Nesta semana especial, que abre o mês de festividades, pedimos a amigos próximos e colaboradores de outros blogues que nos ajudassem a abordar um dos nossos temas preferidos: a animação. Todos eles foram limitados a um máximo de dez imagens ou um vídeo para a sua tarefa. Sete dias, sete colaboradores, sete títulos que festejam este ano o início de uma nova década de vida. Muita diversão, emoção e magia é prometida. A ver se cumprimos.
A terminar, o brilhante Gonçalo Trindade (colaborador de vários espaços mas mais conhecido, em termos de cinema, pela sua colaboração no Ante-Cinema) ficou de falar de um clássico que encantou várias gerações: DUMBO - que celebra 70 anos de vida a 23 de Outubro deste ano. Eis o Gonçalo:
Sendo um dos mais simples, adoráveis e inocentes filmes da Disney, Dumbo é frequentemente considerado uma das maiores obras-primas do estúdio e, quer ascenda ou não a esse patamar (não ascende, a meu ver) é totalmente inegável que este é, simplesmente, um filme absolutamente lindíssimo.
É difícil não gostar de um filme assim, que vive à base de uma personagem tão mágica e inocente como Dumbo, aquele elefante bebé de orelhas grandes que não fala (uma inspiração para Wall-E, talvez), e que não compreende o porquê de todo o mal que lhe acontece, seja esse mal os que com ele gozam, ou o aprisionar da sua mãe que tem como consequência aquela que é, muito provavelmente, uma das mais tocantes cenas alguma vez feitas pelo estúdio de animação: aquela em que a mãe de Dumbo o embala com a tromba de dentro da carruagem onde está presa, enquanto ao mesmo tempo lhe canta uma canção. Todo o filme é, aliás, profundamente tocante na forma como retrata a relação mãe-filho, raramente abordade tão acertadamente num filme de animação. A cena, logo perto do início, em que a senhora elefante recebe da cegonha o jovem Dumbo é, por si só, um verdadeiro prodígio, que ainda hoje coloca facilmente um sorriso na face de cada um.
Se é verdade que este é o filme com a personagem mais adorável de todos os filmes da Disney (desculpa, Bambi, mas o Dumbo ganha), e que todos os amigos que vão surgindo na vida do pequeno elefante são encantadores (com destaque dado, claro, a Timothy, o rato), é também verdade que não é só aí que reside o triunfo do filme: o seu grande valor existe antes na forma como, através de um filme tão simples, que nem aos 80 minutos chega, e que tem uma personagem principal que nem sequer emite uma palavra, se conseguem mostrar alguns dos maiores males do mundo e ensinar algumas das mais belas lições da Humanidade. A forma como o grupo de elefantes diz mal da mãe de Dumbo após esta ter sido presa, por exemplo, ou a forma como os rapazes puxam as orelhas do jovem elefante enquanto gozam com ele, são momentos de cinema em que está ali exposto mais do que ao início pode parecer. Dumbo é, em grande parte, um filme sobre o preconceito e a forma como este afecta aqueles que, simplesmente, não o compreendem nem o merecem. Daí que tenha sido um golpe de génio em criar Dumbo como uma criança que nem falar sabe: é um paralelismo directo a um mundo onde muitos jovens nascem marcados desde o início, seja pela raça ou o que for, sem compreenderem o porquê dessas marcas. Marcas essas que podem ser trasnformadas em dons; afinal de contas, aquilo que mais dor causa a Dumbo, acaba por ser exactamente aquilo que o faz voar.
É uma lição de vida poderosa e importante, abordada de forma perfeita naquele que foi o quarto filme do estúdio, feito para recuperar as perdas geradas pelo incrível Fantasia. Foi o filme mais barato do estúdio até àquela altura, e acabou por ser um verdadeiro milagre monetário para Disney. É, no geral, sem dúvida um dos seus filmes mais simples, sem grande inovação a nível visual (os cenários não são muito elaborados, e não há cenas que sejam realmente espectaculares nesse aspecto, exceptuando talvez a cena em que o jovem elefante fica bêbado e… vê elefantes cor-de-rosa), sendo possível ver esse orçamento mais pequeno com que foi feito, mas é ainda assim uma pequena pérola visual nem que seja, claro, pelo próprio Dumbo, que encanta e parte corações com os mais belos olhos azuis que o cinema de animação alguma vez viu. Talvez seja essa mesma a palavra que melhor descreve o filme: é uma pérola. Pequeno, simples, mas de uma enorme beleza e uma complexidade moral que pode ser comparada à audacidade de ter, diga-se, uma personagem principal que nem abre a boca e que tem de criar uma ligação com o espectador apenas pelo seu aspecto e pelos seus movimentos (é necessário relembrar que este foi o quarto filme do estúdio: fazer algo assim tão cedo é, no mínimo, arriscado). E as canções, ainda que muito, muito longe do melhor que o estúdio já fez (excepção dada a "Baby Mine", a música da cena já mencionada em que a mãe embala o filho), são completamente encantadoras.
Uma história de amor entre mãe e filho, uma história de preconceito, e uma história de inocência, este "Dumbo" é, de longe, um dos mais encantadores filmes da Disney. Sim, não tem a complexidade visual de um "Branca-de-Neve", nem a trama bem-pensada de um "Rei Leão" ou um "Bela e o Monstro", mas tem uma alma do tamanho do mundo, uma inocência presente do primeiro ao último segundo, e uma personagem principal que tornaria qualquer filme mau num bom. Lindíssimo e tocante, é uma obra intemporal que deverá, se houver justiça e sabedoria no mundo, fazer parte da infância de muitas mais gerações ao longo de longos, longos anos. Afinal de contas, não é só o facto de ser adorável: Dumbo é, também, uma lição de vida ensinada de uma forma que consegue chegar a todos. Se isso não é sinal do triunfo de um filme (seja ele de animação ou não), então não sei o que o será.
Uma história de amor entre mãe e filho, uma história de preconceito, e uma história de inocência, este "Dumbo" é, de longe, um dos mais encantadores filmes da Disney. Sim, não tem a complexidade visual de um "Branca-de-Neve", nem a trama bem-pensada de um "Rei Leão" ou um "Bela e o Monstro", mas tem uma alma do tamanho do mundo, uma inocência presente do primeiro ao último segundo, e uma personagem principal que tornaria qualquer filme mau num bom. Lindíssimo e tocante, é uma obra intemporal que deverá, se houver justiça e sabedoria no mundo, fazer parte da infância de muitas mais gerações ao longo de longos, longos anos. Afinal de contas, não é só o facto de ser adorável: Dumbo é, também, uma lição de vida ensinada de uma forma que consegue chegar a todos. Se isso não é sinal do triunfo de um filme (seja ele de animação ou não), então não sei o que o será.
Obrigado, Gonçalo, por teres aceite o convite! Belo texto!
E a vocês, também comove assim ver a história de Dumbo?
3 comentários:
É sem dúvida, o meu filme preferido da Disney :) gostei muito do texto.
SARA:
Obrigado pelo comentário. Também partilho da tua opinião, nota-se o carinho do Gonçalo pelo filme, o que torna o texto muito especial.
Não é dos meus favoritos da Disney mas reconheço grande estima por algumas partes de 'Dumbo' que me põe sempre deprimido (maldita Baby Mine!).
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
Adoro Dumbo!
Enviar um comentário