUR DRAGON se revela, mostrando uma qualidade no diálogo, na exploração da caracterização das personagens (tão atípico dos outros títulos da Dreamworks) e na criação de um dos melhores animais de estimação que há memória que me chocou positivamente. TOY STORY 3 pode ter sido o mais inteligente, TANGLED o mais divertido e L'ILLUSIONISTE o mais sentimental, mas o que mais apela ao coração é este. RABBIT HOLE já era, só por si, uma valente peça. A adaptação cinematográfica desta pelo próprio autor, David Lindsay-Abaire, tem o condão de conseguir manter todo o seu poder na transição do teatro para o cinema e ainda explorar outras pequenas histórias que no teatro não teriam tanta atenção. Um argumento de qualidade inegável que consegue ser sério e bem-disposto sem nunca exagerar na dose e que nos trouxe personagens completas, maduras, sinceras, honestas. THE GHOST WRITER é outro que não perde pitada da sua qualidade ao passar de livro para filme. Polanski viu bem o potencial que o livro, com a sua caracterização detalhada de todas as personagens menos de uma - o Fantasma - tinha para se transformar num drama/thriller excelente, com imensos twists, que nos prende até ao fim - tinha. Com o dobro das páginas de um argumento normal, Aaron Sorkin cria uma obra-prima de um argumento,  pura poesia verbal, imensamente citável, inesquecivelmente tragicomédico, que obriga os seus actores a darem tudo de si para fazerem transcender este simples texto num diálogo grandioso e imponente. Não importa o que me digam, dentro de cinquenta anos este argumento vai ser considerado um dos dez mais valiosos de sempre. Também ajuda, digo eu, que em THE SOCIAL NETWORK toda a gente tenha trabalhado a 200% para nos proporcionar esta experiência especial de ver um argumento transformar-se em tanto mais.  Falta-me falar de mais duas adaptações literárias: TRUE GRIT conserva todo o espírito da obra de Charles Portis, ao qual se soma o típico e indelével estilo literário dos irmãos Coen - tudo junto dá um western clássico muito melhor que o seu antecessor de 1969. WINTER'S BONE é adaptado de forma maravilhosa por Granik e Rossellini para o ecrã, mantendo toda a tempestuosidade e o peso da narrativa.

domingo, 17 de abril de 2011

SOURCE CODE (2011)


Depois da estreia de Moon, talvez a grande surpresa de 2009, as expectativas sobre o novo filme de Duncan Jones eram demasiado altas. Quem consegue criar um ambiente de suspense como o de Moon e empregar toda a carga dramática numa personagem como a de Sam Rockwell tem, necessariamente, que ser um tipo com talento.


E Source Code até nem é um filme mau de todo. Não acredito que compense o valor do bilhete de cinema, mas também não é uma total perda de tempo. Embora a sua ideia inicial seja bem conseguida, o seu final é totalmente despropositado, destruindo a lógica de um filme, a meu ver, ambicioso. Compreendo a dificuldade de se encontrar um final lógico para um filme assim, mas também acho que cada um só deve fazer aquilo que é capaz. Dar um passo maior do que a perna, acaba quase sempre em asneira.


O Capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) vê-se obrigado a viver os últimos oito minutos de vida de Sean Fentress, um Professor de História assassinado poucas horas antes num atentado ao comboio onde seguia com a mulher por quem se apaixonara, Christina Warren (Michelle Monaghan). Tendo como missão descobrir ao autor do massacre, Stevens viaja por diversas vezes até ao ponto inicial de toda a história e, aos poucos, vai organizando as peças de um puzzle que foi obrigado construir.


Durante as várias viagens no tempo, Stevens aproveita para tentar perceber o porquê da sua escolha para um trabalho tão amargo, o significado das conversas com Colleen Goodwin (Vera Farmiga) uma das responsáveis pelo projecto Source Code, que o coordena e orienta nas sua missão. O sucesso desta experiência significará a salvação de centenas de milhares de vidas e, o peso nos ombros de Stevens transforma-o num herói de circunstância, astuto e perspicaz.


