Bem-vindos a uma das rubricas semanais do Dial P for Popcorn, a ter lugar todas as terças-feiras. Nesta rubrica vamos discutir as pessoas que se tornaram (ou que continuaram a ser) grandes nomes na década de 2000, sejam actores, realizadores, compositores, fotógrafos, entre outros.
Esta semana tinha focado na minha mente que ia falar de um actor. Pedi sugestões nos comentários mas pelos vistos vocês não estavam muito receptivos a dar a vossa opinião. Não faz mal. Muito provavelmente, eu não iria escolher outra pessoa que não esta. Conseguem pensar noutra actriz que tenha deixado uma marca tão impressionante na década de 2000 como esta? Não me parece.
É, por isso, com muito orgulho, que a minha rubrica "Pessoas da Década" vai abordar esta semana...
Nicole Kidman
A actriz autraliana nascida no Hawai, que perfez 43 anos no passado dia 20 de Junho foi desde sempre a minha primeira escolha para o meu primeiro texto sobre um actor para esta rubrica. É que, se a segunda metade da década deixa a desejar quanto à filmografia de Nicole Kidman diz respeito, entre 2000 e 2005 não houve actor ou actriz que tão alto subisse na memória das pessoas e no estrelato de Hollywood. A nível pessoal, a actriz divorciou-se de Tom Cruise em 2001, mais ou menos na mesma altura em que o seu primeiro grande êxito chegava aos cinemas e encantava meio mundo e casou-se posteriormente com o cantor country Keith Urban, também australiano, em 2006, com quem tem hoje uma filha, Sunday Rose.
A nível profissional, pois se a sua carreira já mostrava sinais de vôos mais altos (como comprovam "To Die For" em 1995, "The Portrait of a Lady" em 1996 e "Eyes Wide Shut" em 1999), entre 2000 e 2009, explodiu consideravelmente.
O início da década foi absolutamente avassalador para Nicole Kidman. Em 2001 começou a consolidar-se como uma das melhores actrizes de Hollywood, mostrando a sua versatilidade, talento e fabulosa expressividade em "Moulin Rouge!" de Baz Luhrmann (onde ainda por cima canta e dança fantasticamente) e em "The Others" de Alejandro Aménabar. Era óbvio que a Academia já estava de olho nela quando nesse mesmo ano lhe deu as boas-vindas ao círculo elitista de nomeados para Óscar pela sua interpretação fenomenal em "Moulin Rouge!", pela qual conquistou imensos prémios, entre eles o Globo de Ouro - Musical/Comédia. Não seria ainda a sua hora de vencer um Óscar (apesar de certamente o merecer mais que a vencedora), pois perdeu para Halle Berry ("Monster's Ball").
Seria no ano seguinte, em 2002, que Kidman iria atingir tal glória, pelo multi-nomeado para os Óscares "The Hours", que contava com Julianne Moore, Meryl Streep e a própria Kidman como protagonistas. Só estrelas, portanto. O seu nariz prostético fez história, até porque na altura de anunciá-la como vencedora da estatueta, Denzel Washington diz "and the winner is, by a nose, Nicole Kidman!", como que a fazer menção ao objecto. A verdade é que foi das interpretações mais curtas para uma Melhor Actriz vencedora de Óscar (28 minutos), tão brilhante foi Kidman no filme, ao dar vida à escritora insatisfeita com a vida Virginia Woolf. E a sua história com os Óscares ficou, para já, por aqui.
A "sequência de ouro" de Nicole Kidman, com "Moulin Rouge!" e "The Others" (2001), "The Hours" (2002), "Dogville" (2003) e "Birth" (2004)
Consagração obtida deveria simbolizar altura de descansar, mas não para Kidman. No dia a seguir à cerimónia ela estava de partida para a Dinamarca para colaborar com Lars von Trier no seu próximo filme, "Dogville", um filme bastante bizarro e repleto de mistério no qual Kidman mais uma vez espantou todos. De notar que a viagem para a Dinamarca em 2003 marcava a primeira vez em 15 anos que voava de avião. Nesse mesmo ano, Kidman também protagonizou, ao lado de Jude Law e Renée Zellweger, "Cold Mountain", mais um titã candidato a vários Óscares, o que acabou por acontecer. Um filme interessante, mas no qual Kidman não conseguiu ser tão extraordinária como noutras ocasiões, tendo-lhe custado provavelmente a nomeação, pois ambos os seus co-protagonistas foram nomeados (e Zellweger ganhou). Em 2003 Kidman foi ainda protagonista de "The Human Stain", baseado no romance homónimo de Philip Roth, para o qual o seu casting foi completamente um erro, como se viria a comprovar com o insucesso do filme.
