Dial P for Popcorn: I will never forget you, 30 Rock

sábado, 2 de fevereiro de 2013

I will never forget you, 30 Rock



Esta quinta-feira, o público americano despediu-se de vez de uma das melhores comédias de todos os tempos, uma que demorou o seu tempo até encontrar a sua voz, que nunca foi acarinhada pelo público geral - o que só a tornou ainda mais especial para os que semana após semana sintonizavam para ver o que Tina Fey e Cª aprontariam - e que sai em alta, juntando-se no céu eterno das grandes comédias a clássicos como "Seinfeld", "The Mary Tyler Moore Show", "I Love Lucy", "Friends" ou "M.A.S.H.".


"30 Rock" não teve um parto fácil. Arrasada pelas perdas das pérolas da sua Must-See TV que acabavam o seu curso na entrada do novo século, a NBC de 2006 era uma estação de muita ambição e altos riscos, que apostava em voltar à glória com séries altamente patrocinadas como "Studio 60 on the Sunset Trip" de Aaron Sorkin sem ter bem noção do que se passaria se falhasse. "30 Rock" resultou de um pedido especial de Lorne Michaels ("Saturday Night Live") a Kevin Reilly de proporcionar a Tina Fey um veículo próprio na estação que sempre conheceu. Assim surgiu "30 Rock", na segunda-linha de programação da NBC, destinada a falhar redondamente. A juntar à pouca confiança da estação, Alec Baldwin esteve até à véspera da estreia do piloto sem contrato assinado, a filmagem do piloto foi bastante tortuosa, com Fey a ter de substituir a sua amiga Rachel Dratch, para quem tinha escrito Jenna Maroney, por Jane Krakowski e a série estreou com críticas medíocres, uma audiência pouco convencida e um piloto absolutamente ensosso e banal. A situação não era promissora.


"30 Rock", contudo, perseverou. Os primeiros episódios foram a pouco subindo de qualidade - embora a grande maioria das piadas viesse do único personagem completo e concretizado da série, Jack Donaghy de Alec Baldwin; ao sexto episódio a melhoria era notória e eis que ao sétimo surge aquele que para muitos marca o ponto de viragem da série, "Tracy Does Conan". Ainda hoje considerado dos melhores episódios de sempre da série, "Tracy Does Conan" é um clássico da comédia moderna, um modelo para toda e qualquer série que tenta ser meta e auto-consciente e misturá-lo com q.b. de idiotice. É também neste episódio que surge o incontornável "The Rural Juror", filme de Jenna Maroney cujo nome ninguém sabia pronunciar. As audiências acabaram por nunca chegar e a saga do cancelado/não cancelado pairou sobre a série. A renovação da série e, posteriormente, em Setembro de 2007, as múltiplas premiações nos Emmys garantiram: "30 Rock" veio para ficar. 


Foi esta a série que se atreveu a ser diferente, a ser arrojado e irreverente - numa estação pública, não menos (!) e num mundo onde as sitcoms antiquadas e enferrujadas da CBS é que proliferam e ganham audiências. Pode-se dizer com toda a justiça que foi "30 Rock" - e em menor grau, "Arrested Development" e "The Office" - que abriu as portas para séries como "Community" e "Parks & Recreation" existirem no mundo actual, num mundo em que mesmo a NBC já não quer apostar em séries assim (algo que mesmo nos seus últimos momentos a série não se coibiu de ironizar - com a lista de "TV No-No Words" de Kenneth). Uma série que sempre soube aproveitar e até reinventar os seus convidados (Jon Hamm, Edie Falco, Salma Hayek, James Marsden, Matt Damon, Michael Sheen, Elizabeth Banks com genuína piada? Alan Alda e Nathan Lane como pai e irmão de Jack? Perfeito. Will Arnett como nemesis gay de Jack? Chris Parnell como Dr. Leo Spaceman? Inolvidável.), com uma edição perfeita e uma equipa de argumentistas de sonho (de Robert Carlock a Donald Glover - sim, o Troy de "Community").


A série foi perdendo brilho e consistência pela quarta temporada, é verdade, teve uma quinta temporada horrível (dois, três bons episódios no meio de vinte medíocres) - que quase levou Baldwin a rescindir contrato, como o próprio admitiu - mas quando menos se esperava voltou em grande para estas duas temporadas. E é também nisto que "30 Rock" é diferente. Quando muitas séries de comédia vão definhando nos seus últimos dias, "30 Rock" sai em grande, sete temporadas de audiências terríveis depois, contrabalanceadas por constantes nomeações e vitórias nas diversas cerimónias de prémios).

O "programa pequeno e imperfeito" (como Fey lhe chamou na sua autobiografia, "Bossypants" - uma leitura absolutamente recomendada aos fãs do programa, especialmente se conseguirem pôr as mãos no audiobook narrado pela própria) de Tina Fey chega assim à sua última jornada. Não foi o melhor episódio da série nem por sombras, todavia doseia bem a emoção e a comédia que esperamos sempre de "30 Rock" e especialmente os últimos quinze minutos são reveladores do quanto as personagens estão tão mudadas em relação àquele primeiro episódio. Veio-me a lágrima ao olho na despedida de Tracy e Jenna, não porque sejam as minhas personagens preferidas (Jenna sim, Tracy nem tanto; e o meu favorito será sempre Jack Donaghy, claro) mas porque foram sempre as duas personagens mais desprovidas de emoção da série, sempre mais lunáticas que realistas. Foi complicado vê-los sentimentais e chorões e finalmente aperceber-me que o meu mundo - e a minha semana - não vai ser o mesmo sem Jenna Maroney e Tracy Jordan, sem Liz Lemon e Jack Donaghy. Aquela última cena no barco entre os dois? Pura genialidade.

E a série tinha que acabar com Jane Krakowski a cantar. A cereja no topo do bolo.


"I will never forget you, Rural Juror. I'm always glad I met you, Rural Juror. Those were the best days of our flerm." - Indeed, 30 Rock. Indeed. 


Vou sentir tanto a tua falta.




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