Uma ideia interessante, com um péssimo final a lembrar as historias de fábrica feitas em Hollywood. Vale-se, em muito, da enorme qualidade de Jake Gyllenhaal, com uma interpretação de bom nível. Guarde os cinco euros do bilhete para outro filme. Ou então gaste-os em Tropa de Elite 2, seguramente o melhor filme em exposição nos cinemas portugueses.

Nota Final: C


Trailer:




Informação Adicional:
Relização: Duncan Jones
Argumento: Ben Ripley

Duração: 93 minutos

Ano: 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Hit Me With Your Best Shot": BEAUTY AND THE BEAST (1991)


Este artigo faz parte da minha participação na rubrica do The Film Experience Blog de Nathaniel Rogers, "Hit Me With Your Best Shot", na qual é-nos requerido escolhermos uma imagem icónica do filme em discussão nessa semana e justificar a nossa opinião. Depois de na semana passada termos faltado à crítica de "Heavenly Creatures" do Peter Jackson, esta semana, com este título, era inevitável participarmos.
 

Celebrating its 20th anniversary this year, BEAUTY AND THE BEAST is one of the most unforgettable movies of all time, a daring, outstanding achievement from a studio which had just rebirth from a major animated feature crisis with "A Little Mermaid" which was deservedly rewarded with the first-ever nomination for Best Picture for an animated picture (since  then, two other Disney efforts made it again - but with 10 nominees). Full of idyllic romantic moments, the most enchanting classic in the Disney dynasty has it all: a heartstopping story of two very different people, from two very different backgrounds, each seeing past the outer beauty (or lack thereof, in Beast's case) of each other and finding love against all odds.




We first meet the Beast through a very inventive and inspired prologue that informs us that once upon a time, in a beautiful castle somewhere in France, lived a handsome prince who, unfortunately, hadn't got a soul to match his outer beauty. He was rude, he was arrogant, he didn't have love in his heart. It was because of this that one day a beautiful enchantress transformed him into a Beast and gave him an enchanted rose that would begin to wilt. If its last petal fell and he still hadn't found true love, he would remain a Beast forever. We are then introduced to Belle, our feisty heroine, that lives within the magical, enchanted world of her books and doesn't have time for the romantic advances of diva/brute Gaston, who insists that she will become his wife someday. With this, you know that when Belle arrives at the castle, the seemingly impossible, tragic, spell-breaking fairy tale romance is about to blossom. And to be fair: the story doesn't disappoint. The main story arc is then enriched by the presence of marvelous secondary characters that come in the form of everyday objects turned into servants to the Beast. They give a much-needed wit and energy to the story, making the storytelling fresh and audacious - a wise decision made by Howard Ashman, whose lyrics in collaboration with always reliable Alan Menken bring about a spur of creativity and magic that few musical movies have ever possessed. The central ballad, "Beauty and the Beast", is of course sensational and uplifting, but it's in the lesser songs, like "Gaston", "Be Our Guest" or "Belle", that this duo really leave their indelible mark of unquestionable quality.


My best shot: I had to think very thoroughly to find a "best shot" among my 25 favourite screenshots of the movie (so full of delicious details, such a distinct design - amazing art design on the castle, by the way); nevertheless, I stuck to my guns and picked the one I was happiest with. It's a four-part shot of when Belle decides to explore the west wing of the castle, against the orders given by the Beast and the warnings from the servants. She enters a room which seemed as if it had once been a bedroom; yet, it was now full of debris, broken furniture and ripped curtains. Surprisingly (or not), one thing in particular strikes Belle's interest - a portrait of a beautiful man with piercing blue eyes which was tore apart. Those eyes... She has seen those deep, blue eyes before. It is, I believe, the first time Belle starts to understand that the Beast is not the evil being it tries so hard to be. It is the first time Belle begins to see through it (his?) surface. And it's the first glimpse of a change of heart in Belle's mind (and talk about a widely expressive protagonist!). It may not even be an important scene taking into consideration the whole movie, but to me, it's one of its very best images - and speaks a lot about both of the main characters (I love how the ripped effect of the portrait tells so much about how much baggage and damage the Beast carries and how he is in fact two beings at once) while not revealing much about where the plot is about to go.




