Dial P for Popcorn: O Cinema Numa Cena

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Cinema Numa Cena

Bem-vindos a mais uma rubrica semanal aqui no Dial P for Popcorn - "O Cinema Numa Cena" tenta mostrar as nuances de uma interpretação fora-de-série numa cena pivotal do seu filme. Hoje voltamos à primeira década do século XXI.

E vou pegar numa cena que nada tem de especial a mostrar qualidade dos actores intervenientes, mas que é fantástica como culminar de todo um filme, pois intersecta as suas três personagens principais, interpretadas sublimemente por três grandes actrizes da nossa era. Esta é a cena final do filme:

 

O filme "The Hours" estava destinado ao sucesso desde o momento em que o romance de Michael Cunningham encontrou as mãos talentosas de David Hare, a lente atenta de Sean McGravey e Stephen Daldry foi escolhido como realizador. Quando ele consegue contratar o trio composto por Julianne Moore, Meryl Streep e Nicole Kidman para protagonizar o filme, era mais do que óbvio que seria um sucesso. O que não podíamos prever de forma alguma é que as três actrizes dariam todas interpretações das mais conseguidas da década, no mesmo filme. Moore foi nomeada para Óscar como actriz secundária e perdeu, Kidman também foi como actriz principal e venceu, Streep não foi porque entre era a segunda actriz principal neste filme e entre este e "Adaptation", a separação de votos não foi suficiente para ela assegurar a dupla nomeação.


Nesta verdadeira celebração ao feminismo, uma pura ode ao que é ser mulher no mundo em diversas épocas, as três incorporaram as suas personagens e deixaram-nos encantados em vários momentos do filme: Laura Brown (Moore) a fazer um bolo, destroçada, derrotada pela vida, tentando contentar-se com a miséria de vida insignificante (segundo ela) que tem - ela que mais tarde decide ir para um hotel para se matar; Clarissa Vaughan (Streep) a tentar lidar com a saúde decadente e posteriormente suicídio do seu amante eterno (Ed Harris), enquanto tenta disfarçar a solidão e a amargura da sua vida com actos de bondade e de alegria falsa; Virginia Woolf (Kidman) arruina a vida do seu marido Leonard (Stephen Dillane) com a sua frustração pela vida pacata que leva até ao momento em que se decide afogar num rio. O filme é marcante, tocante e emocionante até ao fim e as três histórias que decorrem em paralelo e se conjugam exemplarmente fazem deste filme um dos melhores filmes da década. A crítica ao filme virá dentro de dias, espero eu.

7 comentários:

Tiago Ramos disse...

Não gosto do Stephen Daldry! PRETENSIOSO, é o que tenho a dizer. Mas adoro esta cena final.

Jorge Rodrigues disse...

Ah ah ainda bem que tocaste nele. Ainda está para vir um filme dele em que eu goste da realização.

Só disse que ia ser um sucesso quando o nome dele surgiu porque o raio do homem tem um íman para a Academia que é uma coisa impressionante. E só tinha feito um filme, o "Billy Elliot".

Também o acho horrendamente pretensioso e não fosse a Kate Winslet a salvar o "The Reader" aquele filme tinha afundado terrivelmente. Apesar de eu achar que ela está francamente melhor (pelo menos com mais nuance) no "The Reader", preferia que tivesse sido nomeada pelo "Revolutionary Road".

Enfim.

Mas quanto ao "The Hours", gostas do filme? Eu gosto muito do filme, pese lá está os problemas que tenho com o Daldry. Mas o argumento do filme é que é a estrela. É tão bem redigido - claro que também com uma obra-base como o "The Hours" do Cunningham é mais fácil mas mesmo assim...

Obrigado pelo comentário,

Jorge Rodrigues


P.S. - Respondi-te no post de Veneza ;)

Joana Vaz disse...

Eu adoro esta cena e o filme...
Da primeira vez que o vi, não o achei fenomenal, talvez não tivesse maturidade suficiente para perceber cada ideia subjacente. Depois disso já o revi três vezes e de cada vez o apreciei mais… fabuloso.
E que três grandes prestações.:D

Tiago Ramos disse...

Bem... eu acho que a Kate Winslet estava soberbamente melhor no Revolutionary Road e aí sim ela merecia o Óscar. Não me parece que o Óscar pelo "The Reader" fosse realmente o merecido - eles escolheram-na porque era um ajuste de contas com o passado (onde tinha tido desempenhos tão melhores e era a actriz mais jovem com um recorde de nomeações sem ganhar), mas também porque era um filme de Stephen Daldry (a Academia adora-o), era um filme sobre o Holocausto (idem) e a actriz principal estava irreconhecível (idem).

Quanto ao «The Hours» tenho graves problemas com o filme, essencialmente por não gostar do realizador e aquele academismo me irritar. Mas é um filme muito bom, muito rico e forte. Mas aí também acho que a Nicole Kidman não merecia Óscar... e porque ganhou? Mais uma vez porque estava irreconhecível. A Academia adora transformações e próteses, mas não é isso que faz um bom actor. A Julianne Moore no «The Hours» merecia muito mais e nem foi nomeada.

Jorge Rodrigues disse...

Tiago, acho que te confundiste ali na última frase, porque foi a Meryl Streep que não foi nomeada - e eu também acho que merecia mais.

A Nicole Kidman ganhou sim por causa do nariz, por causa de ser uma pessoa real e por ter perdido no ano antes. Ao menos deram-lhe o prémio enquanto a carreira dela estava no auge.

Mas sim em 2002 DE LONGE Julianne Moore devia ter limpo o troféu pelo magnífico "FAR FROM HEAVEN".

E 2008... Lá está, eu gostei mais dela no "The Reader" que no "Revolutionary Road", apesar de considerar que REV. ROAD > THE READER em qualidade. Mas isso são opiniões.

O que me irrita é que ela não tenha ganho mais cedo - tipo estou a falar MESMO mais cedo, 1995 ou 1992 ou até 1997 - porque a Helen Hunt ganhar pelo "As Good as it Gets"... Enfim. Mas para mim ela devia ter ganho mesmo era em 2004. Se bem que para esse ano tanto ela como Imelda Staunton eram merecedoras. Mas claro, tinha que ganhar a Hilary Swank.

Abraço,

Jorge Rodrigues

DiogoF. disse...

Um filme que fez pouco por mim, em termos de realização, argumento e afins, mas que faz a diferença pelas interpretações.

Jorge Rodrigues disse...

Diogo, claramente que o seu grande trunfo é o elenco. Mas eu diria que o argumento é excelente (e se não leste, eu recomendo vivamente que leias o livro-base, o "The Hours" do Cunningham, que é bestial) e mesmo o filme em si é muito bom.

Obrigado pelo comentário!