Bem, por esta altura de resoluções de ano novo, de recordação do bom que tivemos em 2010, das memórias bem passadas deste ano que hoje finda e dos sonhos e desejos para o ano que aí vem, é costume fazer-se uma espécie de revisão de ano.
Em termos cinematográficos, esta vai ser feita ao longo do mês de Janeiro. Já começámos com as bandas sonoras, seguir-se-ão os posters, as melhores cenas, entre outras coisas, culminando no anúncio dos nomeados para os nossos prémios em início de Fevereiro. Optamos por Fevereiro porque assim nos permite incluir todos os títulos da temporada cinematográfica de 2010.
Para fechar 2010, deixo cá os meus agradecimentos:
Não sei muito bem como caracterizar o cinema em 2010. Por um lado, parece um ano mau. Não tivemos um número elevado de filmes que nos deixassem verdadeiramente surpreendidos. Por outro lado, é capaz de ser dos anos que mais filmes adorei (também porque talvez foi o ano em que vi mais filmes; vamos em 104 e ainda não vi tudo o que queria de 2010). Portanto, tivemos menos filmes que me deixassem completamente siderado, mas um número maior de filmes que admirei do que, por exemplo, 2009.
Tenho que agradecer a várias pessoas por esse feito: agradecer a Danny Boyle (127 HOURS) e a Darren Aronofsky (BLACK SWAN) por continuarem a proporcionar experiências sempre interessantes de discutir e de conseguir retirar, desta vez, interpretações inesquecíveis dos seus actores (como, de resto, já haviam feito no passado). E a Gaspar Noé (ENTER THE VOID) que nunca pára de surpreender.
Agradecer a Christopher Nolan (INCEPTION) por conseguir o que poucos realizadores atingiram: ser mainstream mas manter o núcleo da sua essência como realizador, proporcionando sempre filmes culturalmente estimulantes, inteligentes e poderosos, sem nunca perder senso do que é um filme para as massas.
Agradecer também a realizadores consagrados da nossa praça que nunca desistem de procurar fazer melhor do que da última vez, como Joel e Ethan Coen (TRUE GRIT), como Alejandro Innaritú (BIUTIFUL), como Sofia Coppola (SOMEWHERE), que mantêm-se dentro do seu "niche" de alta qualidade e nos produzem obras de inegável valor.
2010 também nos trouxe uma boa quantidade de realizadoras femininas de quem vale a pena (continuar a) falar: Debra Granik (WINTER'S BONE) e Lisa Cholodenko (THE KIDS ARE ALL RIGHT) começaram por fazer um estrondoso sucesso em Sundance, de onde partiu um buzz estridente que ainda hoje, vários meses depois, em plena campanha de Óscares, se sente. Mas não só. Rubba Nada foi uma refrescante lufada de ar fresco este Verão, Claire Denis (WHITE MATERIAL) continuou a destacar-se como uma das melhores realizadoras do ramo, Nicole Holofcener (PLEASE, GIVE) veio tarde mas a tempo de ver o seu filme ser coroado com moderado sucesso.
2010 também viu realizadores emergentes continuarem a subir na carreira, como o actor-virado-realizador Ben Affleck que consolidou o seu trabalho anterior com este THE TOWN, ou como John Cameron Mitchell que com RABBIT HOLE conseguiu, com sucesso, excelentes críticas para um filme em tudo diferente dos seus dois anteriores, ou Paul Greengrass que continuou a sua parceira bem-sucedida com Matt Damon em GREEN ZONE, ou Matthew Vaughn que nos trouxe uma abordagem diferente aos super-heróis com KICK-ASS, ou Noah Baumbach cujo estilo de escrita e relato nos continua a impressionar, desta vez com GREENBERG, ou mesmo David O'Russell que chega finalmente ao topo da lista dos melhores realizadores com THE FIGHTER, Tom Hooper que continua em crescendo com o seu THE KING'S SPEECH (novos projectos ambiciosos virão ter com ele, de certeza), Mark Romanek que com NEVER LET ME GO veio confirmar tudo aquilo que One Hour Photo já nos tinha mostrado, ou o também britânico Nigel Cole que nos ofereceu uma comédia tão pouco convencional como MADE IN DAGENHAM, na linha do que vem fazendo. E também relembrar Rodrigo Cortés que nos trouxe um filme muito curioso, chamado BURIED, que nos apresentou um Ryan Reynolds como nunca tínhamos visto. Não esquecer ainda aqui o sr. Anton Corbjin que com THE AMERICAN provou que está cá para as curvas, como se costuma dizer, depois do bem-sucedido biopic de Ian Curtis em 2007. E, para fim, deixei o melhor dos realizadores emergentes: Edgar Wright e o seu SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD, que quebraram barreiras impossíveis a nível visual e a nível humorístico.
E 2010 trouxe também novos grandes realizadores como Derek Cianfrance (BLUE VALENTINE) ou Gareth Edwards (MONSTERS) que ficam na retina para os tempos que vêm.
