Dial P for Popcorn: MADE IN DAGENHAM (2010)

domingo, 20 de março de 2011

MADE IN DAGENHAM (2010)

 

"That's how it should be!"


Como sabemos, as mulheres nunca tiveram vida fácil neste mundo. Tudo o que lhes foi concedido, até hoje, foi através de grande esforço, muitas vezes de grandes privações e sobretudo a partir de muita luta contra a desigualdade que existe - mesmo hoje - entre o sexo masculino e o sexo feminino. MADE IN DAGENHAM passa-se em 1968, numa altura em que as mulheres, felizmente, já podiam votar e tinham assegurados os principais direitos humanos mas onde, contudo, eram pagas muito menos em relação aos homens. Estas grandes mulheres, que trabalhavam mais e melhor que todos os homens que conheciam, eram tratadas como amadoras no seu trabalho para que pudessem ser mal pagas e poupar dinheiro às suas fábricas, dominadas todas na generalidade por homens que pouco ou nada tinham em consideração as mulheres trabalhadoras. Mal sabiam eles que tudo mudaria em pouco tempo.


As maquinistas costureiras da Ford de Dagenham iriam iniciar uma revolução a todos os níveis improvável mas com repercussões impressionantes: seriam elas as primeiras mulheres da história a fazer greve por uma melhoria de condições de trabalho e de salários e seriam elas as primeiras mulheres a conseguirem o que queriam. Reclamavam, sobretudo, igualdade. Uma vez que faziam exactamente o mesmo serviço e cumpriam as mesmas horas que os homens, por que razão não haveriam de ganhar o mesmo? Lideradas pela fantástica Rita O'Grady (Sally Hawkins), estas mulheres extraordinárias conseguiram o impossível naquele tempo: triunfar num mundo onde os homens tinham sempre a palavra final. Imensamente divertido e fácil de seguir, encantador e irreverente, descontraído e com uma mensagem importante, MADE IN DAGENHAM é um filme que promete entreter e fazer vibrar quem o vê enquanto passa, de forma grosseira, um olhar pela história da emancipação das mulheres.


É difícil caracterizar a prestação de Sally Hawkins, já o disse anteriormente - é uma actriz completa, uma pessoa cuidada e muito sóbria que quando mergulha na pele das personagens se transforma, tornando-se contagiante, extrovertida, irresistível e impossível de parar de ver. Um verdadeiro camaleão, por outras palavras. Em MADE IN DAGENHAM, mais uma vez, esta capacidade de dotar de um completo realismo as suas personagens volta a dar jeito, com Hawkins a dar ao cinema mais uma personagem inesquecível. Rita O'Grady, com todos os seus defeitos e virtudes, é uma personagem inolvidável. A forma sagaz como Hawkins alterna entre o alegre e divertido, o subtil e sério e o vulnerável e receoso é fabulosa. A viagem de Rita neste filme, passando de uma ordinária mulher, inteligente, que só quer viver o seu dia-a-dia em paz a uma negociadora nata, uma voz inesperada surge de dentro para vir inspirar e comandar estas mulheres a fazer o que é certo.


Felizmente, o elenco que a acompanha não se deixa ofuscar com a sua prestação gloriosa. Andrea Riseborough é deliciosa num papel pequeno mas memorável. Miranda Richardson é uma ameaça que todo o seu ministério já devia ter aprendido a não ignorar; pequena mas autoritária, uma mulher poderosa que usa tudo o que tiver ao seu dispor para vincar a sua opinião. Bob Hoskins é divertidíssimo como o representante de sindicato, inesperadamente do lado destas mulheres em vez de defender a classe masculina a que pertence, porque sabe o esforço que estas mulheres passam, desdobrando-se em múltiplas tarefas nunca sendo recompensadas devidamente. Rosamund Pike é luminosa nos momentos em que se encontra no ecrã. Daniel Mays faz um fantástico par com Hawkins, proporcionando-nos uma cara-metade digna de Rita.


No fim das contas, esta história resume-se a uma coisa apenas: igualdade. Se as mulheres trabalham o mesmo que os homens, cumprem as mesmas horas, realizam o mesmo trabalho, por que razão não haveriam de ganhar o mesmo? É assim mesmo que pensa Rita O'Grady - que sabe o trabalho que faz, sabe o quão bem o faz e sabe perfeitamente quanto recebe ela e quanto recebe o marido, em condições de trabalho semelhantes. E que portanto quer receber o que tem direito. Acompanhada por mulheres com muito fogo na alma e paixão no coração, viria instaurar uma revolução que iria mudar para sempre a forma como as mulheres viriam a ser consideradas no seu posto de trabalho. Depois da conquista de O'Grady e companhia, a grande maioria das empresas e fábricas do mundo inteiro reviu os seus estatutos do trabalhador e melhorou as condições salariais e de trabalho para as mulheres. Tudo partiu de uma pessoa, de uma voz improvável - mas era a voz que era preciso para ser dada razão às mulheres. "That's how it should be" - é bem verdade.

Nota Final:
B/B+

Informação Adicional:
Realização: Nigel Cole
Argumento: William Ivory
Elenco: Sally Hawkins, Andrea Riseborough, Rosamund Pike, Daniel Mays, Bob Hoskins, 
Banda Sonora: David Arnold
Fotografia: John de Borman
Ano: 2010

Trailer:




2 comentários:

Joana Vaz disse...

Gostei muito do filme...:D

Adorável, leve e divertido.

A força da mulher muito bem representada nesta excelente personagem!
E todas as secundárias muito bem caracterizadas.

Jorge Rodrigues disse...

JOANA:

Ainda bem que achaste que a minha crítica dignifica o filme. É bom saber ;)

Gostei muito da forma como eles subtilmente inseriram a força e o poder da expressão e emancipação da mulher ao longo da película, nunca forçando uma agenda política pela minha goela abaixo. Foi muito refrescante ver um filme sem inibições e pura e simplesmente divertido.

Surpreendeu-me muito.

Cumprimentos,

Jorge Rodrigues