All in all, BEAUTY AND THE BEAST is dreams come true, it's fantasy at its very best. It shakes us to our core, it brings up the most wonderful feelings in our heart, it is as powerful and as enchanting a fairy tale as any. It's one of the grand animated features of the New Golden Era of Disney - and it's one that stands on its own with the big giants of the studio, like "Snow White", "Pinocchio", "Fantasia", "Sleeping Beauty", "Alice in Wonderland", "A Little Mermaid" and "The Lion King". It's so soulful, so joyous, so rich and hopeful that you can't escape the feeling  it projects - it brings you to tears, it makes you root for the two characters, it makes you learn a valuable lesson for life: never trust appearances, as they are very misleading. All this while having tons of fun and filling our hearts with love and warmth. That's the Beauty of the Beast, I suppose.

domingo, 10 de abril de 2011

BRITISH TV - Coupling

British TV é a crónica mensal do Dial P for Popcorn que tem como objectivo dar a conhecer séries britânicas, com a qualidade característica dos ingleses, local de inspiração e (fraco) plágio da Televisão Americana.


COUPLING


Para este mês escolhi uma série que se encontra entre as minhas cinco favoritas de todos os tempos. Não arrisco dizer que é a minha favorita da televisão britânica, pois são diversas e cheias de qualidade as que admiro, mas Coupling é a garantia de que o espectador vê uma série tremendamente inovadora, deliciosamente original e eternamente inconfundível. Não há, no mundo da televisão, nenhuma série como Coupling.



Baseada nas vidas de seis ninfomaníacos, Coupling é uma série que teoriza as relações, que satiriza os complexos masculinos e femininos, que desmonta ideias pré-concebidas sobre o sexo, a virilidade, o machismo e o feminismo. A forma como cada uma das personagens cria e expõe as suas hilariantes teorias torna-se viciante e cativa o espectador de tal forma, que garante que uma boa parte delas acabarão por se tornar inesquecíveis.


Começo por vos falar da minha personagem favorita. Jeff Murdoch (Richard Coyle) é a figura mais peculiar de toda a série. São da sua autoria alguns dos melhores momentos de toda a série e a sua ausência na quarta (e última) temporada faz-se notar e retira muita diversão e originalidade à série. Um solteiro sem sorte no amor, que procura a mulher da sua vida em qualquer pub de Londres e não se coíbe de encontrar justificações para todos os acontecimentos da sua vida. Uma personagem adorável, que nos leva da diversão à comoção, feita para cativar qualquer espectador.


Steve Taylor (Jack Davenport) e Susan Walker (Sarah Alexander) formam o único casal desta série. Juntos desde o primeiro episódio, permitem aos criadores da série introduzir de forma natural os habituais problemas de uma relação a dois, criando um divertido antagonismo em relação às aventuras das restantes personagens. Patrick Maitland (Ben Miles) representa a componente machista desta série. Um galã inveterado, um pedrador sexual, conhecido entre a as mulheres de Londres pelo seu famoso tripé que derrete o desejo de quem por ele se apaixona. Por último, Sally Harper (Kate Isitt) uma quarentona solteira e abandonada, carente de atenção e companhia e Jane Christie (Gina Bellman) uma jovem lunática e ligeiramente esquizofrénica, completam o elenco de luxo desta série.


Criado por Steven Moffat, um dos mais irreverentes génios da actualidade televisiva em Inglaterra, Coupling é uma das séries de culto da última década. Uma série que venero, que não me canso de ver, que será para sempre recordada como uma das mais originais criações sobre o amor, as relações e o sexo. Em Coupling não existem aqueles irritantes e dispensáveis preconceitos a que muitos dos iluminados gostam de atribuir a designação de tabus. E só por isso, já se torna diferente.



