Dial P for Popcorn: Pessoas da Década: Pedro Almodovar

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pessoas da Década: Pedro Almodovar

Bem-vindos a uma das rubricas semanais do Dial P for Popcorn, a ter lugar todas as terças-feiras. Nesta rubrica vamos discutir as pessoas que se tornaram (ou que continuaram a ser) grandes nomes na década de 2000, sejam actores, realizadores, compositores, fotógrafos, entre outros.

A escolha desta semana não foi, na minha cabeça, consensual. A ideia inicial que tinha era de falar sobre um realizador. E, depois de analisar, cheguei à conclusão que existiam uns 20-25 realizadores de que queria falar nesta rubrica. E decidi que não podia falar de mais realizadores esta década sem pegar neste (até porque no blogue já falámos bastante de outras três escolhas minhas, Nolan, von Trier e Tarantino, daí que estes hão-de surgir nesta rubrica mais tarde). Então esta semana pegamos em...



Pedro Almodovar

O realizador espanhol de 61 anos é tão sobejamente conhecido do mundo do cinema que dispensa qualquer tipo de apresentações. Atingida a notoriedade nos anos 80 (destacando-se pela sua forma diferente de fazer cinema e pela sua aproximação bastante singular à caracterização das personagens), chegou ao expoente máximo esta década passada, com vários êxitos sucessivos. Eu diria que já possui uma ou duas obras-primas no seu currículo, sendo que para mim (a opinião dos amantes de Almodovar divide-se bastante em quais são os seus melhores filmes) é Hable con Ella (2002) e Todo Sobre Mí Madre (1999), com La Mala Educación (2004) um distante terceiro.


Esta década, Almodovar realizou quatro filmes: Hable con Ella em 2002, La Mala Educación em 2004, Volver em 2006 e Los Abrazos Rotos em 2009, todos sucessos com méritos próprios. Os últimos dois contaram com a sua mais famosa colaboradora, Penélope Cruz, que apareceu em toda a sua glória, juntando estas duas excelentes interpretações às outras duas que teve neste ciclo (2006-2009) de absoluta excelência (em Nine e em Vicky Cristina Barcelona). Curiosamente, parece que as autoridades culturais do seu próprio país não concordam, tendo excluído três dos seus quatro filmes esta década (depois da nomeação de Mujeres Al Borde de un Ataque de Nervios em 1989 e de Todo Sobre Mí Madre ganhar o Óscar em 2000) da candidatura espanhola ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro por três vezes (a reacção da Academia a Hable con Ella foi uma valente chapada na cara dos espanhóis, pois nomearam-no para Melhor Realizador e deram-lhe a vitória por Melhor Argumento Original; em 2004, a Espanha é que viria a ter razão, com Mar Adentro a vencer o prémio - se bem que eu considero La Mala Educación um filme superior; em 2006, a Espanha submeteu Volver, mas não foi nomeado; em 2009 ignoraram Los Abrazos Rotos, que seria provavelmente nomeado). Próximo projecto: nova colaboração com Antonio Banderas (depois de La Ley del Deseo em 1987), em La Piel Que Habito (2011).


Falando só um pouco dos filmes e do que mais gostei deles... Em Hable con Ella ele pega num tema pesado, complicado de lidar e forma uma história simultaneamente tão dramática quanto enternecedora, aliando quatro histórias de vidas solitárias e compelindo-nos a emocionar-nos com ele e com elas. La Mala Educación parece de facto ter algo de autobiográfico, mas este fag noir tão Almodovariano é mais do que isso: é toda uma experiência deliciosa, de nos fascinar por entre o mistério e a beleza. Volver traz-nos Penélope Cruz em toda a sua exuberância, numa interpretação das melhores que vi esta década, num filme que alia a realidade ao sobrenatural, a morte à vida, de forma tão sublime e que é, acima de tudo, uma homenagem às mulheres da vida do realizador, como ele muito bem o definiu. Los Abrazos Rotos é a sua obra mais recente. Cruz de novo extraordinária, emanando uma sensualidade que lhe era reconhecida mas até então nunca bem explorada. Sendo o filme mais pobre da sua filmografia esta década, é no entanto o mais voluptuoso, o que proporciona a maior experiência visual (há que ressalvar aqui o papel fundamental da banda sonora de Alberto Iglesias, companheiro de trabalho de longa data de Almodovar - e da fotografia de Rodrigo Prieto, cujos outros trabalhos incluem Babel, Brokeback Mountain, Amores Perros, 21 Grams, Lust Caution, Frida...).

A coisa que mais adoro em Almodovar? Adoro sobretudo a forma bastante diferente que cada um tem de reagir aos filmes dele. Almodovar é um génio sem par, um provocador por natureza. E conseguir desempenhos tão espectaculares como ele consegue de todo um elenco só é possível quando se é grande. E ter um argumento tão bem detalhado, tão intrinsecamente explorando os traços de personalidade de todas as personagens, só está ao alcance dos melhores. Ter então seis, sete argumentos assim, só um predestinado. Almodovar é esse predestinado. E o mundo está melhor por tê-lo. 

Deixo só ficar o teaser trailer de "Los Abrazos Rotos" que eu acho que define muito bem o que é a experiência de ver um filme de Almodovar:

1 comentário:

Dora disse...

É o meu realizador preferido! AMO!