Dial P for Popcorn: BIUTIFUL (2010)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

BIUTIFUL (2010)



Assombroso. Nunca esperei escrever ou pensar isto, mas Iñárritu tocou novamente o céu: Biutiful é, para mim, o melhor filme da sua carreira e, dificilmente, algum dia ele conseguirá fazer melhor. É controverso afirmá-lo e certamente muitos vão para sempre considerar Amores Perros como o seu ponto alto. Eu considero Amores Perros um óptimo e brilhante filme, no entanto a minha enorme admiração por histórias deprimentes, contadas de uma forma nua e crua, sem pudores, numa encarnação de sentimentos reais, que nos transportam por o ecrã, que nos fazem compartilhar a dor e o sofrimento de um actor que faz uma das interpretações do século, fala e falará para sempre mais alto. É impossível não lhe fazer esta homenagem.


Desde 2007, quando Daniel Day-Lewis demonstrou a sua classe em There Will Be Blood, que eu não via uma interpretação deste nível. Aceito se disserem que o papel de Javier Bardem tinha tudo para ser um sucesso. Sim, tinha. Um papel assim só pode ser mau se for dado a um azelha. No entanto, só pode ser brilhante, soberbo e inesquecível se for dado a um actor fora de série, com um talento digno dos grandes senhores do cinema. Javier Bardem, em Uxbal, faz um papel digno de colocar Peter Sellers a bater palmas: É um papel tão bom, que os Oscars não são dignos sequer de lhe atribuir o prémio de melhor actor. Penso que pela primeira vez ficarei feliz se não vir um actor e uma interpretação como é a de Javier Bardem, vencer a estatueta de melhor actor. Eu não vi ainda o "Discurso do Rei", mas não acredito que Colin Firth, que certamente estará a um grande nível, consiga alguma vez trazer a emoção, a paixão, a dor, o sofrimento que Iñárritu e Javier Bardem conseguiram colocar em Uxbal.


É muito díficil criar histórias e argumentos sobre temas tão críticos da sociedade como a prostituição, a imigração ilegal, a exploração de homens e crianças, os problemas de familiares. É tão difícil e, por o ser, o cinema dos Estados Unidos, muito rara e pontualmente, consegue produzir algo que me convença. Nesta área, os Asiáticos são verdadeiros mestres, vindo da Europa de Leste algumas boas ideias.


E Alejandro González Iñárritu? A partir da noite de ontem limpou de vez a péssima imagem com a qual Babel me deixou, onde imaginei a sua carreira a perder-se por filmes de menor qualidade, para sempre presos à comparação de um rival sem igual, Amores Perros. No entanto, ao quarto filme, Iñárritu volta a supreender, não só o cinema como a sociedade. Facilmente Biutiful será criticado por muitos dos "super-especializados" críticos de cinema. Mas para mim, é já uma obra-prima, possivelmente o meu favorito do ano e, no caso da interpretação de Javier Bardem, uma das minhas favoritas de sempre, da qual nunca me conseguirei esquecer.


Uxbal é um homem solitário, deprimido e infeliz. Com o dom de falar com os mortos, ganha algum dinheiro em funerais, que lhe permite sustentar os seus dois filhos, com os quais vive separado da sua ex-mulher, Marambra (Maricel Álvarez). Ao descobrir que um cancro na próstata, já profundamente metastizado pelos seus ossos e fígado, lhe dará apenas alguns meses de vida, decide preparar tudo para a sua partida. Uxbal tem apenas um desejo: que os seus filhos fiquem em paz e possam ter uma vida mais feliz do que aquela que Uxbal teve.

No entanto, esta revela-se uma tarefa muito complicada, não só porque o cancro é implacável e, aos poucos, começa a fazer sentir a sua força perante a vontade de Uxbal, mas também porque este tem mil e um negócios, cada um mais problemático que o seguinte e que parecem não ter solução possível.


Biutiful é lindo. Biutiful é uma obra que será lembrada para sempre. Biutiful é mais do que uma simples história, é o relato duro de um povo em sofrimento, que conta a história de muitos rostos desconhecidos, cinzentos e oprimidos. Biutiful é um A, daqueles que me orgulho de atribuir e difundir por quem me quiser ouvir.


Nota Final: A


Trailer:



Informação Adicional:

Realização: Alejandro González Iñárritu
Argumento: Alejandro González Iñárritu
Ano: 2010
Duração: 147 minutos.

7 comentários:

Filipe disse...

Finalmente vejo uma crítica que faz justiça à qualidade deste filme...

É um relato sufocante e angustiante da fase terminal de um homem de negócios e família. E temos sempre a sensação que Uxbal poderia ser nosso vizinho... O realismo da obra transporta-nos para uma realidade dura e crua que sabemos que existe mas por vezes preferimos ignorar... As maiores críticas ao filme são da parte do argumento... É compreensível porque o argumento é apenas um amontoado de acontecimentos atribulados da vida de Uxbal... Mas a vida não é isso?

De resto, Bardem monstruoso e Iñarritu a afirmar-se como um realizador de top! 9/10 :)

Ozpinhead disse...

Um dos melhores filmes do ano sem dúvida alguma. Também não compreendo algumas críticas sobre o filme.

Jorge Rodrigues disse...

Também fiquei positivamente impressionado com o filme.

Deprimente até dizer chega, mas sendo esse o objectivo, cumpriu 100% a sua missão.

E também concordo contigo: este é o melhor Innarritú, ao lado de "Amores Perros". E mais uma interpretação enorme de Bardem.


Cumprimentos,

Jorge Rodrigues

João Fonseca Neves disse...

Muito Obrigado pelos vossos 3 comentários. Esta foi uma das crónicas mais pessoais e que mais gostei de fazer no Dial P For Popcorn. E fico feliz por ver que há pessoas que partilham da minha opinião!

Abraço,

João Samuel Neves

Tiago Ramos disse...

Quero muito ver, muito! Samuel... grande crítica.

Joana Afonso disse...

Gostei imenso da crítica, aliás pelo que tinha andado a ver na internet havia uma recepção não tão positiva a este filme.
Adorei, fiquei assombrada na sala do cinema com o realismo do filme.
Bardem completamente fora de série.
Uma Barcelona tão verdadeira quanto deprimente e desoladora. Para mim o melhor de Iñarritu e também o melhor que vi este ano.

Fantástico 9.5/10

M. disse...

Que alívio encontrar esta crítica!
Confesso que estou comentando antes mesmo de terminar a leitura... Simplesmente porque vi o meu discurso e sentimento já nas primeiras linhas.
Biutufulmente Inolvidable.

=)