PS: Torna-se importante referir que em 2003 a Televisão Americana decidiu adaptar a série, criando um formato que se baseava no sucesso britânico. Foi um completo fracasso.

sábado, 9 de abril de 2011

Trailer de 'MELANCHOLIA', de Lars von Trier

Depois do assombroso e muito polémico "Antichrist", eis que Lars von Trier promete continuar a dar que falar com o seu novo filme, "Melancholia", um filme que conta com Charlotte Rampling, Kiefer Sutherland, Kirsten Dunst, Alexander Sarsgaard e Charlotte Gainsbourg nos principais papéis e cujos detalhes têm permanecido debaixo de enorme secretismo, sabendo-se apenas que abordará o fim do mundo (colisão de um planeta com a Terra) e as diferentes perspectivas da percepção de tal evento nas pessoas. Promete - e o trailer, que foi lançado hoje, não desaponta. Não parece propriamente o tipo de coisa que a Academia vá gostar, contudo é bom ver Kirsten Dunst de novo em alta e em papéis apropriados para o seu nível de estrelato (depois de "All Good Things"). Espera-se que o filme surja na temporada de festivais, sendo esperado o anúncio da sua participação no próximo Festival de Cannes ou no Festival de Veneza. Deixo-vos então com o trailer:





quinta-feira, 7 de abril de 2011

TROPA DE ELITE 2 - O INIMIGO AGORA É OUTRO (2010)



“Vocês engordaram o porco, agora nós vamos assar!”


Raras são as sequelas que superam os seus antecessores. No caso de Tropa de Elite 2, acredito estarmos perante um filme mais bem conseguido, trabalhado, elaborado e consistente do que o filme que em 2007 surpreendeu o público brasileiro com um retrato fiel da vida de um BOPE no combate ao tráfico e ao crime nas favelas do Rio de Janeiro.


Coronel Roberto Nascimento (Wagner Moura) regressa para o combate de um crime muito mais sofisticado, complexo e poderoso do que aquele que derrotou em Tropas de Elite. Como o título sugere, agora o inimigo é outro e a luta, que antes de caracterizava pelas intensas cenas de tiroteio nas poeirentas favelas, é transportada para as estratégias dos bastidores, para as jogadas de escritório, para o crime em grande escala. Neste filme, o grande inimigo do BOPE e do Coronel Nascimento é a corrupção. Desde os polícias de favela aos mais altos cargos políticos, a corrupção ataca a credibilidade de um estado que se quer justo e responsável e a luta de um só homem contra um império inviolável, preparado e profundamente difundido pela sociedade brasileira, transforma-se numa desigual luta de David contra Golias.


Diogo Fraga (Irandhir Santos) é um ativista brasileiro, popular no Brasil pela sua defesa em prol de um Brasil justo e igual, crítico feroz da violência praticada pela política em relação aos mais desfavorecidos. Casado com a ex-mulher de Roberto Nascimento, rapidamente se transformou numa das mais populares vozes contra as medidas de Nascimento, levando a que o mesmo acabasse despedido da direcção do BOPE depois de um mal sucedido trabalho na Prisão de Bango 1.


Arrastado para fora do trabalho (que se tornou inevitavelmente a sua vida), sozinho, abandonado, Roberto Nascimento recebe um convite do Governador do Rio de Janeiro (o mesmo que havia despedido) para ingressar no Departamento de Segurança Interna e, com a entrega e dedicação pela justiça que o levaram a liderar uma das forças policiais mais mortíferas do mundo, rapidamente promove alterações no seu Departamento e inicia a sua perseguição aos criminosos da cidade.


