Bem-vindos à quinta edição de mais uma iniciativa do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Esta rubrica, "Personagens da Minha Vida", conta com a participação de vários cinéfilos, sejam eles bloggers ou simplesmente amantes de cinema. Esperemos que participem, que comentem, que opinem e que isto corra bem.
"Se a minha vida fosse transportada para o ecrã, que personagem seria eu?"
O objectivo da rubrica é colocar as pessoas a pensar em personagens, tanto cinematográficas como televisivas, que partilhem características, sejam físicas ou psicológicas, com eles.
Vamos à quinta edição desta rubrica. Desde já agradeço ao Filipe Coutinho (Cinema Is My Life) por ter aceite o meu convite.
- Personagens da Minha Vida #5 -
Passo a palavra ao Filipe Coutinho para explicar as suas escolhas:
Alvy Singer / "Annie Hall" - O homem que não acredita em felicidade. Só existem duas condições possíveis: ou estamos tristes, ou somos miseráveis. Não há lugar para a efemeridade da felicidade. Apenas existe racionalidade, a força do intelecto perante todas as demais e "fúteis" emoções. Alvy Singer percebe que quando começamos a pensar deixamos de começar a sentir. Já Fernando Pessoa dizia o mesmo. Alvy usa o humor para se manter são, para continuar a acreditar em si e nas pessoas que o rodeiam. E no fim, tudo o que sobra é um "La Di Da"...
Andrew Largeman / "Garden State" - Andrew Largeman, o homem que precisa de uma morte para começar a viver. Totalmente inebriado pela sua própria condição, Andrew passa os dias inconsciente, sobre o efeito de anti-depressivos que o tornam ainda menos racional. Tem a fortuna de conhecer uma mulher que lhe diz isto: "This is your one opportunity to do something that no one has ever done before and that no one will copy throughout human existence. And if nothing else, you will be remembered as the one guy who ever did this. This one thing." Por vezes, tudo o que é preciso é conhecer alguém e a nossa vida muda. Deixamos de deixar a vida passar à nossa frente e começamos a viver. Novamente questiono, quem nunca se sentiu deslocado à busca da pessoa que nos puxa para a realidade?
Donnie Darko / "Donnie Darko" - Esta é a escolha que mais dificuldades tenho em justificar. A um nível bastante emocional identifico-me com a mente de Donnie Darko. É sim uma fabricação perigosa de um outsider que nem se preocupa em se integrar. Darko não podia estar menos preocupado com o que os outros pensam sobre ele, porque afinal, ele é superior. A restante sociedade é, aos seus olhos, um bando de idiotas com conhecimentos muito inferiores aos seus que não o entende na maior parte das ocasiões. Esclarecimento: eu não estou a chamar indirectamente os leitores e o resto da sociedade um bando de idiotas. Mas acredito que muitas vezes não sou compreendido e, a par do Darko, isso pode ser simplesmente um estado de confusão mental cuja fabricação de um mundo idílico não é mais que um produto de uma vívida imaginação.
George Bailey / "It's a Wonderful Life" - É uma das mais bondosas e identificáveis personagens de sempre. George Baley emana genorosidade, sacrifício, luta, trabalho, insipiração. E num mundo que tantas vezes carece desse espírito do dito "homem comum", há valores que merecem ser lembrados e emulados. Quero acreditar que existe um George Bailey dentro de mim, caso contrário, torno-me em apenas mais um dos infidáveis egoistas que por aqui habitam.
Marcello Rubini / "La Dolce Vita" - Seria impossível não escolher uma das personagens intepretadas por Mastroianni para incluir nesta lista. Das várias disponíveis acabei por escolher este jornalista em busca do próximo escândalo social. Mas ele não é um jornalista. É um homem à procura de um rumo, um homem afectado pela insanidade da sociedade em que vive. Marcello vagueia por Roma em busca de uma luz que lhe mostre que não é louco, que existe esperança e que viver ainda vale a pena. É uma das personagens mais complexas de Fellini e, ao mesmo tempo, aquela que menos parece (sobretudo quando existe o Guido do "8 1/2"). E sejemos sinceros, quem nunca questionou se somos nós ou a sociedade que enlouqueceu de vez?
