Uma das grande surpresas deste Verão, "BRIDESMAIDS", publicitada alegadamente como uma versão feminina, mais leve de "The Hangover", o grande êxito de bilheteira do Verão de 2009 é, felizmente, isso e muito mais. Partilha com o seu predecessor o facto de juntar um grupo divertidíssimo de mulheres e as colocar à prova em diversas situações e aventuras inacreditáveis, sendo no entanto muito mais perspicaz, incisivo, inteligente e reflexivo. Um triunfo comédico que, dada a qualidade do elenco, com anos de provas dadas em comédia televisiva, não deveria ser surpresa para ninguém.
"Bridesmaids" foca-se então na vida de Annie Walker (Kristen Wiig), uma mulher na casa dos trinta que se vê presa numa relação sem rumo com Ted (Jon Hamm), um narcisista egocêntrico, que se vê obrigada a aceitar um trabalho mísero - que despreza - numa joalharia depois da sua confeitaria abrir falência e a partilhar casa com dois irmãos estranhos e aterrorizadores, Brynn and Gil (Matt Lucas e Rebel Wilson), cuja renda nem sequer consegue pagar. Como se a sua vida não pudesse piorar mais, a sua melhor amiga Lillian (Maya Rudolph) anuncia que ficou noiva, despoletando uma ainda maior espiral descendente de desespero, destruição e confusão na vida de Annie que a leva a repensar todas as escolhas que fez na vida, enquanto se vê aflita para preparar a melhor despedida de solteira de sempre à amiga.
O mote do filme é dado quando Lillian apresenta a Annie o seu grupo de damas de honor, que incluem a devassa Rita (Wendy McLendon-Covey), a descarada Megan (Melissa McCarthy), a pomposa e irritante Helen (Rose Byrne) e a flor delicada Becca (Ellie Kemper), seis personagens ridiculamente hilariantes, algo idiotas e meio malucas, mas que todos queríamos ter por perto, fruto do trabalho de um elenco extraordinário, seguramente um dos melhores do ano, cada uma a aproveitar o seu tempo para brilhar e cada uma a apoiar os pontos comédicos fortes de cada uma das actrizes com quem contracena. Um filme deste tipo não podia sobreviver, como se poderia supor, se as duas protagonistas não tivessem a química adequada. Felizmente, os anos juntas em "Saturday Night Live" mostram que Wiig e Rudolph encaixam na perfeição nas personagens, como se a história que estivessem a contar fosse mesmo real. Em conjunto com Melissa McCarthy, que além de esplêndida e com um timing comédico exemplar ainda consegue arrancar gargalhadas das situações mais absurdamente triviais e entregar-nos uma interpretação cheia de humor mas também de coração e de profundidade, e com a surpreendentemente comédica e enérgica Rose Byrne, que até mim me conseguiu enervar (o triângulo que se cria com Annie, Helen e Lillian origina as peripécias mais surreais e proporciona as gargalhadas mais histéricas e sonoras), mostraram que de facto há muito talento na comédia feminina moderna para além de Amy Poehler e de Tina Fey.
O maior problema que o argumento de Annie Mumolo e Kristen Wiig poderia ter era o de não conseguir atingir o nível das comediantes em jogo. Ainda bem para nós e para o filme que isso nunca acontece. Sim, o argumento tem falhas e recorre a algumas situações algo disparatadas para fazer avançar a narrativa e a alguns fios narrativos sem qualquer sentido (por exemplo, ainda hoje não entendo o propósito da discussão de cariz sexual entre Becca e Rita além de funcionar como trampolim para o grande plano de Wiig e dar falas a ambas as actrizes), mas o argumento soube muito bem aproveitar o dom para a comédia física de Wiig, a qualidade superior de entrega de falas de Rudolph e de McCarthy e até como pegar em Rose Byrne e fazê-la destacar-se sempre que agia ou falava. Além disso, a forma como constrói o romance - porque tem sempre que existir um neste tipo de filmes, para gáudio da audiência - entre o polícia Nathan (Chris O'Dowd) e Annie denota um grau elevado de astúcia, não sucumbindo ao fácil e obrigando-nos a investir na relação, de tão genuína e saborosa que é. Mumolo e Wiig entendem bem a mente feminina, sabem o que é expectável de uma comédia deste género mas jogam muito bem tanto com os momentos peculiares de insanidade mental por que passam as noivas e a sua entourage na época que antecede o casório como com os momentos mais enternecedores.
E agora, para finalizar, há que deixar umas palavras sobre a performance da nossa protagonista, Kristen Wiig. Nem toda a gente se safa com comédia física tão evidente e, por vezes, excessiva. Wiig consegue isso e muito mais. A sua Annie é uma personagem excêntrica, algo tonta e com propensão para perder a cabeça, mas Wiig nunca perde a noção do quão honesta, bondosa, genuína e amiga é Annie. É uma interpretação (a dela e a de McCarthy) para sempre guardar, apreciar e recordar e vou lamentar imenso se na altura da Academia decidir os seus nomeados esta interpretação for ignorada por outra que não lhe chegue aos calcanhares em termos de qualidade, versatilidade, nuance, profundidade e personalidade.
Nota:
B+
Ficha Técnica:
Realização: Paul Feig
Argumento: Annie Mumolo, Kristen Wiig
Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Melissa McCarthy, Ellie Kemper, Wendy McLendon-Covey, Jon Hamm, Chris O'Dowd
Ano: 2011
2 comentários:
Nunca pensei que este filme me fizesse rir tanto...Já nem me lembrava ter de controlar o riso no cinema.;)
E isso deve-se muito à custa da interpretação de Kristen Wiig, ela é fabulosa!;)E tal como tu, espero que venha a ser valorizada por este papel!;)
Uma comédia que vale a pena ver, sem dúvida!:)
Boa crítica!:)
JOANA:
Ainda bem que concordas comigo. Kristen Wiig é simplesmente fenomenal e, se não for por Melhor Actriz, pelo menos que a Academia a premiasse pelo Argumento Original do filme (ainda por cima é uma categoria que está bastante fraca em termos de candidatos).
Obrigado pelo comentário,
Jorge Rodrigues
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