Aos poucos, Roberto começa a perceber o significado da sua demissão. Começa a perceber o significado de duvidosas promoções. Começa a perceber a verdadeira utilidade que as favelas têm e, aos poucos, a função dos pequenos traficantes de rua que o BOPE prende às centenas e que parecem nunca acabar. Roberto começa, aos poucos, a perceber a verdadeira lei das favelas. Juntamente com Diogo Fraga, começam uma batalha que tem tudo para ser inglória. Uma batalha que, vista de fora, muitos rejeitariam e ignorariam, pela estrondosa dificuldade de combater uma rede criminosa tão poderosa. Mas felizmente para o Brasil que a personagem de Roberto não se fica pelo ecrã de cinema. Tropa de Elite 2 levanta-nos o véu de algo que ultrapassa a nossa imaginação. De algo tão enraizado na sociedade brasileira que, só muito tempo, dedicação e coragem conseguirão destruir. É um filme trabalhado ao pormenor, revelador de uma dedicação e coragem enormes por parte de quem o escreve, realiza, produz e edita. E Wagner Moura revela-se muito mais do que um grande actor. A personagem do Coronel Nascimento é a personificação de um homem de ideais, cujo exemplo certamente impulsionará o combate ao crime organizado no Brasil.


Nota Final: B+



Trailer:




Informação Adicional:
Realização: José Padilha
Argumento:
José Padilha
Ano: 2010
Duração:
116 minutos

quarta-feira, 6 de abril de 2011

ÚLTIMA HORA: Trailer de 'CRAZY, STUPID, LOVE'


Lá chegaremos à nossa antevisão de 2011 e nessa altura colocarei os trailers que já andam por aí a circular. Contudo, este eu não podia deixar passar. Imediatamente me deixou convencido que vai ser dos destaques do ano (já para não falar do fabuloso elenco). Glenn Ficarra e John Requa realizam "Crazy, Stupid, Love", que conta com Emma Stone, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Julianne Moore, Steve Carell e Kevin Bacon nos principais papéis e fala, de uma maneira muito geral, da nossa abordagem às relações. Falaremos dele mais tarde, mas por ora fica cá o trailer:



A Morte da 7ª Arte (Variação Stallone)

"O Dial P For Popcorn tem o prazer de vos apresentar o nosso mais recente colaborador! Axel Ferreira, nosso colega e amigo, aceitou o convite para a elaboração de uma crónica quinzenal. Com uma visão peculiar e distinta da realidade cinematográfica, A Morte da 7.ª Arte deixa apenas uma promessa: Ninguém a poderá evitar."

A Infância de Ivan


Às vezes penso como é possível uma senhora bastante adiposa poder usar as nádegas como orelhas de martelo. Deve ser por isso que frequentemente tenho pesadelos ao som de Goran Bregovic. Não são exactamente pesadelos, até porque a música não é má. Mas chegam a ser saturantes e cansativos. Acordo sempre cansado depois dessas noites, a pensar quando é que os porcos vão deixar de comer o carro. As imagens do meu sonho são sempre com as mesmas cenas, excepto algumas delas, que são cedidas pela memória. O último teve direito a cenas da minha infância. Quando tinha oito anos, mais ano menos ano, na altura do carnaval, disfarcei-me de Rambo. Mais especificamente de Rambo II porque tinha aquela cicatriz queimada mesmo em frente à orelha. Quando se tem esta idade não deve haver nada melhor do que andar por aí de metralhadora a matar tudo sem sequer apontar. Ou então ser um daqueles robôs gigantes como o Robocop ou o tipo que não devia conseguir mexer os olhos (porque quando lhe desfazem a cara aquela cena vermelha não se mexe). Digo isto porque hoje, quando me lembro destes momentos, penso em como é uma imbecilidade completa uma criança andar por aí a pensar que dar tiros nuns tipos é ser um herói. Também ninguém se lembrou de me vestir de Dadan


