Dial P for Popcorn: Revisão da Televisão em 2010: Parte 3

domingo, 3 de outubro de 2010

Revisão da Televisão em 2010: Parte 3

A nova temporada televisiva já começou e eu preciso mesmo de arrumar com a minha revisão das temporadas das séries em 2010. Vou então proceder à revisão das séries que vi em 2010 de seguida, em quatro posts (já disponível: #31-40 e #30-21; falta #1-10). Espero que deixem ficar a vossa opinião.


#20. BORED TO DEATH


Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: Ia dizer que era o melhor novo produto da HBO o ano passado mas esqueci-me de "Treme". Bem, posso dizer que é uma das melhores comédias do ano e uma refrescante surpresa. Humor negro q.b. (uma versão mais leve do humor típico de "It's Always Sunny in Philadelphia" e "Curb Your Enthusiasm") que tem realmente piada. Jason Schartzman, Zack Galifianakis e Ted Danson. Três personagens tresloucados, cada um pior que o outro. De que fala a série? De tanta coisa, mas principalmente relata as histórias de um escritor frustrado que decide embarcar na bizarra carreira de investigador privado. Com consequências imprevisíveis (e hilariantes), claro. A única desvantagem: só oito episódios. Mas foi renovada (e já estreou, aliás).

Melhor Episódio: "The Case of the Stolen Sperm" (1.07, B+).
Quem sobressaiu: Parece uma das estrelas do momento e tornou-se fácil referi-lo, mas de facto Zack Galifianakis evoluiu muito desde os dias de "True Calling" e esta personagem é de facto um espanto à custa dele.

#19. COUGAR TOWN



Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: Nunca esperaria eu que depois do fenómeno que é "Modern Family" viesse outra série com tanta qualidade como "Cougar Town" e uma interpretação comédica tão estupenda como a de Courteney Cox como a mãe divorciada e quarentona que tem que suportar os amigos malucos, o marido infantil e o filho único tão peculiar e que para piorar as coisas é tão doida como eles, Jules Cobb. A série começou mal, com uns cinco-seis episódios a gozar com o facto de Jules ter envelhecido, mas levantou-se depressa e logo que começou a focar-se mais no facto de Jules se encontrar agora, vinte anos depois, a descobrir de facto a vida, a série melhorou imenso. Diria até que nem parece a mesma. E este B+ poderia bem ser um B se eu fosse muito racional, mas "Cougar Town" não é racional. É divertido, é uma série que se pode ver com amigos, é uma série para apreciar, com o seu leve (e nada subtil) jeito de fazer rir.

Melhor Episódio: São tantos, mas "Finding Out" (1.24, B+) resume tudo aquilo que é Cougar Town: emoção, alma e amor.
Quem sobressaiu: Courteney Cox e Busy Phillips. É um empate. São as duas brilhantes. E já agora, um recado para a Academia: seis anos depois e mesmo assim ainda não há nomeação para Cox? Incrível.


#18. JUSTIFIED


Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: Além da excelência no diálogo, além das incrivelmente profundas caracterizações das personagens, além das magníficas escolhas de casting (Olyphant é perfeito para o protagonista Raylan, Carter e Searcy são excepcionais nos seus respectivos papéis também), além da história em si ser sensacional e sobretudo além da direcção, da fotografia, da música e da realização serem extremamente cuidadas, há só a dizer mais uma coisa: é uma série com a marca FX. Sim, a estação que nos trouxe "The Shield" e que hoje em dia nos dá "Sons of Anarchy". Portanto, selo de qualidade indiscutível.

Melhor Episódio: O piloto foi absolutamente sensacional (1.01, A).
Quem sobressaiu: Há séries que são brilhantes pura e simplesmente por causa do protagonista. É o caso desta. Timothy Olyphant foi roubado de uma nomeação nos Emmy este ano. Continuará a ser?


#17. FRINGE


Temporada: 2
Nota: B+

Crítica: Quem acompanha "Fringe" desde o início sabe que esta série não é nada convencional, sabe que se tem que ser mesmo fã e confiar nos argumentistas e sabe que se tem que ter paciência. Felizmente, a série contém tanto detalhe e tantas pequenas pérolas escondidas que é um prazer segui-la. Mais uma temporada volvida, de novo um início péssimo mas com melhorias evidentes no pós-ano Novo. Os novos segredos descobertos, as incursões pelo mundo alternativo e as novas referências mitológicas introduzidas são fascinantes e espera-se que ainda continue tanto por descobrir. Novamente temos John Noble brilhante mas Joshua Jackson e Anna Torv sofríveis e não me venham dizer que a culpa é dos personagens - os actores é que não têm, pura e simplesmente, qualidade suficiente para os papéis. E outra coisa que me irritou na série este ano: a constante angariação de fãs de outras séries de culto e de ficção científica (a Ana Alexandre fala disso mesmo na sua crítica no Split-Screen, se não me engano). "Fringe" é "Fringe", não é "X-Files" e não é "Torchwood".

