Os miúdos estão bem. Arriscaria dizer, os miúdos e os graúdos estão bem. "The Kids Are All Right” é um retrato fascinante das famílias dos tempos modernos, uma das melhores comédias do cinema independente americano que há já algum tempo precisava de um filme como este: desinibido, leve, inconvencional, alegre, reconfortante, divertido, agradável, inteligente, bem-humorado, enquanto lida com problemas sérios do mundo actual como a disfuncionalidade da unidade familiar, o casamento homossexual, a inseminação artificial, as falhas nas relações interpessoais e o crescimento e a partida para a universidade.
Lisa Cholodenko é, de facto, uma brilhante observadora das relações e das pessoas. Especialmente dotada em colocar à prova as suas personagens perante situações onde elas não se sentem confortáveis, a realizadora consegue explorar a humanidade, emoção e a racionalidade por detrás de cada tipo de pessoa, nunca fornecendo uma visão redutora do que se passa com elas e expondo as suas imperfeições bem a nu. A forma fabulosa como ela consegue transformar a nossa visão de casamento e união, passando-nos a mensagem de que neste caso a relação errada é a heterossexual, não deve passar despercebida.
A história de “The Kids Are All Right” decorre em Los Angeles, onde uma família composta por duas mães lésbicas, Jules e Nic (Julianne Moore e Annette Bening) e pelos seus dois filhos, obtidos através de inseminação artificial, Laser e Joni (Josh Hutcherson e Mia Wasikowska) se vê confrontada com a entrada na sua unidade familiar do pai biológico dos jovens, Paul (Mark Ruffalo), após Joni, que acaba de completar dezoito anos e está de partida para a universidade, ter feito a vontade ao irmão mais novo de descobrir a identidade do seu verdadeiro pai.
Ao saber dos encontros secretos com o pai, ambas as mães ficam reticentes em permitir-lhe entrada na sua vida, mas decidem estabelecer contacto com ele de qualquer forma. Paul dá-se genuinamente bem com os dois miúdos e com Jules (Moore), com quem se sente completamente à vontade. Já Nic (Bening), a ganha-pão da família, uma bem-sucedida, determinada e controladora médica com queda para o dramatismo e para a ingestão de largas quantidades de vinho e que vem negligenciando a sua companheira, muito mais aventureira, despachada e relaxada, vem gerindo a sua neurose disparando palavras ríspidas em todas as direcções e deixando a restante família, em particular Jules, numa pilha de nervos. A ida de Joni para a universidade vem complicar ainda mais as coisas, com as mães a terem problemas de comunicação com a filha, que nem sempre as compreende e vice-versa.
O distanciamento entre as duas mães e a contínua aproximação de todos menos Nic a Paul vem criar uma rotura na unidade familiar que se torna difícil de reparar, oferecendo inevitáveis mas nem sempre agradáveis surpresas, inúmeros conflitos e mal-entendidos e complicando a história de mil e uma divertidas maneiras.
Um filme com excelente argumento e uma cuidadosa realização, acompanhado de excelentes interpretações, em particular de Julianne Moore e Annette Bening, com material aqui para mostrar variadas nuances e oferecer-nos das melhores interpretações da sua carreira, complexas, mágicas e magnetizantes, de nos fazer chorar a rir e de nos fazer chorar por nos partir o coração, conseguindo transmitir pela sua linguagem corporal e expressão facial tanta cumplicidade, tantos segredos e tantas cicatrizes, próprias de um casamento de 20 anos, ambas merecedoras de atenção nos prémios de fim-de-ano, e de Mark Ruffalo, uma performance surpreendentemente relaxada, 100% dentro da natureza da sua personagem, nunca esquecendo porém também o papel dos miúdos na história, pois Hutcherson e Wasikowska são sem dúvida dois dos melhores jovens a trabalhar em Hollywood hoje em dia. Um filme irresistível para qualquer fã de comédia bem feita, para qualquer fã de filmes familiares e em especial para fãs dos actores, a trabalhar aqui no topo da sua forma.
Nota Final:
A-
Trailer:
Informação Adicional:
Realização: Lisa Cholodenko
Argumento: Stuart Blumberg, Lisa Cholodenko
Elenco: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Josh Hutcherson, Mia Wasikowska
Fotografia: Igor Jadue-Lillo
Banda Sonora: Carter Burwell, Nathan Larson, Craig Wedren
3 comentários:
“The Kids are all right” surpreendeu-me bastante!:D
Gostei que cada personagem fosse testada até ao limite, que não houvessem culpados nem inocentes, sendo que na realidade somos todos uma mistura de ambos…
Com momentos hilariantes, quer cómicos, quer dramáticos, o filme deixa-nos a pensar várias horas depois de ter terminado.
As interpretações são memoráveis, sobretudo de Annette Bening e Julianne Moore.
Gostei da crítica!;)
Joana,
Pois, a mim também me surpreendeu, até porque eu tinha tentado baixar as minhas expectativas ao máximo.
Nunca pensei que não houvesse um único ponto fraco no elenco, com todos os actores em interpretações bastante boas. E Bening e Moore... extraordinárias.
E sim o filme é composto de vários momentos excelentes, muito interessantes, que alternam muito rapidamente entre o cómico e o dramático.
E concordo em absoluto quando dizes que neste filme não há culpados nem inocentes. Somos humanos e cometemos erros.
Obrigado pelo comentário,
Jorge Rodrigues
A premissa é muito boa. Gostei muito de ler o que escreveram, fiquei mesmo com vontade de ver o filme. É estranho e duvidoso imaginar um plot destes a ser feito nos EUA e não em França, por exemplo.
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