O ano de 2004 viria a marcar o fim da magia de Nicole Kidman no ecrã, pelo menos por algum tempo. "Birth", de Jonathan Glazer, não parecia, à partida, prometer nada de especial, apesar de toda a gente contar com uma boa prestação da actriz. A verdade é que o filme revelou-se apaixonante de seguir do primeiro ao último minuto, com uma banda sonora sem precendentes de Alexandre Desplat e uma interpretação inconfundível da actriz, talvez a sua melhor de sempre, que é estonteante na película e uma maravilha de apreciar. Infelizmente, a Academia não foi da mesma opinião e tratou bastante mal esta pequena pérola que é "Birth". "The Stepford Wives", também de 2004, começou a anunciar um pequeno declínio na produtividade de Kidman, tendo o filme sido imensamente criticado.
As escolhas de Kidman continuaram algo estranhas e em 2005 ela apareceu em dois filmes que falharam redondamente, a nível do público e da crítica: "Bewitched" foi pálido em comparação com a adorada série de televisão do passado e "The Interpreter" foi uma escolha incomum na restante filmografia da actriz e, se bem que ela dá uma prestação razoável, tal como Sean Penn, o filme não caiu bem à crítica. Desafiando todas as convenções - dado o número de projectos aliciantes que se dizia que a actriz tinha em mão - Kidman opta por surpreender mais uma vez ao escolher "Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus" para o seu próximo projecto, em 2006. O filme não foi bem recebido mas a sua interpretação encheu o olho de muita gente, incluindo eu próprio, que começava a duvidar da sua qualidade e do seu bom olho para projectos. Nesse mesmo ano, Kidman aceitou emprestar a voz ao filme animado musical "Happy Feet", que venceria o Óscar de Melhor Filme Animado desse ano.
2007 voltou a marcar um retrocesso na sua carreira, com os falhanços sucessivos de "The Golden Compass", a adaptação cinematográfica da excelente saga de Philip Pullman e de "The Invasion", um thriller de ficção científica em que contracenou com Daniel Craig. Em "Margot at the Wedding", todavia, ela concede-nos mais uma performance inesquecível, como a intolerante, sem tacto, opinionada e rude Margot. O filme com que Noah Baumbach seguiu "The Squid and The Whale" não foi tão bem aceite como o antecessor, mas mesmo assim Kidman conseguiu boas críticas.
Em 2008 e 2009 a actriz preferiu dedicar-se mais à maternidade e por isso abrandou o ritmo de trabalho, tendo feito apenas um filme em cada ano. "Australia" era um dos projectos mais ambiciosos de 2008 e voltava a reunir Kidman e Luhrmann, a quem se juntava Hugh Jackman, tendo como pano de fundo o belíssimo outback australiano. Apesar da técnica e da estética do filme serem imaculados, a história não era nada por aí além e nem os dois protagonistas se safaram no meio do marasmo de 2 horas e meia e o filme, que ameaçava fazer estrondo, passou de mansinho. "Nine" perdeu Zeta-Jones e ganhou Kidman assim de rompante, que assinou para um pequeno papel como a musa Claudia. Um musical com grande elenco e grandes expectativas que foi um desastre - bem, nem tanto, mas os críticos e o público norte-americano arrasaram com o filme, de onde só Cotillard e Cruz saíram ilesas (Kidman não tinha muito que fazer, portanto foi quase ignorada).
Contas feitas, Kidman foi a actriz mais arrojada, mais marcante, mais cintilante esta década. Trabalhou com os melhores desde sempre (Van Sant, Campion, Kubrick, Pollack, von Trier, Marshall, Daldry, Luhrmann, Aménabar e Howard) e tem sempre procurado quem tem algo de inovador para oferecer ao cinema. Posso sugerir... Almodovar e Tarantino next?
O futuro?