Melhor Episódio: O trio final de episódios: "Northwest Passage" e o duplo episódio "Over There" (1.21, 1.22, 1.23, B+).
Quem sobressaiu: Mas haverá dúvidas que John Noble também já merecia alguma espécie de consideração? Será que algum dia os Emmy vão abrir-se para esta série?



#16: WHITE COLLAR


Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: A USA tem-me surpreendido com algumas das séries que escolhe produzir. "Burn Notice", "Covert Affairs", "Royal Pains", "Psych" e "Monk têm todas qualidades que as recomendam mas todas elas têm algo que eu não consigo deixar passar. Esse não é o caso com esta "White Collar", que tem sido transmitido insistente e repetidamente pela FOX portuguesa. A problemática relação entre o criminoso (que decide negociar com a polícia a sua prisão, oferecendo em troca a prisão de vários colegas criminosos e alguns  cúmplices) Neal Caffrey e o duro polícia Peter Burke, duas pessoas tão diferentes em personalidade e em abordagem à vida, é entretidíssima. Caffrey tem um carisma e Burke tem uma rudeza que dão um certo charme a ambas as personagens. Este jogo do gato e do rato podia esgotar-se rápido e tornar-se aborrecido, é verdade, mas a escrita e sobretudo o aparecimento de novas personagens não deixa isso acontecer. Uma temporada curiosamente bastante agradável de seguir e uma segunda temporada que promete (e que volta em Janeiro de 2011).

Melhor Episódio: Os episódios a meio da temporada, "Free Fall" e "Hard Sell" (1.07 e 1.08, B+).
Quem sobressaiu: Se bem que na segunda temporada esteve abaixo das expectativas, nesta temporada, Matthew Bomer foi demais.



#15: TREME


Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: Lembram-se do nome David Simon? Não? Mas talvez se lembrem da sua última série, "The Wire", que é reconhecida como a melhor série dramática de sempre da televisão? Pois. Ele este ano voltou à HBO com "Treme" e qual foi o resultado? O mesmo de "The Wire". Aclamada pela crítica, passou despercebida pelo público em geral e os Emmy olharam-na de lado, dando-lhe pouquíssimas nomeações e em categorias que quase não interessam. E, a comparação que mais me dói, é uma série quase tão boa como "The Wire" era. "Treme" conta a história de Nova Orleães no pós-furacão Katrina. Mas mais do que contar a história da cidade, conta a história de pessoas, pessoas normais como nós, pessoas que foram profundamente afectadas pela tragédia. E no meio disto tudo cria uma série sensacional de seguir e experienciar. Pena que pouca gente tenha notado.

Melhor Episódio: O piloto e o final, "I'll Fly Away" (1.01 e 1.10, A- ambos).
Quem sobressaiu: O elenco é que importa, mas tenho que realçar Khandi Alexander, tão longe dos seus dias de CSI (e tão merecedora de um Emmy... mas claro que nem nomeada foi) e John Goodman, tão diferente das personagens que ele costuma interpretar (e tão merecedor de um Emmy... mas claro que nem nomeado foi) .



#14. BETTER OFF TED


Temporada: 2
Nota: B+

Crítica: A melhor comédia do ano que ninguém viu. É, de facto, a melhor definição que podia dar à série. Interessante, divertida, cerebral, com um humor bastante peculiar (não chega a ser humor negro mas é humor intelectual, sem dúvida), uma comédia com cabeça, tronco e membros, com um elenco bestial, liderados pelos fabulosos Jay Harrington e Portia De Rossi, ambos fenomenais (em interpretações que mereciam Emmy, pois são incrivelmente melhores que os actuais vencedores, Parsons e Falco) e com uma escrita que muitos argumentistas sonhavam possuir, "Better Off Ted" tinha tudo para dar certo. Então, por que razão não resultou? Bem: o horário não ajudava; as audiências não eram boas; e a ABC não tem paciência para comédias inteligentes; e o público também não. Enfim.

Melhor Episódio: A série não chegou a acabar (faltavam 2 episódios para o fim) portanto não sei bem se seria a minha escolha, mas dos que foram transmitidos, "Lust in Translation" (2.10, A-) é o melhor. 
Quem sobressaiu: Portia De Rossi está uma grande comediante, coisa que se adivinhava desde "Ally McBeal" mas ninguém queria apostar.



#13. GLEE

Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: De vez em quando, surge na televisão uma série que põe toda a gente maluca. Foi assim com "Arrested Development", foi assim com "The Sopranos", foi assim com "Friends", com "Cheers" e por aí fora. E foi assim também que começou o fenómeno à escala mundial conhecido por "Glee", que curiosamente retrata a vida de um grupo de estudantes do coro escolar, apropriadamente (ou não) definidos como "a classe mais baixa da grande cadeia alimentar que é o ensino secundário" por Sue Sylvester, a horrorosa, rude e histriónica treinadora da claque do liceu. O que há em "Glee" para não se gostar? Alegria contagiante, grandes números musicais, personagens com os quais todos nos sentimos ligados, seja por que razão for (todos já fomos menosprezados e maltratados por alguém superior, não é verdade?) e diversão pura às mãos de Jane Lynch, que interpreta a maldosa treinadora da claque que acima já referimos. Além da série ser toda ela muito cómica, completamente abismal nalgumas histórias e de ter que ser vista de forma muito especial, porque algumas das coisas que lá ocorrem nunca se passariam da mesma forma na realidade. Mas porque é "Glee", a gente aguenta.

