Dial P for Popcorn: A MORTE DA 7.ª ARTE (Variação Tom Cruise)

sábado, 29 de janeiro de 2011

A MORTE DA 7.ª ARTE (Variação Tom Cruise)

"O Dial P For Popcorn tem o prazer de vos apresentar o nosso mais recente colaborador! Axel Ferreira, nosso colega e amigo, aceitou o convite para a elaboração de uma crónica mensal. Com uma visão peculiar e distinta da realidade cinematográfica, A Morte da 7.ª Arte deixa apenas uma promessa: Ninguém a poderá evitar."


“Mel Gibson Está Morto” dizia Zaratrustra.

A primeira coisa que ocorreu à primeira pessoa a quem mostrei a minha primeira crónica por vontade própria, foi dizer-me: e o que é que há de novo? Nada além daquilo que sempre foi evidente para mim. Quase tudo o que é feito no Mundo cinemático é mau e, contra toda a razão, quase toda a gente gosta do que é mau. E como estou farto de falar sobre isso, este mês está “Um Tempo Para Cavalos Bêbados” (ou “Zamani Barayé Masti Asbha”), mas já ninguém liga ao bom cinema iraniano. O que eu queria dizer era que vou falar do que me der primeiro na minha real revolta contra o mundo do cinema, não fosse esta a morte dessa arte.


Pois aqui vai, sem grandes rodeios e creio que sem grandes surpresas, um dos princípios mais errados que existe no mundo do cinema, a adoração dos actores. Como é evidente a maioria dos actores são um bando de idiotas abastados e egomaniacos. Aos que se revoltaram já nesta frase, pensem só no seguinte: Shiloh Jolie-Pitt, e eu que tanto queria fazer um bonito jogo de palavras, mas a coisa chega a ser tão metafísica para mim que eu não me creio capaz de realizar qualquer tipo de gozo sobre isto, de qualquer maneira faz-me lembrar a marca de chinelos da minha avó. Sendo sincero, se visse este nome num romance burlesco qualquer teria a sensação de ser demasiado forçado e irrealista para nomear fosse o que fosse, chinelo ou não. E estes homens e mulheres acham-se no pleno direito de escolher filmes, alterar argumentos, dar nomes risíveis a meninos do terceiro mundo e, veja-se a enorme ousadia, formar opinião pública. E vocês dizem que estou a exagerar, que escolhi logo duas personagens que devem ter, entre os dois, um filme e meio aguentáveis. Digo-vos com toda a sinceridade que podia ter escolhido pior, neste mundo de cientologistas sem expressão facial, fantasias adolescentes vampirescas, 20 a 22 James Bonds, actrizes meritórias pelas suas excelentes glândulas mamárias, sex symbols quinquagenários, homens de acção de boca torta, homens de acção de boca direita mas que mesmo assim não sabem falar e que agora até são governadores… Como poderia eu ousar dizer menos desta gente? Revolto-me contra qualquer pessoa que esteja sempre a avaliar performances, dizer que este ou aquele papel foi brilhante, a interpretação genial e mais o que for… Os actores não passam dos bonecos animados que estão à frente da câmara, banais e sem personalidade (se aspirarem a ser bons actores). Não podem passar disso. Já se perdeu a ideia do que é um bom filme, um bom argumento, uns bons planos, uma boa montagem. Já ninguém quer saber do homem que escreve ou faz, de todos os blogs de cinema que vejo, tantos falam extensamente do Harrison Ford e do Keanu Reeves, fazem-lhes resumos de carreira, melhores momentos, filmes marcantes, um pedestal infindável de dados fascinantes sobre a irrelevância absoluta. E o Philip K. Dick? O homem cujos contos deram origem a inúmeros argumentos de filmes? Nunca vi uma palavra escrita sobre o homem. Ele podia não fazer filmes, podia não ser bonito nem fazer cenas de sexo no grande ecrã mas as histórias dele sempre foram qualquer coisa de brilhante. Não seria muito mais interessante escrever sobre uma pessoa genial? Não seria de maior valor fazer retrospectivas sobre personagens tão marcantes como George Gershwin? Ninguém quer saber do Óscar para melhor argumento original, mas toda a gente sabe quem ganhou melhor actor, melhor actriz, melhor actor secundário, melhor actriz secundária e até melhores efeitos especiais (e desde já, e desculpando-me pelo aparte, quero agradecer à academia dos Óscares por seleccionar os filmes que não devo ver).



A sobrevalorização desta gente, a importância que se lhes dá é algo de muito perigoso. Não podem ser estas as referências do mundo moderno. Estas pessoas tornaram popular a hipocrisia de ter pena pelos pobres e ganhar dinheiro à custa deles. Houve até uns tempos em que a coisa mais cool do mundo era dizer mal do Presidente Bush na televisão, chegaram até a fazer música sobre isso, a coisa tomou tal dimensão que agora tomamos isso como verdade absoluta. Independentemente de o homem ser uma besta ou não, eu não quero que seja esta gente a definir isso. Quero ainda menos que eles se achem capazes de dizer seja o que for sobre isso. Eu não vou ao cinema ver estes personagens, se bem que alguns deles me façam ficar um pouco como no “Die Geschichte vom weinenden Kamel” ou melhor dizendo “A História do Camelo que Chora”, mas também já ninguém liga ao bom cinema alemão sobre mongóis. Alguns deles atacam de facto a minha sensibilidade, em alianças conjuradas no inferno, que até dão vontade ao Orson Wells, já na cova, de nunca ter feito brincadeiras na rádio. Alguns deles chegam a pensar que são tão bons que até fazem filmes gore com Jesus Cristo. O que não deixa de ter a sua piada, Nietzsche disse que Deus estava morto, este homem matou-o.