Eu via o Rambo como um herói porque ele matava os maus todos. Claro está que naquela altura eu pensava que todos os maus nasciam de geração espontânea, porque ninguém que tivesse mãe e pai podia ser tão mau como eles. Alguém que podia ter filhos não podia ser tão mau. Claro que quando me disseram a verdade, que isso da geração espontânea nem o Jesus Cristo, eu pensei “Fónix (porque naquela altura até tinha medo de pensar noutras palavras) Rambo, só para salvar um? Tudo bem que ele é americano e vale aí por uns dez, mas porra Rambo!”, não se faz isto a uma criança, desiludi-la assim. Foi por esta altura que descobri que o Rambo era um idiota, e ainda bem. Lembro-me de ser ainda criança e ver o “Monty Python and the Holy Grail”. Foi também por esta altura, a ver como estes homens ingleses gozavam com tudo o que existia e retratavam a humanidade como algo profundamente estúpido que me dei conta que não era apenas o Rambo o idiota. Comecei a pensar em tudo aquilo que eu via nos filmes e adorava: a eterna luta contra o mal, salvar o mundo do apocalipse (que, por esta altura, devia ser para mim o melhor tema para filme alguma vez inventado), andar aos tiros durante meia hora, ser o herói e ficar com a gaja toda boa… Tudo o que já tinha visto e revisto e repetido até ao infinito. E estas coisas, que eu considerava algo como uma realidade ideal não passavam de algo parecido ao menino da lágrima que estava pendurado na sala da minha avó. Mais tarde vim a descobrir o galicismo cliché, mas o conceito continuava igual. Este conceito veio-me à ideia no tempo em que andava a escrever muitos “a”s no meu caderno do primeiro ano, para aperfeiçoar a minha letra (que ainda hoje continua ilegível). Eu gostava de mostrar aquilo ao meu pai que, como é natural, não lhe ligava nenhuma, e eu descobri porquê. Quem é que iria ligar a um bando de letras repetidas até à exaustão? Claro que é bom para aprenderes a fazer, mas daí a quereres mostrar aquilo a toda a gente. Aquilo não tinha valor nenhum porque já tinha sido feito milhares de vezes antes de mim e ia continuar a ser feito, e se mudasse da caneta azul para a caneta preta não ia mudar nada. Foi aí que pensei, e se fossem os “a”s do Van Gogh? Bem, aí de certeza que alguém iria comprar aquela treta a peso de ouro ou platina. E era por serem mais bonitos que os meus? Muito provavelmente eram, mas era mesmo por serem do Van Gogh. Não eram os mais bonitos “a”s, mas eram dele e se eu fizesse o Céu Estrelado ninguém daria também tanto dinheiro por ele. Mas ninguém pode culpar o coitado, afinal, e mesmo sendo criança, achava os quadros dele de uma beleza extraordinária.


Tudo bem, mas o Rambo continua a matar tipos sem apontar e a dizer aquelas coisas todas heróicas, muito ao estilo do “Hasta la vista, baby!”. O conceito, pelo menos esse, era igual, o tipo musculado que queria salvar uma pessoa, mas ao menos um deles evitou o apocalipse, ou nem por isso. Os tiros, as explosões, as espadas de luz, os cowboys, o fim do mundo, a humanidade a estragar a natureza dos índios americanos ou do planeta dos índios azuis, o robô do futuro que parte tudo, a gaja boa e o herói que sofre, os dinaussauros vivos de novo, a Angelina Jolie em cima de um tronco… É tudo incrível ao estilo do Rambo, mas daí a serem o Céu Estrelado vai muito. Não têm nem de perto nem de longe o mesmo valor. Daí a minha estranheza quando descobri que afinal o cinema é uma arte, e que podia ter algo de novo, extraordinário e brilhante. E anda esta gente a fazer a mesma coisa até à exaustão como eu fazia os “a”s. Vim a descobrir aos poucos o verdadeiro cinema, algo que sentado no meu sofá podia denominar “cinema” como uma forma de arte. Podem ver e adorar os outros filmes e, se o fazem e os consideram bons, podem falar de cinema, mas agora de bom cinema não. Por favor…

Axel Ferreira