E não podemos esquecer que, pelo terceiro ano seguido, temos a Animação em grande, com quatro títulos brilhantes e únicos, cada um à sua maneira: L'ILLUSIONISTE o mais artístico e detalhado, TANGLED o mais fofinho e divertido, no retorno à boa velha forma da Disney, HOW TO TRAIN YOUR DRAGON o mais enriquecedor, tornando-se o filme mais bem criticado de sempre da Dreamworks e TOY STORY 3, que fecha com chave de ouro a mais bela e mais criticamente aclamada trilogia de sempre. E fora destes ainda tivemos bons filmes animados na forma de DESPICABLE ME e IDIOTS AND ANGELS.
Os documentários de 2010 também merecem o seu destaque, com EXIT THROUGH THE GIFT SHOP na cabeceira, um dos filmes mais originais que tive o prazer de ver este ano. Além deste, INSIDE JOB deitou um olhar importantíssimo nos "criadores" da crise financeira actual, JOAN RIVERS: A PIECE OF WORK é um estudo comportamental interessante de uma das mulheres mais conhecidas e bem-sucedidas dos mídia norte-americanos, RESTREPO e LAST TRAIN HOME impressionaram desde logo pelos temas que ostentam, de vital discussão hoje em dia e são, cada um à sua maneira, geniais na forma como nos abordam e nos tentam mudar a mentalidade.
Por cá, temos de agradecer a Raúl Ruiz pela mini-revitalização que fez do cinema português por território nacional, tornando o seu MISTÉRIOS DE LISBOA um inesperado sucesso. Além deste, também EMBARGO, O FILME DO DESASSOSSEGO, o habitual Manoel de Oliveira (O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA), NE CHANGE RIEN, JOSÉ Y PILAR e MORRER COMO UM HOMEM foram desafios interessantes para o espectador português apreciar. Há que dar parabéns aos esforços de dois grandes homens do nosso cinema, Fernando Fragata CONTRALUZ) e António Pedro Vasconcelos (A BELA E O PAPARAZZO), pela tentativa de transformarem a visão do português para o seu cinema, com dois filmes claramente mais comerciais, mais "mainstream", do que o habitual. É um esforço digno de louvar.
E não podemos esquecer a panóplia de grandes filmes estrangeiros que o ano nos trouxe, a começar no vencedor do Óscar EL SECRETO DE SUS OJOS, passando pelos franceses UN PROPHÈTE e DES HOMMES ET DES DIEUX, chegando ao filipino LOLA, não olvidando os Kiarostami SHIRIN e COPIE CONFORME, o novo de Haneke, THE WHITE RIBBON, entre outros. Muito bom cinema estrangeiro que cá nos chegou.
E só nos falta, por fim, agradecer aos actores. Que este ano se transcenderam verdadeiramente. Natalie Portman e James Franco que explodiram nos seus papéis, Ryan Gosling e Michelle Williams que formaram um duo electrizante, Kristen Stewart e Dakota Fanning que provaram que afinal têm um lugar a ocupar em Hollywood, ao lado da irmã de Dakota, Elle Fanning, que foi surpreendentemente encantadora no novo filme de Coppola, ao lado do renascido Stephen Dorff, e de Saoirse Ronan, que se destacou num elenco recheado de grandes glórias de Hollywood.
Ainda bem que grandes estrelas como Colin Firth, Annette Bening, Julianne Moore, George Clooney, Geoffrey Rush, Nicole Kidman, Mark Wahlberg, Naomi Watts, Sean Penn, Jeff Bridges, Robert Duvall, Sissy Spacek, Sally Hawkins, Patricia Clarkson, Stanley Tucci, Amy Adams, Melissa Leo, Christian Bale, Emily Blunt, Mark Ruffalo, Sam Rockwell, Ewan McGregor, Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Josh Brolin, Colin Farrell, Ed Harris, Kevin Spacey, Hilary Swank e tantos outros andam por cá para mostrar aos novatos como Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Carey Mulligan, Chloe Moretz, Aaron Johnson, Michael Cera, Jim Sturgess, Jennifer Lawrence, Emma Stone, Katie Jarvis e Cª como é que se faz.
Há que bater palmas a grandes estrelas como Jacki Weaver, Javier Bardem, Noomi Rapace e Tilda Swinton que mesmo sendo estrangeiros em filmes estrangeiros conseguem buzz e aclamação crítica para ganhar prémios do outro lado do Atlântico.
E congratular o retorno de nomes femininos importantes do cinema como Gwyneth Paltrow, Reese Witherspoon e Julia Roberts que têm estado afastadas de grandes produções há muito tempo. E ter-lhes sido oferecido um filme a cada uma para estrelarem é um enorme sinal de confiança quer no seu talento, quer na sua qualidade enquanto estrelas.
Depois de analisado tudo isto, tenho que admitir que, de facto, 2010 não foi mau. Não foi nada mau não senhor. Que 2011 seja pelo menos tão bom.
Em termos pessoais, só temos a agradecer a vossa preferência. Nunca, mas mesmo nunca, nos passou pela cabeça o nível de aceitação global que tivemos, quer em termos de fãs, quer em termos de blogosfera. Apenas cinco meses depois de termos criado o DIAL P FOR POPCORN, contarmos com mais de 300 fãs, mais de 12500 visitantes diferentes e um prémio prestigiante votado por todos vós, é algo que normalmente só em sonhos é que acontece. Por tudo isto, muito obrigado. Sem vocês, nada do que nos tem acontecido seria possível.
Que tenham um bom fim-de-ano e que 2011 nos traga grandes e inovadores projectos! E que o blogue continue a crescer convosco.