"THE BEAVER" não é um filme perfeito. Longe disso. O argumento podia ser bem melhor, as personagens em torno de Walter poderiam ser mais autênticas e genuínas e acho que há situações com o peluche que vão longe demais. Ainda assim, "The Beaver" comove, emociona e leva-nos a pensar no que, de facto, faz a nossa vida ter significado, naquilo que nos faz, todos os dias, levantar da cama e enfrentar as dificuldades do dia-a-dia. E, só por isso, eu agradeço que o filme tenha existido.
"The Beaver" contém, além disso, uma das melhores interpretações do ano. Não fosse a sua ruinosa vida pessoal, Mel Gibson teria instantaneamente garantido uma das cinco vagas na lista de nomeados para o Óscar de Melhor Actor. A efectuar um dos seus melhores trabalhos de sempre, como que a aproveitar os problemas com que lida na sua vida privada para a sua arte, Gibson é excitante e memorável de observar. Desde o primeiro momento que o encontramos na piscina, de braços abertos, com um olhar louco, desesperado e deprimido que sabemos que estaremos perante algo diferente vindo de Gibson. E ele não desaponta. Pelo meio da absurdidade de várias situações envolvendo o Castor e do estado totalmente depressivo - catatónico até - de Walter, Gibson cumpre a sua função de forma soberba, uns bons furos acima do material do argumento.
Voltando à história. "The Beaver" narra a vida de Walter Black (Mel Gibson), presidente de uma empresa de brinquedos em declínio, casado com dois filhos, que sucumbiu à depressão, que tem afectado a sua vida pessoal e profissional, de tal forma que ele não consegue, pura e simplesmente, reagir, tendo alienado a sua família, levado a sua empresa a um estado de quase falência e destruído (ou esquecido) tudo aquilo que o fazia um grande homem. Não é, por isso, grande surpresa que o seu filho mais velho, Porter (Anton Yelchin), o ignore e despreze e a sua mulher, Meredith (Jodie Foster), uma mulher carinhosa mas firme, o expulse de casa e lhe peça o divórcio. Nesta espiral descendente em que Walter se encontra, o rumo surge, inesperadamente, através da ajuda... de um fantoche, o Castor. O Castor assume a voz, a vida e a personalidade de Walter e no seu lugar consegue, de uma assentada só, reabilitar a empresa, a sua vida familiar e a sua relação com a mulher, trazendo de volta o homem que todos conheciam. Todavia, um problema continua a subsistir: apesar de uma reabilitação notável (algo inexplicável até, pelas circunstâncias do argumento), é bastante óbvio que um dia o Castor e Walter terão de se separar. E é aqui que o argumento tenta salvar as suas várias incongruências numa tentativa de resumir tudo isto a uma luta interior e nos passar uma lição de vida sobre nunca abdicar de ver o que há de bom em cada coisa que a vida nos dá.
Kyle Killen, o argumentista, faz um trabalho razoável no seu filme de estreia, oferecendo-nos uma história pertinente com toques de humor negro e descoberta pessoal. Ainda assim, não tem desculpa para toda a narrativa secundária vinda quase do nada envolvendo as frustrações de Porter e da sua namorada, Norah (Jennifer Lawrence) e para a necessidade que teve de criar paralelismos na situação do pai e do filho, na medida em que ambos "desaparecem" no corpo de outras pessoas e na forma como o filho, de certo modo, é também salvo por Norah e salva, ele próprio, Norah do marasmo que pauta a sua vida. Jodie Foster é uma realizadora competente, que de facto faz o que pode para resolver os problemas que o argumento tem e executa bem o seu papel enquanto Meredith, quer em termos de postura, quer em termos de entrega das falas, funcionando como o anti-Walter de certa forma. Anton Yelchin e Jennifer Lawrence são quase prescindíveis na narrativa, a sua importância como fio narrativo secundário só merecendo relevância para que Porter perceba o que vai na mente do pai, permitindo a redenção final de Walter e pouco mais. A música de Marcelo Zarvos foi outro ponto que me fez torcer o nariz ao filme. Era demasiado leve,engraçada e muito mais vocacionada para um filme cómico do que para um filme pesado e sério como este. Ainda assim, tiro-lhe o chapéu à música escolhida para a cena final. Quase que faz o filme parecer dez vezes melhor. Por essa cena individualmente o filme valeria um A. No seu todo... não pode passar de um B.
Nota:
B
Ficha Técnica:
Realização: Jodie Foster
Argumento: Kyle Killen
Elenco: Jodie Foster, Mel Gibson, Anton Yelchin, Jennifer Lawrence, Cherry Jones
Música: Marcelo Zarvos
Fotografia: Haden Bogdanski
2 comentários:
Concordo contigo quando dizes que a cena final é o melhor do filme, parece que só no fim é que todos os elementos realmente se encontram...
Eu gostei do filme, mas é verdade que tem algumas cenas desnecessárias.
Um bom filme, que vale sobretudo pela mensagem que passa!;)
JOANA:
Não gosto muito quando os filmes tentam ser sociologicamente relevantes e ao mesmo tempo manipuladores, daí não ter dado grande valor à mensagem de THE BEAVER, embora perceba quem tenha apreciado.
Ainda assim, reconheço algum valor no filme.
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
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