Melhor Episódio: O meu principal problema com "Glee" é o declínio que a série sofreu desde o seu trio inicial de episódios, o piloto (1.01, B+), "Showmance" (1.02, A-) e "Acafellas" (1.03, B+), embora "Vitamin D" (1.06, B+) tenha estado perto.
Quem sobressaiu: Esta é claramente uma série que dá primazia ao elenco, mas Jane Lynch é a grande estrela (Lea Michele seria uma boa segunda escolha, não fosse pelo facto da sua personagem estar a tornar-se completamente detestável).


#12. TRUE BLOOD

Temporada: 2
Nota: B+

Crítica: Alan Ball é um Deus. Consegue ser brilhante em termos de escrita, dinamismo e aproximação à história quer pegue em famílias aparentemente perfeitas à superfície mas que estão na verdade à beira do abismo, famílias à beira da ruína que cuidam de uma funerária ou vampiros amorais e hiperssexualizados que espalham o pânico no tranquilo deserto texano. "True Blood" não pode nunca ser levado muito a sério como drama, mas com certeza não é também essa a sua intenção. É uma série para se saborear, de uma tremenda qualidade, é certo, mas cujo objectivo é que os espectadores se envolvam, se deixem levar, se deixem contagiar. E não é uma série para todos. Depois de uma primeira temporada fantástica e de um final estrondoso, esta segunda temporada correspondeu às expectativas gigantes dos seus fãs (nos quais me incluo) com histórias fascinantes e com alguns desenvolvimentos que não estava nada a prever. Claro que quem é fã já viu a terceira temporada toda, mas isso fica para discussão daqui a mais algum tempo, sim?

Melhor Episódio: "Never Let Me Go" e "Release Me" (1.06 e 1.07, B+ ambos).
Quem sobressaiu: Deborah Ann Wool. Assustadora.


#11. COMMUNITY


Temporada: 1
Nota: B+

Crítica: Que bela surpresa me reservou a NBC no seu famoso line-up de quinta-feira, que é como se sabe o lugar das suas comédias de excelência (das quatro, só uma, a que tem mais fãs, "The Office", é que eu não suporto; as outras são todas minhas predilectas). Desconfiei desta série desde o momento em que vi a (pouca) publicidade que ela teve, mas sem qualquer razão. "Community" é, em poucas palavras, genialidade e entretenimento. Todos os personagens parecem frescos, bem desenvolvidos e com capacidade para crescimento. Todos os argumentos parecem extremamente bem pensados e são o sonho de qualquer fã de cinema, de BD, de televisão e até de literatura, com inúmeras referências culturais, coisa que me agrada numa série. E mesmo o intelectualismo comédico presente é logo rebaixado pela comédia física o mais marada possível. É uma série com um elenco de luxo, com um criador que sabe do que fala (até porque é a sua história de vida) e com uma equipa de roteiristas que sabe o que faz. E uma emissora que soube ter paciência para ver a série evoluir e florescer.

Melhor Episódio: Não há forma de eu fugir ao episódio da guerra de paint-ball, pois não? Óbvio - "Modern Warfare" (1.23, A).
Quem sobressaiu: Alison Brie, Chevy Chase ou Danny Pudi, façam vocês a escolha. Para mim, os três são bestiais.

3 comentários:

Jorge Teixeira disse...

De todas só vejo Fringe, e partilho da tua opinião. De resto não sou muito ligado a Séries, se comparar com filmes. Esses é que os consumo avidamente :P

abraço

Jorge Rodrigues disse...

Obrigado, desde já, pelo comentário. Pois, por acaso acho engraçado que todos os fãs de "Fringe" adoram a série e apontam os mesmíssimos problemas, fale-se com a pessoa A, B ou C. É que são tão evidentes... Mas claro que alguns (Anna Torv) já não se podem resolver.

Quanto à dicotomia séries vs. filmes, eu sou total defensor do cinema, é de longe a arte superior, mas infelizmente tem aparecido cada vez mais ideias originais na televisão do que no cinema e há algumas séries com bastante qualidade.

Abraço,

Jorge Rodrigues

Joana Vaz disse...

De todas estas séries, só segui Glee. Gostei muito do fenómeno da primeira temporada e de quase todas as músicas.
No entanto, tenho de concordar contigo quanto ao declínio que a série foi tendo...:( E penso que esta segunda temporada não começou com o pé direito.
A ver se melhora!;)