Dial P for Popcorn: JOAN RIVERS: A PIECE OF WORK (2010)

sábado, 12 de março de 2011

JOAN RIVERS: A PIECE OF WORK (2010)


"I'll show you fear. [...] It would mean that nobody wants me and everything I had done in life didn't work."


Um dos melhores documentários que já vi sobre a vida em Hollywood, sobre a vida no show business, JOAN RIVERS: A PIECE OF WORK (vencedor de um prémio no Festival de Sundance) foi dos filmes que mais me surpreendeu na minha vida na sua capacidade de ser profundo, inteligente e incisivo nas críticas a tudo o que os holofotes da fama nos trazem.


Joan Rivers, uma comediante lendária que infelizmente nos últimos tempos tem mais reconhecimento pelas suas múltiplas cirurgias plásticas e pelos programas de crítica ácida que faz para o canal E!, abre as portas a esta equipa e deixa que a filmem durante aproximadamente um ano da sua vida. Ao fazê-lo e ao expôr-se tão genuinamente, a figura que todos conhecemos como Joan Rivers desaparece e a verdadeira persona por detrás da comediante aparece: uma mulher naturalmente engraçada, bem-humorada e divertida, que luta com todas as suas forças para, mais de cinquenta anos depois, continuar a manter-se relevante. Aos setenta e cinco anos, Rivers mantém as suas qualidades cómicas intactas, com um humor de fazer chorar a rir o mais sério dos indivíduos. Ela fala de tudo, não fugindo a nenhum tópico mais pesaroso e até abordando vários dos temas que a tornaram infame, da cirurgia plástica à relação com a filha Melissa Rivers, do seu conflituoso afastamento de Johnny Carson que a lançou para a celebridade até às discussões com o seu ex-marido. Não há temas polémicos, não há tópicos proibidos: de fria e cruel a dócil e compassiva, Rivers não foge a nada e fala de tudo.



A compensar a vertente mais engraçada que os múltiplos espectáculos e sketches que nos permitem analisar e concluir o quão fascinante é Rivers no seu trabalho, naquilo que faz melhor, temos uma parte mais profunda, mais melancólica do filme, que é indubitavelmente aquilo que mais me chocou, mais me apaixonou, mais me emocionou.  De uma forma quase demasiadamente pessoal e confidente, vemos por outro prisma esta mulher e descobrimos o que a move, o que a aborrece, o que a destrói por dentro. A compaixão e pena que vão sentir pela septuagenária não é descritível apenas por palavras; a forma como as lágrimas lhe vêm aos olhos ao folhear a sua agenda cheia de páginas vazias, brancas, é de destroçar o coração. As suas confissões, de que está demasiado velha, de que não tem capacidade para aguentar tanto ódio, tanta má fama na indústria, amolece-nos e toca-nos. Joan Rivers é um caso curiosíssimo numa indústria que tanto se preocupa com o que pensa, com o que diz, com o que faz.



Ela não tem medo, ela não tem problema em se rebaixar, não lhe faz confusão dizer o que pensa e sente, mesmo que isso magoe algumas pessoas. Ser assim tão frontal, tão confiante e conseguir pegar nisso e ser em simultâneo enormemente divertida terão sido, provavelmente, as características que Carson viu naquela rapariga bonita de vinte anos que ele decidiu promover no seu programa. Mal sabia ele o "monstro" da televisão e da comédia que estaria prestes a lançar no mundo. Eu acredito que, lá dentro, Joan Rivers sabia que ia ser assim. Que ela estava destinada a suceder. E quem a conhece desde sempre deve ter pensado o mesmo.





Há pessoas que são famosas para sempre. Há pessoas que têm os seus quinze minutos de fama. E depois há Joan Rivers. Joan Rivers é famosa para sempre, sim, mas isso é devido aos milhares de quinze minutos de fama de que tem usufruído, por nunca voltar as costas a um desafio, por nunca dizer não a nada. Joan Rivers sabe o que é preciso para se manter no negócio e sabe o que é necessário, por vezes, uma pessoa humilhar-se para que lhe voltem a dar respeito. JOAN RIVERS: A PIECE OF WORK é fascinante, é inspirador, eleva-nos ao mostrar ultimamente a capacidade de superação de um ser humano corajoso que teima em não aceitar derrota perante uma indústria que a quer ver enterrada. Podem tentar, mas Joan Rivers não há-de ir sem ir a combate. E assegurem-se: vai ser difícil nocauteá-la.





Nota Final:
B+

Informação Adicional:
 
Realização: Anne Sundberg, Rikki Stern
Ano: 2010

Trailer:

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