Não quero dizer de maneira nenhuma que não haja actores bons e maus, não devem é ser tomados para além da sua normal relevância. Olhando para aquele que eu acho uma referência na interpretação de personagens, o grande Peter Sellers, ele era conhecido por ser um homem sem personalidade, ele era apenas as personagens que interpretava. Os actores são isso, o último grau da arte, o último instrumento necessário, nada mais. Não são os homens das ideias, não são os homens que compõem, não são essencialmente sequer os homens que decidem o que eles próprios devem fazer, nem sequer isso lhes compete. Não digo para não falarem dos homens e mulheres que vêm nos filmes, mas se quiserem ter o mínimo de coerência e forem verdadeiros apreciadores da arte, existe uma lista extensa de ilustres desconhecidos que têm muito mais lugar na história. E agora vou ver de novo “Yi Yi” ou “um um”, pena já ninguém ligar ao bom cinema japonês…


Axel Ferreira

4 comentários:

Bruno Cunha disse...

Muito bem escrito!
Mas tem calma, a arte pode ser interpretada de diversas formas. É verdade quando dizes que por todo o mundo se conhece muito mais o actor do filme do que o realizador ou o argumentista. E é verdade que sem estes dois o actor não é nada. Longe vão os tempos em que uma pessoa escrevia, realizava, produzia e interpretava um filme. E depois há essa decadência do mundo. Um mundo que aceita Hollywood e não vê um filme que seja falado em inglês. É pena, mas são os dias que correm.
Frank and Hall's Stuff

Anónimo disse...

Desde já felicito o Axel pela composição textual muito bem elaborada.
No entanto que o frenesim à volta das ditas "celebridades" é um exagero pegado é uma verdade de 'La Palisse'...
É péssimo que o argumentista e o realizador caiam em esquecimento, é verdade de facto...
O cinema não o é sem actores, assim como o teatro...Num espectáculo de ballet o coreógrafo é vital no entanto não é nada sem os dançarinos etc etc etc.
Concordo em pontos basilares com a ideia que aqui foi exposta mas na minha sincera e humilde opinião penso que foi consideravelmente desmedido e até despropositado em certas apreciações que foram feitas.

Pontos extra para a ousadia do autor.
Uma contribuição para o blogue que traz variedade e novas perspectivas.Gosto.

Espero continuar a "ler" o Axel, numa próxima vez ligeiramente mais comedido

Anónimo disse...

Num filme todas as suas componentes são igualmente importantes como tal todas devem ser igualmente reconhecidas.
Nos dias de hoje dá-se um escabroso realce aos actores em prole dos realizadores, argumentistas etc, certíssimo. No entanto acho que o texto foi bastante extremista..."nem 8 nem 80"...os actores são uma peça fulcral já que podem transformar completamente um filme a várias escalas...
Não concordo com isto:

"os actores não passam dos bonecos animados que estão à frente da câmara, banais e sem personalidade (se aspirarem a ser bons actores)"

Agora pode-se é apontar o dedo aos media, revistas cor de rosa e coisas do género mas sem dúvida alguma que a "adoração", essa é da incumbência de cada um.
Ninguém nos priva da informação, nem ninguém nos obriga a consumir o que não nos agrada. A verdade é que pode agradar ao próximo e isso tem de ser respeitado e tolerado! Não podemos impor aquilo que "achamos" ter mais qualidade já que isso sim é uma atitude 'egomaniaca' e inflexível pois cada um vê o que quer e dá relevância ao que quer. Se se aposta mais na imagem e no mediatismo? claro que sim, mas só engole a espinha quem não sabe comer peixe.


No entanto uma excelente redacção.

Continua...mas com mais calma.

Axel disse...

Aos elogios só digo obrigado.

Aos pedidos de calma, eu até tenho muita, o que às vezes me falta é paciência.

Aos anónimos 1 e 2 que nem chego a saber se são a mesma pessoa ou não. Fico contente por parte do que disse ser já uma verdade la paliciana. Não retiro uma única vírgula ao que disse, posso é explicar um ou outro ponto. A parte de os actores não poderem ter personalidade vem só do facto de eles terem de personificar outras personalidades sem realçar a deles, algo impossível a quem a tem bastante vincada.Quanto à parte de os actores serem importantes, sem dúvida, mas isso era como pores a guitarra do jimmy page a dar um concerto, ela já tocou alguns dos melhores solos de sempre, duvido é que o faça sozinha. A importância é sempre muito relativa.
A parte de a adoração ser uma opção de cada um, obviamente, como tudo é opção, até dar um tiro no pé o é.
E a parte do egomaníaco e de cada um dar relevância ao que quer, podem sem duvida, mas eu vou continuar a dizer que estão a dar relevância a uma imbecilidade suprema. Egomaníaco ou não fica à vossa escolha. Também este é um texto de opinião, ninguém vos obriga a comer a espinha ou lá o que é.

Tirando todos estes apartes agradeço os comentários, o interesse e a opinião geral de que está muito bem escrito. Para todos um bem haja e votos de que continuem a ler.