Tyler Durden / "Fight Club" - É, muito discutivelmente, a melhor personagem de sempre. Facto é que é (e aqui sem grandes margens para dúvida) uma das mais carismáticas, cuja personalidade explode pelo ecrã como a bomba-relógio que literal e metaforicamente representa.Tyler Durden marcou-me de forma muito particular numa altura em que ainda pouco esperava sobre o poder do cinema. De certo modo, a par de Fight Club, foi o grande motivo que me levou a seguir a sétima arte de modo totalmente distinto. Lembro-me do dia em que o vi com uma clareza indefectível, lembro-me das emoções, da incendiária mensagem, do ataque ao consumismo, dos métodos extremos de anarquia. Tyler é a balança da justiça que representa tudo o que há de mal e tudo que há de bom com a nossa sociedade. Nunca desarma das suas convicções e creio que é a sua persistência e a representação de que um homem (por mais esquizofrénico que seja) pode fazer a diferença, que me levaram a enaltecer o poder do mundo cinematográfico. Identifico-me com o Tyler Durden. Afinal, foi ele quem me abriu os olhos.
V / "V for Vendetta" - A luta pelos ideais, a luta pelo fim da opressão, a luta pela utopia. V é um sonhador que faz mais do que sonhar. Ele recorre a todos os meios necessários para ver o seu sonho cumprido. No processo é chamado de terrorista, um terrorista que acredita na liberdade do homem. Quem nunca lutou pelos seus ideais, pelos seus sonhos, não sabe aquilo em que acredita. E V percebe o mundo em que vive, sabe como ele opera e, em instância última, percebe que só um mundo de caos pode quebrar um mundo de o.rganização. Não é transmite uma mensagem de esperança. Não existem adereços a embelezar esta utopia e a tornar credível. Mas ela não precisa de ser cumprida. Tudo o que é preciso é que esta seja lembrada.
(vídeo no YouTube: AQUI)
E vocês, que Personagens nos definem?
8 comentários:
De longe as escolhas com as quais me identifiquei mais até agora - aliás, partilhamos uma (que não vou revelar qual é). Revejo-me por inteiro em todas elas, o que nem me surpreende muito, porque temos personalidades semelhantes, o Filipe e eu. :) De resto, excelentes textos, sempre tão cuidados e deliciosos de ler.
Abraços.
Eu concordo plenamente com o Pedro, são escolhas curiosíssimas e é interessante a forma como o Filipe conseguiu expressar e explicar vários laços de afinidade que tem com as personagens.
Gostei pessoalmente da menção a "Garden State" à qual eu fugi porque achei que iria ser ponto comum em várias listas.
Digo o mesmo do Donnie Darko e do Alvy Singer. Achei mesmo que iam aparecer mais vezes, mas até agora... nada.
Gostei muito do texto, Filipe, e só tenho a agradecer a participação.
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
porra Ponte, nós devemos ser uma espécie de gémeos num mundo paralelo ou coisa assim :D só por isso sobes mais uns pontos na minha consideração ah ah
Obrigado eu Jorge pela possibilidade em participar nesta tua interessantíssima iniciativa.
Abraços
É engraçado que daquilo que conheço do Filipe, identifico-o em algumas das escolhas!
O mundo está cheio de Tyler Durdens... :)
Gostei de ver a referência a Marcello Rubini, uma das personagens mais interessantes compostas por Mastroianni. Julgo que qualquer um de nós se identifica facilmente tanto com o actor como com o personagem.
Cumps a todos!
Gostei especialmente disto "Alvy Singer percebe que quando começamos a pensar deixamos de começar a sentir" e da referência a Pessoa. Não admira que Caeiro fosse o mestre, foi do mundo Pessoano o único a ultrapassar isso, "Pensar é estar doente dos olhos".
O V é uma das minhas personagens favoritas de sempre, tenho muito respeitinho por ele.
Se rebentar o parlamento já sabem quem foi :P
Ora bolas, agora que cheguei tarde vou parecer repetitivo mas também são as escolhas com as quais me identifico. Gostei particularmente da do Mastroianni ;)
Ainda bem que todos concordamos que são excelentes escolhas!
Obrigado pelos comentários!
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