Bem, em 2010 a actriz tem a sua derradeira chance de redenção a esta série menos positiva com o seu papel principal em "Rabbit Hole" de John Cameron Mitchell, a adaptação de uma peça vencedora de vários Tony, inclusivé o de Melhor Actriz (Cynthia Nixon ganhou na Broadway). Aaron Eckhart e Dianne Wiest juntam-se a ela neste filme que conta a história do luto de dois pais pela morte do seu filho. Deverá ser um dos candidatos a tomar cuidado para os Óscares, sobretudo no que a ela diz respeito. E em 2012 a actriz prepara-se para um dos seus maiores papéis, em "The Danish Girl" de Lasse Hallstrom, que relata a vida do primeiro transsexual do país, Einar Wegener.
Deixo-vos para terminar com um tributo (via YouTube) a esta grande actriz, que reúne cenas de vários filmes da actriz, criado pelo seu grupo de fãs no Fórum Free:
8 comentários:
A actriz que foi surpreendendo e conquistando todos no inicio da década, foi me desiludindo no final da mesma.
Vendo em retrospectiva, e o tributo está engraçado, Kidman realmente trabalhou com os melhores e conseguiu prestações que ninguém pode esquecer.
Preferia que ela tivesse ganho o Óscar por “Moulin Rouge” (o meu favorito da sua carreira), mas “The Hours” acaba por ter outra profundidade e é brilhante como com só 28 minutos (julgava que eram mais) ela transcende o ecrã e ganha o merecido prémio.
Espero então que os próximos projectos sejam um retorno a esses anos de ouro!;):)
Fabulosa rubrica. Grande trabalho que tiveste aqui, espero que continue. Além de que é sempre um bom recurso enciclopédico, ahahah.
Boa escolha, a Nicole é das minhas actrizes favoritas e vou concordar contigo em praticamente tudo. Os papeis de que mais gostei foram THE OTHERS, THE HOURS e DOGVILLE.
Quanto ao que aí vem, achei graça às tuas "sugestões". Não a vejo a trabalhar com nenhum dos dois, especialmente com o Almodóvar, mas ia agradar-me receber essa notícia.
Arronofsky, porque não ?
Voltarei para propor alguém para a próxima rubrica, mas, apesar de ter matéria para texto, em relação à década em questão, acho que o salto que o Jackson dá com LOTR é muito significativo.
@DIOGO, obrigado pelo comentário e pelo elogio ;)
A Nicole Kidman é também das minhas favoritas e sem dúvida que não podia pegar em mais nenhum actor esta década (salvo Streep, que é a próxima em quem vou pegar quando voltar aos actores) para começar.
Boa sugestão a tua de resto e claro que Peter Jackson conta da minha lista e, já que fizeste a sugestão, dentro de duas semanas é o próximo realizador em quem vou pegar.
Para a semana (bem, dentro de dias, porque estou a tentar antecipar alguns artigos antes de ir de férias) vou pegar num argumentista.
;)
Abraço,
Jorge Rodrigues
http://dialpforpopcorn.blogspot.com
Esqueci-me de referir: Aronofsky parece-me bem. O meu ideal era mesmo Jonathan Demme, porque acho que ia complementar muito bem o estilo dela, mas como esse não me parece que queira sair da reforma tão cedo... Bem, já me contentava com um Aronofsky, um Ang Lee, um Paul Thomas Anderson ou um Malick pegarem nela.
O Malick era de grande valor era, ele agora até anda de volta de castings para o próximo projecto, segundo sei.
Deixaste-me curioso em relação ao argumentista. Vou fazer uma pesquisa e fazer uma aposta para comigo mesmo, a ver se acerto, ahah.
Pois, mas o Malick tem o casting quase resolvido. Bale desistiu mas já entrou Affleck e junta-se a Weisz, McAdams, Kurylenko e Bardem.
Hmm até acho que neste momento o Woody Allen, que está a precisar de fazer filmes mais adultos, faria um parceiro interessante. A Nicole podia ser a nova Diane Keaton ou Mia Farrow dele.
Não sabia dos desenvolvimentos do Malick.
Boa perspectiva essa da Mia Farrow, era interessantíssimo mesmo.
O meu top da actriz em termos de representação provavelmente seria:
The Hours
The Others
Cold Mountain
Australia
The Interpreter
etc
De dizer que me faltam filmes como Eyes Wide Shut, Moulin Rouge!, Dogville e Birth, só para citar os mais conhecidos. Eu sei são falhas a corrigir rapidamente :P.
abraço
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